witch lady

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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pequenas Maldades (humor)



Eu espero que você ganhe a Megasena
Sozinho
E que veja, estupefato o bilhete voar
E cair dentro de um rio poluído
e bem profundo.

Eu espero que você tenha uma cólica
Intestinal
Bem no meio daquele encontro amoroso e fatal,
Essencial.

Eu espero que você vá àquela entrevista de emprego
Bem confiante
E que após duas horas se gabando, você saia
E perceba que seu nariz estava sujo
O tempo todo,
E que havia uma casca de feijão
Bem em cima de seu dente.

Eu espero que, num dia de chuva,
Você esteja vestindo aquele terno passadinho
Para ir à formatura dos netinhos ou sobrinhos
E um carro passe, esparramando lama
E te sujando inteirinho.

Eu espero que aquela ostra maravilhosa
Esteja estragada,
E que chegando na emergência do hospital
Para fazer uma lavagem estomacal
A sua cueca esteja suja e furada.

Eu espero que, na pista de dança,
Você esteja imitando o John Travolta
E rebolando, e dando mil voltas
Enquanto a galera te aplaude,
E, ao se cuvar durante um passo mais ousado,
Perceba que o fundilho de sua calça
Tenha rasgado.

Eu espero que, ao tomar, pela primeira vez,
A sopa servida pela sogra,
A colherada esteja quente como o inferno,
E você tenha que sorrir e engolir,
Fazendo cara de paisagem...

Eu espero que você perca o ônibus de manhã
Na ida para o trabalho,
E que um amigo passe, oferecendo uma carona,
E o carro quebre no meio do caminho, em uma estrada deserta,
E seus celulares estejam
Sem bateria.

Eu espero que, no próximo natal,
Você receba de presente, um casal de hamsters,
Uma gravata borboleta,
Um par de meias das Lojas Americanas,
Um breguete da loja de 1,99,
Um livro de autoajuda (você vai precisar)!
E uma bermuda de xadrez cor-de-abóbora
Duas vezes maior que você.

Enfim, só te desejo tudo de bom,
Que você viva muitos e muitos anos,
E que consiga - eu disse CONSIGA
Ser muito feliz, apesar de tudo.

Substância




Tomara que eu possa viver o meu tempo
Sem precisar rir forçadamente
E dizer coisas idiotas
Sempre que o silêncio for mais adequado.

Que eu jamais escreva
A minha própria biografia,
Pois quem interessar-se-ia?

Que eu viva sem a necessidade
De ter sempre, a última palavra,
Mesmo que essa palavra seja
A mais substancial prova
De minha imbecilidade.

Que eu possa permanecer até o fim
Sem escrever coisas ruins demais,
E se escrever
Que ninguém leia,
E se lerem, que  esqueçam.

Tomara que eu tenha, até o fim,
Apenas um nome nessa vida,
E que eu possa assiná-lo com naturalidade.

Que todos os dias, eu olhe
A minha face no espelho,
Sem precisar dizer a mim mesma:
"Qual é mesmo a face que eu vou usar hoje?"

Que eu saia desta vida, um dia,
De consciência limpa,
Porque jamais caluniei ninguém,
E jamais acreditei em calúnias.

Que eu sobreviva, de cabeça erguida,
Porque não devo nada a ninguém,
Não preciso ser perfeita,
Não preciso ter razão,
Não preciso.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Micos do Passado



Quando nos casamos, moramos durante sete anos em um apartamento próximo à casa dos meus sogros. Era bonitinho, mas tinha um porém: ficava no andar térreo, e em frente a ele, a apenas alguns passos, havia um bar/mercearia. Os donos do bar - do qual éramos clientes- eram jovens estudantes de Direito. Todos gente boa... vizinhos antigos do bairro.

Durante o dia, eu e meu marido trabalhávamos fora, só voltando para casa à noite; portanto, durante a semana, só íamos para casa para dormir. E tudo era uma maravilha, exceto pelas sextas feiras. Os meninos que eram donos do bar, gostavam de reunir os colegas de faculdade à noite. Apesar da cervejada acontecer dentro do bar, por trás das portas fechadas, devido a proximidade ao nosso apartamento, era difícil pegar no sono. Mas nós aguentávamos; afinal, nós gostávamos dos garotos, eram nossos vizinhos, e nós, seus clientes. E também já tínhamos sido tão jovens e barulhentos quanto eles.

Mas em uma certa sexta feira, meu marido precisava muito descansar, pois andava adoentado. A farra corria solta naquela noite, mais do que nas outras! Acho até que o número de pessoas na 'festa' era bem maior do que o normal, tanto que, em certa altura, eles abriram a porta do bar e foram para a rua.

Dentro do apartamento, não dava para escutar nem a nossa própria TV! Mas estávamos aguentando firme, até que uma garota berrou: "Aí, pessoal! 'Desiste,' porque ninguém vai dormir esta noite! Uh-huuu!" Aquilo me tirou do sério, e comecei a perpretar uma vingança maligna... a única coisa que tínhamos para levar o nosso plano adiante, eram os ovos na geladeira. Os carros estavam estacionados ao longo da calçada.

Meu marido, vencendo a forte gripe que o abatia, foi lá para a rua, escondendo-se atrás dos carros, e quebrou vários ovos nas maçanetas das portas e pára-brisas.

