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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Mi-mi-mi de Facebook








Sempre me sinto bastante desconfortável se tiver que publicar alguma coisa na página de alguém no Face, ou marcar pessoas. Só faço se for absolutamente necessário, porque não gosto que o façam comigo. Acho inconveniente. Da mesma forma, não adiciono ninguém a grupos, e se fosse fazê-lo, perguntaria antes se a pessoa estaria interessada, por uma questão de respeito à privacidade e ao gosto alheios. Não acho que todo mundo deva pensar ou agir da mesma forma que eu, mas esta é a forma como eu ajo. 

Por isso, quando em comemorações de aniversário, eu preferia curtir a publicação de alguém, deixando a minha mensagem nos comentários. Daí a pessoa me chama de oportunista por ter feito isso, alegando que eu "Me aproveitei" da postagem de feliz aniversário dela... como se a tal postagem fosse algum exemplo de arte e literatura, e eu estivesse copiando, colando e assinando em baixo.

Mas as pessoas estão muito chatas! Algumas são tão repetitivas, batendo sempre nas mesmas teclas, que fica difícil conviver. Outras, clamam odiar as redes sociais, e alegam participar delas "apenas por necessidade de informar manter-se informado" (olhem-só-o-sacrifíco-que-eu faço-pelo-bem-da-informação-e-da sociedade em geral)- como se esta fosse a única maneira. Elas odeiam as redes sociais, mas estão lá 24 horas por dia, sete dias por semana, sempre reclamando de alguma coisa. Quer gente mais chata do que essas?

Há também aquelas famosas postagens contendo textos absurdos, e no final, "Não partilhe: copie e cole." Não copio. Não colo. Não partilho. Não curto. Não comento.

Quem nunca passou por algo assim no Facebook: "Gente, estou deixando definitivamente o Facebook. Esta é minha última postagem!" Geralmente, este tipo de postagem é acompanhado de muitas carinhas chorosas e comentários do tipo: "Não faça isso, amiga/o! É inveja! Não dê importância!" E se você for checar no dia seguinte, a pessoa ainda está lá... e ficará!

Ou então: "Estou fazendo uma faxina no meu Face, e se você não quer ser deletado, curta esta postagem, copie e cole no seu perfil."   Vá lamber sabão. Vá tomar banho. Pode me deletar. Não curto. Não colo. Não copio. Não comento. Não partilho.

Outra coisa totalmente absurda, é quando compartilham reportagens falsas sobre políticos ou outras pessoas famosas, sem verificar as fontes antes (cinco minutos de Google clarearia qualquer dúvida a respeito da veracidade de uma notícia). Espalham calúnias, geram ódio e fomentam o sensacionalismo.  Este é o tipo de postagem que mais me irrita.

Há algum tempo não permito mais postagens de outras pessoas nas minhas páginas, devido aos folgados de plantão que acham que a página alheia é espaço de divulgação para suas próprias publicações, propagandas políticas, ou local onde podem colocar posts de pessoas doentes ("deixem um amém se você torce pela recuperação dele(a)"), vídeos de animais sendo maltratados e coisas de pior gosto. Mesmo assim, há os que ainda usam os espaços dos comentários nas páginas alheias - ignorando completamente a postagem da pessoa - para colocar verdadeiras reportagens contendo links para seus próprios espaços. Falta de educação e de sensibilidade sem limites! E por mais que a gente apague, eles têm a cara de pau de ir lá e postar de novo, ou então enviam-nos inbox. Estou pensando seriamente em bloquear uma pessoa por isso...

Sem contar os engraçadinhos que pedem amizade - e a gente, inocentemente, aceita - e então começam a enviar mensagens inbox (que são solenemente ignoradas, e caso haja insistência, seus perfis são bloqueados por mim) e então começam: "Olá! Como vai, gata? Tá a fim?" Não, eu não tô a fim. Sou casada, se é que você se importou em olhar no meu perfil, e tenho 51 anos. Não sou gata há pelo menos 30. 

Mas apesar de tantos pesares, ainda considero as redes sociais como algo muito positivo. Através delas, divulgo meus pobres escritos - embora não os empurre goelas abaixo em ninguém. Partilho fotos e fico sabendo o que anda rolando na família. Leio coisas interessantíssimas e fico conhecendo virtualmente pessoas interessantes. Como o mundo aqui fora, as redes sociais estão cheias de gente legal e de gente sem noção. E eu ajo com elas da mesma forma como ajo com os sem noção daqui de fora: deleto e bloqueio.












