"O que é aquilo ali no cantinho, entre a pia e o fogão?", perguntou meu marido ontem à noite. Eu, que estava na pia lavando verduras, logo fiquei pensando que pudesse ser uma aranha, e senti um calafrio correndo pela minha espinha. Com a lanterna do celular, descobrimos que se tratava de um pequeno sapo. Teve sorte de ter sobrevivido aos meus dois cães, Leona e Mootley, que não devem ter visto quando ele entrou e se acomodou ali. Apesar de todo calor e dessa seca que está se arrastando há vários meses e acabando com nossas minas d'água, o sapinho sobreviveu, e veio procurar abrigo em minha cozinha.
Meu marido colocou-o em uma latinha, que guardamos para resgatar insetos que entram em casa, e levou-o para o jardim, soltando-o em um canteiro. Jogou-lhe um pouco d'água sobre a pele, e deixou-o ao seu próprio destino. Bem, não podemos conviver com um sapinho dentro da casa.
Antes, quando as chuvas eram abundantes, contávamos com um verdadeiro coral de sapos e rãs em nosso jardim, quando anoitecia; principalmente após uma chuva. Mas aos poucos, eles foram rareando até sumirem completamente. Meus dois outros cães não mexiam com os sapos; isto, após tentarem intrometer-se com um um: vi quando eles vieram babando em nossa direção, com cara de quem quebrou a louça. Dei-lhes água para beber, e depois daquilo, nunca mais mexeram com sapo nenhum, o que fez com que os anfíbios fizessem do nosso jardim o seu playground noturno. Eu gostava da presença deles. Havia um bem grande, que eu chamava de Príncipe. Algumas de minhas alunas tinham medo de passar por ele quando entravam e saiam, mas eu lhes assegurava de que Príncipe era totalmente inofensivo. Ele era quieto, observador e meio-zen. Uma ou duas vezes, acariciei sua pele áspera, e ele continuou "na sua", como se eu nem estivesse ali.
Segundo a Revista Fapemat de Ciências, além de trabalharem no controle de insetos e pragas, "...Já se sabe que esses animais são bioindicadores, ou seja, sua presença num local funciona como indicador de que o ambiente está em equilíbrio ecológico. “Os anuros são altamente sensíveis às alterações do ambiente. Por depender de ambientes aquáticos e terrestres em bom estado de conservação, qualquer alteração na qualidade da água e na temperatura pode extinguir espécies. Então, quando eles começam a desaparecer algum dano ao ambiente pode estar acontecendo”, afirma Adelina Ferreira, doutora de biologia que trabalha com a reprodução dos anuros e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)."
E também:
"Estes anfíbios apresentam substâncias em sua pele com funções de proteção, o que tem atraído a atenção de grandes laboratórios farmacêuticos. “Os anuros não tem garras nem dentes poderosos, por isso eles usam a secreção para se proteger de fungos, bactérias, protozoários e de predadores maiores. São diversas espécies com compostos químicos muito variados, visados para estudos de substâncias novas que possam servir para várias utilidades”, aponta Marcos André de Carvalho, doutor em zoologia e professor da UFMT."
O desaparecimento dos meus sapinhos confirmam o que diz a revista. As chuvas diminuiram drasticamente, e elas são essenciais para o equilíbrio do ambiente. Mas quem sabe, o sapinho de ontem à noite tenha surgido para dar-nos esperanças, avisando-nos de que as coisas vão mudar para melhor?
Algumas culturas, como a japonesa, acreditam que a presença de sapos traz sorte a uma casa. Andar com um sapinho de madeira ou porcelana, segundo acreditam, atrai prosperidade e sorte, riqueza e felicidade. O sapinho em japonês se chama "Kaeru" que significa "VOLTAR".
Carregando-o na bolsa ou na carteira, terá a sorte de ter de volta o dinheiro que gastou. Bem, não custa tentar!
Espero que após esta leitura você pense duas vezes antes de espantar um sapo do seu quintal ou jardim. Jamais maltrate um, pois além de serem úteis, eles merecem o nosso respeito, pois tem o mesmo direito que nós temos de morarem nessa grande casa, que é o Planeta Terra!