“A liberdade tem limites que a justiça lhes impõe.” Seria bom se fosse verdade.
Jules Renard – Nascido em 22 de Fevereiro de 1864 em Châlons du Maine, Mayenne, França – Morto em 22 de Maio de 1910, em Paris, França) foi um escritor francês.
Através de tudo o que tem acontecido nos dias de hoje (e também ao lembrar-me de coisas que aconteceram há anos) tenho me perguntado quais são os limites entre o ser humano e o ser desumano. Olho e vejo tudo o que está acontecendo no nosso país – bilhões e bilhões, quantias de dinheiro público inimagináveis para mim e para todos nós, sendo roubados há anos, extraviados e usados para pagar propinas a políticos desonestos que jamais serão capazes de viverem o suficiente para desfrutarem dos frutos de seus roubos – talvez nem sua quinta geração consiga gastar tanto. O mais sério de tudo, é saber que tais despautérios causaram e causam as mortes de centenas de milhares de pessoas em hospitais públicos, que amargaram e amargam estar sem atendimento médico ou sem os medicamentos que necessitam para sobreviver. Morreram e morrem à míngua, enquanto os ladrões viajavam por aí e se empanturram em restaurantes caros, vestindo roupas de luxo e joias caríssimas.
Alguns foram presos, outros já estão em “Prisão domiciliar”, comandando de casa seus “negócios” e desfrutando do luxo que roubaram. E é exatamente isto que acontecerá em breve a todos eles. Tenho pensado e concluo que a Lava-jato é um desperdício de tempo e dinheiro, já que no país não existem leis que mantenham tais pessoas na cadeia.
Lembro-me também das horríveis cenas de pessoas sendo decapitadas com facões, ao vivo e à cores, em rede nacional e internacional, por terroristas que dizem estarem apenas “lutando por suas causas.”
E penso até aonde vai o limite do que se pode chamar de “Ser Humano.” Falta empatia. Falta colocar-se no lugar do outro e tentar sentir o que ele sente. Falta seguir aquela máxima que diz que não devemos fazer ao outro o que não gostaríamos que nos fosse feito. Quando uma causa passa por cima dos limites dos direitos alheios, ela deixa de ser uma causa justa e passa a ser fanatismo. Quando matar, depredar, roubar e agredir passam a ser comportamentos normais e maneiras de se protestar, a humanidade deixa de existir.
Existem opções? Existem escolhas, sim. Não precisamos refletir em nós o pior do outro. Existem mil maneiras de se protestar sem prejudicar a quem nada tem a ver com isso, e que na verdade, também sofre da mesma maneira que todos nós. Vocês acham mesmo que políticos se importam com o que acontece aos ônibus e patrimônio público destruídos? Acham que estão preocupados com os trens que deixaram de circular? Acham que eles sequer ligam? Quem sai prejudicado por estes atos, são aqueles mais humildes, que moram longe e precisam sair de casa às quatro da manhã e tomar duas ou três conduções para chegar ao trabalho, e depois, fazer todo o trajeto de volta! Político não toma café no bar da esquina que foi depredado, mas o bar da esquina depredado presta serviços e dá empregos a várias pessoas como eu e você. “Eles” não estão nem aí. Tais protestos não valem nada. Só ajudam à um pequeno número de sindicalistas que estão vendo suas mamatas ameaçadas. Pessoas que fingem que lutam pelos direitos dos trabalhadores enquanto estão envolvidas nas maiores sujeiras, quiçá, assassinatos. Pessoas que não trabalham. Acham mesmo que alguém está preocupado com os seus direitos de trabalhador? Ingenuidade sua.
Se fosse greve, bastaria que todos ficassem em casa e simplesmente não fossem trabalhar. Se fizéssemos isso por 3 dias apenas, os prejuízos seriam enormes, e seriam sentidos nos lugares certos. E a repercussão seria muito maior.
Escuto e leio por aí coisas horríveis sobre a livre negociação entre patrões e empregados: os patrões terão prioridade, pois serão soberanos. Os trabalhadores não terão como negociar.
Mas já não é assim? Não tem sido sempre assim? Quantas e quantas vezes tive que aceitar ter um salário mais baixo lançado em minha carteira de trabalho, recebendo o restante “por fora”, porque o patrão não tinha como arcar com os impostos absurdos e com os ‘direitos trabalhistas’ exigidos pelo Governo? Não é difícil só para nós, mas para os patrões também.
Penso que os direitos trabalhistas garantiram apenas que ficaríamos submissos a salários baixos, presos a direitos que são bem menores do que os que merecemos, amargando anos de nossas vidas trabalhando em empregos que odiamos, sem controle sobre as nossas vidas, férias, viagens, horários.
Nós muitas vezes ficamos anos em empregos que detestamos apenas para garantir a tal ‘carteira assinada’ e os depósitos de FGTS, as férias pagas e a ‘garantia de estabilidade’ – que todo mundo sabe, não é garantia nenhuma. Sou um exemplo disso: durante anos amarguei trabalhar em lugares onde não era valorizada, apenas por medo de perder meus direitos de trabalhadora se me tornasse autônoma. Quando finalmente tomei coragem e decidi encarar, me arrependi pelos anos em que passei pastando o capim curto e limitado oferecido pelos meus ex-patrões – que também eram explorados pelo Governo e foram à falência ao serem obrigados a pagar verdadeiras fortunas para manter um funcionário. Posso não ganhar muito bem, mas faço o que quero, da maneira que acho melhor, organizo meus horários e negocio livremente com os meus clientes. E se algum deles não me agrada (e vice-versa) sou livre para não atende-lo mais. Da mesma forma, quem negociar livremente com seus patrões poderá escolher onde vai trabalhar com mais liberdade, pulando fora quando achar que está sendo explorado e começando a trabalhar no concorrente sem ter que pagar aviso prévio. Basta que cada um saiba seu verdadeiro valor e não se deixe enganar.
Existem muitos países onde há livre negociação entre patrões e empregados. Quem garante seu trabalho é a qualidade dos seus serviços, e não seu sindicato. Sair por aí quebrando coisas e arriscando sua vida para lutar por seus “direitos” pode ser o avesso da sua liberdade pessoal. Talvez você esteja lutando pela manutenção da coleira que colocaram em seu pescoço desde quando você começou a trabalhar. Você pode sobreviver sem seu sindicato, mas ele não sobreviverá sem você. aquelas pessoas pelas quais você luta, pensando que está lutando por si mesmo, terão que trabalhar caso você não vá para as ruas. Elas não querem a sua liberdade; visam apenas manter seus próprios privilégios.
Ninguém precisa tornar-se desumano para garantir que seja tratado com humanidade. É um paradoxo absurdo. Quem o aconselha que para defender seus direitos você deve matar, quebrar, destruir e prejudicar pessoas inocentes, só pode ter interesses escusos.