witch lady

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nó na Garganta



Ontem fomos dar uma caminhada no final da tarde, e passamos pela nossa antiga casa, hoje totalmente reformada, bem diferente do que era quando moramos lá. Pintada de um verde fortíssimo (até dói os olhos, mas gosto é gosto), ela ganhou mais um andar. Minhas roseiras foram todas removidas: a branca, a laranja, a cor-de-rosa, a rosa chá e a vermelha. A casa ficou muito boa e funcional, mas lamentei pela destruição do jardim e dos canteiros que nós cuidávamos com tanto carinho. Faltam plantas.

De repente, olhei e percebi que eles conservaram os balaustres da cerca, e imediatamente, lembrei-me do Aleph, meu cão, a cabeça enorme para fora, entre os balaustres, latindo para a rua. E foi como se todas as lembranças que estavam presas em algum lugar, de repente, desaguassem.

Revi os dias nos quais eu me deitava na rede da varanda (hoje, coberta por telhas; antes, por uma pérgula onde crescia um Bunganville cor-de-maravilha) e o Aleph deitava-se  sob a rede, dormindo de roncar. Lembrei-me de mim mesma, podando as roseiras, arrancando o capim dos canteiros, limpando as grades das janelas. Recordei as noites de sábado, nas quais nós íamos para fora e nos deitávamos no chão de cimento do jardim, olhando estrelas e conversando, até a madrugada. O quintalzinho dos fundos, onde eu tomava sol.

Hoje, moro em uma casa bem melhor que aquela, mas vivi tantas coisas boas ali... impossível não sentir saudades do que foi bom! Confesso que deu um nó na garganta ao lembrar-me de tudo o que vivemos naquela casa.

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ VIU SEU PAI?



Assisti, novamente, a este maravilhoso filme, estrelado por Colin Firth - meu ator predileto. Ele conta a história de um filho que retorna ao lar, a fim de assistir ao pai - que sofre de cancer de intestino em fase terminal. Ele redescobre e reavalia seu relacionamento com o pai durante vários momentos de suas vidas , na infância, adolescência e fase adulta. Percebe o quanto os julgamentos que fazia sobre o pai, muitas vezes, obscureceu-lhes o relacionamento. Lembra-se das vezes em que saíram juntos para acampar, dos piqueniques e jantares de família nos quais sentia-se ofuscado pelo brilhantismo do pai, e pela necessidade deste (quase doentia) de estar sempre em evidência e parecer simpático.

Descobre até que tem uma irmã, fruto de um caso amoroso do pai com uma prima de sua mãe, que durou muitos anos.

O filme é muito honesto, até o ponto no qual, durante uma conversa com uma namorada, ele admite que odeia seu pai (quem nunca odiou, nem que fosse por apenas um segundo, o pai ou a mãe, que atire a primeira pedra).

O filme tem cenas lindas e emocionantes, até o ponto de, sem perceber, você se ver chorando enquanto assiste.  No final, o que fica, o que realmente permanece da relação dos dois, é o amor. O grande amor que o pai sentia por ele, e ele, pelo pai. Um amor percebido, talvez, um pouco tarde em sua vida, mas nunca tarde demais. A cena mais tocante, em minha opinião, é justamente a última:

Ele está só no jardim da casa, após a família espalhar ali as cinzas do pai. E de repente, ele pensa: "Quando foi a última vez que você viu seu pai?' Não durante a doença, que o transformava e desfigurava a cada dia, mas a última vez em que esteve com ele e ele ainda era ele mesmo. E então, lembra-se de uma cena na qual os dois, juntos, instalavam um lustre na sala de estar. Uma cena corriqueira, mas marcante, pois fora a última vez em que o vira com saúde.

Daí, ele recorda o dia em que despediu-se dele para ir estudar em outra cidade. O abraço, antes de ir. E a cena vai mudando, e o menino que abraçava o pai, transforma-se no homem que ele é então, e a cena dos dois abraçados em uma despedida final, é simplesmente maravilhosa.

Fez-me lembrar da última vez em que eu vi meu pai: eu estava em meu horário de almoço, sentada à mesa da cozinha. Minha mãe terminava alguma coisa no fogão. Ele chegou, colocou sobre o armário um pacote de biscoitos - estava muito animado naquele dia - e sentou-se para almoçar. Dizia que, após o almoço, estaria jogando cartas na casa de uns amigos vizinhos. Eles sempre jogavam juntos. Lembro-me que, naquele dia, olhei para ele realmente, pela primeira vez em muito tempo. O que ficou mais marcado em minha memória, foi sua mão segurando o garfo. E depois, ao terminar, ele disse algumas coisas das quais não me lembro e despediu-se. A porta fechando-se atrás dele, disso eu me lembro. Naquela tarde,depois de algumas horas apenas, ele teve um derrame e morreu.

Aquela foi a última vez em que vi meu pai.


