witch lady

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sexta-feira, 1 de junho de 2018

O Furacão - conto completo




Não, não há necessidade de explicações. Principalmente porque ninguém estaria interessado em ouvi-las. Se eu fechasse a porta nesse instante, se eu me desintegrasse, sumisse, ou então se de repente eu decidisse fazer um discurso, escrever cartas, explicar-me – não haveria ninguém que quisesse me ouvir. Porque ninguém está interessado em compreender as razões alheias, mas apenas criticar, apontar, acusar, escarnecer. 

Mas eu sinto que enquanto eles se ausentam, pairando sobre mim como se eu fosse uma carniça apodrecida num deserto, eles me olham. Me assistem. Tomam conclusões ao meu respeito. Acima de tudo, eles me julgam. Fazem questão de permanecerem distantes para que possam demonstrar, nem que seja pelo esforço dirigido, a sua indiferença. (Existe indiferença através do esforço dirigido?) Eles desejam a minha atenção à sua desatenção. Se eu falasse, virar-me iam as costas; se eu gritasse, tapariam os ouvidos – embora eles pudessem me escutar perfeitamente, fingiriam que não. Porque é mister que eles me magoem. Querem ter certeza de que seus esforços sejam recompensados, ou seja, que eu me sinta menos. 

Razões? Cansei-me de procurá-las. Explicações? Cansei-me de dá-las. Os sinos tocaram centenas de vezes, os laços foram tão repuxados, que acabaram esgarçados. E um dia, após um puxão mais forte, romperam-se. E quando eles arrebentaram, abrindo comportas de toneladas de água que formaram um rio de distâncias, só eu ouvi. Eles não ligaram. Talvez achassem que eu acabaria, como sempre, tomando o primeiro barco de volta ao porto. Se estranharam ou não, também não sei. Nunca me disseram. Nunca me perguntaram nada. Se falaram alguma coisa a respeito de mim, nunca fiquei sabendo. 

A vida sempre continua. Não importa o que aconteça, ela sempre segue em frente – com ou sem o nosso consentimento, com ou sem a nossa participação. Ou nós a conduzimos ou seremos pisoteados por ela, e eu decidi que gostaria de conduzi-la, afinal. 

Diga centenas de sins a vida toda; seja cordato, solidário, condescendente, maleável, bondoso, compreensivo. Perdoe tudo. Perdoe sempre, e esqueça sempre. Recomece milhões de vezes. Dê razão a quem não a tem. Seja sempre aquela pessoa adorável e sempre disponível. 

Diga não apenas uma vez. Ou apenas diga que vai pensar – às vezes, é o suficiente para que passem a odiá-lo e desprezá-lo com todas as forças. Você será relegado ao último lugar da fila, e finalmente, você será esquecido. Você será alvo de vinganças e de maledicências. Atreva-se a dizer não, se tiver coragem.
E será nessa hora que você enxergará a verdade, aquela mesma verdade que vinha batendo à sua porta tão insistentemente quanto um vendedor de enciclopédia, mas você fingia que não estava em casa ou que não escutava, porque abrir a porta teria significado a necessidade de rompimentos, mudanças, separações. 

O problema com a verdade, é que no momento em que nos atrevemos a dar uma olhadinha para ela, nem que seja de rabo de olho, nunca mais conseguiremos cobrir tudo com o velho véu cor-de-rosa de sempre. Um pequeno vislumbre e terá sido o suficiente para que ela derrame suas cores fortes no nosso campo de visão, e eu prometo que nada nunca mais será como antes, pois quem enxergou a verdade uma vez, nunca mais conseguirá conviver com a inverdade ou remendar o pano da vida com as linhas doces da mentira. 

Não é nada fácil descobrir como os outros nos veem realmente. Não é fácil descobrir que estamos e sempre estivemos irremediavelmente sozinhos. Mas depois, fica mais fácil quando a gente se acostuma e aceita. Com o tempo, vai ficando cada vez mais fácil. Haverá muitas recaídas, nas quais você há de se perguntar se não seria possível voltar atrás e reencontrar aquele velho e conhecido caminho, por onde você já passou centenas de milhares de vezes, mas descobrirá que não; uma vez que a escolha foi feita, não há como retornar ao velho caminho. O que existe adiante é apenas... uma estrada incógnita. Uma história que você terá que aprender a escrever sozinho, sem as penas alheias, sem os direcionamentos alheios. Você sentirá medo e solidão. Depois, compreenderá que todo caminho é difícil no começo, e que a solidão é tudo o que você sempre teve. Porque ela é tudo o que todo mundo sempre teve, mesmo os que não enxergam isso. 

Como olhar no espelho e tentar reencontrar velhos rostos traçados pela linha da falsa aparência? Não há como jogar com a verdade. Ela não tem parceiros de jogo, ela só tem súditos. É ela quem comanda tudo, embora seja paciente até que a descubramos. E para que isso aconteça, será preciso que haja muitos tombos e decepções, muitas lágrimas e traições, muito medo sob os véus cor-de-rosa.