A Casa Longe de Casa






Sempre que viajamos, tentamos levar conosco um pedacinho da nossa casa e do conforto que desfrutamos nela: nossos travesseiros, um livro favorito, o pijama ou camisola velhinhos, ou até mesmo um objeto de estimação. Meu marido, por exemplo, não viaja sem levar seu próprio travesseiro. Eu não viajo sem levar meu leitor eletrônico, o Kindle. 

Quando chego na minha casa alternativa - a que ocuparei por alguns dias - tento fazer com que ela se adapte a mim. Coloco minhas roupas nos cabides, minhas toalhas nos banheiros, e procuro arranjar as coisas na cozinha de forma que ela fique funcional, mesmo que não pareça muito arrumada. Escolho as xícaras, copos, talheres e pratos que vou usar na minha estadia, deixando-os disponíveis sobre a pia e mantendo todos os outros em seus lugares. E quando vou embora, deixo tudo exatamente da mesma forma que eu encontrei, só que mais limpo.

Se minha casa temporária for um hotel, melhor ainda: não existe a preocupação com arrumação e limpeza! Acho que a única forma de realmente descansar durante uma viagem, é ficando em um hotel, mesmo que seja um lugar bem simples.

Lembro-me que uma de nossas melhores viagens, que foi para Minas Gerias em um mês frio de junho, há muitos anos, nós ficamos em uma pequena pensão em Tiradentes totalmente desprovida de qualquer luxo. O carpete era roxo, e meu marido exclamou ao entrarmos: "Nossa... eu não quero ficar aqui!"  Porém, era a época do festival de inverno, e não havia outros lugares para ficarmos. Mas nossa estadia mostrou-se bastante agradável, já que apesar de bem simples, o local era limpo e servia um café da manhã dos deuses. 

Nunca me esqueci quando, às seis da manhã, acordei com o barulho de carruagens passando sob a sacada. Abri-a, e para minha surpresa, tive a sensação de estar em um cenário do século retrasado. Sob o céu nebuloso, avistei as dezenas de ipês amarelos floridos, e a carroça do leiteiro que passava, deixando o leite junto às portas. Senti-me muito bem. Em casa. 

Na minha primeira viagem de avião, que foi para Salvador, ficamos hospedados em um hotel de luxo - o Meridien. Mal pude controlar o fôlego ao chegar à janela e deparar com a Praia Vermelha, as ondas quebrando nas pedras lá embaixo. Senti-me totalmente em casa em Salvador, e chorei muito quando tivemos que voltar. 

Não importa se é um hotel luxuoso, um lugar simples ou uma casa emprestada ou alugada: acredito que um dos  prazeres em viajar, está em ser capaz sentir-se em casa em outras casas. E tratar estes locais como se fossem, realmente, as nossas casas, respeitando-os e conservando-os, e sabendo que depois que formos embora, eles servirão de casas temporárias às outras pessoas que chegarem. 

Acho muito triste quando chego em um local e descubro que ele está quebrado, sujo e faltando objetos. Falta de consideração e de educação.





Sebastien-Roch-Nicolas de Chamfort - e a Sociedade







Máximas de Chamfort - e sua crítica à sociedade de sua época, que pelo que vejo, só mudou para pior.








Há séculos em que a opinião pública é a pior das opiniões.





Podemos considerar o edifício metafísico da sociedade como um edifício material composto de diversos nichos ou compartimentos, de grandeza mais ou menos considerável. Os cargos – com suas prerrogativas, seus direitos, etc.- constituem esses diversos compartimentos, esses diferentes nichos. Eles são duradouros enquanto os homens passam. Aqueles que os ocupam são ora grandes, ora pequenos, e nenhum ou quase nenhum foi feito para seu cargo. Ali vemos um gigante, curvado ou acocorado em sua pequena morada. Lá está um anão sob uma arcada: raramente o nicho é feito para uma estátua. Em torno do edifício circula uma multidão de homens de diferentes tamanhos. Todos esperam que haja um nicho vazio, a fim de colocarem nele, qualquer que seja. Para ser admitido, cada um faz valer seus direitos, ou seja, o seu nascimento ou suas proteções. Eles apurariam aquele que, para ter preferência, fizesse valer a proporção que existe entre o nicho e o homem, entre o instrumento e o estojo. Os próprios concorrentes se abstêm de objetar essa desproporção aos seus adversários.