Amores Perdidos



Deve haver um paraíso
Um purgatório e um inferno
Para onde vão todos os amores que morrem...

Os que estão no paraíso,
Aguardam a ressureição;
Os que estão no purgatório,
Aguardam o perdão;
Os que estão no fogo do inferno,
Aguardam o esquecimento.

Onde está o seu amor,
Aquele, que você perdeu?

A PROFECIA




Entro na lojinha que fica no fundo da galeria, e que vende produtos naturais, livros, incensos, sinos de vento, fontes, e todas aquelas coisinhas absolutamente inúteis e bonitinhas. Fico alguns bons minutos olhando as capas dos livros, lendo os resumos, até que decido levar cinco de uma vez. Pego os incensos que, originalmente, fui comprar, e vou para a fila do caixa. O processo todo demora uns vinte e cinco minutos.

Chego do lado de fora, e chove torrencialmente. É claro, não tenho guarda-chuva! Espero um pouquinho, junto às outras dezenas de pessoas que como eu, olham para o céu em busca de uma resposta sobre o que fazer: ficar ali, esperando indefinidamente, ou atravessar a rua? Atravesso a rua. Felizmente, os motoristas estão bonzinhos e me deixam passar.

Entro na importadora de um conhecido, para comprar um guarda-chuva. Opto por um que tem fundo cinza-escuro e uma imagem do Garfield em preto, e também a carinha do Garfield nas cores originais no final do cabo. Saio pela calçada da Dezesseis de Março, toda feliz, com meu guarda-chuva novo do Garfield. Adoro aquele gato patife!

Chego ao ponto de ônibus, e as pessoas estão amontoadas sob o abrigo que não abriga ninguém, e junto-me a elas, enquanto a chuva fustiga-nos sem piedade. Mantenho o guarda-chuva aberto, tentando proteger a mim mesma e algumas pessoas que estão perto de mim.

Chega uma senhora bem idosa, aparentando uns setenta e cinco, oitenta anos de idade. Reparo que ela é muito elegante: colarzinho de pérolas, óculos-borboleta, suéter laranja, cabelos loiros e curtos, muito bem penteados em cachos comportados. Ela é bem pequenininha, e meu guarda-chuva cobre o dela.

Puxa assunto comigo:

"Que chuva, não?"
"É..."    O que mais eu responderia? Ela não desiste:
"Enquanto isso, do outro lado do país, seca...é  tsunami, vulcão, desabamento de prédio, tromba d'água..."
"Ô, coisa horrível, mesmo..."
"Mas não podemos ir contra os designos de Deus... é o final dos tempos, que estamos vivendo."

Pensei que para ela, não faria muita diferença. Afinal, já estava bem avançada em anos. Olho para o lado, tentando verificar se meu ônibus está entre os que acabam de chegar. Quando olho para onde a senhora estava, ela tinha ido embora. Ou teria sumido?

A PRAIA





No mar onde ela se banha

Misturando os dois sais

Acontecem

Coisas estranhas...


Vozes vindas do fundo,

Que se desmancham nas vagas,

Sereias que se arrebentam

Contra as pedras,

Pálidas e magras.


Conchas fechadas de segredos

Jogadas na areia

Permanecem fechadas

Por puro medo.


No mar onde ela se banha

Existem tristes naufrágios

Almas transparentes mescladas à agua,

Que trazem estranhos presságios.


Águas-vivas mortas de sono,

Queimam peixes que nadam descuidados,

Tubarões ferozes insaciáveis

Mostram seus dentes brancos e afiados...


No mar onde ela se banha

E, timidamente, ressona e sonha,

Uma vida boia, descontente...

Incapaz de driblar, da alma,

A insônia.


Publicado em: 07/06/2011 08:37:01

TEU NOME


Foto: Casa de Pedra, em Petrópolis, Av. Koeller




TEU NOME




Teu nome
É a oração pagã
Que escapa entre meus lábios
E que desconhece
A origem sagrada de sua raiz:
O meu coração.


Teu nome
É o começo de tudo
O que tem importância,
E o resumo incompleto
E ansioso
Do meu viver.


Teu nome
É a palavra perdida
Na canção da vida,
Que eu canto baixinho
De olhos fechados
Para não morrer.


Teu nome
É o destino que busco
No incerto crepúsculo
E que não sei se encontro
Não sei se existe,
Ou se é só busca.


Teu nome
É a promessa silenciosa
Que ninguém prometeu
Mas na qual eu creio,
Pois é a razão
E a esperança
De um sentido.


sábado, 19 de maio de 2012

Carneirinhos



'Mora um lobo mau, bem ali na curva...'

Assim, seguia, a turba,
As ordens da pastora...
Tão amedrontados,
Que nem percebiam
Para onde eles eram
aos poucos, guiados!

E o lobo, dormia
O sono dos justos...
Apenas queria
Não ser incomodado!

