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quarta-feira, 31 de julho de 2019

ARTE MORIBUNDA









Escrever é uma arte que está morrendo por falta não de escritores, mas de leitores. Ninguém mais tem paciência de ler um texto com o devido cuidado que ele merece. Ninguém leva em consideração o tempo gasto pelo escritor a organizar suas ideias de forma coerente em uma tela de computador ou folha de papel. 

Escrever é um exercício da alma, que muitas vezes, é corajosamente desnudada sem qualquer pudor para ser apreciada, odiada, julgada ou ignorada. E me parece que a última opção é a que prevalece nos dias de hoje, porque ninguém lê mais.

Na era dos vídeos e das redes sociais que impõe limites de caracteres (como se as ideias e sentimentos pudessem ser devidamente expressados levando em conta uma matemática absurda, controladora e castradora), as pessoas estão deixando de ler. Alegam falta de tempo, mas na verdade, é falta de interesse mesmo.

Ler é dedicar sua atenção ao trabalho de outra pessoa, e o que acontece nos dias de hoje, é que todo mundo quer chamar a atenção para o seu próprio umbigo. O importante é ter likes e comentários, mesmo que tais comentários não tenham nada a ver com o texto escrito, o que expõe ao ridículo aqueles que equivocadamente comentaram devido a obviedade da sua não leitura. 

Mas quem se importa, não é mesmo? Ninguém lê sequer o texto, quanto mais os comentários.

Concluo que escrever tornou-se a mais solitária das artes, já que escrevemos para nós mesmos, e não mais para os outros. Fico pensando no que será da literatura daqui a alguns anos: resistirá? Da mesma forma, penso na arte da música, que tornou-se pólvora de cabeça de fósforo para consumo rápido. 

Na verdade, eu me sinto feliz por ter 53 anos em 2019, o que significa que eu não estarei aqui para ver um mundo sem arte, no qual autômatos postam sorrisos falsos em redes sociais e não têm uma vida real.

Viva a superficialidade!


"Lindo e reflexivo, visite-me em minha escrivaninha."






sexta-feira, 26 de julho de 2019

QUEEN







Ontem Roger Taylor, baterista do Queen, completou 70 anos de idade. Ao rever fotos antigas dele e do grupo no Instagram, outras imagens foram surgindo aos poucos em minha memória: Eu, uma menina de doze ou treze anos de idade, trancada em meu quarto após a escola, toca-discos rodando um dos vinis do Queen e minha cabeça totalmente cheia de fantasias, viajando muito longe dali.

Eu às vezes me deitava no chão, a cabeça entre as duas caixas de som, e ficava prestando atenção a cada instrumento, a cada nuance de voz, e conseguia perceber até alguns sons que certamente foram gravados sem intenção, como de algo caindo no chão ao fundo, no final da música “ ’39.”

Memorizei a maioria das letras, e carregava comigo alguns vinis sempre que saía de casa para visitar algum amigo. Assim, poderia sempre escutar as músicas.

Eu era uma fã. Uma fã solitária, sem arroubos de loucura insana, sem jamais ter ido a um show sequer da banda, nem mesmo quando eles estiveram aqui no Brasil, e sem saber absolutamente nada sobre a vida dos meus ídolos, já que cresci sem internet e as revistas da época não falavam muito sobre eles. Fotos? Apenas algumas que consegui em uma reportagem de duas páginas apenas na falecida Revista Pop – ícone da juventude dos anos 70/80. As fotos ficavam coladas na parte de dentro da porta do meu armário de roupas.

E hoje, após ver as fotos do grupo no Instagram, pedi que Alexa tocasse uma playlist do Queen no Spotify. Alexa, para quem não sabe, é a assistente virtual da Amazon. E cá estou eu, duas horas depois, ouvindo aqueles sons com os quais eu cresci, e que eu conheço de cor, sabendo exatamente todos os acordes de guitarra, reconhecendo todos os tons de voz e qual música vem depois de outra nos vinis, e a qual álbum elas pertencem.

