Não gosta de animais? Mas por que?
Algumas pessoas sentem-se desconfortáveis na presença de animais, talvez por medo - devido a alguma experiência passada - ou por não estarem acostumadas a eles. Eu, por exemplo, não me sinto nada confortável diante de aranhas, mas acho que meu medo é justificável. A maioria das pessoas não gosta de aranhas, baratas, percevejos, cobras... se bem que as cobras não me assustam, e não as mato quando aparecem por aqui: devolvo-as ao seu habitat natural, na medida do possível.
Mas acho que existe um problema quando alguém diz que simplesmente odeia animais! Talvez seja um problema afetivo. Eu sei, pois eu não costumava gostar muito de cães quando era adolescente, embora não os odiasse; achava-os dependentes demais, e era exatamente como eu me sentia em relação aos adultos, já que tinha pouca autoconfiança. Talvez os cães fossem uma espécie de espelho de mim mesma: sempre dependente, sempre procurando por afeição e aprovação. Depois que resolvi este meu problema, passei a amar os cães.
Mas o problema é maior ainda, quando, além de não gostar de animais, as pessoas passam a maltratá-los ou fazer tudo para que eles jamais estejam presentes onde elas estão. Incomodam-se até mesmo com o canto de pássaros ou com borboletas. Não se sentem à vontade em ambientes onde a natureza seja abundante, onde há muitas árvores e muito verde. Não apreciam o silêncio. Acredito que pessoas assim evitam um confronto consigo mesmas, pois é isto, exatamente, o que o silêncio traz: oportunidade para pensarmos e repensarmos a vida, o que temos feito, nossas atitudes em relação aos outros, nossas frustrações, se somos felizes ou não.
Os animais tem uma doçura própria, um olhar que conquista. Só mesmo quem já conviveu ou convive com eles, pode entender o que eu digo. Eles são feitos de inocência, bondade, aceitação, pureza, alegria espontânea, e tem reações naturais. São criaturas enviadas por alguém lá em cima, a fim de encantar as nossas vidas. Acho que quem não gosta de animais de jeito nenhum, deveria pensar...
Lembro-me que quando eu namorava meu marido, havia em minha casa uma ninhada de gatinhos pré-adolescentes muito brincalhões. Meu marido vinha de uma família de pessoas que não gostavam de gatos por puro preconceito mesmo: a velha e inconcebível história do gato que ofereceu xixi a Cristo , enquanto o cachorro deu-lhe água para beber, além de outras superstições. Coisas que, quando crianças, os adultos colocam nas nossas cabeças, medos atávicos que ninguém sabe direito de onde vem, e que tornam-se normas de conduta.
Um dos gatinhos, um muito peludo de cor bege clara, adorava meu marido, e gostava de subir pelas pernas dele, indo sentar-se em seu ombro. Meu marido, apavorado, imóvel e desconfortável, dizia: "Tira esse bicho ridículo daqui!" E eu, rindo muito, obedecia. Mas um dia eu precisei ausentar-me da sala, demorando-me um pouco, e quando eu voltei, encontrei meu marido correndo pela casa com uma bolinha de papel amarrada a um barbante, e os gatinhos correndo atrás. Uma tremenda farra! Ele não resistiu à graça dos animais. Meio-contrariado ao ser pego em flagrante, admitiu: "Humpf... até que são... engraçados!"
Se você não gosta de animais de jeito nenhum, experimente olhar nos olhos de um cão. Comece devagar, acariciando a cabeça de um gato adormecido, apreciando o canto de um passarinho que está pousado em uma árvore, ou cumprimentando o cachorro do vizinho; solte-se aos poucos, deponha o preconceito e as histórias sobre cães bravos e agressivos que lhe contaram quando você era criança. Esqueça sua avó dizendo-lhe que animais transmitem doenças, que gatos são animais traiçoeiros, que cães são sujos, que pássaros não te deixam dormir de manhã. Abra-se, de corpo e de alma para eles, e logo você verá que não consegue mais viver sem a presença deles, e que descobriu, dentro de si, um lado mais leve, doce e lúdico que estava lá o tempo todo, só que você não queria trazê-lo à tona - pois a ternura sempre dá a impressão de sermos mais vulneráveis.