witch lady

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Crônica de Uma Manhã Chuvosa





Acordo, e após tomar meu banho, chego até a varanda para olhar a chuva. Ela sempre me hipnotiza quando preciso. Olho as casas e suas janelas fechadas. Olho as árvores e os gramados encharcados. A paisagem é linda e desolada. A chuva cai no mesmo ritmo constante, sem pretensões de aumentá-lo ou diminuí-lo. Parece que choverá o resto da vida.

Olho para a casa do vizinho e vejo a imensa piscina azul clara levemente agitada pelas gotas de chuva; identifico uma pequena mancha escura próxima a uma das margens; aperto os olhos para ver melhor: é um rato que está se afogando! As batidas do meu coração aumentam de repente, e enquanto vejo o pobre animalzinho agitar as patinhas tentando chegar à margem, já tão próxima. Às vezes, ele para, tentando ganhar forças. A quanto tempo estará assim, perdido no meio dessa mortal imensidão azul, lutando para salvar-se? Provavelmente, a madrugada inteira!

Olho para ele, e lamento profundamente não poder fazer nada que o resgate; se eu chamasse alguém, às cinco e quarenta da manhã, a fim de socorrer um rato que se afogava na piscina, com certeza eu seria xingada, e o rato, esmagado à golpes de vassoura. Sinto a solidão e o medo que devem fazer parte daquela pequena vida em seus últimos momentos; ele não consegue sair, e de repente, deixa de mover-se. Choro por ele. Infelizmente, algumas vidas são consideradas repugnantes, desnecessárias, inferiores. Que diferença fará para o mundo a morte daquele ratinho? Quem se entristecerá pela morte dele? Elevo meu pensamento, para além daquele corpinho que agora boia inerte no canto da piscina, e deixo-lhe apenas uma breve prece, pois quem sabe, ele tem uma alma...

E se ele tiver, talvez seja esta a melhor ação que já fiz na minha vida inteira: orar por um pobre rato morto.



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

ENTARDECER












































ÁGUA








































CEPA





Nunca mais eu hei de expor
À cepa, as pontas dos dedos...
Usa-las-hei para a escolha,
Para  as cordas de minhas harpas,
Para escrever meus poemas,
Para apontar as estrelas.

Pintarei meu céu de azul
Com os tons que eu escolher,
Cruzarei as minhas mãos
No silêncio da oração,
Amassarei o meu pão,
E acenarei um adeus
A tudo o que me faz mal.

Para isto servem as mãos.


Espaço




Caibo toda dentro de minha casa. Conheço a amo cada espaço, cada canto, cada vão de parede. Até mesmo as gotas de chuva que batem na minha vidraça, tem um som diferenciado das gotas que caem em outras vidraças. Aqui eu tenho aquela falsa sensação de estar segura e protegida - falsa, pois a partir do momento em que estamos nesse mundo, as injúrias podem entrar até mesmo pela janela de casa quando menos se espera. Mas pelo menos, aqui, terei a certeza e o consolo de não tê-las convidado.

Sozinha em minha casa, eu consigo ser feliz por muito mais tempo. Ela me conhece. Acima de tudo, ela me respeita e me aceita como sou. Aqui em minha casa, durante a maior parte do tempo, entram as sensações que eu convido. E quando não desejo ser vista, eu fecho as portas e as janelas (raras ocasiões).  Aqui eu posso existir plenamente, sem a preocupação de estar incomodando ou esbarrando em outras existências. Daqui para o mundo, é só um passo, que eu só dou quando quero.

Às vezes, a paciência com a maldade e a mesquinhez de algumas pessoas torna-se curta; explodo, e minhas paredes contém minha explosão sem que eu necessite contaminar o ar alheio. E quando termina meu desabafo, limpo tudo - o espaço físico, mental e espiritual - e continuo meu dia.

Caibo toda dentro de minha casa: corpo, alma, pensamento. Aqui, eu sou livre. Aqui, eu sou feliz.




Imprecisão





Eu miro um horizonte enfermo
Lá, onde jaz o meu desterro
Ermo retrato do porvir.

Ir ou ficar: é só o tempo
Que escreve as linhas desse intento
Céu ou inferno: mesmo caminho?

E a nossa dor de sermos sós
Põe-se ao nascer de um novo sol...
-Mesmo horizonte, o que a acolhe.

Nesse saber que a vida tolhe
Não há retornos no final
Somente as cores do arrebol.



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