witch lady

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

ESCREVO...




As praias cheias de gente
E de sol,
Nas ruas, pessoas
Indo sempre
A algum lugar...
Férias, viagens, carnavais,

E eu, escrevo.

Homens de terno,
Gravatas-forcas,
Aos microfones
Fazem discursos
A tanta gente louca
Que os escuta.

E eu, escrevo.

Dentro dos carros
A impaciência nos sinais,
Os engarrafamentos
E os telefonemas excusos
Que não devem ser ouvidos.

E eu, escrevo.

Nos motéis, gemidos e sussurros
Todos bem ensaiados,
Atos mecânicos, sem sentimentos,
Prazeres fingidos
E comprados.

E eu, escrevo.

Pessoas nascem, gritam ao chegar,
Pessoas morrem, gritam ao sair.
Os hospitais, portais.
Um grupo ri, e o outro chora,
Outros, vão embora.

E eu, escrevo.

Sentido








Um braço de rio,
Uma curva,
Um galho de árvore,
Uma ruga
Na testa.

A vida em festa
Infesta sentidos
Insere motivos
Ao que 'inda resta.

Viver é nobre,
Vale esta ruga
E este pesar 
Por sobre a alma,

Viver é longo,
Exige calma,
Exige sonhos
Exige ser.

Viver é tudo
O que nos resta
Graças a Deus,
Graças!...

Discretamente...


Tarde cinzenta
E silenciosa...
Em meu jardim,
Dormem as rosas
Que eu plantei
Com minhas mãos
E adubei
Com o que restou
Do que amei.

Discretamente
Um passarinho
Pousa na cerca
Triste e sozinho
Eleva um canto
Doce, baixinho
Como quem teme
Ser escutado.

Ele alça voo,
Vai pelas fendas
Das nuvens cinzas
Entreabertas
Some na tarde
Triste e cinzenta
E as rosas dormem
Tão bem fechadas...

As margaridas
Estão cansadas,
A grama seca
Sob as camélias
As folhas murcham
Ficando velhas
A noite as cobre
Com sua capa.

Atrás do monte
O sol responde
Ao meu chamado
E se espreguiça
Abrem as rosas
Suas corolas
As cores voltam
Discretamente...

Vai Ficar Tudo Bem...




Em 2011, algo terrível abateu-se sobre a minha família. Quem me conhece, sabe o que foi: a morte de meu sobrinho, aos 24 anos, após uma doença sofrida e prolongada.

Durante um ano, desde o diagnóstico, nós andamos juntos na corda bamba, e quando perdíamos o equilíbrio, era ele quem nos amparava; e vice-versa... pensávamos todos, com fé e otimismo, que a nossa história teria um final feliz. E o único final feliz que conhecíamos, era a cura.

Durante um ano, vimos Ricardo lutar bravamente, e ele não lutou sozinho. Teve o amparo da família e das centenas de amigos que estudavam com ele em Campos, na faculdade de biologia. Meninos que moram em várias partes do país, e que às vezes vinham aos finais de semana, após longas viagens, só para vê-lo; e todos estavam aqui, no dia de sua despedida.

Ele teve também a prova irrefutável do amor de sua namorada, Milena, que esteve sempre ao lado dele, mesmo nos momentos mais difíceis, em que a doença prejudicou seus movimentos nas pernas e atingiu as feições  seu rosto de maneira cruel. Qualquer amor que não fosse forte, naquele momento (ou bem antes dele) teria recuado.

Mas Ricardo não está mais entre nós. O milagre que esperávamos não aconteceu; ou talvez tenha acontecido da forma que não esperávamos... quem vai saber?

Durante dois anos, eu escrevi poemas para ele. Foi a minha forma de curar-me. Foi a minha maneira de permanecer viva e forte, desabafando a minha dor. Várias vezes, ao publicar meus poemas, recebia comentários de pessoas que passavam ou tinham passado por situações como a nossa: a de perder um ente querido. E todos nós um dia passamos por isso.

Infelizmente, não faço mais parte do lugar onde estes poemas foram publicados. As almas deles jazem no umbral da net. Mas juntei os melhores em um livro, sob o título 'Vai Ficar Tudo Bem.' Por que escolhi este título? Bem, era isso que eu dizia ao Ricardo, quando ele me ligava à noite, para contar-me como tinha sido o seu dia, e também, nas vezes em que ele chorava. Foi isso que eu disse a ele na última vez que o vi, deitado em uma cama no INCA, embora eu não tenha certeza de que ele pudesse me ouvir.

O livro será publicado pela editora Pimenta Malagueta, de Miriam Salles. Já vi a boneca pronta, e ficou realmente lindo... bem, dizem que para retrato de filho, não se deve acreditar em pintor pai, mas modéstia à parte, ele ficou muito bonito mesmo. Miriam fez um excelente trabalho.

