Visitar Como foi como estar, de repente, em um
cenário de cartão postal. A gente não sabe para onde olha, e não consegue
decidir o que é mais encantador: se o lago de Como, as casas antigas, as ruas
arborizadas, a atmosfera antiga e mágica... naquele dia, éramos quinze pessoas
no grupo, e fomos todos de trem de Milão para Como. Chegando lá, fomos em um
passeio de barco imperdível pelo lago, no qual tentei, ao mesmo tempo, acreditar
que estava realmente ali, enquanto fotografava, filmava e ficava maluca com
tantas paisagens deslumbrantes. De verdade, a gente não sabe para onde olhar, e
querer captar o máximo possível de imagens com a lente da câmera, mas
sobretudo, com a lente do coração, para não esquecer jamais.
Antes do almoço, estávamos passando por uma
loja de departamentos no centro, indo em direção a uma igreja que iríamos
conhecer, quando alguém olhou na vitrina e anunciou; “Gente! Olhem só que
promoção! Compre três peças de qualquer valor e pague apenas 1 euro na terceira
peça!” Foi o suficiente para que
entrássemos na loja e passássemos a vasculhar prateleiras, entrar e sair de
cabines, encher os braços de lenços e echarpes lindíssimos que estavam à venda,
enfim, quase deixamos as funcionárias da loja malucas.
Acho que elas devem ter
dado graças depois que saímos... duas horas depois, já que estava ficando
tarde, esquecemos a igreja e decidimos que seria melhor conhecer a parte alta
da cidade, que acessamos através de um teleférico.
O TELEFÉRICO POR DENTRO |
Maravilhoso! A vista era simplesmente
deslumbrante! Do teleférico, nós olhávamos lá para baixo e era como se a
cidadezinha e seu lago estivessem em um postal. Nunca pensei que um dia
conheceria um lugar tão lindo. Acho que é o lugar mais lindo que já visitei.
Quando chegamos lá em cima na parte alta e
saímos do teleférico, a segunda parte do encantamento começou. Mal pusemos os
pés no chão, um sino começou a tocar. Era um sino de igreja, e ele tocava uma
música linda. O sol estava se pondo – eram quase seis da tarde – e a maioria
dos turistas já tinha ido embora. Estávamos praticamente só nós lá em cima, e
os moradores.
Tirei fotos lindas! Felizmente, gravei essa chegada, a parte na
qual o sino estava tocando e as badaladas logo depois. Para mim, foi como se
alguém me dissesse: “Viu? Você está aqui! Vocês conseguiram! Sonhos
acontecem!”
Continuamos subindo a ruazinha à pé, e chegamos
a uma igreja lá no alto. Eu entrei nela, pensando que tinha sido dali que os
sinos tinham soado. Quando entrei, ela estava escura e vazia, e uma música
sacra vinha de algum lugar, bem baixinho. Apenas o altar estava iluminado, e
fui me aproximando dele devagarinho, sentindo o clima de paz e silêncio exalado
pelo lugar. Em pouco tempo, meus olhos se acostumaram à escuridão, e pude notar
a beleza das pinturas no teto e nas paredes, a riqueza das imagens e demais
detalhes.
Não sou uma pessoa religiosa, e geralmente, não
gosto de igrejas e templos. Mas lá estava eu, e havia um motivo por trás de
tudo aquilo. Eu senti que não estava ali por acaso. Era como voltar para casa
após muitos e muitos anos longe. Então eu me sentei e agradeci. Quando dei por
mim, estava chorando feito criança, mas de alegria. Eu não estava sozinha
naquela igreja, e disso eu tenho a mais absoluta certeza. Só quem viveu uma
experiência assim saberá do que eu estou falando.
Quando saí, abracei meu marido e disse a ele o
que tinha acontecido. Então ele me confessou ter tido a mesma experiência,
minutos antes.
Ainda tivemos tempo de fazer um amigo – um gato
amarelo e branco, muito manso, que estava pelos arredores da igreja, com quem
brincamos e tiramos fotos. O engraçado, é que semanas antes da viagem, meu
marido me disse que ele tinha tido um sonho estranho: brincava com um gato, que
fugia dele e dava-lhe tapinhas com a pata, mas sem arranhá-lo. Aquele gato fez
exatamente aquilo! Enquanto meu marido tentava se aproximar, ele entrava e saía
de um vaso de planta, escondendo-se entre as folhagens e depois aparecendo de
repente, dando patadas no meu marido.
Pena que nosso tempo era curto, e deveríamos ir
embora logo, pois tínhamos um trem a tomar. Mas uma parte de mim ficou naquela
igreja, voando sobre a superfície daquele lago, pairando sobre aquelas
montanhas, vagando feito um fantasma por entre aqueles prédios e árvores,
sentando-se nos telhados para ver o sol se por. E acho que esta parte de mim
jamais sairá de Como. Quem sabe, um dia eu possa voltar lá para revê-la? Foi um privilégio ter estado naquele lugar,
ter visto o que eu vi e sentido o que eu senti.
Um dia, eu quero voltar a Como.