A gente espera que as pessoas mudem. A gente espera que o sofrimento seja como uma bigorna na qual todos somos moldados, assumindo novas formas mais condizentes com o que se espera dos relacionamentos e convivências. É difícil descobrir que existam pessoas a quem o sofrimento nada causa; elas não se deixam moldar. Choram, imploram e rezam enquanto estão sofrendo, fazendo promessas de que se conseguirem tal e tal coisa, tornar-se hão pessoas melhores; mas quando a nuvem de poeira finalmente baixa, elas voltam a ser como sempre foram. Porque elas não mudam. E descobrir isso é realmente frustrante. A dor deveria unir; pelo menos, é isso que dizem todos os poetas. Ou quase todos. Mas muitas vezes, a dor separa, e a perda é como a cola que unia as páginas de um livro e que se quebrou, e as páginas passam a voar por aí sem direção ao primeiro vento.

E diante disso tudo, você descobre que seu caminho será solitário. Você perdeu o respeito pelas pessoas que deveria respeitar, porque descobriu que elas nunca respeitaram você. Você percebe que passou anos desperdiçando seu amor com quem nunca o amou. Dedicou seu respeito e sua consideração a quem jamais mostrou reciprocidade. Mas se você puder ser forte, perceberá que foi melhor assim. Porque nada o deixará mais forte do que sentir-se fraco algumas vezes. Nada abrirá mais os seus olhos do que uma coleção enfileirada de desilusões de todos os tipos. Nada fará com que você reconheça melhor a verdade e as dissimulações do que cair em armadilhas de mentiras várias vezes na vida. Nada o deixará mais forte do que chorar lágrimas amargas pelo que perdeu, e perceber que no final das contas, você nunca realmente teve aquilo que pensava que tinha. 

E então, um dia você acorda e percebe que não perdeu nada. Quem perdeu foram eles. 

O que dirão de você o escandalizará, até que chegue ao ponto em que só o fará rir: você será chamado de orgulhoso, distante, frio, incompreensível, difícil, preconceituoso. Servirá como um espelho para que eles recitem seus próprios defeitos enquanto pensam que estão falando de você. 

De longe, você vai observar os mesmos velhos jogos sendo jogados, as mesmas armadilhas e trapaças sendo armadas, as mesmas velhas regras sendo recriadas e burladas, as promessas sendo quebradas, e dará graças por não estar mais no meio daquele furacão. 






SEM










Pão sem sal ou glúten,
Doce sem açúcar,
Café sem cafeína,
Manteiga sem gordura,
Leite sem lactose,

- Vida sem ternura...







quarta-feira, 30 de maio de 2018

Sobre as Filas

Assim estão sendo vistos os que ficam nas filas por combustível ou comida. Isso é justo?


Tenho lido vários posts de pessoas criticando aqueles que estão ficando nas filas em busca de combustível ou comida. Alegam que desse jeito, os caminhoneiros não conseguirão mudar a situação do país. Acho este pensamento bastante ingênuo, visto que o objetivo deles não é mudar a situação do país, e sim a sua própria situação.

Não quero dizer com isso que a greve deles não seja válida. Estão lutando pelos seus objetivos. Mas também creio que lutar por seus objetivos é algo bom, até o momento em que se começa a prejudicar pessoas inocentes por causa disso. Paralisar um país inteiro durante tanto tempo, quando a economia está agonizante, as portas do comércio e das indústrias estão se fechando e muitos estão sem trabalho, é egoísmo. Fizeram suas reivindicações, algumas foram atendidas, outras não. Que descontinuem a paralisação, pelo menos até que as pessoas tenham tempo de respirar!

Não acho que temos o direito de julgar quem está nas filas nos postos de gasolina; muitos precisam de combustível para ir ao trabalho! Empregos não são fáceis de se conseguir por aqui, e arriscar-se a perder o seu a fim de colaborar com causas de outras pessoas, é no mínimo, burrice. Alguém aí já viu algum caminhoneiro ser solidário à greve dos professores ou dos metalúrgicos? Não, certo? Claro, a causa não era deles.

E como criticar aqueles que passam horas nas filas em busca de comida para alimentar suas famílias? Muitos têm crianças em casa, idosos ou pessoas em convalescença, que precisam comer. E mesmo que este não seja o caso, passar fome pela causa alheia não é uma opção muito inteligente.

Também vi comparações entre o povo do Japão, que após o tsunami, limitou suas compras para que houvesse o suficiente para todos, e o povo brasileiro; nossa cultura não é esta. Aqui, infelizmente, vivemos em uma selva, e é cada um por si. Se eu ceder a minha vez, ao invés de fazerem o mesmo, vão me jogar para fora da fila e pisar na minha cabeça. Não concordo com isso; gostaria que fosse diferente, mas é assim que é.

Acho que não dá para viver sonhando que estamos em Shangri Lá. Nós estamos no Brasil. Nosso contexto é lutar diariamente pela nossa sobrevivência. Ainda temos muito o que aprender a respeito de política, solidariedade, respeito e empatia.