Foi muito divertido ouví-los indo embora após a festa. Demos gargalhadas, principalmente ao ouvirmos a mesma voz feminina gritando: "Aiiii!!! Que coisa pegajosa é essa aqui?! É oooovoooo!"

A vingança é um prato que se come cru. Mesmo que seja ovo.

ESCREVO...




As praias cheias de gente
E de sol,
Nas ruas, pessoas
Indo sempre
A algum lugar...
Férias, viagens, carnavais,

E eu, escrevo.

Homens de terno,
Gravatas-forcas,
Aos microfones
Fazem discursos
A tanta gente louca
Que os escuta.

E eu, escrevo.

Dentro dos carros
A impaciência nos sinais,
Os engarrafamentos
E os telefonemas excusos
Que não devem ser ouvidos.

E eu, escrevo.

Nos motéis, gemidos e sussurros
Todos bem ensaiados,
Atos mecânicos, sem sentimentos,
Prazeres fingidos
E comprados.

E eu, escrevo.

Pessoas nascem, gritam ao chegar,
Pessoas morrem, gritam ao sair.
Os hospitais, portais.
Um grupo ri, e o outro chora,
Outros, vão embora.

E eu, escrevo.

Sentido








Um braço de rio,
Uma curva,
Um galho de árvore,
Uma ruga
Na testa.

A vida em festa
Infesta sentidos
Insere motivos
Ao que 'inda resta.

Viver é nobre,
Vale esta ruga
E este pesar 
Por sobre a alma,

Viver é longo,
Exige calma,
Exige sonhos
Exige ser.

Viver é tudo
O que nos resta
Graças a Deus,
Graças!...

Discretamente...


Tarde cinzenta
E silenciosa...
Em meu jardim,
Dormem as rosas
Que eu plantei
Com minhas mãos
E adubei
Com o que restou
Do que amei.

Discretamente
Um passarinho
Pousa na cerca
Triste e sozinho
Eleva um canto
Doce, baixinho
Como quem teme
Ser escutado.

Ele alça voo,
Vai pelas fendas
Das nuvens cinzas
Entreabertas
Some na tarde
Triste e cinzenta
E as rosas dormem
Tão bem fechadas...

As margaridas
Estão cansadas,
A grama seca
Sob as camélias
As folhas murcham
Ficando velhas
A noite as cobre
Com sua capa.

Atrás do monte
O sol responde
Ao meu chamado
E se espreguiça
Abrem as rosas
Suas corolas
As cores voltam
Discretamente...

Vai Ficar Tudo Bem...




Em 2011, algo terrível abateu-se sobre a minha família. Quem me conhece, sabe o que foi: a morte de meu sobrinho, aos 24 anos, após uma doença sofrida e prolongada.

Durante um ano, desde o diagnóstico, nós andamos juntos na corda bamba, e quando perdíamos o equilíbrio, era ele quem nos amparava; e vice-versa... pensávamos todos, com fé e otimismo, que a nossa história teria um final feliz. E o único final feliz que conhecíamos, era a cura.

Durante um ano, vimos Ricardo lutar bravamente, e ele não lutou sozinho. Teve o amparo da família e das centenas de amigos que estudavam com ele em Campos, na faculdade de biologia. Meninos que moram em várias partes do país, e que às vezes vinham aos finais de semana, após longas viagens, só para vê-lo; e todos estavam aqui, no dia de sua despedida.

Ele teve também a prova irrefutável do amor de sua namorada, Milena, que esteve sempre ao lado dele, mesmo nos momentos mais difíceis, em que a doença prejudicou seus movimentos nas pernas e atingiu as feições  seu rosto de maneira cruel. Qualquer amor que não fosse forte, naquele momento (ou bem antes dele) teria recuado.

Mas Ricardo não está mais entre nós. O milagre que esperávamos não aconteceu; ou talvez tenha acontecido da forma que não esperávamos... quem vai saber?

Durante dois anos, eu escrevi poemas para ele. Foi a minha forma de curar-me. Foi a minha maneira de permanecer viva e forte, desabafando a minha dor. Várias vezes, ao publicar meus poemas, recebia comentários de pessoas que passavam ou tinham passado por situações como a nossa: a de perder um ente querido. E todos nós um dia passamos por isso.

Infelizmente, não faço mais parte do lugar onde estes poemas foram publicados. As almas deles jazem no umbral da net. Mas juntei os melhores em um livro, sob o título 'Vai Ficar Tudo Bem.' Por que escolhi este título? Bem, era isso que eu dizia ao Ricardo, quando ele me ligava à noite, para contar-me como tinha sido o seu dia, e também, nas vezes em que ele chorava. Foi isso que eu disse a ele na última vez que o vi, deitado em uma cama no INCA, embora eu não tenha certeza de que ele pudesse me ouvir.

O livro será publicado pela editora Pimenta Malagueta, de Miriam Salles. Já vi a boneca pronta, e ficou realmente lindo... bem, dizem que para retrato de filho, não se deve acreditar em pintor pai, mas modéstia à parte, ele ficou muito bonito mesmo. Miriam fez um excelente trabalho.

 Este livro é uma tentativa de arrematar esta história, de reunir os pedaços dos acontecimentos e tentar dar-lhes algum sentido.

É um livro que, apesar de escrito por mim, não é meu.

Em breve.

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