Acordo cedo, com os primeiros raios de sol entrando pelas frestas das cortinas. Apesar do verão absurdamente quente que temos tido, as noites em Petrópolis são sempre frescas, e ainda sinto na pele o friozinho que me cobriu de madrugada.
Levanto da cama, desço as escadas e começo a abrir as portas e janelas da casa. Os primeiros passarinhos já estão pousados nos galhos do cedro, aguardando que eu abasteça seus comedouros. Meus cães saem correndo felizes jardim afora, assim que eu abro o portão do canil. De repente, Mootley - meu Cocker Spaniel - volta correndo, pega um brinquedinho com a boca e dá um pulo sobre mim, como se de repente se lembrasse de me dizer bom dia. E parte para brincar com a Leona, que o espera lá fora.
Estou em casa. Ajeito as almofadas no sofá da sala, preparo o café da amnhã e fico contente por poder desfrutar destes momentos sozinha, enquanto meu marido ainda dorme lá em cima. Acendo uma vareta de incenso, perfumo a casa, olho as plantinhas nos vasos para ver se precisam de rega. Abro a geladeira e começo a pensar em algo para o almoço. Lá fora, meus sinos de vento cantam, pendurados na varanda.
Para mim, estar em casa me passa aquela sensação de segurança - que mesmo sendo falsa, é agradável. Ninguém está seguro em lugar nenhum hoje em dia... ou talvez estejamos, quem sabe... mesmo quando caminhando pela beira do abismo ou enfrentando perigos, eu às vezes penso que não importa o que me aconteça: estarei bem.
Vai ficar tudo bem.
Certa vez, contei quantas vezes escutei esta frase durante uma semana, ao assistir à TV. Por coincidência, "Vai Ficar Tudo Bem" é o título de um de meus livros de poemas. Quando a personagem de um filme a disse pela primeira vez, achei normal, até que a frase começou a repetir-se, e repetir-se... ao final do dia, já a tinha ouvido quatro vezes. E continuei a ouví-la durante a semana, mas perdi a conta de quantas vezes.
E acho que vai sim, vai ficar tudo bem. Porque eu estou em casa. Estou aqui, entre as coisas que eu amo, das quais me cerquei, e que foram escolhidas a dedo por nós especialmente para ocupar este espaço. Aqui estão meus livros e discos, fotografias, objetos, cores, sabores e perfumes. Aqui está o homem que eu amo, e meus animais de estimação. Para onde quer que eu vá, eu levarei tudo comigo na memória do coração.