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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Das Coisas que eu Vejo





Passando os olhos pelo Facebook, muitas vezes deparo com fotografias de animais - geralmente, cães e gatos - que estão abandonados nas ruas, magros, esqueléticos, doentes, os olhares tristes e sem esperanças. Da mesma forma, às vezes, na correria do dia a dia, passo por animais assim aqui mesmo em minha cidade. Não posso recolher esses animais. Não tenho condições de cuidar deles. Quando é possível, ponho um pouco de água e comida. A dor da vida dói muito mais quando atua sobre os inocentes.

Vejo gente brigando e reclamando da vida que tem, desejando mais, maldizendo aqueles que tentaram ajudá-los, esquecendo-se de que a gratidão deveria ser a flor mais cultivada da vida, a mais plantada e oferecida.

Vejo jovens se drogando e morrendo nos noticiários, e me lembro de meu sobrinho de 24 anos ( e tantos como ele) que morreu de câncer, na flor da idade, desejando tanto continuar vivendo.

O tempo todo, vejo pessoas que não aprendem nunca através de suas experiências, cometendo sempre e cada vez mais, os mesmos erros. Existem algumas que se acham acima do bem e do mal, e que acreditam, realmente, que dinheiro, diploma e posição social são importantíssimos para definir o caráter de alguém.

Vejo pessoas que, por medo de se mostrarem vulneráveis, jamais dizem coisas como "Eu sinto muito," "Eu errei, me perdoa!"  Elas acreditam que pessoas que o fazem são fracas, e que as outras pessoas tirarão vantagem delas se elas admitirem que erraram. Assim, acabam criando suas próprias verdades, através da distorção dos fatos. Tentam adaptar a realidade às suas necessidades - e não o contrário - como se isto fosse possível.

Eu vejo coisas tão tristes nesse mundo de meu Deus. Coisas que eu preferiria não enxergar. Às vezes, é difícil acreditar que elas sejam verdade. Mas são. Fazem parte da realidade diária de todos nós.

Mas daí, há dias em que eu acordo e percebo uma tonalidade diferente de azul no céu, e o horizonte rosado se abrindo para o sol que nasce. Vejo uma pequena cambaxirra carregando galhinhos para depositar na casinha de passarinho que está na minha varanda; observo a calma e a simplicidade de seus movimentos, e a paciência com que ela transporta e adapta cada galhinho, até que o local esteja confortável para receber seus filhotes. Chego no jardim e, ao olhá-lo, eu vejo uma porção de borboletinhas voando. Respiro fundo, e sinto o cheiro de grama, terra e cedro.

E então eu me sento na grama, e começo a lembrar-me de tantas coisas boas que já me aconteceram, e percebo que elas estão em maior número do que as ruins. O sol de inverno aquece as minhas costas, e eu sinto nascer dentro de mim uma força, e uma gratidão, e uma alegria intensas! E de repente, eu fico triste, porque eu sei que estas pessoas que eu vi pelo caminho raramente se sentirão assim... mas eu gostaria que fosse bom para elas. Sinceramente, eu gostaria que elas vivessem em paz. Todo mundo! O mundo todo. O tempo todo.

Gostaria que as pessoas deixassem de se comparar às outras o tempo todo, e parassem de invejar, desejar o mal, querer possuir o que não lhes pertence. Gostaria que as pessoas pudessem se sentir bem a respeito delas mesmas sem que para isso precisassem humilhar ou rebaixar os outros. Queria que as atitudes fossem mais honestas, de modo que todos pudéssemos olhar nos olhos uns dos outros sem medo e sem culpas. 

Queria que as pessoas parassem de abandonar seus animais de estimação nas ruas, e que jamais os maltratassem ou permitissem que alguém os fizesse. Que elas tivessem mais responsabilidade, para com eles e para com as outras pessoas também.

E quando a gente errasse - porque todo mundo erra - que fosse mesmo sem querer, sem intenção, sem maldade. Apenas um erro, uma escolha ruim, e não um plano deliberado, direcionado para prejudicar alguém, para tirar vantagens de alguém. Sem maquinações! Só assim a energia deste planeta - que anda cada vez mais pesada - poderia ser depurada.





Há Muito tempo, Uma saudade...






Macarronada cheia de queijo-ralado e pastéis: tudo o que o médico proibiria (se eu tivesse lhe dado uma chance). Para disfarçar, uma enorme salada: alface, tomate, ovos cozidos, pimentão cru picado bem miudinho. Tudo bem regado ao azeite, é claro. E um suquinho de frutas com adoçante para disfarçar.

Ontem não fiz caminhada, pois recebi a visita dos sobrinhos. Passamos a tarde no jardim, ao sol, jogando conversa fora, sentados na grama. Latifa, feliz da vida, trazia seus brinquedos para que os jogássemos para ela, e Aleph, austero, assistia a tudo, de vez em quando achegando-se para um rápido carinho (ele não é de muito agarramento) indo deitar-se à sombra do telhado da varanda. Depois, quando o sol ficou mais forte, nós nos juntamos a ele, espalhados pelas cadeiras e rede.