Assistindo a um vídeo da TED recentemente, o palestrante Dylan Thomas diz uma frase muito interessante: empatia não é o mesmo que concordar. Que saibamos ser mais empáticos, mesmo com quem age ou pensa diferentemente daquilo que julgamos certo, mesmo que não concordemos com eles, pois cada um tem seus motivos.

Quem fica na fila por gasolina, teme ficar sem combustível em um momento de necessidade; quem fica na fila da comida e até paga mais caro por ela, tem medo de passar fome, ou de deixar sua família passar fome.

Os caminhoneiros não estão nem um pouco preocupados com isso.





quinta-feira, 24 de maio de 2018

La-La-Land - E Sobre Felicidade

















Finalmente, assisti ao filme La-La-Land. Queria vê-lo há muito tempo, e cheguei a gravá-lo pela Sky, mas sempre aparecia um outro filme que eu também queria ver, e eu acabava deixando-o para depois. É um filme sobre correr atrás dos sonhos, e sobre ser feliz. É um filme sobre o amor.

A gente pensa que uma coisa vai acontecer, e outra bem diferente acaba acontecendo - tanto no filme quanto na vida real da gente. Mas o filme me deixou uma mensagem muito bonita: A de que nem sempre podemos ser felizes da maneira que queremos, mas sempre podemos ser felizes da maneira que podemos.





As Folhas Soltas







As folhas soltas, caindo
Dos galhos do velho cedro
De repente, me fizeram
Lembrar de algumas cenas
De um tempo já caído,
De outras folhas caídas
Que um dia, foram verdes.

E tudo era bem mais simples,
E tudo era verdadeiro
Nos tempos daquelas folhas...
E nós nem sequer sabíamos,
Ou supúnhamos saber
Dos ventos que soprariam
Arrancando as folhas verdes
Dos galhos não ressequidos...

As folhas soltas, que voam,
Aterrissam no gramado
Por onde andaram, um dia,
Os passos do meu passado.

Pegadas há muito idas,
E já desaparecidas,
De repente, tomam forma,
Redesenham-se no chão.

Mas os donos de tais passos
Permanecem sempre ausentes...
Caminham outros espaços.
-Talvez nem sequer se lembrem
Desse chão por onde andaram...






segunda-feira, 21 de maio de 2018

Em Casa







Sinto prazer em estar em casa... gosto de cuidar de tudo, andar pelo jardim, aproveitar o sol. Gosto de ir lá para fora olhar minhas plantinhas e brincar com meus cães. Meus melhores momentos, eu passo dentro da minha casa. 

Domingo fez um dia lindo, do jeito que eu gosto: quase frio, ensolarado (o sol não esquenta demais, e sim aquece na temperatura certa). Havia uma luz bonita sobre as coisas, passando mais rente à copa das árvores da mata em frente, pois a Terra já se inclina em direção ao inverno. Era uma luz diferente, clara, mas que não feria os olhos, e deixava o céu ainda mais azul. Amo esta época do ano!

Deixei as janelas bem abertas o dia todo, e no final da tarde, fechei-as para conservar o calor do sol dentro de casa por mais tempo. Passarinhos nas árvores, se alimentando das frutas que colocamos nos comedouros. Colibris tomando sua água doce e pousando nos galhinhos mais finos. Os cães dentro da casinha, dormindo placidamente sobre seus cobertores. 

Hora de comer alguma coisa - café com bolo de fubá. E depois, ver um filme. Assisti ao filme abaixo - é muito, muito bom! Conta a história de uma curandeira em uma aldeia no México, sob o ponto de vista de seu pequeno neto. É uma história sobre crescer, e sobre enfrentar preconceitos. Valeu a pena!

Aliás, o dia todo valeu à pena, em companhia de minha cara-metade, deitados sobre a pedra do jardim, absorvendo alguns raios de sol.



Espero que vocês possam ter um tempinho para assistir ao filme. Tenham uma ótima semana!





quarta-feira, 16 de maio de 2018

ROMANTISMO







Você chegou e me trouxe a lua
Da rua
Nas cordas do violão.
Trouxe também um milhão de estrelas
E derramou-as todas
No meu quarto, pelo chão
Dentro dos meus sapatos,
No tapete da sala,
E elas brotavam,
E elas caiam, rolando dos seus braços,
Das palmas das suas mãos.

Você pôs risos nas minhas dores,
E sonhos nas fronhas
Dos meus travesseiros.
Você encheu minha alma de cores,
E de flores,
Que plantou em meu terreiro.
Fez ondear as minhas águas
Para então deixa-las calmas
E muito mais profundas...

Você soprou um vento, que me move
Sempre para o alto, e para frente,
Acima do meu corpo e minha mente,
Lançando-me um olhar que me comove
Até hoje, uma visagem
Que transforma a sua imagem
Que mesmo sendo a mesma, é diferente.

Você chegou, e  nunca mais eu fui a mesma,
E  eu me transformo em tua gueixa
Que você ama, que você usa, e então  deixa
A sonhar à porta da minha casa,
Com o toque sutil daquela asa,
Com o som daqueles passos
E com a lua, e as estrelas,
 Que aparecem
Quando estou entre os seus braços.




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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...