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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sebastien-Roch-Nicolas de Chamfort - e a Sociedade







Máximas de Chamfort - e sua crítica à sociedade de sua época, que pelo que vejo, só mudou para pior.








Há séculos em que a opinião pública é a pior das opiniões.





Podemos considerar o edifício metafísico da sociedade como um edifício material composto de diversos nichos ou compartimentos, de grandeza mais ou menos considerável. Os cargos – com suas prerrogativas, seus direitos, etc.- constituem esses diversos compartimentos, esses diferentes nichos. Eles são duradouros enquanto os homens passam. Aqueles que os ocupam são ora grandes, ora pequenos, e nenhum ou quase nenhum foi feito para seu cargo. Ali vemos um gigante, curvado ou acocorado em sua pequena morada. Lá está um anão sob uma arcada: raramente o nicho é feito para uma estátua. Em torno do edifício circula uma multidão de homens de diferentes tamanhos. Todos esperam que haja um nicho vazio, a fim de colocarem nele, qualquer que seja. Para ser admitido, cada um faz valer seus direitos, ou seja, o seu nascimento ou suas proteções. Eles apurariam aquele que, para ter preferência, fizesse valer a proporção que existe entre o nicho e o homem, entre o instrumento e o estojo. Os próprios concorrentes se abstêm de objetar essa desproporção aos seus adversários.




Aqueles que tem espírito têm mil boas histórias para contar sobre as tolices e as bajulações das quais foram testemunhas, e é o que se pode ver por cem exemplos. Como esse é um mal tão antigo quanto a monarquia, nada comprova melhor quão irremediável ele é. Pelos milhares de casos que ouvi contar, poderia concluir que, se os macacos tivessem o talento dos papagaios, seriam de bom grado transformados em ministros.




Os homens deste mundo estão amontoados, enquanto creem estar em sociedade.




A sociedade é composta de duas grandes classes: os que têm mais jantares do que apetite, e os que têm mais apetite do que jantares.






Felizes os que nada esperam, nunca serão desiludidos.




Não é fácil encontrar a felicidade em nós mesmos e é impossível encontrá-la em outro lugar.





A sociedade – aquilo que se chama de mundo – não passa de luta entre mil pequenos interesses opostos, uma luta eterna entre todas as vaidades que se entrecruzam, se chocam, sucessivamente feridas, humilhadas umas pelas outras, que expiam no dia seguinte, no desgosto de uma derrota, o triunfo da véspera. Viver solitário, não ser machucado nesse choque miserável em que se lança por um instante os olhos para ser arrasado no instante seguinte, é aquilo que se chama de não ser nada, não ter existência. Pobre humanidade!





O público, o público, quantos tolos são precisos para fazer um público?





Quando Montaigne diz, a propósito, da grandeza: “Já que não podemos alcança-la, vinguemo-nos, maldizendo-a”, ele diz uma coisa divertida, muitas vezes verdadeira, mas escandalosa, e que dá armas aos tolos que foram favorecidos pela fortuna. Muitas vezes é por pequenez que se odeia a igualdade de condições. Porém, um verdadeiro sábio e um homem honesto poderiam odiá-la como uma barreira que separa as almas feitas para se aproximarem. Há poucos homens de caráter distinto que não tenham rejeitado os sentimentos que lhe inspirava um certo homem de classe superior, que não tenham repelido, para sua própria aflição, alguma amizade que poderia ser para eles uma fonte de doçuras e consolações. Cada um deles, em vez de repetir as palavras de Montaigne, pode dizer: “Odeio a grandeza que me faz fugir daquilo que eu amava ou teria amado.”






A generosidade não passa da piedade das almas nobres.





Celebridade: a vantagem de ser conhecido por aqueles que não nos conhecem.




Governa-se os homens com a cabeça: não se joga xadrez com um bom coração.






Tudo que é oriundo da classe do povo arma-se contra ele para oprimí-lo, desde o miliciano até o negociante transformado em secretário do rei, o pregador saído de uma aldeia para pregar a submissão ao poder arbitrário, o historiógrafo filho de um burguês, etc. São como os soldados de Cadmo: os primeiros a receber suas armas voltam-se contra seus irmãos e atiram-se sobre eles. (
Nota: Cadmos – mitológico fundador de Tebas. Chegando à Beócia, matou um dragão que devorava seus homens e, por ordem de Minerva, semeou seus dentes. Desses dentes afiados nasceram soldados, que lutaram entre si até só restarem cinco, que se tornaram os ancestrais dos tebanos). 




Filósofo, moralista, hedonista e revolucionário, o francês Sébastien-Roch-Nicolas de Chamfort (1740-1794) foi um dos principais críticos da sociedade francesa do século XVIII. Iniciou sua carreira literária com poesias e comédias, porém alcançou notoriedade com a publicação póstuma de Máximas, Pensamentos & caracteres & Anedotas. Contrário aos valores corrompidos que cercavam o reinado de Luis XVI, Chamfort foi partidário da Revolução Francesa. Detido em 1793 e ameaçado de ser novamente detido no ano seguinte, Chamfort faleceu em virtude dos ferimentos decorrentes de sua desastrada tentativa de suicídio. Não suportando a idéia de voltar para a prisão, Chamfort fecha-se em seu gabinete e dispara uma bala contra o rosto. A pistola funciona mal e, apesar de perder o nariz e parte do maxilar, ele não consegue matar-se. Arma-se então de um corta-papéis e tenta cortar a garganta porém, apesar de diversas tentativas, não consegue achar a artéria. Utiliza então o mesmo corta-papéis para espetar o peito e seus jarretes. Exausto, perde a consciência. Seu valete, alertado, encontra-o em um mar de sangue. Apesar de todos os esforços de Chamfort para matar-se, conseguem salvá-lo.