Aqueles que tem espírito têm mil boas histórias para contar sobre as tolices e as bajulações das quais foram testemunhas, e é o que se pode ver por cem exemplos. Como esse é um mal tão antigo quanto a monarquia, nada comprova melhor quão irremediável ele é. Pelos milhares de casos que ouvi contar, poderia concluir que, se os macacos tivessem o talento dos papagaios, seriam de bom grado transformados em ministros.




Os homens deste mundo estão amontoados, enquanto creem estar em sociedade.




A sociedade é composta de duas grandes classes: os que têm mais jantares do que apetite, e os que têm mais apetite do que jantares.






Felizes os que nada esperam, nunca serão desiludidos.




Não é fácil encontrar a felicidade em nós mesmos e é impossível encontrá-la em outro lugar.





A sociedade – aquilo que se chama de mundo – não passa de luta entre mil pequenos interesses opostos, uma luta eterna entre todas as vaidades que se entrecruzam, se chocam, sucessivamente feridas, humilhadas umas pelas outras, que expiam no dia seguinte, no desgosto de uma derrota, o triunfo da véspera. Viver solitário, não ser machucado nesse choque miserável em que se lança por um instante os olhos para ser arrasado no instante seguinte, é aquilo que se chama de não ser nada, não ter existência. Pobre humanidade!





O público, o público, quantos tolos são precisos para fazer um público?





Quando Montaigne diz, a propósito, da grandeza: “Já que não podemos alcança-la, vinguemo-nos, maldizendo-a”, ele diz uma coisa divertida, muitas vezes verdadeira, mas escandalosa, e que dá armas aos tolos que foram favorecidos pela fortuna. Muitas vezes é por pequenez que se odeia a igualdade de condições. Porém, um verdadeiro sábio e um homem honesto poderiam odiá-la como uma barreira que separa as almas feitas para se aproximarem. Há poucos homens de caráter distinto que não tenham rejeitado os sentimentos que lhe inspirava um certo homem de classe superior, que não tenham repelido, para sua própria aflição, alguma amizade que poderia ser para eles uma fonte de doçuras e consolações. Cada um deles, em vez de repetir as palavras de Montaigne, pode dizer: “Odeio a grandeza que me faz fugir daquilo que eu amava ou teria amado.”






A generosidade não passa da piedade das almas nobres.





Celebridade: a vantagem de ser conhecido por aqueles que não nos conhecem.




Governa-se os homens com a cabeça: não se joga xadrez com um bom coração.






Tudo que é oriundo da classe do povo arma-se contra ele para oprimí-lo, desde o miliciano até o negociante transformado em secretário do rei, o pregador saído de uma aldeia para pregar a submissão ao poder arbitrário, o historiógrafo filho de um burguês, etc. São como os soldados de Cadmo: os primeiros a receber suas armas voltam-se contra seus irmãos e atiram-se sobre eles. (
Nota: Cadmos – mitológico fundador de Tebas. Chegando à Beócia, matou um dragão que devorava seus homens e, por ordem de Minerva, semeou seus dentes. Desses dentes afiados nasceram soldados, que lutaram entre si até só restarem cinco, que se tornaram os ancestrais dos tebanos). 




Filósofo, moralista, hedonista e revolucionário, o francês Sébastien-Roch-Nicolas de Chamfort (1740-1794) foi um dos principais críticos da sociedade francesa do século XVIII. Iniciou sua carreira literária com poesias e comédias, porém alcançou notoriedade com a publicação póstuma de Máximas, Pensamentos & caracteres & Anedotas. Contrário aos valores corrompidos que cercavam o reinado de Luis XVI, Chamfort foi partidário da Revolução Francesa. Detido em 1793 e ameaçado de ser novamente detido no ano seguinte, Chamfort faleceu em virtude dos ferimentos decorrentes de sua desastrada tentativa de suicídio. Não suportando a idéia de voltar para a prisão, Chamfort fecha-se em seu gabinete e dispara uma bala contra o rosto. A pistola funciona mal e, apesar de perder o nariz e parte do maxilar, ele não consegue matar-se. Arma-se então de um corta-papéis e tenta cortar a garganta porém, apesar de diversas tentativas, não consegue achar a artéria. Utiliza então o mesmo corta-papéis para espetar o peito e seus jarretes. Exausto, perde a consciência. Seu valete, alertado, encontra-o em um mar de sangue. Apesar de todos os esforços de Chamfort para matar-se, conseguem salvá-lo.

