witch lady

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Junho



Junho chegou com a chuva...
O azul cobriu-se de cinza
E o céu desaba.

Junho é o meio,
É como um portal, 
Que se abre
No tempo.

O dia hoje está lento,
Pede calma, 
Pede menos movimento.

Sobrevivamos a junho,
E aceitemos
O que ele traz.

E quem sabe, fique em nós
A calma do frio, o aconchego
E sua paz.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Tempo



Tempo, ilusão que passa
E arrasta consigo
Pedaços de vidas...

Ilusão, o tempo,
Algo que criamos
Para matar o tempo...

Ela Chegou, e Trouxe uma Menina...





Finalmente, a chuva deu o ar de sua graça. Chegou ainda há pouco, anunciada por um trovão longínquo. Trouxe com ela uma menina que eu conheci há muito tempo, uma adolescente que gostava de ouvir música sentada sobre o parapeito da janela quando chovia. Ela tinha cabelos pretos, lisos e longos, o corpo magro e flexível e o frescor da juventude nos passos.

Ela deixava que seu olhar se perdesse na paisagem à janela, enquanto a música que tocava a conduzia a algum lugar para longe dali. Sonhava, como todas as garotas da sua idade, com algum menino lindo que conhecia, cujo amor platônico jamais chegou a pertencer-lhe.

Às vezes, ela sentia uma vontade enorme de chorar, e então, ia fazer as unhas dos pés. Enquanto o seu olhar embaçado turvava-lhe a visão, tirava imensos bifes de suas cutículas, pintando as unhas de vermelho para disfarçar. Usava, para ir à escola (sempre rebelde quanto ao item 'uniforme') uma calça jeans verde muito desbotada, um par de tênis velhos e uma suéter de lã branca. 

Ela era fã incondicional do Queen e do Supertramp, e adorava cantar. Passava horas e horas ouvindo música, e assim, memorizou quase todas as suas letras preferidas. Mais tarde, as colegas sempre se surpreendiam com a facilidade que ela tinha ao participar de um jogo, que era assim: alguém dizia uma palavra, e outra pessoa tinha que cantar uma música que tivesse aquela palavra na letra. Ela sempre vencia!

Amava assistir filmes de Elvis Presley na Sessão da Tarde.  Também apreciava os filmes dos anos 40, que assistia com a mãe. Quis ser bailarina, mas não aconteceu... treinou para ser baliza da escola, mas no final, deram o cargo a outra menina. Tentou aprender música e violão, mas achou difícil demais. Durante algum tempo, estudou Jazz, mas acabou desistindo, pois a professora foi muito grosseira com ela, um dia. Chegou a participar de corridas rústicas na sua cidade, mas achou cansativo demais. Fez Yoga,  mas achou muito monótono. 

Apesar de ser uma linda menina, achava-se feia, desengonçada  e sem graça. Era tímida, muito tímida! Preferia assistir a participar. Péssima esportista, ela escondia-se atrás das árvores do pátio da escola durante as aulas de Educação Física. Na sexta série, ela gostava de matar aulas e ir para os jardins do Museu Imperial com suas duas melhores amigas. Lá, elas praticavam sua atividade predileta: conversar e fumar, fingindo que eram adultas e intelectualizadas. 

Muitas vezes, ela ia para casa à pé da escola, apenas para passar em frente à casa de uma doceira do bairro que fazia e vendia deliciosos picolés caseiros de abacate, coco, chocolate e manga.

Ela tinha um segredo: gostava de escrever histórias, que ela colocava em cadernos e escondia em seu armário de roupas. Muitas ficaram inacabadas, e outras tantas, foram queimadas ou rasgadas após terminá-las. Apenas gostava de escrever. Também tinha  a mania de fazer diários, mas morrendo de medo que alguém os lesse e descobrisse seus segredos, ela também os destruía a todos. 

Nos finais de semana, ela adorava ir dançar com seus amigos e sua irmã mais velha em um clube famoso da cidade. Durante as férias, as duas passavam o dia todo na piscina do clube, e almoçavam batatas fritas e Coca-Cola. Por isso, ela tinha a pele muito bronzeada. 

