O Espaço de um Abraço
A casa da gente é um lugar para o qual geralmente convidamos apenas as pessoas de quem gostamos – se um dia, por forças das circunstâncias, precisarmos convidar pessoas com quem não tenhamos muita afinidade, ou não conheçamos muito bem, pelo menos estas pessoas provavelmente pertencerão a algum círculo de pessoas mais próximas, nossas conhecidas. Bem, eu penso assim. Jamais convidaria um perfeito estranho, alguém que acabo de conhecer, para adentrar minha casa, partilhar de minha vida íntima ou de minha cama (embora algumas pessoas o façam sem o menor problema; não as julgo, apenas não me incluo neste grupo, de, digamos, ‘pessoas muito espontâneas’).
Para mim, a mesma coisa é o espaço ocupado por um abraço. Abraço é contato físico bem próximo; é sentir, quem sabe, a pulsação do coração de outro ser humano, seu cheiro, a textura de sua pele e cabelos. Íntimo demais. Pelo menos, sob o meu ponto de vista. Não me sinto confortável abraçando estranhos; preciso conhecer as pessoas antes do abraço. Ter com elas pelo menos, um contato mais prolongado, uma conversa amigável, aprender a gostar delas sinceramente. É claro que já fui e sou abraçada por pessoas que mal conheço; nestes casos, eu retribuo o abraço, mas por educação. Também existe o abraço virtual, aquele sem contato físico, mas que distribuímos facilmente entre nós – mas até mesmo este, eu deixo com as pessoas com quem eu acho que teria alguma afinidade aqui fora. Também há alguns alunos mais antigos a quem eu abraço com o maior carinho. Adoro meus alunos, e gosto de abraçá-los. Mas cumprimento os alunos recém-chegados com um aperto de mão.
E foi por isso que ontem à tarde, enquanto caminhava pelas calçadas Petropolitanas com meu marido, eu recusei o abraço de um grupo de pessoas desconhecidas, que, vestidas de palhaço e com as caras pintadas, portavam cartazes e abordavam pessoas; ofereciam abraços gratuitos na avenida. Eu disse: “Não, obrigada.” Simplesmente porque eu não as conheço.
Tenho certeza que suas intenções são as melhores; quem sabe, acham que assim, farão do mundo um lugar melhor? Bem, eu não acho que seja este o caminho! Todos os dias, assistimos pela TV políticos e pessoas famosas que se abraçam e dão tapinhas nas costas, e isto não significa que se gostem ou se respeitem. Antes de cultivarmos o ato de abraçar as pessoas, precisamos aprender a cultivar o amor sincero e desinteressado por elas, e isto leva algum tempo. Mas, mesmo discordando destes métodos de abraços forçados entre desconhecidos, respeito quem os aprecie. Acho até bonito, mas não serve para mim.
Me desculpem, pessoas, se algum dia, por um acaso, vocês chegarem a ler este post; mas acho que abraço não deve ser gratuito; tem que ser dado com sentimento cultivado e verdadeiro. Abraço as pessoas de quem eu gosto, as pessoas que eu conheço e com quem me sinto confortável. Quem sabe, um dia vocês serão uma destas pessoas? Se isto acontecer, terei o maior prazer em abraçá-las.