 Este livro é uma tentativa de arrematar esta história, de reunir os pedaços dos acontecimentos e tentar dar-lhes algum sentido.

É um livro que, apesar de escrito por mim, não é meu.

Em breve.

Minha Oração



Deus,
Devolva-me as emoções,
Mas ajuda-me a tirar delas, a dor.
Ensina-me o perdão,
Pois sem ele,
A vida torna-se insuportável!
Não livrai-me de meus inimigos,
Pois através deles,
Aprendo; mas antes,
Ensinai-me a conviver com eles,
E quando puseres um espelho à minha frente,
Fazei com que eu enxergue.
Ensina-me a humildade,
Mas não o servilismo.
Mostra-me caminhos,
Mas deixai que eu faça a escolha.
E se houver erros,
(com certeza, eles existirão sempre),
Que me reste a dignidade
De reconhecê-los e corrigí-los
E através deles,
Aprender um pouco mais.

Deus,
Que eu não dê tanta importância
Ao que pensam de mim,
Ao que falam de mim,
Ou como me julguem.
Dai-me a força de caráter
Para pairar com serenidade
Sobre estas coisas.
Ontem mesmo, Deus,
Recebi um de seus recados.
Alguém contou-me uma história, dizendo:
"Um dia, recebi um chute,
Mas foi bom,
Pois ele me fez andar para frente."
Mas se for necessário, Deus,
Fazei com que eu volte sobre o caminho
E reveja lições,
Mas que depois,
Eu siga em frente.

Deus,
Eu sei muito bem
Que Contigo, não há negociações,
Preferências,
Proteção,
Piedade,
Lenitivo para nossas frustações,
Perdão para as nossas tolices,
Interesse por nossas insignificantes mazelas...
Ou seja, Contigo, não encontreremos
Nada daquilo que tolamente buscamos
Com nosso ego superinflado.
Em teu seio,
Encontraremos apenas e simplesmente
A verdade,
Não sobre os outros,
Mas sobre nós mesmos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A FESTA



Era uma festa, um baile,
Com muitos risos e brilhos
E uma orquestra que tocava
Da vida, cada estribilho.

Havia gente espalhada
Pelos salões e sobrados,
Alguns, de caras lavadas,
Outros, bem mascarados!

A valsa tocou, solene,
Convidando para a dança...
Alguns vestidos de gala,
Já outros, qual pajelança...

(Ouviam-se gargalhadas
De mulheres que dançavam
Disfarçadas como fadas
E de outras, mais astutas,
Vestidas de prostitutas).

Havia reis e rainhas
Princesas, e muitos sapos
Desejando ser beijados
À luz das velas acesas.

Sobre as mesas, partituras
De minuetos calados
Que nunca serão tocados,
Pois o que foi censurado
Desapareceu das linhas.

Havia céu e inferno,
Jardins de múltiplas flores,
Uma chuva que caía
Lavando o sangue das rinhas.

E no meio do salão
Mil casais rodopiavam!
Viviam a doce ilusão
De amar  e serem amados...

Era servido à vontade
Um licor vermelho sangue
Que apagava a saudade
Deixando a memória estanque,

Mil vidas se derramavam
Mil mortes eram choradas...
E bem no meio de tudo,
Ouviam-se as gargalhadas!

Esperanças que caíam
ao chão, eram pisoteadas
Por mascarados que riam
E não eram mais que nada!

Ao final daquela festa
Vislumbrou-se tosca cena:
Ao retirarem-se as máscaras
De todos os convidados

Foi visto que mais da metade
De todos os mascarados
Nem sequer tinham os rostos
Diferentes uns dos outros!

E dos cem mil convidados
Reais, bem poucos restavam
E andavam tão perdidos
No salão esvaziado.

FACES VIRTUAIS



Tinha mil e uma faces,
E personalidades,
Todas elas, verdadeiras.

Era o deus que criava
Seus personagens,
Distribuindo-os pelo mundo...

Apaixonavam-se,
Odiavam,
Matavam,

Morriam...

Causavam dores e espanto,
Alegrias e surpresas,
Faziam amigos
E inimigos...

Tocavam vidas,
Depois, sumiam
E renasciam
Com outras faces.

A quem com eles
Se envolvesse,
Sobrava apenas
Um grande vazio,
Pois eram pó
E ao pó, voltavam!

Quantas almas cabem
Dentro de um só ser?
Ficará sabendo
Quem pagar para ver...

E eu, de um canto,
Assisto a tudo,
E não entendo
Não compreendo,
Quem é real
No virtual!

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...