                               


                                  

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

LEGADO









Te deixo o meu guarda-roupa,
Dele, faça o que quiser.
Deixo também alguns livros,
-Nem todos bons, nem todos lidos,
Outros, tão manuseados,
Que ficaram alguns cílios
Perdidos por entre as folhas.

Não deixo amigos, nem filhos
Que possam guardar memórias;
Sob as pálpebras fechadas,
Daqui, eu não levo nada,
E nada é o que ficará
Da minha efêmera história.

Meus discos, que tanto ouvi,
E o chão que guardou meus passos
Por entre esses corredores:
São eles a minha trilha
Sonora, mas morrerão
Depois de dias, ou horas.

Os poemas que escrevi
E que quase ninguém leu,
São a minha importância,
Representam, na verdade,
O que de verdade sou eu.

Mas quem não os quis ler antes,
Abandonando na estante
As minhas pobres palavras,
Pode bem seguir adiante,
Não entenderá jamais
O que jamais entendeu.

Um passo, e o mundo me esquece,
Um sopro, e eu vou embora
Sem levar saudade alguma,
Só a lágrima fingida, 
O fel da última hora.





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Angry People






I know  a person who gets angry easily. Out of the blue, she (yes, it's a woman) starts cursing and accusing people of doing things they didn't do. In fact, she's a good person. But she has this (small?) flaw. 

When she's excited or nervous about something, she spreads this feeling all over her, affecting people's peace of mind. In these occasions, it seems that she's connected to a power socket, and has a bare wire: everyone she touches, gets a shock! When she finally leaves the place, we notice that we've become a little more irritated and tired, and for no reason!

Maybe I'm used to being alone for long periods of time, and being around people like her, might make me feel tired and unbalanced. I'm used to listening to birds singing all day, and being surrounded by things such as trees, mountains, dogs and plants. Being around people like her for a long time really drains my energy.

There are many people who behave in the same way: they think that the others are there to make their wishes come true and obey their orders. If one doesn't understand immediately what they want, they come stamping their feet towards us, faces full or rage, angry voices raised, saying how incompetent and useless we are for not having understood them the first time around. 

This person that I know is always losing things. Wherever she goes, she loses something, and while she's looking for it, she suggests that 'someone has taken' the object she's looking for. It's so bad to have people suspecting of us for something we didn't do!  I've been lightly accused by her a couple of times. And when she finally finds her missing object, which had been lost due to her own lack of organisation, she doesn't even apologise to anyone; just keeps acting as if nothing had happened. 

People like this often say that we must accept them as they are - with all their impoliteness, rudeness, and lack of good sense. The fact is that one day, they end up facing someone who treats them the same way. It always happens. But they never remember to be as understanding as they demand us to be. 




domingo, 19 de fevereiro de 2017

Boa Sorte!






VARRER





Era bem cedinho de manhã, e o dia mal tinha clareado. Eu era bem pequenina, e acordava com o ruído da vassoura batendo no chão de terra endurecida do nosso quintal. A luz que entrava pela veneziana trazia consigo sombras que se movimentavam no teto de madeira do quarto: era meu pai varrendo o chão. Os cachorros latiam para alguns cavalos que passavam na rua, e eu ficava ali na cama, escutando tudo aquilo em silêncio.

Mais tarde, eu ouvia a porta da cozinha se abrindo, e ruídos de papel sendo amassado: era meu pai que chegava com o pão e algumas comprinhas. Então, ele ia para o quarto e sentava-se na cama(eu escutava os sons das molas do colchão estalando) e começava a contar à minha mãe as novidades que ouvira na rua. Conversavam tão baixinho para não nos acordar, que eu não conseguia escutar o que diziam, apenas suas vozes. 

Depois, minha mãe se levantava, e o cheiro do café sendo coado no coador de pano invadia a casa. 

Quando varro meu próprio quintal, de manhã bem cedinho, eu me lembro daqueles dias. Fico pensando se meu pai e minha mãe me olham de algum lugar, ou se ainda vivem e respiram somente na minha lembrança. Talvez a substância criada pelas nossas lembranças seja consistente o suficiente para manter as pessoas vivas, enquanto vivermos, e depois disso, quando ninguém mais se lembrar delas, elas morram. 

