witch lady

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terça-feira, 11 de agosto de 2015

CEREJEIRAS DO QUITANDINHA











CHORA!

CHORA!







Chora, copiosamente
Pela dor de ter perdido
O que nunca foi real,
Fruto da mente carente,
O que não foi possuído!

Chora, por desilusão,
E nem sabe que implora
Pela volta impossível
De um personagem lúdico,
Que foi sem nunca ter sido!

Chora, pelo que amou,
E diante do tal vazio
Que ficou, quando as cortinas
Se fecharam, de repente,
E a luz se apagou!

Chora, urrando de saudade
Ao ver morrer sua libido,
Por jamais ter conseguido
Satisfazer a vontade...
-E hoje, o sonho acabou!

Chora, e segue derramando
Pelo chão lúgubre e frio
Rios de lágrimas quentes
Mil preces benevolentes
Sobre um túmulo vazio...





Arthur Rimbaud






Canção da Torre Mais Alta 

Mocidade presa 
A tudo oprimida 
Por delicadeza 
Eu perdi a vida. 
Ah! Que o tempo venha 
Em que a alma se empenha. 

Eu me disse: cessa, 
Que ninguém te veja: 
E sem a promessa 
De algum bem que seja. 
A ti só aspiro 
Augusto retiro. 

Tamanha paciência 
Não me hei de esquecer. 
Temor e dolência, 
Aos céus fiz erguer. 
E esta sede estranha 
A ofuscar-me a entranha. 

Qual o Prado imenso 
Condenado a olvido, 
Que cresce florido 
De joio e de incenso 
Ao feroz zunzum das 
Moscas imundas.



"O poeta se faz vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os sentidos. todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca a si mesmo, ele exaure em si mesmo todos os venenos, para então guardar apenas as quintessências. inefável tortura na qual necessita de toda a fé, toda a força sobre-humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito, – e o supremo sábio! – pois ele chega ao desconhecido! uma vez que ele cultivou sua alma, já rico, mais que todos! ele chega ao desconhecido, e quando, enlouquecido, ele acabaria por perder a inteligência de suas visões, ele as viu! que ele estoure em seu sobressalto pelas coisas inaudíveis e inomináveis: virão outros horríveis trabalhadores; eles começarão pelos horizontes onde o outro se abateu!"



Jean-Nicolas Arthur Rimbaud foi um poeta francês. Produziu suas obras mais famosas quando ainda era adolescente sendo descrito por Paul James, à época, como "um jovem Shakespeare". Wikipédia
Nascimento: 20 de outubro de 1854, Charleville-Mézières, França
Falecimento: 10 de novembro de 1891, Marselha, França
Obras: Une saison en enfer, Uma temporada no inferno, mais
Álbuns: Poètes & chansons: Arthur Rimbaud




segunda-feira, 10 de agosto de 2015

UMA VASSOURA





Gosto de deixar limpas e perfumadas todas as casas das quais eu me mudo. Costumo acender um incenso, percorrer os cômodos e ir me despedindo. Penso que a nova família que irá ocupá-la, gostará de encontrar a casa limpa, sem poeira ou lixo, o chão brilhando, os banheiros lavados. Mas eu nunca levo panos de limpeza usados ou vassouras velhas; jogo tudo fora. 

A única vassoura que me acompanha desde que me casei é uma antiga, feita de crina de cavalo (naquela época, era comum que colchões e vassouras fossem feitos dos pelos desses pobres animais, e ninguém parava para pensar no assunto...). Só sei que a vassoura tem quase vinte e cinco anos hoje, e está perfeita. Dela, eu não me separo. Ela já viu muitas vassouras novas chegarem cheias de pompa e circunstância, se achando as tais, e irem embora, jogadas no lixo ao se tornarem inúteis, enquanto ela permanece firme e forte, as cerdas perfeitas, o cabo de ferro pintado de vermelho já descascando aqui e ali, mas firme no lugar. Ela foi a única que eu trouxe comigo do apartamento onde moramos quando nos casamos e mais tarde, da antiga casa.

Ainda na casa antiga, em ocasião na qual fazíamos obras no banheiro, me lembro de um dia em que antes de sair de casa,  avisei ao pedreiro: "Se precisar varrer pó de cimento do chão, por favor, use a vassoura de piaçava. Não use minha vassoura de pelo para varrer sujeira de obra, OK?" Ele concordou comigo, e fui sair, tranquila.