E a tola pastora
Guiava as ovelhas
Para um matadouro

E eles seguiam,
Inocentemente
(Ou tolamente?)
Até o desdouro...


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Instantâneo




Achei linda, a cena: o homem idoso, com seu violão, e o jovem rapaz, que o ouvia tocar. Ambos sentados em um banquinho nos jardins do Museu Imperial, em uma linda tarde, linda mesmo, daquelas que a gente  fica feliz por estar vivo.

Em volta deles, a natureza, em todo seu esplendor. Pessoas passavam, aproveitando o dia. Muitos deles, turistas brasileiros e estrangeiros, com suas máquinas fotográficas pipocando a todo instante. Eu não resisti...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

ESCLARECIMENTO SOBRE MEUS CONVITES



Fiz uma coisa que achei bonita, e gostaria de dividir com você. Te convido a entrar no meu mundo encantado, onde a decoração é sempre aquilo que de mais bonito eu consigo criar.  Espero, sinceramente, que você goste de participar, e eu, humildemente, agradeço a sua presença sempre valiosa!

Se eu te convidei, foi porque eu gostaria de dividir a minha criação com você. Porque todas as pessoas que criam algo bonito, gostam de ter  a sua criação apreciada. Ninguém cria algo para esconder dentro de uma caixa, a não ser os egoístas ou os inseguros. E mesmo que você não goste do que eu fiz, eu agradeço a sua presença.

Enviei o convite. Se você não desejar mais recebê-lo, é só comunicar-me , e eu o excluirei da minha lista de convites sem fazer qualquer pergunta. É um direito seu! Mas enquanto você não reclamar, se você não se importar, eu vou sim, continuar enviando convites para você, e espero que você os interprete como uma forma de gentileza, um pequeno presente de mim para você!

Porque cada um dá daquilo que possui. Quando eu tenho alguma coisa que eu acho bonita, interessante ou até mesmo, engraçada,  eu gosto de partilhar. E não me incomodo se alguns pensam que um simples convite signifique desespero. Eu não estou desesperada... por que estaria? Estou aqui neste espaço porque EU escolhi estar. Poderia estar em outro lugar, mas eu PREFIRO estar aqui. Posso voltar para lá a hora que eu desejar, mas a verdade é que eu não desejo. Aqui é bem melhor para mim.  Gosto mais, sinto-me mais à vontade.

Aqui, eu sinto-me livre. E para mim, isso é muito importante. Por isso, dei a este espaço o nome de Liberdade de Expressão.

Se não quiser receber meus convites, você tem várias opções: bloquear meu email, apagá-lo sem ler ou pedir-me que não mais os envie. Sinta-se livre.

Madrugada



A noite foi escura,
Longa e fria,
E os fantasmas  arrastavam
As saias brancas e úmidas
Pelas gotas de neblina...

Branca, branca paisagem,
Translúcida de incerteza
Da bruma que a tudo cobria!...
Os sonhos que eu sonhara
Acordaram melancólicos,
Com saudades de outro mundo...

Ainda, nos meus ouvidos,
Alguns ecos que sumiam,
E nas linhas de minha mão
As marcas de um destino
Que eu nunca saberei
Se foi totalmente cumprido...

Comprida noite,
Onde o sonho vacilou
Entre a insônia e a magia!

Em uma árvore, pousada,
Uma coruja aguardava
O começo de outro dia,
E o nascer de uma outra noite
Quando, outra vez, cantaria!

A madrugada arrastava-se,
Tão fria, tão fria!...


SORRATEIRA - CHATTERED SONG





Desliza suave,
Sorrateira imagem
Procura a serpente
Bem dentro do ninho
Insinua sua
Sinuosidade
Sempre serpenteia,
Sem  temeridade.

Entre o sim e o não
Perde-se cem vezes,
Cerceando a cerca
Da censura sórdida...
Sem sequer saber
Se nascerá um dia
No qual  se anuncie
O cerne da demência.

Sorrateira, silva,
Solta sua cica
Entrementes, pica,
Deixa seu veneno...
Sabe ser sinuosa,
Age na surdina
Discreto silêncio,
Sapiência sonsa...

Segue sempre sob,
Mensageira seca
Assassina fria
Mente soçobrante...
Nasce à meia noite,
Morre ao meio-dia,
Respingando suas
Libações de fel.

Sonha com o céu,
Lança a alma surda
Numa catapulta
Sem saber porque...
Sôfrega sibila,
Traça maldições
Sorve o sangue quente
Das veias dormentes...

Chattered silver song
To which someone listens
Whitout any sense
Or even sensibility
Always frail and tense,
Seven times surrenders,
Sentimentalism
Fakes her criticism...

Swept away with fear
Shows a strong attempt
To appear solid,
But in fact, she's vain...
Just a poor saint
Who has lost her halo
For it has been melted
By the heats of  sadness...

Publicado em: 09/07/2011 12:18:25

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