Quem sabe, enquanto a minha vassoura toca o chão, levantando poeira, os meus pais, em algum lugar, abram os olhos novamente?





Machado de Assis






Pensamentos de Machado de Assis




"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria."



"Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão."



"O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele."


"Está morto: podemos elogiá-lo à vontade."


"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito."


"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"


"Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos."


"A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito."


"Uma coisa é citar versos, outra é crer neles."


"Há coisas que melhor se dizem calando."



Eloquência









A chuva
Faz crescer a erva entre os caminhos
E constrói redondas poças
Que vão ficando cada vez maiores
E cada vez mais intransponíveis.

O vento se cansa
De transportar palavras fracas
Entre diferentes pares de ouvidos,
E as mensagens morrem,
Sem deixar qualquer eco.

Mas as sementes caídas
Displicentemente, das mãos distraídas,
São fertilizadas pela mesma chuva
Que faz crescer as ervas daninhas,
E o silêncio que dorme no vento
Torna-se bem mais eloquente
Do que qualquer palavra.





quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Mais um Fim do Mundo







Segundo o astrônomo russo Dyomin Damir Zakharovich, existe um asteróide com mais de um quilômetro de diâmetro vindo em nossa direção ainda hoje. O choque há de causar um tsunami gigantesco que acabará com nossos dias neste planeta. O astrônomo alega que a NASA está ciente deste fato, mas que se recusa a admiti-lo. 

Fico me perguntando o porquê de tantas anunciações sobre o fim do mundo. Quando eu era criança, diziam que o fim do mundo seria no ano 2000, e há algum tempo, em 2012. Muitos ganharam dinheiro vendendo pedaços de terra supostamente seguros, bunkers inquebrantáveis e muitos livros sobre como sobreviver ao fim do mundo - o de 2012. Mas nada aconteceu.

Lembro-me que, naquela época, tive um sonho estranho: ao levar um de meus alunos ao portão, o dia começou a escurecer rapidamente, e chegando lá, ao abrir o portão para deixar meu aluno sair, deparei com um outro aluno esperando para entrar. Eu não o conhecia, mas mesmo assim, senti que não era perigoso. Ele era muito negro, confesso que nunca vi uma pessoa tão completamente negra em toda a minha vida. Tentando comentar sobre a escuridão, eu disse: "Nossa! Parece que temos um eclipse!" E ele, muito sério, me respondeu: "Não é eclipse, é o fim do mundo." Acordei muito assustada.

Fato é que, após aquele sonho - e outros que não convém mencionar aqui - minha mãe adoeceu e morreu, e na mesma época, em outro hospital, tínhamos meu cunhado também na UTI devido a uma cirurgia de coração, e ele ficou por lá, entrando e saindo da UTI durante seis meses. Meu marido também ficou muito doente na época, e uma de minhas irmãs quebrou o pé. Foi um período muito difícil para todos nós. Quase como o fim do mundo. No meu site no Recanto das Letras, sofri vários ataques vindos de duas pessoas que me ameaçaram de todas as formas - uma delas, faleceu logo depois -, também na época em que estava vivenciando tudo aquilo na minha família.

Mas o mundo não acabou, e nós sobrevivemos. 

Acho que no fundo, as teorias de fim de mundo existem porque as pessoas estão desencantadas. Elas gostariam que alguma coisa grande acontecesse e mudasse o rumo das coisas, mesmo que isso significasse a extinção de outros milhões de pessoas e também de quase todas as espécies animais. Se existisse uma pequena chance de que elas sobrevivessem, e que tudo recomeçasse de uma maneira diferente, para elas, valeria a pena. 

Mas elas não enxergam que para que isso aconteça, o mundo não precisa acabar; basta que olhemos em volta, sem os óculos cor-de-rosa, e vejamos o quê e quem está na nossa vida, se vale a pena deixá-los ficar, e também examinar comportamentos pessoais que estejam nos prendendo ou nos mortificando a alma, e fazermos tudo o que pudermos para nos libertar deles. 

