Acordo, e após tomar meu banho, chego até a varanda para olhar a chuva. Ela sempre me hipnotiza quando preciso. Olho as casas e suas janelas fechadas. Olho as árvores e os gramados encharcados. A paisagem é linda e desolada. A chuva cai no mesmo ritmo constante, sem pretensões de aumentá-lo ou diminuí-lo. Parece que choverá o resto da vida.
Olho para a casa do vizinho e vejo a imensa piscina azul clara levemente agitada pelas gotas de chuva; identifico uma pequena mancha escura próxima a uma das margens; aperto os olhos para ver melhor: é um rato que está se afogando! As batidas do meu coração aumentam de repente, e enquanto vejo o pobre animalzinho agitar as patinhas tentando chegar à margem, já tão próxima. Às vezes, ele para, tentando ganhar forças. A quanto tempo estará assim, perdido no meio dessa mortal imensidão azul, lutando para salvar-se? Provavelmente, a madrugada inteira!
Olho para ele, e lamento profundamente não poder fazer nada que o resgate; se eu chamasse alguém, às cinco e quarenta da manhã, a fim de socorrer um rato que se afogava na piscina, com certeza eu seria xingada, e o rato, esmagado à golpes de vassoura. Sinto a solidão e o medo que devem fazer parte daquela pequena vida em seus últimos momentos; ele não consegue sair, e de repente, deixa de mover-se. Choro por ele. Infelizmente, algumas vidas são consideradas repugnantes, desnecessárias, inferiores. Que diferença fará para o mundo a morte daquele ratinho? Quem se entristecerá pela morte dele? Elevo meu pensamento, para além daquele corpinho que agora boia inerte no canto da piscina, e deixo-lhe apenas uma breve prece, pois quem sabe, ele tem uma alma...
E se ele tiver, talvez seja esta a melhor ação que já fiz na minha vida inteira: orar por um pobre rato morto.