Ainda há pouco, sentada lá fora, os cães ao meu lado, eu de repente olhei para o céu: um azul aquarelado com nuvens com consistência de sorvete aqui e ali. Uma brisa mansinha levando-as para lá e para cá. A gente olha para o céu e logo sabe que, se ele ainda está ali, é porque o tempo não pode ter passado tanto assim. E a menina que eu tenho dentro de mim se viu cantarolando as letras, e de repente, minha mãe e meu pai estavam em algum lugar da casa, minhas irmãs também, e algum amigo estaria chamando por mim no portão da casa querendo saber o que faríamos no final de semana.





Em Nova Iorque, enquanto fazia compras na Time Square, eu deparei com um sonho antigo: pendurada na parede de uma loja, uma camiseta de malha preta com o logotipo do Queen: os leões de Judá, os anjos, os cisnes e o nome da banda em baixo do desenho.

Estendi a mão e agarrei a camiseta, enquanto uma voz de censura falava dentro da minha cabeça: “Deixa de ser ridícula! Isso é coisa de adolescente, você em 53 anos!” Eu abracei a camiseta contra o peito, sentindo o coração bater na garganta, e respondi àquela voz: “Escute aqui, eu quero a camiseta, eu vou comprar e vou usar, e dane-se quem não gostar.” E graças a Deus, eu a comprei, e eu a uso, orgulhosa ao trazer no peito o símbolo da minha juventude, parte dos meus anseios, o motivo principal pelo qual eu aprendi a falar inglês e escolhi a profissão que eu tenho. Quando eu a visto, eu sou novamente aquela garota, a fã discreta e meio-tímida por fora, mas que arde por dentro.

Nestes momentos, eu não preciso de espelhos que me digam que eu não tenho mais treze ou quatorze anos, porque eu sei que eu tenho sim. As melhores coisas da vida não morrem nunca, nem envelhecem.









terça-feira, 23 de julho de 2019

De Cada Adeus








De cada adeus fica uma ponte,
Se a gente deixar ficar.
Uma brisa, uma lembrança,
Um barco solto no mar
Da fé e da esperança,
Uma luz que não se alcança,
Mesmo assim, irá brilhar.

De cada adeus, uma palavra,
Uma sílaba a brotar
Pouco a pouco, a cada dia,
Até que por elegia,
Dois mundos vão se tocar
Duas almas que há tempos
Anseiam o mesmo momento,
Hão de reencontrar
Uma à outra, de repente
Levadas pela corrente
Da onda que os separou
Bem dentro daquele mar.

De cada adeus, uma dor
Que quem fica, vai curar
E quem parte, quem dirá
Para onde a levará?





quarta-feira, 17 de julho de 2019

Prazer em Não Conhecer-te!







Olá, como vai?
Me diga seu nome, 
Talvez onde mora,
Sua cor preferida,
Mas não fale muito 
Sobre a sua vida,
Não quero saber
Qual é o seu time,
Sua ideologia,
Sua opinião
Sobre religião,
O que está bem dentro
Do seu coração.

Olá,  tudo bem?
Responda que sim,
Não fale demais,
(Não falo de mim)
Não quero escutar 
Sobre seus problemas,
Sua sexualidade,
Partido político,
E nem me interessa
Aquela maldade
Fininha, que paira
Tal qual poeirinha
De açúcar bem fino
Sobre a sua alma.

Olá, como vai?
Mantenha a calma,
Mantenha a lisura,
Quem sabe, a distância
Que reza a etiqueta
E a compostura!
Se somos amigos?
Poderemos ser,
Desde que respeites
A minha maneira
De ver e viver,
Sem intimidades
Tão desnecessárias,
E pode guardar
A sua navalha,
Pois não me interessam
Suas indiretas
Ou suas diretas.

Olá, como vai?
Sou Ana Bailune
Persona non grata
Em vários salões
Que já nem me importam,
Onde já nem vou
E nem quero ir,
Pois fazem chorar
Quando eu quero é rir,
E querem chegar
Quando eu quero é ir,
E querem gritar
Se eu quero dormir.