O ano de 2012 marcou-me como um dos piores de minha vida. Mas também foi o ano em que eu realmente senti que alguma coisa muito grande, uma mudança radical, aconteceu na minha vida, no meu modo de ser, nos meus relacionamentos - alguns terminaram, outros mudaram e ainda outros começaram - e na minha maneira de pensar. Aquele ano foi o meu fim de mundo pessoal, e acho que foi isso que o meu suposto aluno do sonho queria me dizer. Acho que ele era uma espécie de mensageiro, e estava me alertando para o fato de que grandes mudanças e perdas aconteceriam, mas que depois do fim daquele mundo velho e mofado, coisas boas viriam. E vieram.

Coloquei pingos que estavam suspensos em vários 'is;' enxerguei a necessidade de modificar o teor de relacionamentos com pessoas que eu pensava serem amigas, mas que não me apreciavam realmente, e que através da sua inveja, me desejavam o mal. Passei a valorizar pessoas que eu antes mal enxergava - e que eram as que realmente valiam a pena, que me apreciavam e apreciavam as coisas que eu fazia. 

Por isso, se o mundo acabar realmente hoje, eu vou poder ir em paz. Não tenho nada a reclamar, nada que ficou por fazer ou por dizer. Não tenho nenhum ódio, nenhum desejo oculto por coisas que gostaria de ter feito e não fiz. Estou pronta. 



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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Só Pra Lembrar...






Olá, pessoal. Abri tantos blogs ao longo destes cinco anos em que participo da blogsefera, que quase perdi a conta. Mas procuro manter todos eles atualizados!
Deixarei aqui os links para quem quiser visitar e seguir:

HISTÓRIAS - Este é o blog onde posto meus contos e pequenos romances em capítulos. Alguns contos são completos- https://anabailunecontos.blogspot.com

YOUR TICKET TO ENGLISH -Aqui é onde posto aulinhas e dicas para quem quiser aprender inglês. Blog novo!yourtickettoenglish.blogspot.com.br

A CASA & A ALMA - Aqui estão dicas para deixar a casa arrumada, e também as relações entre a casa e a alma. Diria que é meu espaço mais zen, mais 'calminho.' - https://acasaeaalma.blogspot.com

FROM MY WINDOW - Neste blog, eu posto apenas poemas e textos em inglês. - anawindown.blogspot.com.br

PASSAGEM - Neste blog, eu coloco textos, poemas e músicas de pessoas que admiro, trechos de livros que li, enfim, coisas que amo. Um dos meus favoritos. 

NADA A DIZER - Somente minhas imagens. Sem palavras.   anabailuneinstantaneos.blogspot.com

BY ANA BAILUNE - Meu site no Recanto das letras. Há contos, poemas, crônicas, artigos, resenhas... enfim, tem de tudo. Este é fora da blogesfera. 

EU VEJO PASSAR - minha página no facebook, onde republico poemas antigos. Porque a gente lê e esquece. https://pt-br.facebook.com/anabailune2

Acho que isso é tudo... ah, e é claro, tem este aqui, o EXPRESSÃO.

Adoraria receber suas visitas em um deles.




The Hummingbird







A hummingbird came into my house while I was working,
Looked at what I was doing
And quickly left through the open window.

I just stood in awe,
Enjoying its ephemeral presence, openmouthed, 
Heart pounding...
And I thought of the many birds life sends us
And we let them fly away, unnoticed... 




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Do Meu Banquinho








Adoro sentar-me em um dos banquinhos espalhados pelo centro histórico ou por outras locações  de Petrópolis, e ficar apenas observando. A gente vê coisas bonitas, engraçadas, corriqueiras, especiais, terríveis... enfim, vê-se todo tipo de coisa. Eis algumas das que vi, coletâneas de algumas horas – em dias diferentes – sentada nos banquinhos das ruas e praças petropolitanas:

Praça D. Pedro, depois do almoço: Aparentando quinze ou dezesseis anos de idade, a  mocinha linda, de longos cabelos, despede-se do namorado atrás de um banco onde está sentado um tiozinho, que não os vê. O namorado vai embora, e ela senta-se ao lado do tiozinho, as longas pernas cruzadas, passando a olhar o celular. Ela é linda e muito charmosa, e logo desperta a atenção do tiozinho, que passa a dar olhadelas cada vez mais longas na direção da moça. Ela percebe, e de brincadeira, começa a incentivá-lo, trocando alguns olhares com ele. Joga o cabelão para lá e para cá, ajeita-se de forma que as pernas apareçam mais. O tiozinho está quase enfartando. De repente, ela inclina o corpo na direção dele para descruzar as pernas, e posso ver algumas mechas do seu cabelo roçando de leve o rosto dele. Ele fica azul de entusiasmo, e então, ela descruza as pernas, levanta-se do banquinho e segue adiante, passando bem na cara dele sem olhar para trás. O tiozinho quase desmaia de frustração, e logo vai embora também. Pensou que ia ganhar a gatinha?

