quarta-feira, 6 de novembro de 2013
CEPA
Nunca mais eu hei de expor
À cepa, as pontas dos dedos...
Usa-las-hei para a escolha,
Para as cordas de minhas harpas,
Para escrever meus poemas,
Para apontar as estrelas.
Pintarei meu céu de azul
Com os tons que eu escolher,
Cruzarei as minhas mãos
No silêncio da oração,
Amassarei o meu pão,
E acenarei um adeus
A tudo o que me faz mal.
Para isto servem as mãos.
Espaço
Caibo toda dentro de minha casa. Conheço a amo cada espaço, cada canto, cada vão de parede. Até mesmo as gotas de chuva que batem na minha vidraça, tem um som diferenciado das gotas que caem em outras vidraças. Aqui eu tenho aquela falsa sensação de estar segura e protegida - falsa, pois a partir do momento em que estamos nesse mundo, as injúrias podem entrar até mesmo pela janela de casa quando menos se espera. Mas pelo menos, aqui, terei a certeza e o consolo de não tê-las convidado.
Sozinha em minha casa, eu consigo ser feliz por muito mais tempo. Ela me conhece. Acima de tudo, ela me respeita e me aceita como sou. Aqui em minha casa, durante a maior parte do tempo, entram as sensações que eu convido. E quando não desejo ser vista, eu fecho as portas e as janelas (raras ocasiões). Aqui eu posso existir plenamente, sem a preocupação de estar incomodando ou esbarrando em outras existências. Daqui para o mundo, é só um passo, que eu só dou quando quero.
Às vezes, a paciência com a maldade e a mesquinhez de algumas pessoas torna-se curta; explodo, e minhas paredes contém minha explosão sem que eu necessite contaminar o ar alheio. E quando termina meu desabafo, limpo tudo - o espaço físico, mental e espiritual - e continuo meu dia.
Caibo toda dentro de minha casa: corpo, alma, pensamento. Aqui, eu sou livre. Aqui, eu sou feliz.
Imprecisão
Eu miro um horizonte enfermo
Lá, onde jaz o meu desterro
Ermo retrato do porvir.
Ir ou ficar: é só o tempo
Que escreve as linhas desse intento
Céu ou inferno: mesmo caminho?
E a nossa dor de sermos sós
Põe-se ao nascer de um novo sol...
-Mesmo horizonte, o que a acolhe.
Nesse saber que a vida tolhe
Não há retornos no final
Somente as cores do arrebol.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
GOTAS DE CHUVA NO VIDRO
Olhos presos à janela
Mas sem enxergar a paisagem
Diante dos olhos dela.
Pinga uma gota no vidro,
E outra, e outra e mais outra...
O tamborilar a desperta
E os olhos chovem com elas...
Gotas de chuva no vidro
De uma vida já distante,
Nada será como antes,
Nada será como antes...
O vento assovia segredos
A ela, ininteligíveis...
Mas fica no peito o sentido
Daquilo que nunca foi dito...
E as gotas de chuva no vidro
Trazem risadas de um tempo
Que Não voltará a ser,
Não voltará a ser,
Pois o tempo, quando acaba,
Não deixa nada, a não ser
A voz do vento que sopra
E gotas de chuva a chover...
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
A Casa e o Amor
Uma casa é como o amor,
Morre a míngua, se deixada
Suja, só, abandonada,
Sem carinho, sente dor...
Uma casa é coisa viva,
Quer ser vista, visitada,
Necessita ser amada,
Gosta de sentir-se ativa.
Uma casa tem em si
A energia sempre viva
Daqueles que a habitam.
Seja boa ou seja má,
Já se sente, na entrada,
As emanações que ficam.
JAMES JOYCE
"Os erros são os portais da descoberta."
"Deus fez o alimento, o diabo acrescentou o tempero."
"Eu irei lhe dizer o que eu irei fazer e o que eu não irei fazer. Eu não servirei aqueles no qual não acredito mais, mesmo que se Intitulem minha casa, minha cidade natal ou minha igreja: e eu tentarei me expressar [viver] de uma forma mais livre e completa possível [através da arte], usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar - silêncio, exílio e habilidade."
"Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma."
"A irresponsabilidade faz parte do prazer na arte. É a parte que os acadêmicos não sabem reconhecer."
"A história é um pesadelo do qual tentamos acordar."
Nascimento: 2 de Fevereiro de 1882
Morte: 13 de Janeiro de 1941 (58 anos)
Biografia: James Augustine Aloysius Joyce foi um romancista, contista e poeta irlandês expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do século XX. Suas obras mais conhecidas são o volume de contos Dublinenses/Gente de Dublin e os romances Retrato do Artista Quando Jovem, Ulisses e Finnegans Wake - o que se poderia considerar um cânone joyceano.
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