witch lady

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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Se te abaixasses, montanha - Cecília Meireles








Se te Abaixasses, Montanha




Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a mão 
daquele que não me fala 
e a quem meus suspiros vão. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia ver a face 
daquele que se soubesse 
deste amor talvez chorasse. 

Se te abaixasses, montanha, 
poderia descansar. 
Mas não te abaixes, que eu quero 
lembrar, sofrer, esperar. 






Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)'

Chá




Chá


Chá de maçã com pouco açúcar,
Torradas com manteiga e mel...
Pela janela, um pedacinho
Uma nesguinha azul de céu.

De gole em gole, sorvo o chá
Que tem um gosto de passado,
No fundo da xícara, memórias
Com o açúcar cristalizado.

Licor de chocolate; um trago,
O friozinho pela fresta...
O crepitar do fogo, as chamas,
Dançando na lareira, em festa.

Passa por mim a vida inteira
Entretecida aos fios de lã
Da manta que me agasalha
Enquanto eu mordo uma maçã.

No corredor, o tique-taque
Quebra o silêncio dessa tarde.
A casa viva me vigia,
E eu adormeço, eu adormeço...

Nem mesmo sei se é de verdade
O chá, o mel, o chocolate...
Na sonolência eu me esqueço...
Até que um cachorrinho late.






MENINA








MENINA


Levava o carinho nas pontas dos dedos,
E todo o frescor da vida brotava...
Menina brincando, com a paz sonhava
Sem dores ou cismas; menina sem medo.

Mas veio o inverno que enregelou
As telas e cores que a artista pintou...
Rasgou-se o vestido, turvou-se-lhe a vista
Das lágrimas tantas que ela derramou!

Cresceu a menina, murcharam as flores
Daquele jardim de amor que plantou
Chegou a saudade, e junto, a dor.

As pedras jogadas feriram-lhe a fronte
E jaz no passado o que dela restou:
História esquecida... haverá quem a conte?


terça-feira, 10 de setembro de 2013

EPIGRAMA






EPIGRAMA


Adoro Cecília Meireles. Ela foi a primeira poeta que li por livre e espontânea vontade, sem ter sido por imposição dos professores de Língua Portuguesa e Literatura. Ainda era criança, e eu a conheci ao passar por uma banca de livros usados, no calçadão das Lojas Americanas ("point" famoso entre os jovens naquela época). O livro era "Olhinhos de Gato." Já li e reli aquele livro tantas vezes... e nunca me cansei dele. A poesia e a prosa de Cecília Meireles falam ao coração de quem as lê de maneira suave e eficaz. Hoje, ainda tenho aquele livro, e mais alguns que adquiri ao longo da vida.

Eu sempre ficava intrigada com os vários poemas de Cecília cujos títulos eram "Epigrama." O dicionário define: 

Por J. Argemiro (SP) em 24-07-2009


O vocábulo epigrama era de uso comum no latim clássico (de onde foi absorvido pelo português), mas apresenta etimologia grega. Compõe-se do prefixo epi, que neste caso quer dizer em cima de, sobre, acoplado ao elemento de composição grama , que aqui tem o sentido de sinal ortográfico, inscrição, glosa, adendo, anotação. Epigrama, pois, quer significar qualquer mensagem gravada em cima de alguma obra ou objeto (vasos ornamentais, monumentos, esculturas, lápides, muros, livros, paredes, tumbas etc.), em forma de grafitagem caligrafada, inscrições, epitáfios, dedicatórias ou identificação de produção artística. Na literatura, representa o gênero poético criado na Grécia e popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos versos ou estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e agradável leitura, geralmente marcadas pelo humor satírico mordaz ou zombeteiro, crítica social, maledicência pessoal, malícia picante ou duplo sentido. São idéias, pensamentos, máximas, mexericos, intrigas ou anedotas redigidos em formatação poética de escala textual reduzida e alta densidade de conteúdo com desfecho impactante (similar à chave de ouro dos sonetos). Em português há o coletivo acantologia (coleção ou antologia de epigramas).