Dezesseis de Março: Passa uma moradora de rua, muito conhecida por aqui. Ela está sempre sozinha, usa óculos de lentes grossas e parece ter algum problema mental. Ela para na frente de uma vitrine de joias caras, e passa a observar longamente anéis, pedras preciosas e pulseiras. Penso que ela deve estar fantasiando usar uma delas, pois sorri de um jeito que me faz notar que ela está em mundo que é só seu, onde ela é princesa e usa todas aquelas lindas joias.

Ainda na dezesseis de março: Uma mulher bem vestida e de boa aparência. Ela passa na calçada gritando e agitando os braços, dizendo que quer morrer. Também parece ter algum problema mental. Ela é de meia-idade, está limpa e tem cabelos bem cuidados. A garganta se enche de veias grossas quando ela grita, e os olhos estão injetados. Desespero? Solidão?

Praça D. Pedro outra vez: Senta-se um senhor com uma garrafa de cerveja em um isopor e dois copos. Ele enche um dos copos, e espera. Minutos depois, senta-se um outro homem ao lado dele. O da cerveja puxa conversa, e logo ambos estão conversando. Sobre o que será que eles falam? Não sei. Mas logo, o homem da cerveja enche o outro copo e o oferece ao recém-chegado, que aceita.  Eles continuam conversando, até que a garrafa está vazia, e ambos vão embora, cada um para um lado.

Rua do Imperador: O rapaz que se veste de anjo chega para começar seu dia. Já tem o rosto, braços e mãos pintados de branco, e começa a vestir seu traje de anjo e finalmente, as asas de papelão e espuma. Ajeita-se sobre o pequeno altar, mas não sem antes colocar uma música suave para tocar em sua caixinha de som portátil, e disponibilizar uma outra caixa de madeira para que as pessoas coloquem algum dinheiro. Assume sua posição de anjo-estátua, e quando alguém joga algum dinheiro na caixinha, ele se move lentamente, retirando do bolso um papelzinho que contém uma mensagem, e entrega à pessoa, agradecendo com um aceno de cabeça. Eu sei que é uma mensagem, porque já recebi uma de suas mãos. 

Perto de um sinal de trânsito – O malabarista se posiciona, segurando seus bastões, enquanto espera o sinal fechar. Assim que ele fecha, o rapaz de cara pintada e roupa de palhaço vai para o meio da rua, e começa a sua performance que dura alguns segundos. Depois, agradece e antes que o sinal abra, vai de carro em carro pedindo uma colaboração – que poucas pessoas dão. Ele é jovem, e está longe de casa - tem sotaque estrangeiro. Por que será que veio de tão longe?

Itaipava – Lá vem o moço do aipim. E dos limões. E das tangerinas. Ele é idoso, muito magro e quase já não tem dentes. Carrega nos ombros um saco com uma dessas três coisas que eu citei, e quando se ajoelha no chão diante de quem está sentado tomando um sorvete ou olhando o movimento, começa a desfiar a sua história, em frases desconexas: “Vim de longe... ainda não comi nada... trouxe da fazenda... colhi hoje de manhãzinha... trabalho desde madrugada... tenho patrão... trabalho na roça debaixo do sol forte... não tenho nem uma moedinha...” E de nada adianta dizer que hoje você não quer, obrigada, deixa para uma próxima vez, pois ele só vai sair depois de contar a sua história várias vezes sem obter resultado algum. E a cada vez que a conta, ele vem de um lugar diferente, e vende alguma coisa diferente. Mas seu olhar sofrido é sempre o mesmo. E lá vai o moço do aipim, dos limões e das tangerinas, com seu saco encardido no ombro debaixo do sol quente, de volta para Sardoal, Areal, ou São José do vale do Rio Preto, ou...

E todos esses personagens ficam girando na minha cabeça, me pedindo para contar suas histórias. 






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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...