witch lady

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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

IRONIA




À beira do mar, uma estrela branca,
Que se apagou, e tristemente, sangra,
Jaz, entre o descaso e a desesperança,
Bem longe do céu que tentou alcançar.

E enquanto isso, mil estrelas negras
Que jamais ousaram voo tão longínquo,
Morrem sem piedade, sobre um solo seco
Sem que ninguém venha, por elas, chorar...





Imagens: Google da vida





quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Bicho Carpinteiro





Quando eu era pequena e não sossegava, minha mãe bradava: "Você parece que tem bicho carpinteiro! Não para o dia inteiro, não para o dia inteiro!" Ela estava cantando a letra de uma antiga marchinha de carnaval. 

Na verdade, eu era uma criança quieta. Ela sempre dizia que nem parecia que tinha criança em casa. 

Em relação à casa, gosto de mudar feito bicho carpinteiro que não para o dia inteiro. Troco móveis de lugar, cortinas, quadros, cores nas paredes, almofadas, colchas... depois, eu me sento e fico curtindo as mudanças. Por um tempo, estará bom...Mas chega novamente o dia em que eu olho em volta e penso: "Enjoei!" E lá vou eu de novo... e a cortina da sala vai parar no quarto, e as capas das almofadas são trocadas, e o sofá muda de lugar. Meu marido chega em casa e diz: "Acho que errei de endereço de novo."

Mas isso não acontece apenas em relação à casa; gosto também de trocar meu estilo de vestir. Tenho fases de cores, ou seja, períodos em que olho em meu armário e a maioria das coisas são verdes, ou pretas, ou azuis. Às vezes tenho mais vestidos do que calças compridas, e então, vice-versa. 

Será que tem cura?

Acho que sigo uma tendência que é mundial, ou seja, a fugacidade. Hoje em dia, as pessoas mudam muito, o tempo todo: elas mudam de endereço, mudam de emprego, de carro, de relacionamento, de computador, de telefone... tudo é muito rápido e impermanente. Não sei se isso é bom ou ruim. Existem certas coisas que não desejo mudar nunca em minha vida, e se for possível, ficarei com elas até morrer, mas as mais superficiais, eu estou sempre mudando. Consumismo? Talvez... Mas acho que está tudo bem em consumir, desde que não nos deixemos ser consumidos.

Não vou matar meu bicho carpinteiro.




SE EU SOU FELIZ?






Se eu Sou Feliz?

Me perguntaram se eu sou feliz.

Esta é uma pergunta difícil de responder, pois a felicidade é algo diferente para cada pessoa. Alguns passam a vida em uma busca incansável por esta personagem de mil faces, e estão tão concentrados em encontrá-la, que acabam não a vendo passar bem diante de seus narizes nas várias oportunidades em que cruzam com ela. Outros, mesmo diante das coisas mais tristes, conseguem erguer os olhos de repente de suas dores, e mesmo que por um breve instante, capturam nas retinas a sua passagem.

Não acredito em felicidade escandalosa; isto é alegria passageira. A felicidade não é de falar muito de si, nem sente necessidade de propagandear a si mesma. Ela não cabe nas fotografias, e nem sempre está em um sorriso – que muitas vezes pode ser falso.  A felicidade é tão simples, que abomina a perfeição. Ela é fugaz quando intensa, e duradoura quando leve. Mesmo assim, fugaz ou duradoura, toda felicidade é válida.

Eu às vezes olho pela minha janela e a vejo brincando com meus cães no quintal, enquanto eles correm um atrás do outro ou disputam um brinquedo ou um graveto. Noutras vezes, eu a sinto quando acordo de manhã e vou até a minha varanda, e ao olhar a paisagem, sinto que um sorriso se desenha bem de leve, e quando o percebo... ela já se foi. Mas volta sempre, várias vezes ao dia, enquanto ao fazer o meu trabalho, eu e meus alunos rimos juntos por algum motivo. Ou então quando eu tiro um bolo do forno, e ele não murcha, ou quando o macarrão não gruda. Ela – a felicidade – me visita todas as noites, quando escuto uma certa chave na fechadura da sala.