Alguns exemplos de epigramas poéticos: 1) O caminho por onde se sobe / é o mesmo por onde se desce (Heráclito) 2) O doutor Saracura / a curar começara; / mas enquanto ele cura / o doente não sara (Pe. Correa de Almeida).3) Sou político e me arranjo / no ninho da cobra-cega. / Parte de mim soca o anjo / que a outra parte carrega (José Argemiro); 4) ?Ai, Maria! Vem depressa, / desaperta este culote! / Eu me sufoco, ai que temo / estourar como um foguete! / - Nanhanhãzinha está tão bela! / Mas, enfim, dá tantos ais ... / - Oh, espera! Estou bonita? / Pois, então, aperta mais. (Joaquim Manoel de Macedo).

Eis aqui um deles, de Cecília Meireles:

Epigrama n. 12

A engrenagem trincou pobre e pequeno inseto
E a hora certa bateu, grande e exata, em seguida.

Mas o toque daquele alto e imenso relógio
dependia daquela exígua e obscura vida?

Ou percebeu sequer, enquanto o som vibrava,
que ela ficava ali, calada mas partida?

E também:

Epigrama n.10

A minha vida se resume
desconhecida e transitória,
em contornar teu pensamento.

sem levar dessa trajetória
nem esse prêmio de perfume
que as flores concedem ao vento.


Enfim; Cecília, com toda a sua elegância e sabedoria, construía lindos epigramas.

Mas um de meus poemas favoritos dela, é "Criança." Forte, pungente. Já o transcrevi em uma de minhas páginas. Também aprecio demais este, que não é um epigrama, pois que é longo demais, mas encerra o mesmo tom irônico e sarcástico dos epigramas:

Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
O ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro,
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
-e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas... 

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu hoje esta música heróica:

Do céu que venta,
Do mar que dança,
e de mim.

Belíssimo, não?

Uma outra característica da poesia de Cecília Meireles, é o verso livre, solto, sem a preocupação obsessiva com métricas e rimas. Alguns deles, são quase prosas poéticas. Como em Taverna, que colocarei aqui em um pequeno trecho:

Bem sei que, olhando pra minha cara,
pra minha boca triste e incoerente,
pros gestos vagos de sombra incerta
que hoje sou eu,
minha loucura se faz tão clara,
minha desgraça, tão evidente,
minha alma, tão descoberta,
que pensam: "Este, não bebeu..." (...)

Maravilhosa!


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Não me calo!




Não me calo!
Entra nos ouvidos o meu canto,
Circula pelos ares
Desce com a chuva pelos ralos!

É raro o momento,
raro,
Em que a palavra falta
Ao dom da pena!

Não me calo!
Seja por revolta
Ou por contemplação serena...
Aquilo que me chega à garganta
Eu não engulo,
Não mato!

Não me calo!
Canto com a voz desafinada
E inadequada, que a mim
Por Deus foi dada!

E enquanto circular o sangue
Pelas minhas veias fracas,
Às vezes, derramado
Em hemorragias verborrágicas,
Desistas!

Porque eu não me calo,
E não hei de calar-me!



UMA LÍNGUA ENGRAÇADA






Finalzinho de aula. Eu e uma aluna começamos a conversar amenidades, e de repente, ela me saiu com essa: "Fulano é cheio de mimimi!"

Eu, que nunca tinha ouvido tal coisa, perguntei a ela o que significava mimimi; ela explicou: "Ah, sabe como é, professora..conversa fiada, frescurinha, enfim... mimimi é... mimimi!" Ri muito da conclusão dela.

Mais tarde, joguei mimimi no Google para ver no que dava. Descobri o seguinte:

No site humorístico 'Desciclopédia,' a definição de mimimi é a seguinte: "Som feito por pessoas de voz aguda quando reclamam. Usado principalmente para pessoas desprovidas de inteligência..." E o restante da definição eu não consegui ver, pois meu antivírus bloqueou o site. Pensei: Ó antivirus cheio de mimimi!

Existe também um cantor que está bombando no Facebook com um hit chamado "Não vem com mimimi." Bem, consegui escutar por 30 segundos... ruim demais! confesso que também sou cheia de mimimis! 

