witch lady

Free background from VintageMadeForYou

sexta-feira, 23 de maio de 2025

NOSSA CASA AGORA É VERDE

 




Depois de mais de vinte anos vivendo na casa terracota, nós agora vivemos na casa verde. Escolhemos essa cor depois de muitas dúvidas. Acho que ela reflete nosso momento atual, de muitas mudanças, novidades e esperanças.

Em 2025 eu mudo de década - chego aos sessenta. Meu marido chega aos 61. Tantas coisas andam me acontecendo nesse período! Ando ressignificando meu trabalho - pretendo diminuir o ritmo a partir de 2026, para que eu tenha mais tempo de me dedicar ao que eu gosto - escrever, ler, estudar o tarô, aprender um novo idioma, viajar, participar dos blogs e cuidar dos meus sites, incluindo o site onde moramos.

Enquanto isso, tenho tido sonhos estranhos à noite, e ando relembrado pessoas que fizeram parte da minha vida há anos e anos e que nunca mais vi, a memória trabalhando a mil (deve ser da idade), mas sem saudades, apenas reflexões. Não sei onde essas pessoas estão, e nem gostaria de saber, porque não faz sentido. 

Tenho enterrado meus mortos, finalmente. E tenho dado a mim mesma o direito de dizer não ao que sempre me feria, aprendendo a não cair mais nas mesmas armadilhas, limitando interações com pessoas que me machucaram e que provaram, mais de uma vez, que não são confiáveis.

Acho que quem atinge uma certa idade e não cuida dessas coisas, não aprendeu a se respeitar.

Nossa casa agora é verde, porque o verde é a cor da cura, da renovação.





O PADRE É POP?

 



 

“Estou pensando em largar tudo,” ele afirmou. E espero que largue mesmo.

Em primeiro lugar, largue a batina. Largue também as convenções sociais e assuma-se como é. Largue a necessidade de validação através de outras pessoas, e largue essa vaidade e esse ego imensos que tomaram conta de você. Largue a imagem de padre que ainda permanece apenas para encher estúdios e lotar shows. Largue da necessidade de postar cada coisinha sobre sua vida pessoal, pois nesse mar de tubarões, o que mais atrai é sangue.

Largue tudo isso, e seja apenas o que é: um excelente escritor e influencer digital. Um ser humano cheio de falhas e defeitos como qualquer um de nós, mas que tenta acertar e se encontrar. Só que ninguém se encontra negando aquilo que é, mentindo a si mesmo e a todo mundo. E nesse Leito do Eterno Desencontro é onde se deitam a depressão, a síndrome do pânico e a ansiedade.

Largue tudo isso. Largue-se. Seja feliz.





quarta-feira, 30 de abril de 2025

LIBERDADE

 

 






O que não brota de dentro

Não cresce do lado de fora.

Por vezes, será preciso

Regar com o próprio sangue

A fraca raiz que chora,

Para que um dia, o riso

Possa nascer sob os lábios

Que hoje em dia, se crispam.

 

É preciso dizer não,

É preciso ir embora,

Gritar ao mundo o que dói,

Por sobre o medo que aflora

Para que os que ficam, possam

Em um futuro longínquo

Viverem tempos de glória.

 

É preciso ter coragem,

E isso não é tão fácil...

Existem foices que cortam

Sempre que alguém ergue um braço.

Que possa haver, mesmo assim,

Uma voz, uma canção

Que possa escrever um “fim”

Sobre o que foge à razão.

 

 

 

Ana Bailune

terça-feira, 22 de abril de 2025

CALADA

 



 

É que às vezes

Me bate um cansaço

Que estanca o passo,

Paralisa o olhar,

Afrouxa o laço.

 

Um enorme cansaço

De ter que explicar,

De fazer a memória

Esquecer

Para poder continuar.

 

Não é que ainda doa,

Pois a pele frágil

Já cicatrizou,

E a dor que doía

Do espinho nas solas

Há muito passou.

 

É apenas cansaço

Ao ouvir um “Por que?”

E saber que a resposta

Daria outra história...

Tão longa e absurda

Seria a estrada

A se percorrer!

 

E assim, a palavra

Escorre entre os dentes,

Jaz, dependurada

Na ponta do lábio,

E tomba, calada

No meio da rua

É pisoteada,

E silenciada

Antes de ser dita,

Antes de dizer.





 

 

 

 

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

O MEDO


O MEDO

 

O medo é uma voz que grita,

Mas só a ouve quem teme.

Mas quem a teme, disfarça

O coração que se esgarça,

A voz sumida, que geme.

 

O medo é um passo perdido

À beira do desabrigo.

Não tem coragem de ir,

Também não pode voltar.

Os pés, suspensos no ar,

Sobre a estrada, divididos.

 

O medo escreve uma história

Que a vítima não quer ler.