O prazer é meu,
Pode acreditar,
Se você for forte
Para respeitar
A minha mania
De ficar calada,
O meu gosto estranho
Por me sentir bem
Quando estou sozinha
Diante de um livro,
Na minha caixinha,
No meu quadradinho
Onde poucas almas
Podem adentrar
-Quanto mais, ficar!

Olá, como vai?
Podemos sentar-nos
Diante do fogo
E falar por horas
De coisas estranhas
E aleatórias,
Mas jamais pergunte
O porquê daquilo
Que eu faço ou aprovo,
Pois só tem a ver
Comigo e com Deus;
-Amigos, amigos,
Umbigos à parte!
Mantenha distância,
Relação é arte
Não quero deixar
De amar você!



Às vezes, conhecer as pessoas a fundo nos faz deixar de amá-las.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Um Convite






Nos dias de hoje, as pessoas vivem como autômatos: olham mas não enxergam, escutam mas não ouvem, tocam mas não sentem. Eu hoje queria fazer um convite:

Tire dez ou quinze minutos do seu tempo de fazer coisas e cumprir metas e horários e vá para um jardim. Serve qualquer jardim; pode ser uma praça pública, um parque, o quintal da sua casa, e na falta de qualquer um dos citados, uma  rua com muitas árvores. Chegando lá, encontre um local aonde possa sentar-se ou recostar-se confortavelmente, e apenas observe. 

Perceba os passarinhos. Quando você os escuta, eles cantam para você, e então você reconhecerá que eles sempre estiveram ali, cantando, mas você nunca dedicou seu tempo a ouvi-los. Chegue perto de uma flor, e olhe para ela. Aspire seu cheiro, mas faça-o de verdade, pois muitas vezes, nós cheiramos uma flor rapidamente e dizemos: “Ah, mas ela não tem perfume!” Sabe por que? Porque a gente cheira errado. Se a gente cheirasse certo, poderíamos sentir os perfumes das asas de joaninhas que pousaram nela. Poderíamos sentir o cheiro de sol, vento e chuva. Agora, com muito cuidado, toque as pétalas e sinta sua maciez – mas faça-o bem de leve, para não machucar a flor.

Respire profundamente várias vezes, e bem devagar. Deixe que o ar realmente encha seus pulmões completamente, e perceberá, após algumas dessas inalações e exalações, uma leve tontura. É o oxigênio percorrendo seus pulmões, entrando no seu sangue, efetuando uma verdadeira limpeza dentro de você. Por isso você sentirá essa leve tontura: são os seus sentidos ficando mais aguçados. Talvez haja um formigamento agradável. Respire assim várias vezes, até sentir que uma alegria suave toma conta de você.

Agora, observe as pessoas que passam. Cada uma delas têm seus problemas, suas vidas, suas dúvidas, medos, inseguranças. Tente estabelecer uma conexão com elas – não precisa conversar, basta sentir que vocês todos são muito parecidos, mas que ao mesmo tempo, cada um é totalmente único em suas peculiaridades, ritmos e preferências. Talvez, ao observar os rostos das pessoas, você “sinta” instintivamente quais delas poderia ter uma conexão maior com você. Geralmente, tais pessoas são as que fazem com que a gente se sinta bem e em paz. Mas este é um exercício que precisa ser feito várias vezes para que você finalmente desenvolva esse seu lado intuitivo. Ele será muito útil, pois através desta prática, você aprenderá a não desperdiçar seu tempo e sua energia com pessoas que não têm absolutamente nada a ver com você. 

Agora levante-se do seu lugar, dê uma boa espreguiçada, esticando seus membros, estalando seus músculos e ossos. Sinta-se dentro do seu corpo, mas saiba que sua vida também continuará fora dele. Mesmo assim, trate-o bem; coma menos besteiras, beba mais água, durma bem. Respeite-o, não o submetendo a exercícios que forçam seus nervos, tendões e músculos (lembre-se: o coração é um músculo) de maneira exagerada e desnecessariamente. Seu corpo vai ter que durar até o final da sua vida, e você não quer desgastá-lo antes do tempo, chegando a uma idade avançada com dores causadas por excesso ou falta de exercícios.