Daí, fui pesquisar no Dicionário Informal, um dicionário online, que deu-me os seguintes sinônimos para mimimi: "conversa fiada, lorota, conversa pra boi dormir; enrolação, desculpa esfarrapada, mingué." Eu também nunca tinha ouvido 'mingué!'

Bem, então fiquei pensando se não existiria, em inglês, uma definição para mimimi; joguei no Google Translator, e ele me devolveu a mesma tradução: mimimi! Pensei nas palavras que eu conhecia para definir 'lorota' em inglês, e lembrei-me de "tall stories" (traduzindo literalmente, "histórias altas", ou seja, mentiras. Nada tem a ver com a definição para o mimimi brasileiro).

Tentei de novo 'lorota' no Google Translator, e apareceu "fudge." Uma tradução bem ao pé da letra . Mas sem o ziriguidum do mimimi brasileiro.

De tanto ensinar e estudar inglês, acho que estou ficando para trás nas novas expressões idiomáticas brasileiras. E haja mimimi. E visto a ilustração acima, acho que os americanos vão acabar adotando o nosso termo mimimi, e encorporando-o à sua língua. Mas não os Britânicos, pois estes, são cheios de mimimi.

domingo, 8 de setembro de 2013

Domingo ao Sol



A casa parece sempre mais quieta no domingo. Parece que os fantasmas vão descansar em outros lugares no final de semana. Sinto até saudades deles...

Mas hoje tive um dia bem gostoso, sentada à sombra da minha laranjeira perfumada, coberta de flores, com meu leitor de e-livros, envolvida em uma leitura muito agradável. O sol estava quente sem queimar, do jeitinho que eu gosto.  Às vezes, eu erguia os olhos do livro e olhava a montanha ao longe. Parecia que as palavras do autor ecoavam mais fortemente, quando eu fazia isso.

Foi um lindo dia. Agora, fresca pelo banho recente, vou enrolar-me em uma manta bem macia e curtir o final da tarde assistindo a um bom filme. Sinto que os fantasmas retornam à casa silenciosa.



IRONIA






IRONIA

Às vezes, 
A ironia é a melhor forma
De enfrentarmos a grosseria,
A humilhação que passamos
Através do vômito insano
De alguém que não sabe conviver.

Às vezes, 
A ironia é a forma suave
E inteligente, na qual
Alguém se defende da maldade
Que vem em sua direção.

Às vezes, 
É a ironia que nos blinda
Daquele arranhão que não finda,
Que aponta seu dedo rombudo
Pensando que sabe de tudo,
Achando-se o dono do mundo,
Senhor da verdade, absoluto!

Condenando o que não entende,
Escrachando o que não aprova,
E mesmo nas piores horas,
Não sabe ser condescendente!

A ironia
Pode ser a maneira mais limpa
De lidar com alguém que utiliza
Vocabulário indecente,
Ameaças de surras,
Alguém que zomba da gente
E de quem nos aprova.

A ironia é menos ridícula
Do que a voz de quem oferece o triste falo
Como se fosse um tal regalo
Mas causa nojo, e opróbrio, e asco,
E que nos oferece em um sujo frasco
Para os incautos, que nos bebem
Sem nem saber o que engolem!

Ninguém está livre de ser
Usado como vaso de escarro
De alguém que se esconde por trás
De palavras rebuscadas,
Verborragia impressionante,
E que passa a maior parte
Do seu tempo, debruçado
Sobre aquilo que chama de lixo,
Cheirando, provando, se refastelando
No alimento, que segundo ele,
Só serve mesmo para os bichos!

Indignação ou vício?
Desprezo ou pura paixão?
Superioridade ou complexo?
Freud, explique essa intenção!

A ironia nos ajuda
A resistir ao escracho óbvio
Da falta de educação e gentileza,
Que pode vir de alguém que dá a si mesmo
Um falso título de nobreza,
Mas que ao invés de nobre espada,
Carrega um rombudo cutelo,
E um fedorento e nauseabundo
Repugnante par de chinelos!


sábado, 7 de setembro de 2013

Cordel da Aposentadoria








Retirado do G1:




Em Pernambuco, a história de um cordel foi parar na Justiça.