Falamos das coisas da vida, coisas que estão acontecendo - umas boas, outras, nem tanto. Mas tudo são coisas da vida. Começou a esfriar, e entramos. Fomos para o meu quarto, ouvir o ensaio da banda do meu sobrinho em seu MP3. Também escutamos um pouco de música do meu tempo, e eles gostaram tanto, que levaram o CD para gravar. Deixaram-me um do Foo Fighters. Troca de experiências geracionais.



No finalzinho do que restou daquela tarde maravilhosa, descemos para tomar café com calóricos bolinhos de banana. Queijo branco, para disfarçar. 

Início da noite, despedidas no portão. Promessas de repetirmos a dose. Logo depois que eles saíram, senti a casa imensa. Sobre a mesinha da TV, os CDs que eles deixaram. 

Chega meu marido, cheio de pacotes de comida: pão, bolo de chocolate, queijo, "Carolinas". Frutas para disfarçar. Decepciona-se ao ver que eles foram embora - tinham planejado passar a noite, mas a chegada da namorada tem prioridade, é claro! Meu marido reclamou: "Pô, eu trouxe tanta coisa, pensando que eles estariam aqui..." Percebi que sua decepção não era pelas coisas que tinha trazido...

Sangue jovem. Música. Alegria. Conversa fiada. Papo sério. Até outro dia!



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Como me Lembro de Você





Quando eu me lembro de você - e isto acontece muitas vezes durante o dia - não procuro fazê-lo apagando todos os seus defeitos, e muito menos, acusando-a por causa deles. Também não fico me lembrando apenas do que foi maravilhoso, endeusando a sua personalidade. Sei que todos nós temos defeitos e qualidades, e isto não nos torna melhores nem piores do que ninguém.

Mas quando eu me lembro de você, me vem cenas do nosso cotidiano; revejo momentos, conversas que tivemos, momentos em que nos desentendemos mas também nos entendemos bem. Lembro-me da sua voz, do seu rosto, dos seus medos, e de tudo o que você procurava me ensinar. Lembro-me de que inúmeras vezes eu precisei de você e você não estava lá, presente, para me defender ou para me aplaudir.

 Hoje mesmo acordei me lembrando de uma ocasião, durante um desfile de Sete de Setembro na escola, em que eu a procurei na platéia e você não estava lá. Eu tinha sido retirada do pelotão minutos antes da parada começar, pois havia excesso de alunos. Eu e mais uma meia-dúzia (um garoto gordinho, uma menina de cor e um outro que usava óculos e estava com o uniforme incompleto, e ainda outros que como nós,  não eram tão populares). Eu me preparara durante meses para aquela ocasião, e na última hora, me retiraram... eu queria que você estivesse lá para me defender, mas você chegou apenas no final da apresentação, porque perdeu o ônibus. Quando eu perguntei se tinha me visto, e para não me magoar, você mentiu: "Vi sim, você desfilou muito bem!" E eu fiquei aborrecida, porque eu nem tinha desfilado.  

Lembro-me que muitas vezes eu não concordava com suas atitudes ou seus pensamentos. Às vezes, quando eu era adolescente, me envergonhei de algumas delas...eu era demasiadamente preocupada com o que os outros pudessem pensar. Condenava a tua franqueza e a tua maneira simples e direta de dizer e fazer as coisas. Mas com você, eu aprendi a não ser dissimulada. 

Engraçado... aprendi muito com as suas qualidades, e mais ainda, através dos seus defeitos, quando eu a observava, pensando: "Eu não quero ser assim..." e no fim, o saldo foi muito positivo.

Eu a conheci bem, mas não a conheci completamente. E sei que o mesmo se deu com você. Tenho certeza que houve ocasiões em que você e meu pai me olharam, tentando compreender aquela garota tão diferente dos outros irmãos, tão complicada, como meu pai dizia, "uma fiteira." E se perguntaram de onde eu tinha vindo. A garota que sonhava em ser cantora, bailarina, escritora, que queria aprender a tocar piano, que desejava aprender música, filosofia, mitologia, inglês. De onde surgiam estas ideias?! De todos os sonhos que tive, apenas um vocês tiveram condições de me ajudar a realizar: tornei-me professora de inglês. Minha carreira de 'bailarina' foi curtíssima, limitando-se à algumas aulinhas no colégio, e a de aprendiz de música, mais ainda. 

Mas o que ficou de tudo o que vivemos nesses quarenta e sete anos, foram as coisas boas que aprendi, as memórias bonitas e acima de tudo, a sua honestidade incontestável! Você era uma pessoa muito, muito honesta! Preocupada com a sua integridade, com o empenho da sua palavra, jamais fingindo gostar de quem não gostava ou dando-se a paparicar pessoas a fim de conseguir favores. Franca ao extremo - qualidade (ou defeito?) que herdei, e que ando tentando lapidar um pouco. Você sempre pagou todas as suas contas religiosamente em dia. Sempre assumiu os seus compromissos, e também aprendi isso com você.