Enquanto caminha de volta para o seu local de trabalho, casa ou estudo, vá agradecendo por tudo o que você tem, por todas as coisas que passou para chegar a ser a pessoa que se tornou – mesmo e quem sabe principalmente, as mais doloridas. 

Se você fizer isso todos os dias, durante apenas dez ou quinze minutos, vai perceber o quanto você se tornará mais sensível, intuitivo, agradável, compreensivo, grato e feliz. Mesmo que esteja vivendo fases muito difíceis na sua vida, conseguirá passar por elas mais rapidamente, saindo do outro lado como uma pessoa melhor e mais forte.

E pelo amor de Deus, pare de reclamar e de vitimizar-se. Isso enche a paciência de qualquer um e afasta as pessoas.






quinta-feira, 11 de julho de 2019

I MISS YOU




There’s a place I can go
Where I take off my mask
And I take off my shoes
Close my eyes, and I miss you…
No-one’s there to tell me
Silly things I won’t hear
Like “Life must go on,
You gotta be strong…”

There’s a place where I go
And I can’t find you there
But at least, I can see you
In the memories I keep
Deep inside when I miss you.

And if I really try,
I can hear your smile,
Gel the apples of our eyes
Together
For a five-minute forever…

So as far as I know,
In this place where I go
I can feel it was real
Through the love that I sow
On the fertile ground
That you left in my heart
And my soul.



Tradução

Sinto Sua Falta

Há um lugar que posso ir
Onde eu tiro minha máscara
E eu tiro meus sapatos
Fecho os olhos, e sinto saudades de você...
Ninguém está lá para dizer-me
Coisas que eu não ouvirei
Como "A vida continua,
Você tem que ser forte..."

Há um lugar aonde eu vou
E eu não posso encontrar você lá
Mas ao menos, posso ver você
Nas memórias que eu guardo
Aqui dentro, quando sinto saudades suas.

E se eu realmente tentar,
Poderei ouvir seu riso,
Gelificar as pupilas dos nossos olhos
Juntas
Por eternos cinco minutos...

Então, tanto quanto eu sei,
Neste lugar aonde eu vou
Posso sentir que foi verdadeiro
Através do amor que eu semeio
No solo fértil
Que você deixou em meu coração
E na minha alma.



terça-feira, 9 de julho de 2019

A INTELIGÊNCIA DOS CÃES



LEONA: QUASE UM GÊNIO!


Todos sempre me disseram que os animais agem movidos apenas pelos seus instintos de sobrevivência. Bem, eu que sempre convivi com eles, acho que nem sempre é assim. Instintos, até nós temos. Mas existem momentos que, sem sombra de dúvidas, pude vê-los agindo movidos pelos sentimentos e pela inteligência.  Deixarei aqui nesta crônica alguns momentos que eu mesma presenciei:


- Aleph e sua solidariedade – Eu tive, por quatorze anos, a honra de desfrutar da companhia de um Rottweiller maravilhoso chamado Aleph. Ele era fora do comum! Era muito inteligente. Porém, tinha muito ciúme de suas coisinhas, principalmente das comidinhas – pedaços de pão, ossinhos, etc..., que ele guardava em seu colchonete para comer quando desse fome.

Um dia, meu marido tinha passado por uma situação difícil, e estava muito pensativo e triste. Encostou-se ao tanque de lavar roupas a fim de pensar melhor no que deveria fazer, e Aleph aproximou-se dele, cutucando-o com o focinho e um brinquedo na boca. Mas meu marido, que estava realmente muito triste, apenas afagou a cabeça dele, recusando-se a brincar. Foi então que Aleph fez algo incrível: foi até o seu colchonete e escolheu um pedaço de pão (ele até rosnava se tentássemos pegar as comidinhas dele) e aproximando-se do meu marido, colocou-o em sua mão, como se dissesse: “Não fique triste! Veja, eu dou o meu maior tesouro para você.” 