O ateliê de Davi Teixeira é povoado de bonecos, todos feitos por ele. A arte deste artesão também se manifesta na poesia do cordel.

O mosquito da dengue, o telefone celular, a bolsa da sogra... Muita coisa inspirou o poeta. Davi já escreveu mais de 30 folhetos e só tem um que se tornou um problema na vida dele.

A Lei da Previdência para a aposentadoria fala da visão do autor sobre a situação de quem quer se aposentar. “Essa tal de aposentadoria, que agora vou destrinchar, pede tanto documento, dá vontade de chorar”.

O folheto circula há oito anos. Há cinco meses, Davi foi chamado à Procuradoria Regional no Recife. A Advocacia Geral da União considerou que o cordel tinha informações a ofensivas à imagem do INSS.

“Deu uma tremedeira. Eu senti na pele que o negócio estava sendo mais complicado. Veio de Brasília um documento me proibindo uma literatura de cordel”, diz Davi, que correu para recolher os folhetos que estavam espalhados em 90 pontos de venda na cidade e se comprometeu a fazer um novo cordel, alterando o texto.

“Essa aposentadoria que agora eu vou destrinchar pede apenas documento. Nem precisa esperar. É somente alegria, você pode acreditar”.

O superintendente do INSS no Nordeste disse que não houve censura. “Isso foi uma coisa muito pontual. Um procurador viu aquele cordel e achou que em determinado momento ele criticava algo da Previdência, das leis da Previdência”, declarou João Maria Lopes, super. do INSS – NE.

Antes de distribuir o novo cordel, Davi recorreu à Justiça e ganhou, por uma decisão liminar, o direito de voltar a publicar o texto original.

“Eu tomei a decisão buscando garantir a livre manifestação de pensamento de um cidadão brasileiro, já que vivemos num estado democrático, e resguardar algo que vem da cultura popular nordestina”, explica o juiz Frederico Azevedo.

E o superintendente do INSS diz que não houve censura?! Felizmente, o juiz que julgou o caso foi sensato e defendeu a liberdade de expressão. Mas o que me encantou, foi a inteligente ironia de Davi Teixeira, ao reescrever o cordel. Doce, fina ironia!


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Sêneca




"Se o homem tivesse a oportunidade de olhar para dentro de si próprio, como se torturaria, confessaria a verdade e diria: "Tudo que tenho feito até agora, preferiria que não tivesse sido feito; quando penso em tudo o que disse, invejo os mudos; tudo o quanto desejei, a maldição de meus inimigos; tudo o que temi. Ó deuses justos! Melhor não tivesse desejado. Fiz muitas inimizades (se é que há amizade entre os maus), e nem sou amigo de mim mesmo. Fiz os maiores esforços para sair da multidão e fazer-me notar por alguma qualidade: o que tenho feito senão oferecer-me como um alvo e mostrar à maldade onde poderia me machucar? Vê aqueles que elogiam a eloquência, escoltam a riqueza, adulam os benfeitores, louvam o poder? Todos são inimigos, ou podem sê-lo. Tantos são os admiradores quanto os invejosos. Por que não buscar algo realmente bom, para sentir, não para mostrar? Essas coisas que se contemplam, diante das quais as pessoas se detêm, que um mostra  a outro com assombro, por fora brilham, por dentro são deploráveis."





"Estamos algemados ao destino. Para alguns, as algemas são douradas e frouxas; para outros, sãop apertadas e sórdidas. Que diferença faz?  A mesma prisão cerca a todos, tanto os que estão presos quanto os que aprisionam, a não ser que talvez penses que é mais leve a algema no braço esquerdo. a uns prendem as honras, a outros, a opulência. A alguns a notoriedade oprime, a outros, a obscuridade. Alguns inclinam suas cabeças sob o domínio alheio, outros sob o seu próprio. Alguns tem como único lugar, o exílio, outros, o sacerdócio. Enfim, toda vida é servidão."