Enquanto prega a coragem,

Atrasa a própria viagem

No afã de não morrer.

 

O medo é a mão que apedreja

Porque não sabe viver.

 

 

Ana Bailune

terça-feira, 1 de abril de 2025

ESFORÇO




 A vida demanda esforços. Nem tudo vem fácil, mas tudo vai fácil.

Começar nem sempre significa ter tudo prontinho, preparado, com todas as cartas na mesa. A gente começa com o que tem, e pronto. Com o tempo, vamos acrescentando outras coisas, melhorando, crescendo. E de vez em quando poderá haver reveses. Daí a gente volta, respira, olha para o que perdeu, aprende, respira fundo... e recomeça.

Pensando na vida, me lembrei de quando comecei a trabalhar de casa: eu dou aulas de inglês, e tinha acabado de sair de um curso após quatro anos de trabalho e dedicação e zero reconhecimento por parte dos meus empregadores. Antes, tinha trabalhado por seis anos em um outro curso do qual saí pelos mesmos motivos. 

Estava tão insatisfeita, que deixei tudo para trás, saí cheia de dívidas e sobrevivi do seguro desemprego durante alguns meses. Eu acordava cedo e ia para a varanda da minha casa enrolada em um cobertor, ainda no escuro, e esperava o sol nascer. Lá eu pedia a Deus ou a alguém que estivesse me ouvindo que me mandasse uma resposta. Não tinha a menor ideia sobre o que iria fazer da minha vida.

Meu desgosto com a profissão era tão grande, que pensei em deixar de ser professora de inglês. Porque os cursos exigiam formação disso e daquilo, cursos de business English, aulas fora do ambiente do curso. E não queriam financiar nada, nem pagar melhor por isso.

E finalmente, após quase cinco meses, alguém escutou as minhas preces. Uma ex-colega de trabalho me ligou, me oferecendo um aluno. Minha insegurança atravessou o caminho e foi logo dizendo 'Não!' Afinal, eu não tinha computador, não tinha material, não tinha um local. Mas mesmo assim, ignorei meu bom senso e decidi aceitar o aluno. E ele me trouxe outro aluno, que me trouxe outro, e outro... comprei meu primeiro computador - um Positivo basiquinho que paguei durante um ano e que durou três anos - acrescentei uma impressora, montei uma salinha de aula em um quarto de hóspedes que foi transferido para o segundo andar da casa. Mais tarde, comprei um computador melhor. Isso começou no ano de 2001.

Continuei dando as aulas em casa, na minha salinha de aula, e às vezes eu tinha muitos alunos, às vezes, poucos, mas sempre tinha.

Veio a pandemia, e perdi todos - eu disse TODOS - os alunos que eu tinha. Ninguém mais podia sair de casa. Foi então que um aluno me sugeriu dar aulas pela internet. É claro que meu bom senso foi logo dizendo 'Não!' Você não tem uma boa conexão de internet, não sabe usar os aplicativos, etc, etc..., mas ele (o aluno) resolveu me ajudar e me ensinou. E aos poucos, meus alunos foram voltando e novos foram se juntando. Coloquei uma conexão melhor, e recomecei.

Já tive alunos na Itália, Canadá e até na Suécia. Não há limites para o trabalho online.

E lá se vão quase 21 anos dando aulas em casa - cinco pela internet. Nunca me arrependi de ter saído do mercado de trabalho convencional. Mas eu tive que começar. E comecei apenas com algumas folhas de papel e uma máquina de escrever velha. Era o que eu tinha. Mas eu também  tinha conhecimento e boa vontade, e nenhum medo de trabalhar.

Aprendi que muitas vezes (quase sempre) a gente vive uma vida ruim por termos medo, por acharmos que o que temos é tudo o que podemos ter. Nos vitimizamos, nos colocamos para baixo e jogamos obstáculos em todas as oportunidades que aparecem. Mas eu tive coragem, e tive pessoas que me ajudaram: o apoio do meu marido para deixar o emprego, a indicação de um aluno por minha colega, a boa vontade de um aluno ao me ensinar a trabalhar pela internet. A todos eu sou grata.


O que não adianta, é alimentar o medo, a preguiça, o desânimo e as desculpas esfarrapadas que inventamos para nós mesmos.




sexta-feira, 21 de março de 2025

CINCO QUILOS

 


 

 

 

No seu conceber,

Cinco quilos me separam da esbelteza.

Cinco passos, até que eu seja

O 'eu'

Que você deseja.

 

Cinco meses, ou semanas, talvez,

Até que eu preencha as demandas

Que você me fez.

 

Mas tudo isso é uma questão

De ponto de vista.

Quem sabe, eu seja para mim

Finalmente, o que eu sempre quis?

 

Quem sabe, no seu coração

Não seja você mesmo

O real motivo

Da sua insatisfação?

