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Foto: as montanhas do Bairro Santa Isabel, onde está localizada a igreja onde paguei a promessa. |
Lá no hospital, antes da cirurgia, ela me pediu:
-Aninha, se por um acaso eu for desta para outra, você me faz um favor?
Pensei em rebater sua fala, dizendo que ela ainda ia viver muitos anos, mas algo dentro de mim mandou que eu me calasse. Apenas perguntei:
-Faço, sim. O que?
-Pague uma promessa para mim! Preciso que você acenda dois maços de velas na Igreja de Santa Isabel.
-Dois maços?! Deve ter sido uma promessa e tanto!
Ela riu, e continuou:
-É porque eu tinha perdido a minha medalhinha, e fiz uma promessa dizendo que se eu a achasse, acenderia um maço de velas na Igreja de Santa Isabel.
-Bem, mas... e o outro maço? Não são dois?
-Sabe aquele livro que você me deu?
-Qual?
Ela pensou, pensou e não conseguiu lembrar-se do título. Enfim, também tinha perdido o livro, e ao procurá-lo, fez uma outra promessa, de acender outro maço de velas na mesma igreja, caso o encontrasse. Não sou uma frequentadora assídua de igrejas ou templos; aliás, não gosto de missas e cerimônias religiosas, mas promessa é promessa.
Na terça feira, fomos - eu e minha irmã - à igreja de Santa Isabel pagar a promessa. Também seria sua missa de sétimo dia, em outra igreja próxima.
Chegamos lá, e achamos a igreja fechada, mas a zeladora - uma senhora muito doce, prestativa e simpática, que mora em um anexo atrás da igreja - abriu-a para nós, e ainda emprestou-nos um tabuleiro de alumínio para colocarmos as velas acesas. Encontramos a igreja vazia, é claro, muito silenciosa, e lá cumprimos a promessa de nossa mãe.
Quando saímos, deixando as velas acesas junto ao altar, a senhora conversou conosco, e falou-nos que ela também perdera alguém recentemente. Contou-nos sua história, e partilhamos as nossas. Sentadas nas escadarias da igreja, olhávamos a tarde que se recolhia, entre cores suaves e uma brisa deliciosamente fresca. Tudo ao redor era tão lindo! As montanhas ao longe, as centenas de árvores, o céu encoberto, o vento. Tudo transbordava vida. Senti uma paz incrível, seguida de uma enorme vontade de viver, e a dor passou. Mais tarde, o marido daquela senhora - um senhor muito simpático - chegou em casa, e após cumprimentá-lo, nós fomos embora, a fim de assistir a missa de sétimo dia, na outra igreja próxima.
Durante a cerimônia, vi novamente o marido daquela senhora, alguns bancos à frente do nosso. Tinha tomado banho e colocado sua melhor roupa. Fiquei observando as pessoas, e percebi que, apesar de todas elas morarem ali perto, também vestiam seu melhor. Olhei para ele; percebi a enorme fé que ele tinha, a maneira humilde e espontânea como ele estendeu as mãos, palmas viradas em direção ao teto, e rezou. Achei linda a fé daquele homem! Seu olhar, simples, desarmado, de pura aceitação, é coisa muito rara de se ver hoje em dia.
Compreendi que, naquela linda e pequena comunidade de agricultores, as pessoas ainda são genuinamente felizes.
Após a cerimônia, fomos até a cantina da igreja comer pastéis de vento... nossa!... Simplesmente deliciosos... logo depois, fomos embora, e eu, com vontade de ficar.
Promessa paga. Coração leve.
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casa no Bairro Santa Isabel |