"De fato, muitos derramam lágrimas por simples ostentação, uma vez que mantém olhos secos sempre que o espectador se vai, julgando ser torpe não fazê-lo quando todos o fazem. Tão profundamente se fixou este mal estar dependente da opinião alheia que simula até uma coisa tão simples como a dor."




"Quem decide um caso sem que tenha ouvido a outra parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça."


NOITE






As Damas da Noite
Ergueram as vozes de gaze
E montando numa brisa
Trouxeram seu perfume
Num frasco de luar.

Cravejei a pele de estrelas,
Escancarei as janelas
Deixando a noite entrar.

Vesti-me da escuridão sedosa
Adornei-me de silêncio
Salpiquei sonhos na fronha.



INFORMAÇÕES ÚTEIS

Copiado da Delegacia de Crimes Virtuais
 CONHEÇA SEUS DIREITOS!

Calúnia / Injúria / Difamação



SaferNet Brasil só pode encaminhar às autoridades competentes as denúncias de crimes contra os Direitos Humanos cuja ação penal seja pública e incondicionada à representação. Por isso a SaferNet só recebe por meio daCentral de Denúncias os casos de Pornografia Infantil, Racismo, Homofobia, Xenofobia, Apologia e incitação a crimes contra a vida e Neo Nazismo.

Os crimes de:
Ameaça (art. 147 do Código Penal);
Calúnia (art. 138 do Código Penal);
Difamação (art. 139 do Código Penal);
Injúria (art. 140 do Código Penal);
Falsa Identidade (art.307 do Código Penal);

dependem, por determinação legal, de queixa realizada pela própria vítima. Estes crimes, mesmo cometidos pela Internet, devem ser denunciados pela vítima na delegacia mais próxima da residência dela ou em uma delegacia especializada em crimes cibernéticos.

Apesar de não receber denúncias destes crimes, a SaferNet sugere as seguintes orientações para ajudar as vítimas nestes casos:

1. Preserve todas as provas

Imprima e salve:
o conteúdo das páginas ou "o diálogo" do(s) suspeito(s) em salas de bate-papo,
mensagens de correio eletrônico (e-mail) ofensivas. É necessário guardar também os cabeçalhos das mensagens;
Preserve as provas em algum tipo de mídia protegida contra alteração, como um CD-R ou DVD-R;
Todas essas provas ajudam como fonte de informação para a investigação da polícia;

No entanto, essas provas não valem em juízo, pois carece de fé pública. Uma alternativa é ir a um cartório e fazer uma declaração de fé pública de que o crime em questão existiu, ou lavrar uma Ata Notarial do conteúdo ilegal/ofensivo. Esses procedimentos são necessários porque, como a Internet é dinâmica, as informações podem ser tiradas do ar ou removidas para outro endereço a qualquer momento.

Não esqueça: A preservação das provas é fundamental. Já houve casos de a Justiça brasileira ter responsabilizado internautas que não guardaram registros do crime on-line do qual foram vítimas.

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2. Procure a Delegacia de Polícia

De posse das provas, procure a Delegacia de Polícia Civil mais próxima do local de residência da vítima e registre a ocorrência. Você também pode ir a uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos.
3. Solicite a remoção do conteúdo ilegal e/ou ofensivo

Para fazer esta solicitação, envie uma Carta Registrada para o prestador do serviço de conteúdo na Internet, que deve preservar todas as provas da materialidade e os indícios de autoria do(s) crime(s). Confira modelo de cartasugerido pela SaferNet Brasil.


Entenda a diferença entre os tipos de crime na Internet


Ameaça (art. 147 do Código Penal):
- Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente procede mediante representação.

Calúnia (art. 138 do Código Penal):
- Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Difamação (art. 139 do Código Penal);
- Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria (art. 140 do Código Penal):
- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)


Falsa Identidade (art.307 do Código Penal):
- Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.



A ação penal, no casos de Calúnia, Difamação e Injúria na Internet, é privada ou pública condicionada à representação, e depende, por determinação legal, do registro de uma queixa-crime que deve ser formalizada perante uma autoridade policial.