 

.

 

.

 

.

 

 

 

Quem vive para preencher as expectativas alheias tem um sério problema.



quinta-feira, 20 de março de 2025

IMPORTÂNCIA




IMPORTÂNCIA

 

 

Apague meu rosto, não hesite.

Vire a página

À minha irrelevância.

 

Não é importante para mim

O que pensas 

Sobre a minha importância.

 

A cada manhã, eu renasço,

Filha da mesma

Inconstância.

 

E a cada noite, eu me apago,

Sem qualquer desejo

De rutilância.

 

 

 

Ana Bailune

 

PERFIL

 




PERFIL

 

De frente, de lado,

Sorrindo, Calado,

Pensando num ponto

Cantado.

 

Tem gente que passa,

Os rostos virados,

Tem gente que teme

Mau-olhado.

 

Tem gente que lembra,

Tem gente que esquece,

Tem gente que sopra 

Uma prece.

 

O rosto amarelo

Queimado, bem preso

Na velha moldura

Ovalada.

 

Já nem se vislumbram

Os traços gravados;

Um dia, nasceu,

No outro, finado.

 

Um dia, não sobra

Nem mais uma alma

Que saiba quem está

Sepultado.

 

 

 

 

 

Ana Bailune


CONSELHO

 



Conselho 

 

 

Não olhe jamais

Através do buraco da fechadura.

Não queira ver

O que os outros não querem mostrar,

Pois a inocência é um mar de branduras,

E no saber

Não cabe o recolhimento de um olhar.

O que você vê

É o que saberá,

A vida toda.

Não há como voltar.

 

 

 


QUANDO O INUSITADO NOS VISITA

 

 




Sempre apago meus e-mails – recebidos e enviados, lixeira e spams. Isso economiza espaço no Google, e por isso venho fazendo isso desde sempre. Porém, mesmo que eu não os apagasse, o próprio Google os apagaria de tempos em tempos.

 

Na última sexta-feira, ao tentar acessar meus e-mails do computador, percebi que minhas duas contas do Google tinham sido desvinculadas. Deu um trabalhão para consertar tudo: coloca impressão digital, troca senha, recebe código no telefone... enfim, consegui normalizar as coisas.

 

Mas ao acessar minha caixa de “enviados” a procura de um e-mail que eu enviei a um de meus alunos, ela estava lotada de e-mails que enviei nos anos de 2007 a 2013! Até mesmo minha aluna que trabalha na área de T.I me afirmou que a chance de algo assim acontecer é... nenhuma. E-mails tão antigos, após apagados, não retornam do além.

 

Bem, por curiosidade, fui olhar o que eles continham. Embora os anexos tivessem se perdido, as mensagens e trocas de e-mails ainda estavam lá. E foi uma enxurrada de lembranças me assolando de repente. Havia e-mails concernentes à perda do meu sobrinho em 2011, respostas a comentários que recebi aqui no Recanto das Letras, inclusive de pessoas que já se foram, como Cássia da Rovare e Kathleen Lessa. Muitas lembranças. Havia até mesmo e-mails trocados com desafetos daquela época.

 

Como eu não acredito em coincidências, fiquei me perguntando o porquê destes e-mails terem surgido assim, tão de repente.

 

Existem coisas que a gente acha que superou, só que não. Fiquei algumas horas relendo alguns daqueles e-mails. Pelas minhas contas, são mais de duas mil mensagens! Por que o passado pulou na minha frente desse jeito? Será que existe alguma coisa (ou alguém) que estou negligenciando? Alguma lição que a vida esfregou na minha cara, mas eu não aprendi?

 

Sigo relendo aqueles e-mails. O mais estranho, é que eu já nem me lembrava mais da maioria daquelas pessoas e acontecimentos. Rever uma dor muito grande, como a perda do meu sobrinho e a perda meus dois cães logo em seguida, me deixou um tanto pensativa. Já não dói mais; o tempo tratou de curar as feridas. Mas ficaram muitas lembranças que estavam trancadas lá no fundo da minha memória antes da releitura daqueles e-mails. Eu tive que trazê-las para fora, limpar a casa. Foi como encontrar um velho computador anos depois de ele ter sido descartado, e ver que ele ainda funciona, e que tem muitas coisas na memória.

 

Muitas perguntas que não foram respondidas naquela época continuam sem respostas, o que me leva a concluir que algumas coisas não são para a gente ficar sabendo. O que vai embora tem que ir embora. A gente precisa soltar, porque nunca mais vai voltar. A dor precisa ir, mas as coisas que ela nos ensina precisam ficar.




 



Parceiros

A ÁRVORE

    Quando uma folha cai da árvore, Ela não volta jamais. Solta-se, Desce sinuosamente, pousando no gramado, Bem devagar.   ...