Assim como acontece com todas as pessoas, já passei por muitas coisas tristes na vida. Algumas delas foram tão intensamente tristes, que eu cheguei a pensar que jamais me recuperaria. E eu fiz questão de ir ao fundo de todas elas, lá, onde a tristeza é mais escura, mais densa e mais profunda. Não tentei ‘ficar feliz’ ou ‘parecer feliz’ só para não chocar os outros ou para agradar as visitas. Nunca fugi da minha tristeza. Sentei-me com ela em silêncio até que ela me ensinasse que ela é apenas a irmã gêmea da alegria, e como disse Gibran, “Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que vos está dando alegria. E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constitui vosso deleite.”

Certa vez, há alguns anos, quando eu estava intensamente triste, uma pessoa tentou me alegrar. Convidou-me para ir à sua casa. Aceitei o convite, pensando que talvez ela estivesse me oferecendo um ombro amigo, uma oportunidade para falar sobre a minha perda e a minha tristeza. Mas ao chegar lá, tudo o que encontrei foi uma pessoa desesperada em contar piadas e conversar amenidades para disfarçar o que me afligia, concentrada em não deixar nenhuma brecha para que o assunto viesse à tona. Na única vez em que tentei tocar no assunto, ela ouviu com um sorrisinho sem-graça e arrematou: “Mas agora não é hora de falar em tristezas.” Notei que daquela forma torta e insensível, ela estava tentando me alegrar, como se fosse possível arrancar a dor com a mão e sufocar sua voz com palavras forçadamente alegres. Permaneci calada a noite inteira, até a hora de ir embora, mas não forcei nenhum sorriso, não participei de nenhuma conversa amena, não entrei naquele jogo social. Acho que não agradei minha anfitriã, e ela com certeza notou que também não me agradou.

A pior coisa que alguém pode fazer a alguém que passou por uma perda ou por uma grande tristeza, é tentar alegrá-lo. Se você tiver ouvidos para ouvir, coragem e um ombro amigo para oferecer, faça-o; senão, deixe-o em paz.

Mas, voltando à pergunta que me fez escrever este texto: Se eu sou feliz?

Sim. E não. Sou feliz e sou triste. Posso estar me sentindo feliz de manhã, e me sentindo triste no final da noite. Posso ficar uma semana inteira me sentindo nas nuvens, e de repente, a nuvem escurece, chove e eu caio lá de cima. Mas enquanto eu estou caindo, consigo observar a beleza da paisagem que se aproxima, contra a qual eu vou me esborrachar. E depois que eu caio, tenho sido capaz de levantar sempre. Por isso eu não acredito sempre na definição injusta que dão à bipolaridade. Ninguém é monopolar (se é que esta palavra existe; bem, se não existe, acabo de inventá-la como um oposto à palavra ‘bipolar.’). Nem a natureza é sempre igual! De repente, vemos um céu azul dar lugar a maior tempestade do século em menos de cinco minutos. E a natureza não fica preocupada em definir se ela é ou não é feliz. Faz sol quando tem que fazer sol, e chove quando tem que chover.

Eu também sou assim.

Encerro este texto (que já está longo demais) com outro pensamento de Gibran: 

"Alguns dentre vós dizeis: "A alegria é  maior que a tristeza," e outros dizem: "Não, a tristeza é maior."
Porém, eu vos digo que elas são inseparáveis.
Vem sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama."




segunda-feira, 31 de agosto de 2015

QUEM É MORTO SEMPRE APARECE











Quem é morto
Desce as escadas,
Puxa correntes
De pura mágoa.
Apaga as fotos
Nas elegias,
Arranca as folhas
Rangendo os dentes.

Quem é morto,
Sempre aparece...
Escolhe um canto
Para assombrar
Com seu quebranto.
Lê os jornais,
Não é notícia...
Mantém segredo:
-Pura estultícia!

Quem é morto,
Sempre aparece,
Não tem sossego:
Deixa pegadas,
Abraça o vento,
Abraça o ar,
Tem substância
De esquecimento.