                               


                                  

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

LEGADO









Te deixo o meu guarda-roupa,
Dele, faça o que quiser.
Deixo também alguns livros,
-Nem todos bons, nem todos lidos,
Outros, tão manuseados,
Que ficaram alguns cílios
Perdidos por entre as folhas.

Não deixo amigos, nem filhos
Que possam guardar memórias;
Sob as pálpebras fechadas,
Daqui, eu não levo nada,
E nada é o que ficará
Da minha efêmera história.

Meus discos, que tanto ouvi,
E o chão que guardou meus passos
Por entre esses corredores:
São eles a minha trilha
Sonora, mas morrerão
Depois de dias, ou horas.

Os poemas que escrevi
E que quase ninguém leu,
São a minha importância,
Representam, na verdade,
O que de verdade sou eu.

Mas quem não os quis ler antes,
Abandonando na estante
As minhas pobres palavras,
Pode bem seguir adiante,
Não entenderá jamais
O que jamais entendeu.

Um passo, e o mundo me esquece,
Um sopro, e eu vou embora
Sem levar saudade alguma,
Só a lágrima fingida, 
O fel da última hora.





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Angry People






I know  a person who gets angry easily. Out of the blue, she (yes, it's a woman) starts cursing and accusing people of doing things they didn't do. In fact, she's a good person. But she has this (small?) flaw. 

When she's excited or nervous about something, she spreads this feeling all over her, affecting people's peace of mind. In these occasions, it seems that she's connected to a power socket, and has a bare wire: everyone she touches, gets a shock! When she finally leaves the place, we notice that we've become a little more irritated and tired, and for no reason!

Maybe I'm used to being alone for long periods of time, and being around people like her, might make me feel tired and unbalanced. I'm used to listening to birds singing all day, and being surrounded by things such as trees, mountains, dogs and plants. Being around people like her for a long time really drains my energy.

There are many people who behave in the same way: they think that the others are there to make their wishes come true and obey their orders. If one doesn't understand immediately what they want, they come stamping their feet towards us, faces full or rage, angry voices raised, saying how incompetent and useless we are for not having understood them the first time around. 

This person that I know is always losing things. Wherever she goes, she loses something, and while she's looking for it, she suggests that 'someone has taken' the object she's looking for. It's so bad to have people suspecting of us for something we didn't do!  I've been lightly accused by her a couple of times. And when she finally finds her missing object, which had been lost due to her own lack of organisation, she doesn't even apologise to anyone; just keeps acting as if nothing had happened. 

People like this often say that we must accept them as they are - with all their impoliteness, rudeness, and lack of good sense. The fact is that one day, they end up facing someone who treats them the same way. It always happens. But they never remember to be as understanding as they demand us to be. 




domingo, 19 de fevereiro de 2017

Boa Sorte!






VARRER





Era bem cedinho de manhã, e o dia mal tinha clareado. Eu era bem pequenina, e acordava com o ruído da vassoura batendo no chão de terra endurecida do nosso quintal. A luz que entrava pela veneziana trazia consigo sombras que se movimentavam no teto de madeira do quarto: era meu pai varrendo o chão. Os cachorros latiam para alguns cavalos que passavam na rua, e eu ficava ali na cama, escutando tudo aquilo em silêncio.

Mais tarde, eu ouvia a porta da cozinha se abrindo, e ruídos de papel sendo amassado: era meu pai que chegava com o pão e algumas comprinhas. Então, ele ia para o quarto e sentava-se na cama(eu escutava os sons das molas do colchão estalando) e começava a contar à minha mãe as novidades que ouvira na rua. Conversavam tão baixinho para não nos acordar, que eu não conseguia escutar o que diziam, apenas suas vozes. 

Depois, minha mãe se levantava, e o cheiro do café sendo coado no coador de pano invadia a casa. 

Quando varro meu próprio quintal, de manhã bem cedinho, eu me lembro daqueles dias. Fico pensando se meu pai e minha mãe me olham de algum lugar, ou se ainda vivem e respiram somente na minha lembrança. Talvez a substância criada pelas nossas lembranças seja consistente o suficiente para manter as pessoas vivas, enquanto vivermos, e depois disso, quando ninguém mais se lembrar delas, elas morram. 

Quem sabe, enquanto a minha vassoura toca o chão, levantando poeira, os meus pais, em algum lugar, abram os olhos novamente?





Machado de Assis






Pensamentos de Machado de Assis




"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."



"Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão."



"O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele."


"Está morto: podemos elogiá-lo à vontade."


"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito."


"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"


"Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos."


"A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito."


"Uma coisa é citar versos, outra é crer neles."


"Há coisas que melhor se dizem calando."



Eloquência









A chuva
Faz crescer a erva entre os caminhos
E constrói redondas poças
Que vão ficando cada vez maiores
E cada vez mais intransponíveis.

O vento se cansa
De transportar palavras fracas
Entre diferentes pares de ouvidos,
E as mensagens morrem,
Sem deixar qualquer eco.

Mas as sementes caídas
Displicentemente, das mãos distraídas,
São fertilizadas pela mesma chuva
Que faz crescer as ervas daninhas,
E o silêncio que dorme no vento
Torna-se bem mais eloquente
Do que qualquer palavra.





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