Quase tive um ataque de nervos quando, ao voltar, encontrei-o varrendo cimento úmido com minha vassoura de estimação! Já quase gritando, me lembro de dizer: "Mas eu não avisei para não usar a minha vassoura para fazer este tipo de serviço?!" Ele nem se abalou: "Era a que estava mais perto  no momento." Arranquei minha vassoura das mãos dele, e  "cantando pneus," fui para o tanque lavá-la antes que o cimento secasse. Nunca mais ele tocou na minha vassoura.

Hoje, aos quase cinquenta anos de idade, eu às vezes penso se esta será a nossa última casa, se nós moraremos nela até o fim da vida ou se acabaremos nos mudando para um apartamento menor, sem escadas ou jardim e mais fácil de limpar e cuidar quando ficarmos mais velhos. Bem, seja qual for a resposta, a vassoura estará conosco, e será com ela que varrerei  meu alpendre pela última vez - esteja onde estiver.







sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O JARDIM







De repente,
Largou os brinquedos e os enredos,
Abandonou, sem medos,  seu cowboy
Seguindo a estranha moça até o portão.

Disseram que eles foram de mãos dadas,
Deixando, no quintal, abandonadas,
A infância, as esperanças, a ilusão.

De repente,
O vento trouxe a chuva sobre tudo,
Enferrujou gangorras e balanços,
E apagou os passos pelo chão.

Disseram que ele não deixou bilhetes,
Mas a voz de criança, num falsete,
Ecoa, às vezes, entre a solidão.



UMA HOMENAGEM A TODAS AS CRIANÇAS ROUBADAS, DAS QUAIS NINGUÉM NUNCA MAIS TEVE NOTÍCIAS.




terça-feira, 4 de agosto de 2015

VOAR E VIVER




Lembro-me de que quando voei pela primeira vez, ao decolar, tive uma sensação de vazio por dentro, como se tivesse soltado tudo o que me segurava à terra de repente; todos os medos, apegos, raízes. Pensei, enquanto olhava pela janelinha do avião e via a terra ficando pequenininha: “Estou no ar! Estou totalmente dependurada no ar, e ninguém, a não ser as leis da física, estão me segurando! Como pode, algo tão pesado, pairando desse jeito?” 

Algumas pessoas podem dizer que é Deus quem está segurando o avião, e talvez seja mesmo; porém, se pensarmos um pouquinho, saberemos que mesmo que Deus segure o avião no ar -com a ajuda e a  habilidade dos pilotos - se houver uma falha mecânica ou humana, ele despenca. Acidentes de avião acontecem quase todos os dias, e a maioria deles é fatal para todos os ocupantes. Mas, mesmo sabendo disso, nós voamos. Despachamos nossas bagagens e entramos no avião como se fosse a coisa mais normal do mundo, e não sabemos se decolaremos e pousaremos de maneira segura. Confiamos no piloto. Confiamos na mecânica e na física. Confiamos na nossa boa estrela. 

Confiamos em Deus.

Mas os aviões caem, e às vezes, com pessoas que amamos dentro deles, ou quem sabe, conosco. 

Viver é como voar: não sabemos o que nos espera, e por isso, contamos com a fé na vida, tentando acreditar que tudo ficará bem. Vivemos e voamos, pois ficar parados, com medo do que possa acontecer, não leva a lugar nenhum. A única chance que temos de chegar a algum lugar, é nos arriscarmos a entrar no avião, e fazer planos para um futuro que não sabemos se teremos, e mesmo conscientes de que um dia tudo termina, agirmos com a  fé de quem flutua na eternidade. 



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

SOBRE A POESIA




Sobre a poesia, algumas visões poéticas:


"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."

Mario Quintana





Poeminha Amoroso

"Este é um poema de amor 
tão meigo, tão terno, tão teu... 
É uma oferenda aos teus momentos 
de luta e de brisa e de céu... 
E eu, 
quero te servir a poesia 
numa concha azul do mar 
ou numa cesta de flores do campo. 
Talvez tu possas entender o meu amor. 
Mas se isso não acontecer, 
não importa. 
Já está declarado e estampado 
nas linhas e entrelinhas 
deste pequeno poema, 
o verso; 
o tão famoso e inesperado verso que 
te deixará pasmo, surpreso, perplexo... 
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."

Cora Coralina





"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as
transformamos em papel para registrar todo nosso vazio."

Khalil Gibran



"O que eu odeio é que algum dia tudo se reduzirá a nada, os amores, os poemas. Acabaremos recheados de terra como um taco barato. Que coisa mais triste, tudo é tão triste - a gente passa a vida inteira feito bobo pra depois morrer que nem besta."

Charles Bukowski



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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...