Para ir ao clube dançar, ela contornava os olhos com lápis preto, colocava um brilho labial avermelhado, sandálias com meias brilhosas e coloridas e trancinhas finas sobre os cabelos. Adorava dançar! 

Não teve muitos namorados, apenas alguns ficantes e paqueras. Era tímida demais para investir nos meninos que a interessavam. Além disso, não conseguia fazer como as irmãs e algumas amigas, que mentiam aos pais, dizendo que estavam com as amigas enquanto namoravam. Não sabia mentir; nunca aprendeu.

A menina que me visitou hoje, adorava andar na chuva. Pisava dentro das poças d'água, ficava com os cabelos escorrendo de tão molhados. A mãe sempre ralhava com ela, pois tinha problemas crônicos de garganta, que só conseguiu curar após os vinte anos de idade. 

Bem, há muito mais coisas sobre aquela menina, que veio com a chuva para visitar-me. Eu bem que tentei ignorá-la, mas ela insistiu que eu contasse um pouquinho de sua história, pois acha que anda meio-esquecida por mim, ultimamente... prometi a ela que, na próxima chuva, eu estarei lá, dançando, de braços abertos, em sua homenagem.

Relaxando...



Chego em casa do burburinho da rua, ônibus, carros passando, obras, multidões, sirenes, calor, britadeiras... e olha que Petrópolis é considerada uma cidade pequena!

Só de girar a chave no portão, já me sinto melhor. A Latifa me recebe com seu sorriso calmo de boas vindas. Abro a porta da sala, coloco as compras em uma cadeira, escancaro janelas. Acendo um incenso, coloco uma música suave e, jogando uma almofada no tapete, deito-me com os pés apoiados na parede e relaxo... 

Chegar em casa é sempre como chegar a um porto seguro, uma espécie de templo!

Deixo que meus olhos se percam nas árvores lá longe, enquanto a música suave - Emílio Santiago - me relaxa totalmente... deixo-me ficar assim por alguns minutos, e quando já estou pronta, levanto-me, alongando o corpo e estou pronta para retomar minhas atividades.

Todo mundo deveria ter o direito de tirar férias de cinco minutos todos os dias, como naquele antigo comercial de sabonetes!

A Mágoa



A mágoa
É um sentimento que afoga
O magoador  em densas águas
Feitas de ondas bravias...

Não há resgate
A quem cause mágoas...

A mágoa
Pode arranhar um carinho,
Perturbar um silêncio
Provocar maremotos
Em calmas águas...

Que Deus me livre
De causar ou de sentir mágoas...

E se um dia eu for tomada
Pela força destas águas
Magoadas,
Que eu afogue as lembranças,
Que eu acalme essas ondas
Antes do naufrágio
Da minha frágil fragata.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A PASSAGEM DO TEMPO SOBRE AS COISAS




Adoro uma coisa nova. Aquele cheirinho que tem nas roupas novas, que vem daquelas lojas perfumadas com aromatizantes... cheiro de sapato novo de couro, de parede recém-pintada, rosa recém-aberta, madeira nova... adoro o cheiro que vem das caixas dos aparelhos eletrodomésticos novinhos em folha, e cheiro de carro novo.

Mas existe uma magia típica das coisas velhinhas, que já sentem a passagem do tempo... elas tem uma história para contar; testemunharam muitos acontecimentos. Sobreviveram a muitas pessoas que já se foram há tempos.

Aquele reboco que cai da parede envelhecida, um vasinho de planta lascado, a calçada com musgo nos cantinhos, uma joia de família. Não gosto de adquirir objetos usados sem saber a quem eles pertenceram, mas adoro quando alguma coisa de família vai passando de geração em geração; uma peça de mobília, por exemplo, ou aquela colchinha de retalhos que foi da tia-avó de alguém. Um paninho de crochê, uma poltrona velha e um pouco gasta, um quadro, um livro...

As coisas velhas trazem em si a energia das pessoas a quem elas pertenceram, por isso, devemos ser cuidadosos ao adquiri-las. Dizem que ao comprar coisas em antiquários ou sebos ( o que não tenho por hábito), é aconselhável lavá-las com água e sal - se não for possível lavar, pelo menos passar um pano umedecido nesta mistura - e depois, deixá-las ao sol durante algum tempo, a fim de 'desmagnetizá-las.' Por isso, apesar de adorar as coisas velhinhas, prefiro só adquiri-las se conhecer a procedência.