Entenda a diferença entre os tipos de ação penal:


Privada: quando a lei confere somente e *exclusivamente* à vítima a legitimidade para a propositura da ação penal. Normalmente, em tais casos a existência da ação criminal diz respeito tão somente à pessoa da vítima. Entre os crimes de ação penal privada que demandam o comparecimento a uma delegacia de polícia ou juizado especial criminal estão: crimes contra a honra: injúria, calúnia, difamação.


Pública incondicionada: quando somente o representante do Estado, o Ministério Público, pode intentar a ação penal independentemente da manifestação de vontade de quem quer que seja. Para tanto, basta haver indícios suficientes de autoria e prova da materialidade do(s) crime(s). É o caso de todos os crimes contra os Direitos Humanos, objetos de denúncias anônimas recebidas pela SaferNet Brasil.


Pública condicionada à representação: quando o Ministério Público possui legitimidade para intentar a ação penal somente após a permissão expressa da vítima. Tal previsão legal existe para proteger a imagem e a vítima pois, em determinados casos, poderá existir demasiada exposição.

Exemplos: crime de ameaça e corrupção de menores.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Califórnia




Eis o meu texto "Califórnia", vencedor do concurso de contos do blog Gândavos, de Carlos Lopes. Em meio a tantos autores competentes, fico muito feliz e agradecida por ter vencido o concurso!