E acho bonito isso. Que tenha ficado comigo a imagem de uma pessoa íntegra, literalmente inteira, mas que também errou muito, demasiadamente, em várias ocasiões. Mas afinal de contas, quem não errou? Por isso mesmo, eu jamais admitiria que alguém sujasse a sua memória. Principalmente agora, que você nem está mais aqui para se defender.

E é justamente na esperança de que respeitem o que você tentou me ensinar, que eu o faço.



Raul de Leoni - Legenda dos Dias





Legenda dos Dias - Poema de Raul de Leoni ( do livro Luz Mediterrânea, publicado em 1922 quando o autor contava 27 anos. Raul de Leoni faleceu aos 31 anos, de tuberculose).





O homem desperta e sai a cada alvorada
Para o acaso das cousas... E, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o ideal nalguma encruzilhada...

As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao poente, o homem com a sombra recolhida,
Volta, pensando: "Se o ideal da vida
Não veio hoje, virá na outra jornada..."

Ontem, hoje, amanhã, depois e assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;

E a vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia...



Raul de Leoni nasceu e morreu no Rio de Janeiro (1895-1926).


Noite de Medo e Surpresa





Há muito tempo, quando eu tinha apenas vinte e dois anos, meu pai nos deixou. Bem, ele estava doente há algum tempo, e o médico nos preveniu de que ele poderia morrer a qualquer momento, pois tinha um coração muito fraco. Mas ninguém está totalmente preparado para a morte de alguém, mesmo quando ela é iminente.

Eu era a última filha - a caçula - e fiquei morando com minha mãe. Os outros irmãos já eram casados e tinham suas próprias casas. Pela primeira vez, sentia-me insegura por morar em uma casa; mesmo sabendo que meu pai era um gomem muito doente, ter uma presença masculina dava-me segurança. Quando ele se foi, eu e minha mãe nos sentimos bastante vulneráveis...

Certa noite, acordamos com o ruído de alguém forçando uma maçaneta. O banheiro ficava dentro da área de serviço, cuja porta que ligava à cozinha, nós trancávamos durante a noite. Concluímos, após escutarmos por alguns instantes, que tinha alguém forçando a porta do banheiro, provavelmente pensando que ela conduzia ao interior da casa. Aos cochichos, minha mãe e eu deliberamos o que fazer. Decidi colocar uma chaleira de água para ferver, pois se alguém tentasse invadir, receberia um banho de água fervente! Ela achou melhor deixar claro de que a c asa não estava vazia, e começou a falar em voz alta:

-"Nós estamos aqui, e temos uma arma! Nem pense em entrar!"

Mas os ruídos não cessavam. Eu estava quase em pânico! Ficamos um bom tempo tentando decidir o que fazer. Naquela época, não tínhamos telefone em casa, e não poderíamos chamar a polícia. Talvez se gritássemos?... Pensei nisso, mas minha mão falou:

-Eu vou abrir uma greta da porta para ver quem é.

Quase morri de susto quando ela falou aquilo! Pedi-lhe que desistisse da ideia, mas ela insistiu, já começando a girar devagarinho a grande chave antiga da porta da cozinha. Enquanto ela olhava pela greta (eu apreensiva atrás dela, pronta a 'atacar), vi quando o rosto dela se desanuviou:

-Dá uma olhada nisso, Ana.

Olhei, e vi a nossa gata (cujos filhotes estavam em uma caixa, dentro do banheiro) tentando abrir a porta, pulando na maçaneta e agarrando-a com as patas. Ela saíra pela janela do banheiro durante a noite, subindo na pia e pulando para fora, mas era alto demais para ela pular de volta para dentro.

domingo, 11 de agosto de 2013

Lembranças de Outra Vida





Na gota de chuva

Lembranças 

De quando foi nuvem.





Dona de Casa - Um poema


Vassoura em punho,
Percorreu cantos recolhendo o pó em montes.
Pôs as cobertas ao sol,
E abriu bem as janelas.
Ia pintando, com suas tintas,
A tela simples de sua vida,
Deixando tudo melhor
E mais limpo, onde passava.

Batia um bolo, cerzia um pano,
Enquanto a roupa batia na máquina.
Lia um poema na cozinha
Enquanto o jantar cozinhava.



A idade já pesava,
Mais ainda, ao chegar à janela
E ver a moça que passava,
Bem-vestida e maquiada...

A dona-de-casa pensava:
"Deixei aqui minha vida,
Entre a roupa limpa e as panelas,
Papinhas e histórias da Carochinha
Contadas nas noites insones das crianças..."

Às vezes, ela sentia angústia
Ao pensar no que havia
Do outro lado da vida,
Onde a moça que passava vivia...

O que ela não sabia,
Era que a vida passava
Para a tal moça, também,
Que ao vê-la à janela,
Sonhava com a própria casa
Que um dia, ela teria,
Não fosse a vida agitada!...



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