Não sou do tipo de pessoa que tende a acumular objetos; mas existem alguns que gosto de guardar, como por exemplo, meus discos de vinil.

A passagem do tempo sobre as coisas deixa marcas indeléveis. Tenho uma mesa na adega cujos pés tem as marcas dos dentes do Aleph (meu falecido cão) quando ele ainda era um filhote. Algo que ele fez estará sempre ali. Jamais vou me desfazer daquela mesa.

Apesar da era digital, as fotos que revemos ao reunir a família, são as velhas fotografias de papel, algumas ainda em preto-e-branco. 

A MORTE E SEUS CRITÉRIOS





Nos revoltamos contra a morte, pois achamos que ela tem sentimentos, como nós. A morte é apenas uma senhora que cumpre o seu dever... não faz diferença entre ricos, pobres, jovens, velhos, saudáveis ou doentes: leva a quem tem que levar, porque esta é a sua missão. Não a entendemos, pois achamos sempre que ela deve levar os velhos e doentes, e de repente, ela leva os jovens e saudáveis.

Para provar, talvez, que todos aqui temos as mesmas chances e corremos os mesmos perigos, e que ninguém é invulnerável. Você aí, na segurança de sua casa cheia de alarmes, ou talvez você, que se preocupa com o futuro e tem um investimento para a aposentadoria, ou talvez ou outro aí no cantinho, que só sai de casa durante o dia, com medo da violência.  Quem sabe, aqueles que pagam planos de saúde caríssimos, como se isso os tornassem imunes à morte. Mas a Dona Morte está sempre rondando, e nos observa o tempo todo...


Mas ela recebe ordens; não age sozinha. Portanto, é injusto culpá-la por tudo. Todos temos que morrer um dia. Quando? Não nos cabe decidir. Quem vai primeiro? Qual o critério da escolha? Deve haver algum, com certeza... quem sabe, um dia tenhamos esta resposta? Recuso-me a acreditar no acaso.



Assim como existem planos de saúde (que na verdade, são planos de doença) , seminários para ensinar as pessoas a viverem melhor, e seguros de vida, seguros contra incêndios e desabamentos, ou seja, tudo que nos faça viver aqui por mais tempo, acho que deveria haver também, seguros de morte; explico: quem tiver um seguro de morte, terá apoio psicológico e espiritual para morrer, ou aceitar a morte dos entes queridos,quando chegar a hora. Deveria haver cursos que nos preparassem para a morte, assim como nos preparam para a vida. Porque a morte está aí, para todos nós, e ela faz parte da vida, quer queiramos, quer não. Socá-la no fundo do baú não vai fazer com que ela deixe de existir.



Curtir a vida é importante; sermos felizes, fazermos as coisas que gostamos, viajar... tudo isso é ótimo! Mas acho que todos seríamos bem mais felizes se estivéssemos preparados para a morte. Ela deixaria de ser um tabu, e deixaria de nos amedrontar tanto.



A morte tem seus critérios, que não são sempre os mesmos que os nossos, e por isso, não a entendemos. Acho que o erro não está na morte e no morrer, mas no viver negando coisas que fazem parte da vida. Todos nós nos portamos como crianças birrentas diante da morte: não queremos ir, e nem aceitamos que os outros vão. Mas a morte e a vida são duas mães que não admitem pirraças, e fazem aquilo que elas acham melhor para o crescimento e amadurecimento de seus filhos. E ficamos perguntando: "Mas mãe, por que?!" E elas nos olham, com aquele olhar de quem sabe tudo - até mesmo que não temos ainda idade para compreender a resposta, se elas tentassem nos explicar - e então elas suSpiram fundo e dizem: "Ora... porque sim!"


Lágrimas da Montanha







Cai a chuva

Inunda a pedra
Chora
Em
     cas
          ca
             tas
A montanha...

Lágrimas
Frescas
Brancas
Calmas...

Encharcam
A terra,
Lavam,
Limpam,
Fertilizam.

lágrimas

Si 
       nu
  o
        sas..

A Fé Remove Montanhas?







Algumas pessoas acreditam que a fé remove montanhas. Eu tenho certeza que não.