MOOTLEY: MALANDRO E AMOROSO!


-Leona e sua estratégia – Hoje, temos dois cães: Leona, uma mestiça de Border Collie e Vira-lata e Mootley, um Cocker inglês. Ele adora roubar as bolinhas dela quando estamos jogando; fica na espreita, e de repente, em uma das jogadas, Mootley sai correndo e agarra-as antes que ela chegue até elas! Leona aprendeu uma estratégia: ao invés de tentar tomar a bolinha de volta, ela pega outro brinquedo e fica jogando-o para cima perto de Mootley, tentando-o; quando ele corre para pegá-lo, ela simplesmente pega a bolinha que ele abandonou, que é exatamente a que ela queria!

Certa vez, notamos que havia uma trilha de grãos de ração que seguia até o muro. Bem, temos um muro de tijolinhos abertos nos fundos da casa, e  às vezes, aparecem camundongos por lá, entrando e saindo dos buracos. Eu recolhi a ração da trilha, mas na manhã seguinte, lá estava ela novamente! Leona parecia cansada, como se não tivesse dormido a noite toda. Quando fui limpar o canil, encontrei o corpo do pobre ratinho... ela estivera fazendo a trilha de comida para atraí-lo e pegá-lo, trabalho que provavelmente durou  a noite toda! Até hoje, quando aparece um camundongo, ela repete sua estratégia de caça. 

ALEPH E LATIFAH: A GENTILEZA EM 'PESSOA'!


-Mootley e sua capacidade de compreender – Mootley é muito peludo, e sua pelagem é muita macia e fina, o que faz com que embarace se eu não escová-lo regularmente. E ele adora estes momentos! Gosta tanto, que chega a dormir. Certa vez, eu tinha terminado de escovar um dos seus lados e queria fazer o outro, mas ele não se levantava, por mais que eu o empurrasse. Sem querer, eu disse: “Mootley, vamos escovar o outro lado agora!” Ele se levantou na mesma hora, e deitou-se de forma que eu pude escová-lo. Arrisquei: “Agora vamos fazer a barriguinha!” E ele virou a barriga para cima na mesma hora. Detalhe: eu nunca tinha ensinado essas coisas a ele.

-Latifah, a saudade e o luto – Latifah, nossa cadela Rottweiler que foi contemporânea de Aleph, tinha um temperamento esfuziante e  alegre, sempre correndo e pulando, latindo pelo quintal e trazendo brinquedos para nós jogarmos para ela. 

Quando nosso Rottweiler Aleph adoeceu, ela ficava perto dele a maior parte do tempo. Mas chegou a um ponto em que o veterinário recomendou uma eutanásia, já que ele era muito idoso, não tinha mais cura e estava entrando em sofrimento. Foi um dos piores dias da minha vida. Tivemos que coloca-lo na mala do carro para leva-lo para a cremação após a eutanásia, e estávamos tão transtornados, que  infelizmente nos esquecemos da Latifah, que assistiu a todo processo de longe. Quando chegamos em casa, ela rodeava o carro latindo muito, procurando pelo Aleph. O processo se repetiu durante mais de uma semana, todas as noites quando meu marido chegava em casa. 
Latifah: inesquecível.

LATIFAH ADORAVA ESSE BANQUINHO!


Logo notamos uma mudança no temperamento dela: não ligava mais para seus brinquedos, recusando-se a trazê-los para nós quando os jogávamos. Seu temperamento mudou, ela não mais corria e brincava. Começou a engordar muito, pois não se exercitava mais. Nós a levávamos para passear todas as noites, e nessas horas, ela se animava um pouco. Mas tornou-se uma cachorrinha quieta, que vivia deitada pelos cantos, até que adquiriu uma doença nos pulmões da qual nunca se recuperou, apesar de nossos esforços para curá-la – chegamos a leva-la a oito veterinários diferentes, fizemos muitos exames e ela tomava muitos remédios, mas aos dez anos, ela se foi. Dizem que as doenças pulmonares são geralmente causadas após uma grande tristeza. 

