witch lady

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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Poupando a Alma




A gente vê uma formiguinha se afogando em uma poça; nossa primeira reação, se tivermos alguma solidariedade pelas outras criaturas, será salvá-la. E olhamos em volta a procura de um galhinho ou de uma folha que possamos usar para resgatar a formiga de uma morte terrível por afogamento, mas não achamos nada, e ela continua a debater-se no meio da poça. É urgente que algo seja feito, ou ela morrerá em poucos segundos. Sem hesitar, mergulhamos o dedo na água e a resgatamos.

O que poderá acontecer então? Esperamos que a formiga nos agradeça, ou demonstre respeito por nós devido a nossa atitude? Se esperamos que haja, da parte de uma formiga, qualquer tipo de reconhecimento, é porque somos insensatos. O máximo que poderemos conseguir, caso não sejamos espertos o suficiente para colocá-la no chão o mais rapidamente possível, é uma ferroada. Porque uma formiga sempre agirá conforme a sua natureza, aferroando tudo que ela considere uma ameaça. É típico das formigas agirem desta forma.

O mesmo acontece em relação a alguns seres humanos que, após receberem a nossa ajuda, nos retribuem com a ingratidão, ou pior ainda, com a indiferença. É da natureza deles que hajam desta forma. 

Porém, não é por isso que devemos permanecer ao seu redor, convivendo com sua indiferença ou levando ferroadas e amortecendo pontapés. Temos uma escolha: podemos sair de perto de pessoas assim. Podemos escolher poupar as nossas almas desta convivência onde um é o doador e o outro apenas recebe. 

Muitos dizem que, ao darmos alguma coisa, não devemos esperar nenhuma recompensa, mas recompensa, neste caso, não é bem a palavra; quem doa, quem ajuda, quem resgata, espera que pelo menos não sofra a ingratidão da indiferença, e que aqueles a quem ajudou, não se voltem contra eles sem motivo algum.

Acho que existe uma má interpretação das palavras que Cristo disse quando nos estimulou a oferecer a outra face. Oferecer a outra face é resgatar a formiga da poça d'água, mesmo sabendo que poderemos ser aferroados, mas não é deixar o dedo disponível para a formiga picar. É ajudar a quem precisa, mesmo que tenhamos sido magoados por esta pessoa, mas sem permitir que voltemos a ser magoados. 

Poupemos as nossas almas das convivências infrutíferas. Perdoemos, mas não continuemos nos expondo a relacionamentos dos quais só podemos esperar sofrimento, ingratidão e injustiça. procuremos nos relacionar com aquelas pessoas que realmente demonstram gostar de nós, da nossa presença, e que nos respeitam e admiram.




segunda-feira, 24 de outubro de 2016








Há os que chegam em silêncio,
Deitam os olhos sobre tudo
E saem sem nada dizer,
Sem nada sentir,
Sem nada trazer.

Há os que chegam de repente,
E trazem facas entre os dentes;
Ferem sorrindo,
Dão gargalhadas,
Saem contentes.

Há os que chegam sem querer,
São empurrados pela vida,
Trazem sementes,
Partilham almas,
Saem mais sábios.

Há os que chegam por escolha,
Bem conscientes,
Preces nos lábios,
Dentro do peito
Um “Obrigado.”

Vem todos pela mesma estrada,
Seguindo sempre as mesmas trilhas,
Trazidos pelos mesmos ventos...
Mas cada um vem diferente,
E cada um vai diferente.





A Farter







A farter
Is frequently someone 
Who thinks they should not refrain
Their natural physiological need
(Not even hiding their traces)
Until they find another one
Who farts in their faces.










ORLANDO






Trechos de Orlando, de Virginia Wolf




"Entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma lâmina de faca. "





"Enquanto a fama tolhe e constrange, a obscuridade envolve o homem como um nevoeira; a obscuridade permite que o espírito siga o seu destino, desimpedido."



"Nada, porém, pode ser mais arrogante, embora nada seja mais comum, do que assentar que de deuses só existe um, e de religiões nenhuma outra senão a de quem fala."



“A memória é a costureira, e uma costureira caprichosa. A memória faz a agulha correr para dentro e para fora, para cima e para baixo, para lá e para cá. Não sabemos o que vem a seguir ou o que virá depois. Assim, o movimento mais comum do mundo, como o de sentar-se à mesa e puxar o tinteiro, pode agitar mil fragmentos díspares e desconexos, ora brilhantes, ora embaçados, pendendo, flutuando, mergulhando, tremulando, como a roupa branca de uma família de 14 pessoas numa corda ao vento.”



“Ele descrevia, como todos os jovens descrevem, a natureza, e de modo a comparar o tom do verde precisamente com o que observava (e aqui ele mostrava mais audácia que muitos) a coisa em si-mesma, que acontecia ser uma moita de loureiro a crescer sob a janela. Claro que depois de tudo isso ele não poderia escrever mais. O verde na natureza é uma coisa, o verde na literatura era outra. Natureza e literatura parecem ter uma natural antipatia: aproxime ambas e elas se despedaçam. O tom de verde que Orlando viu agora viciava sua rima e desfazia sua métrica. No mais, a natureza tem seus próprios truques.”



"Procurei a felicidade muitos anos e não a encontrei; procurei a fama e perdi-a; o amor, não o conheci; a vida - e eis que a morte é melhor. Conheci muitos homens e muitas mulheres", continuou, " não entendi nenhum. É melhor que fique aqui em paz, só com o céu por cima de mim."



Virginia Wolf


Igrejinha


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Nada me Disseram








Nada me disseram os teus olhos,
Naquele dia em que eu te revi.
Havia um rio bem no meio,
E nas margens, uma cidade.

Na cidade, ruas úmidas
Pelas quais nunca andarei...
Casas de janelas altas
Pelas quais nunca olharei.

Nada me disseram os teus olhos,
Quase não reconheci
O estranho que eu fitava
De quem nem me despedi.









terça-feira, 18 de outubro de 2016

Cântico VI








Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.


Cecília Meireles




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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...