Mas também estou certa de que a fé poderá nos levar a conseguir a quantidade de dinamite que necessitamos para remover a montanha. Montanhas e obstáculos são corpos sólidos, enormes, e não serão removidos, jamais, apenas com fé.

Mas mesmo quando usamos uma enorme quantidade de dinamite, a montanha poderá ser tão grande e tão sólida, que não conseguiremos removê-la, nem com todo o nosso esforço, mesmo que passemos anos tentando.

Neste caso, a fé nos ajudará a achar um caminho para contorná-la. Ou escalá-la.

Ou quem sabe, a serenidade para convivermos com a montanha, incorporando-a à nossa paisagem diária. Poderemos acabar achando-a bonita. Pode ser até que venhamos a descobrir que ela está ali para proteger-nos do vento e das tempestades. Quem sabe?

Muitas vezes a gente se encontra diante do inevitável. Viver é estarmos sujeitos a mudanças bruscas, a qualquer momento. Nem dá tempo de pensarmos muito, ou de aceitarmos estas mudanças, mas com o tempo, vemos que é a única coisa a ser feita. A vida não esperará que estejamos prontos, mas se soubermos ler os sinais ao longo do caminho, se prestarmos atenção, poderemos estar melhor preparados para o Grande Momento Inevitável - que pode ser a perda de um emprego, uma morte, uma doença.

O que há do outro lado da montanha?

Estamos acostumados a nos acostumarmos. Uma cadeirinha, e pronto: logo nos sentamos nela, e para não perdermos o lugar, podemos permanecer sentados durante toda a festa! Com certeza, não perderemos o lugar, mas perderemos... a festa! Eu acho que a montanha que aparece de repente no meio da nossa vida, pode ter esta função: fazer com que nos levantemos. Fazer com que passemos a agir! Fazer com que, finalmente, FAÇAMOS ALGUMA COISA DIFERENTE.

Ah, mas é fácil? Não. Quem disse que é? Mas eu acredito - tenho fé - de que existe um lugar certo para todo mundo nessa vida. E que, quando não estamos satisfeitos, ou quando a montanha surge, podemos tranquilamente, nos levantar e procurar outros lugares.

Muitos dizem não terem fé porque não acreditam em Deus. Mas eu acho que podemos ter fé em várias coisas, não necessariamente em Deus; podemos ter fé na vida, em nós mesmos, na fitinha do Bonfim, na espada de São Jorge (plantinha que muitos acreditam proteger a casa), ou seja lá no que for. Até mesmo no grão de mostarda. Mas acredito que a fé mais importante, é a fé na vida.

Não podemos nos comportar como crianças mimadas. Não podemos esperar que tudo sempre aconteça do jeitinho que queremos, ainda mais agora, nesses tempos de mudanças rápidas. Temos que ter resiliência. Temos de nos adaptar ao recipiente que nos contém. Ou procurar outro recipiente.


A Esperança




A esperança é a mãe de todos os milagres, mas sofre muitos abortos espontâneos.

A Ciganinha





"Vai a sorte, senhora? Tarôt, mão, presente, passado e futuro..."

Este era o seu pregão, a todos  que passavam por ela - uma ciganinha de porte miúdo, já de meia-idade, sentada sozinha num banquinho no calçadão da Praia de Iracema. Tinha os olhos contornados com lápis preto, meio-borrados, e os lábios pintados por um batom vermelho sem-brilho. Cabelos pretos e longos,um tanto ensebados e já ficando grisalhos. As roupas , uma fantasia de cigana, estavam rotas e sujas.

Ela fica ali o tempo todo (passamos por ela duas noites seguidas). Tem o olhar um tanto perdido, e não sei como ela pretende convencer alguém de que é capaz de ler o futuro. Uma pessoa tão sem expectativas... fiquei pensando na possível vida que aquela moça leva: muito pobre, talvez more muito mal ou nem tenha onde morar. Quem sabe, tem filhos pequenos? Ou talvez seja totalmente sozinha.

Pode ser que ela sonhe com uma cigana de verdade, que um dia, há de chegar perto dela, sentando-se ao seu lado, tomando-lhe as mãos e lendo, para ela, um lindo futuro!...

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