Quem é morto,
Sempre aparece:
Pede, em sussurros,
Mais uma prece.
Mata sua sede
De alheias lágrimas,
E reencarna
Reinventando-se,
Esconde escaras
Lavando a cara.





sábado, 29 de agosto de 2015

THE LOGICAL SONG - LETRA E TRADUÇÃO





The Logical Song
(A Canção Lógica)

By
Supertramp
  

When I was young
(Quando eu era jovem)
It seemed that life was so wonderful
(parecia que a vida era tão maravilhosa)
A miracle, oh it was beautiful, magical
(Um milagre, oh, ela era linda, mágica)
And all the birds in the trees
(E todos os pássaros nas árvores)
Well they'd be singing so happily
(Bem, eles cantavam tão felizes)
Oh, joyfully, playfully, watching me
(Oh, alegres, brincando, me observando)
But then they sent me away
(Mas então mandaram-me embora)
To teach me how to be sensible
(Para ensinar-me a ser sensato)
Logical, oh responsible, practical
(Lógico, responsável, prático)
And they showed me a world
(E então mostraram-me um mundo)
Where I could be so dependable
(Onde eu poderia ser tão confiável)
Oh, clinical, intellectual, cynical
(Oh, clínico, intelectual, cínico)

There are times when all the world's asleep
(Há horas em que todo o mundo está dormindo)
The questions run too deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem tão simples)
Won't you, please, please, tell me what we've learned
(Por favor, você não me dirá o que aprendemos?)
I know it sounds absurd
(Eu sei que soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, diga-me quem eu sou)

Now watch what you say
(Agora, cuidado com o que diz)
Or they'll be calling you a radical
(Ou o chamarão de radical)
A liberal, oh fanatical, criminal
(Um liberal, fanático, criminoso)
Oh, won't you sign up your name
(Você não assinará seu nome?)
We'd like to feel you're
(Gostaríamos de sentir que você é)
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable
(Aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal)

At night when all the world's asleep
(À noite quando todo o mundo está dormindo)
The questions run so deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem tão simples)
Won't you please, please tell me what we've learned
(Por favor, voc^~e não me dirá o que aprendemos?)
I know it sounds absurd
(Eu sei que soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, me diga quem eu sou)
Who I am, who I am, who I am
(Quem eu sou, quem eu sou, quem eu sou...)



Por Onde Andam?

Turma da Terceira série do Colégio Progresso, 1973




quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Me Perdoem







Me perdoem por meus comentários breves; eu leio. Comentar, para mim, é difícil, pois eu temo cometer algum pecado ao dar uma interpretação pessoal demais. Às vezes, comento falando de mim, da maneira como o texto me afeta, pois é  assim que sei melhor comentar. Não sei fazer comentários falando de gramática, estrutura poética, rimas e métricas, pois não entendo quase nada dessas coisas.

Para mim, aquilo que alguém escreveu é solo sagrado, e a gente deve entrar de mansinho, descalços, sem fazer muito ruído, sem atiçar fogo à sarça, e isto foi algo que aprendi após alguns deslizes.  Leio, e penso sobre aquilo que li; se acho que posso concordar ou discordar sem ofender ninguém, eu o faço. É muito difícil dar uma opinião sobre alguma coisa que alguém escreveu, pois não temos à mão o contexto daquilo, o momento em que foi escrito, a fonte da inspiração. Não sabemos de onde vêm o sangue, a lágrima ou a água onde a pena foi molhada.

Quando eu escrevo, eu solto e deixo ir; não é mais meu. Pertence a quem ler, a quem interpretar dentro de qualquer contexto; escrevo por mim mesma, mas para quem lê. Mas algumas pessoas não são assim: escrevem para assinarem o nome por cima, obter alguma notoriedade, numa tentativa de deixarem suas marcas no mundo. Vivem numa paranóia obsessiva de estarem sendo plagiados. Já eu não tenho mais esse tipo de ilusão. Escrevo para passar o tempo, porque é divertido e agradável, e porque me ajuda a me descobrir. 


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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...