MINHA DUPLINHA ATUAL


Há muitas coisas que presenciei enquanto convivi com cães e gatos durante toda a minha vida, e tais experiências dariam um livro. Como nós, eles sentem e demonstram medo, dor, alegria, ciúmes, amor, amizade e toda espécie de sentimento que os humanos podem ter.

Mas se existe uma coisa na qual eu confio, é sua habilidade de demonstrar hostilidade com pessoas que, mais tarde, mostram-se não confiáveis. Neste caso, os cães são o meu termômetro! É natural que um cão lata para quem ele não conhece, mas se após algumas horas ou dias a hostilidade deles perdura, fico sempre de olho.


PS: Post novo no meu blog sobre tarôt, O Caminho do Aprendiz:

https://ana-bailune.blogspot.com/2019/01/o-caminho-do-aprendiz.html




segunda-feira, 1 de julho de 2019

Espera






Eu bato à tua porta 
Mas sempre vou embora,
Pois tu não a abres.
Porém, não te culpo;
Talvez nem te lembres 
De onde está a chave.

Eu volto outro dia, 
E bato de novo
No nó da madeira...
Percebo o silêncio 
Desse nó tão tenso
Na tua vida inteira!

Um dia, eu espero,
Que o quarto vazio 
No qual te escondes
Seja derrubado, 
E a porta fechada
Se transforme em ponte.





terça-feira, 25 de junho de 2019

Desumanidade



Escrevi este texto baseada em algumas postagens que vi em outros blogs sobre a figura acima - uma interação proposta pela Chica. Espero que você não fique zangada, Chica!





Foi há alguns anos; eu tinha saído de casa às seis da manhã e estava aguardando o ônibus para dar minha primeira aula do dia, que começaria às sete. Era uma manhã fria de inverno, e havia pouca gente na rua. 

De repente, vi quando uma caminhonete modelo caríssimo parou no meio da rua a alguns metros de onde eu estava, e sem desligar o motor, abriu a porta e empurrou para fora um cão Pitt Bull. Ele era de cor castanha, e ficou lá, parado no meio da rua, olhando a caminhonete se afastar, como a perguntar a si mesmo o que estava acontecendo, por que o tinham deixado ali e para onde ele deveria ir. Fiquei com um pouco de medo; afinal, esta raça tem fama de ser agressiva, e o cão era de porte médio e muito musculoso. Eu estava ainda pensando se deveria me aproximar ou não quando um outro carro veio e passou por cima do cachorro, que rolou por baixo do chassi. 

Eu fiquei chocada, sem ação. Se arrastando e gritando, o cão conseguiu chegar até o meio-fio, onde deitou a cabeça. Quando cheguei perto dele, segundos após o atropelamento, ele estava morto. O carro que passou sobre ele nem fez uma tentativa de frear, e fiquei pensando que tudo aquilo tinha sido combinado: o abandono pelo carro da frente e o atropelamento pelo carro que veio logo atrás. Tudo foi muito rápido; questão de segundos. 

Eu me senti enjoada e triste. Tinha um nó na garganta ao constatar que nada mais poderia ser feito para ajudá-lo. Voltei ao ponto de ônibus, e quando me virei para olhar o cão, um grupo de cães de rua o havia cercado, latindo e uivando em volta dele como se lamentassem o acontecido. Quando um carro passava, eles o perseguiam, latindo e tentando morder os pneus como se quisessem vingar a morte do Pitt Bull. 

Aquele foi um dia difícil, pois eu não conseguia esquecer a cena que tinha presenciado pela manhã. Passei o dia todo deprimida e revoltada. 

Alguém que abandona o próprio cão daquela maneira, quando poderia doá-lo para outra pessoa ou até mesmo pedir ajuda a uma instituição protetora para que lhe arranjassem um dono, é alguém capaz de qualquer coisa. Um cão não é lixo. Infelizmente, existem pessoas que os abandonam quando estão velhos ou doentes, ao mudarem-se para outro local ou simplesmente porque cansaram-se de cuidar deles. 