CALIFÓRNIA


Pisava no chão seco e farinhento da vila de Córrego Seco desde que nascera. Nome mais apropriado para um lugar, não existia. Tudo era tão seco, que até mesmo o carcará tornara-se pássaro raro. Somente os que, como Joana, não tinham outra alternativa, continuavam vivendo ali. Ela não conhecia outra vida, tendo gasto em seu caminhar, muitas solas de chinelo. De sol a sol, de solo a solo, de cacto a cacto. Sua magreza alongava-se ainda mais na sombra projetada no chão pelo sol escaldante. No alto da cabeça, carregava uma lata d’água barrenta que tinha ido buscar a dois quilômetros da sua casa. Passava pelas ruínas da velha igreja sem notar, como quem passa por uma fé que deixara de existir.
Tinha apenas vinte anos de idade, mas aparentava quarenta. Em fila, seguiam-lhe seus três meninos, aonde quer que ela fosse. O pai? Partira para a cidade grande em busca de uma vida melhor, deixando apenas uma promessa: “Um dia, eu mando buscar ocês.” Nunca mais voltou. Nunca mais deu notícias. Também, que notícia poderia chegar àquela lugar esquecido por Deus? 
Joana nem sentia saudades do marido. Tinha antes muitas outras coisas a sentir: fome, sede, cansaço, desesperança, e um medo que crispava-lhe o estômago: o de ver morrerem seus filhos. Todos os dias, chegavam-lhe histórias de crianças que morriam. Às vezes, passava um cortejo na porta de casa, um pequeno bando de gente maltrapilha carregando um pequeno caixão.
Certa manhã, antes mesmo de clarear, Joana acordou com um sobressalto: tivera um sonho ruim. Vira um de seus meninos dentro de um caixão. No sonho, estava em uma sala vazia e escura, onde, bem no meio, havia um caixão cercado de velas. Ela foi se aproximando devagar, com medo do que fosse ver, enquanto ouvia uma risada sardônica atrás de si. Sentiu um arrepio na nuca, e quando chegou bem perto, levou à mão ao peito e olhou: lá estava seu mais velho! 
Joana levantou-se correndo, e foi olhar seus meninos, e ao ver que dormiam pesadamente na esteira de palha, deu um suspiro de alívio; ainda não era naquele dia! 
Na noite seguinte, teve o mesmo sonho. A única diferença, é que o menino no caixão era o seu do meio. E na terceira noite, o sonho repetiu-se, mas era o seu mais novinho que estava morto. Joana achou que aquilo era um sinal; tinha que sair dali! Precisava ir embora, pois beber água barrenta e comer farinha com lagarto cozido não era vida para menino. Mas ir embora para onde, meu Deus? Não tinha nada, não sabia ler, mal sabia falar direito... e enquanto cismava, andando de um lado para o outro debaixo do sol, à porta de seu casebre, enquanto os meninos comiam feijão com farinha, veio de repente uma ventania; e com a ventania, uma folha de papel, uma página de revista que grudou no seu rosto.
Surpresa, Joana pegou o pedaço de papel e olhou: era uma fotografia, uma imagem de um lugar onde havia um jardim verde e exuberante, cheio de flores coloridas, junto a um rio azul enorme de lindo. Havia também muitas pessoas felizes, e em uma fotografia menor, mesas com toalhas brancas cheias de pratos de comidas que ela nunca tinha provado, e um sorridente homem de branco que era tão bonito, que só podia ser um anjo de Deus! Ela nunca tinha visto tanto verde na vida, nem mesmo na época da chuva! Notou as letras sob a foto, e achou que elas deveriam dizer o nome do lugar na fotografia; decidiu que fosse aonde fosse, era para lá que ela iria! Como? Isto não importava; sentiu sua fé renascer, e da mesma forma que Deus lhe mandara a resposta, também havia de levá-la até o lugar.
Foi até a casa do ‘seu Tinoco’, o único por ali que sabia ler, e entregou-lhe a fotografia. O velho olhou-a, e após seguir as letras com o dedo, devolveu-lhe o papel, dizendo: “Esquece, filha. É longe. Ocês nunca vão chegar lá!” Mas Joana insistiu: “Me diz o nome do lugar, me diz onde é, ‘seu’ Tinoco. O resto, é com nós!” O velho balançou a cabeça, e disse com enfado: “Califórnia. É esse o nome.” Joana nem perguntou mais nada: voltou para casa, e juntando as poucas coisas que tinham, mostrou a fotografia e anunciou aos meninos, que se entreolharam, animados com a sua primeira aventura: “Se apronta, porque nós vai pra Califórnia.” E partiram naquela mesma manhã. Joana nem se deu ao trabalho de fechar a casa. No chão, o vento derrubou a única fotografia amarelada que o marido lhe deixara. ‘Seu’ Tinoco, da porta de seu casebre, viu-a partir em direção ao deserto, seguida pelas três crianças, carregando uma grande trouxa de roupa na cabeça. Ele apertou os olhos, enquanto a imagem dos quatro desaparecia, serpenteando com o calor que brotava do solo.
Meses depois, um homem caminha pelo chão árido de Córrego Seco, dirigindo-se à casa. Traz uma pequena mala de viagem, e muitas saudades e lembranças. Está feliz, pois conseguira arranjar trabalho de jardineiro na casa de um senhor muito poderoso e tão bondoso quanto rico, lá na cidade, no sul do país. Logo que conseguiu o emprego – depois de morar nas ruas, trabalhar em muitos canteiros de obra, sem carteira assinada e receber um salário abaixo do mínimo, passar muita necessidade e até mesmo fome, João - o marido de Joana- finalmente conseguira fugir do lugar onde era mantido como trabalhador escravo. Em sua fuga, acabou indo bater à porta de seu benfeitor, que vendo seu estado emocional lastimável e seu perigoso nível de desnutrição, decidiu acolhê-lo, cuidar de sua saúde e oferecer-lhe trabalho em sua casa.
Assim que ficou sabendo de sua história, deu-lhe dinheiro e mandou que fosse buscar sua família, em Córrego Seco. As crianças iriam frequentar uma escola, e sua Joana poderia ajudar nos serviços de casa.
Mas quando João chegou, não viu sinal de seus filhos e de sua Joana. ‘Seu’ Tinoco deu-lhe as notícias: “Eles foram embora. Pra Califórnia.” Agoniado, João indagou: “Mas... quando?” Seu Tinoco, montando um cigarro de palha, respondeu: “Faz uns mês... foram naquela direção!” 
Ao ver que ‘seu’ Tinoco apontava a direção do deserto, João sentiu seu coração encher-se de agonia. 
Voltou para o casebre. Deitou-se na esteira de palha semicoberta pela areia, e chorou, desejando do fundo de seu coração, que sua mulher e seus filhos tivessem conseguido alcançar a Califórnia.

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...