Fico me perguntando como pode uma pessoa não desenvolver qualquer grau de afeto por uma criatura que criou desde pequeno. Provavelmente, tal pessoa não tem afeto sincero sequer por si mesmo ou pelos seus.

Cães não têm a mesma compreensão das coisas que temos. Porém, eles não têm ambição, inveja, cobiça, raiva. Acredito que o coração de um cão é um campo semeado de amor, e quando vejo um cão bravo e agressivo, sei que é porque algum ser humano matou tais sementes. Só quem já trocou um olhar sincero com um cão poderá falar sobre a pureza de sua alma. 




Uma Vida Feliz







Acho que a felicidade constante não é possível; ela é interrompida muitas vezes por fatos tristes ao longo de uma vida: perdas, mortes, decepções, dificuldades em geral. Mas podemos sim, ser felizes a maior parte do tempo quando cultivamos uma vida interior rica. Existem bons livros para serem lidos, filmes interessantes a serem assistidos, cursos que podem abrir novas janelas – mesmo que não ofereçam perspectivas profissionais, e sim de crescimento pessoal – lugares a serem conhecidos. E muitas vezes, tais lugares estão há apenas quinze minutos de distância, e não é difícil ou caro chegar até eles. Por exemplo: moro em Petrópolis desde que nasci, mas de vez em quando, pegamos o carro e seguimos por trilhas desconhecidas que nos levam a lugares exóticos que nos surpreendem.

Se alguém se sente triste ou irritado a maior parte do tempo, é porque tal pessoa não está bem consigo mesma. Quando alguém se torna implicante, vigilante e comentarista da vida alheia, fazendo questão de expressar-se de forma grosseira a respeito do que lhe cerca, tal alma está doente e aborrecida, e necessita de cura.

Penso muito na velhice e no envelhecer, pois é para lá que eu me encaminho neste momento. Não quero ficar assim, uma velha rabugenta, do tipo que fura a bola das crianças quando ela cai no jardim, arranha os carros das pessoas que estacionam próximo à minha casa ou fica o dia todo por trás de um muro tomando conta da vida alheia para ver quem chega e quem sai, se a grama do vizinho está verde ou onde ele está colocando seu lixo antes da coleta passar.

Existem pessoas que, por morarem em um local há muito tempo, acham-se donos da rua, e pensam que podem determinar limites para quem entra e quem sai. Deus me livre de ser assim! Dentro do meu portão existe um mundo rico e variado onde eu não apenas existo, mas vivo: cuido da minha casa, leio bons livros, assisto a bons filmes, escuto música, recebo algumas pessoas que gosto, dou minhas aulas. E fora dele, existe uma vastidão de lugares a serem conhecidos, e vou fazendo isso na medida do possível.

Envelhecer não precisa significar tornar-se amargurado, crítico e infeliz. E quando estamos infelizes, poderíamos ao menos poupar os outros, não querendo que eles sejam tão infelizes quanto a gente. É uma questão de bom senso, empatia e humanidade.  


PS: convido todos que puderem visitar e se inscreverem meus outros blogs:


Este de contos, o HISTÓRIAS:



Este sobre tarô, O CAMINHO DO APRENDIZ:


E este com dicas e aulinhas para quem está aprendendo inglês:

anabailuneenglish.blogspot.com


Tenho também um canal no YouTube, ESPIRITUALIDADE NA LATA. Basta ir lá e digitar na busca!


Grata!


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Reflexões sobre uma Reflexão






“A vida é como jazz. A maior parte é improviso; não se pode controlar todas as variáveis. Devemos viver com insolência e estilo, não importa o que aconteça.”



Do livro “As Coisas que Você só vê Quando Desacelera,” do monge budista Haemin Sunim.




Este livro traz várias reflexões, algumas inéditas para mim – coisas que eu nunca tinha parado para pensar sobre, talvez porque eu achasse que eu não tinha tempo para tal. Mas quando a gente começa a desacelerar, é como se estivéssemos há muito tempo à janela de um trem em alta velocidade, tendo um vislumbre das cidades pelas quais passamos, sem conhecer as pessoas que vivem nelas ou o interior das casas – e de repente, escolhemos parar em cada uma dessas pequenas cidades e visitar cada um de seus moradores (e todos eles são você). 

Sim, a vida é aprender a tocar de improviso. Sendo que quem toca de improviso, apenas toca, sem ter tempo de aprender nada, e mesmo assim, adquire cada vez mais conhecimento musical sobre ritmos, melodias, estilos e canções diferentes. Mas sempre há aquela vez em que precisamos inventar uma nova canção, criar um novo instrumento, desenvolver uma nova maneira de compor a vida, assim “de ouvido,” e sem muito tempo. Nunca temos muito tempo. A vida é como jazz – uma música rápida e sincopada, às vezes um tanto chata e sem sentido, mas que de repente explode em melodias contagiantes e inesquecíveis. Aprendamos a entender a vida, esse improviso, mesmo sabendo que sairemos daqui sem compreender nem uma pequena parte dela, e talvez esta seja a maior compreensão que possamos ter a respeito da vida.

Devemos viver com insolência e estilo. Insolência a fim de sermos atrevidos o suficiente para fazermos exatamente aquilo que desejamos fazer de nossas vidas, enfrentando as chantagens emocionais daqueles que anseiam que sejamos como eles querem, que nos adaptemos àquilo que eles mesmos entendem quanto ao que é certo e o que é errado. Precisamos ter um olhar calmo e solene sobre tais pessoas, e dizer branda e definitivamente: “NÃO!” 

Precisamos criar nosso próprio estilo, sem tentar copiar estilos alheios, embora devamos aprender sobre eles, pois os caminhos das outras pessoas podem nos trazer vislumbres importantes sobre como encontrarmos o nosso. 

“Viver com insolência e estilo. Não importa o que aconteça.” E não pense que nada acontecerá; não fique aí pensando que as pessoas vão compreender quando você resolver sair da caixinha do sistema que elas criaram. Sair da caixinha e não entrar mais em caixinha nenhuma – este é o desafio, pois a maioria das pessoas anda em busca de ideologias que não passam de caixinhas que as caibam, e elas nada mais são que diferentes rebanhos por onde o gado segue, aparentemente rebelde porém submisso, para o matadouro dos sonhos individuais, sem fazer muitas perguntas, apenas obedecendo o mestre. E ainda acreditam que estão sendo originais. Acreditam que estão criando um novo mundo, quando estão apenas servindo de pavimento aos ideais de dominação alheios.

Viver com insolência e estilo pode significar ficar sozinho, não ser compreendido, não ser aceito, ser criticado, chamado de esquisito, mas de repente, no meio disso tudo, descobrir-se inteiramente feliz e tranquilo, com a certeza de que não necessita de aprovação, de companhias que lhe cobrem atitudes, de críticas, e nem sequer, de elogios. O topo da montanha, a caverna mais escura, a ilha distante no meio do oceano: faça a sua escolha. É exatamente em lugares assim que você passará grande parte da sua vida, se ousar viver com insolência e estilo. E se tentar voltar ao velho mundo conhecido, sentirá que já não há um lugar para você por lá, e se surpreenderá ao descobrir que não deseja, na verdade, esse lugar.

Será que você consegue sentir-se bem estando em sua própria companhia a maior parte do tempo? Será que você consegue mergulhar em seu próprio mundo, encontrar sua alma, encará-la nos olhos? Será que você tem capacidade para escutar seus próprios medos, admitir suas mentiras e ficar entre seus fantasmas sem enlouquecer ou fugir? 

A insolência necessária à vida não se refere aos outros, mas a nós mesmos. O estilo que buscamos deve ser o nosso próprio, e não uma moda passageira criada por outros. A canção precisa ser a nossa própria canção, o nosso próprio jazz, tocado de improviso, usando os instrumentos que temos disponíveis e que devemos manter cuidadosamente afinados.

E o mais importante: não importa se haverá ou não uma plateia para nos vaiar ou aplaudir.




Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...