witch lady

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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Uma Casa Vazia





Desde que compramos nossa casa, há onze anos, há uma outra quase em frente a nossa que está vazia desde antes de nos mudarmos, e nem sei dizer há quanto tempo. Os donos não são de Petrópolis, e raramente aparecem; quando vêm (mais ou menos duas vezes por ano), abrem as janelas, espanam teias de aranha e vão embora rapidamente.

A casa tem uma fachada feia: dois andares quadrados e sem-graça, ela é enfei(t)ada por azulejos. A garagem não passa de um telheiro quadrado suportado por quatro pedaços de madeira. Mesmo assim, eu sempre olhei para a casa com muita curiosidade, pois adoro casas antigas. Esta parece ter sido construída nos anos sessenta ou setenta.

Comentei há alguns anos com meu vizinho Jorge, que de vez em quando ajuda-nos a resolver pequenos problemas domésticos, sobre minha vontade de entrar na casa. Ele respondeu: "É uma casa muito boa! Grande, espaçosa mesmo." 

Eu às vezes ficava da minha janela, olhando para ela lá do outro lado da rua. Pensei: parece até uma casa assombrada. Depois que meu vizinho me disse que era uma casa boa, fiquei mais curiosa ainda, embora fosse difícil conceber que a feiosa fosse também jeitosa.

Na semana passada, ouvi meu vizinho chamando-me ao portão: "Dona Ana, estamos trabalhando na casa. Quer conhecer?" Não me fiz de rogada, e matei minha curiosidade!

E não é que a feiosa é jeitosa mesmo?

Fiquei impressionada com a sala de estar, logo de cara: grande, bem maior que a minha, chão de tábuas corridas, e as escadas que levam ao andar superior tem um lindo corrimão de madeira trabalhada,  sólido e grosso. A cozinha é pequena, mas muito ajeitada. No andar superior, após um hall que mais parece outra sala, três quartos e um banheiro. Os quartos não são muito grandes, mas ao chegar às janelas, deslumbrei-me com uma linda vista de árvores e montanhas!

Na suíte do andar inferior, descobri uma velha rádio-vitrola que eu adoraria que fosse minha, e nos fundos da casa, escadinhas que conduziam a um platô gramado, onde imaginei banquinhos e uma mesinha de jardim com cadeiras. Olhei para cima, e lá estava a floresta e toda a sua força verde! Um quintal de fundos que dá para uma floresta, para mim é um luxo só!

Fiquei andando pela casa, imaginando como ela poderia ficar depois de algumas reformas. O cheiro de mofo não me espantou, nem alguns dos móveis quebrados e algumas janelas com vidros rachados nos fundos da casa. Quando eu olho para uma casa, eu vejo além do que ela mostra. Se não fosse assim, nem teria comprado esta aqui... estava em péssimo estado quando a adquirimos. Ah, se eu pudesse, comprava a casa. Adoraria reformá-la, embelezar a fachada feia e sem-graça, decorá-la... 

As aparências realmente enganam, e esta casa parece estar aqui para comprovar esta teoria.



Harper Lee - O sol é Para Todos






Trechos desta magnífica obra de harper Lee, tão atual.


“Quando crescer, todos os dias você verá brancos ludibriando negros, mas deixe-me dizer uma coisa, e nunca se esqueça disso: sempre que um branco trata um negro desta forma, não importa quem seja ele, o seu grau de riqueza ou a linhagem de sua família, esse homem branco é lixo.”



“Deus significa amar aos outros como a gente ama a gente.”




 “Existem pessoas que se preocupam tanto com o Outro Mundo que nunca aprendem a viver neste.”




 “Pela própria natureza da profissão, todo advogado enfrenta pelo menos uma vez na vida um caso que o afeta pessoalmente.”



 “Só porque fomos derrotados uma vez não é motivo para não tentarmos novamente.”




“As pessoas sensatas não se orgulham de seus dotes naturais.”



“Antes de poder viver com os outros, eu tenho de viver comigo mesmo. A consciência de um indivíduo não deve subordinar-se à lei da maioria.”




“Não se sinta ofendida quando alguém lhe disser uma expressão feia. Isso não deve atingi-la, apenas revela a pobreza de quem falou...”




“Eu queria que você visse o que é realmente coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é quando você sabe que está derrotado antes mesmo de começar, mas começa assim mesmo, e vai até o fim, apesar de tudo. Raramente a gente vence, mas isso pode até acontecer.”

“Andar armado é um convite para alguém atirar na gente”.




“Só existe um tipo de gente: gente.”



” -Não devemos soltar as rédeas da nossa imaginação, querida – disse. – Não se esqueça, diga a seu pai para não lhe ensinar mais. Diga-lhe que eu me encarrego disso daqui por diante e tentarei desfazer os danos…
 - O quê, professora?
 - Seu pai não sabe como ensinar. Agora pode se sentar.
 Murmurei umas desculpas e calei-me, meditando sobre o meu crime. Eu nunca aprendera deliberadamente a ler, mas quem sabe se não andei olhando demais as notícias dos jornais? As longas horas passadas na igreja… será que aprendi aí? Eu sabia ler todos os hinos. Agora, sendo obrigada a pensar no assunto, concluía que ler fora algo que me acontecera espontaneamente, como aprender a abotoar os fundilhos do pijama, ou dar laços nos sapatos sem olhar. Não conseguia me lembrar quando as linhas apontadas por Atticus se dividiram em palavras, mas todas as noites de que tinha lembrança eu as acompanhara ouvindo as notícias do dia, os projetos de lei, o diário de Lorenzo Dow – qualquer coisa que Atticus por acaso estivesse lendo quando eu me acomodava em seu colo à noite. Até sentir medo de perdê-la, eu não amara a leitura. Não se ama a respiração!


Harper Lee

Nelle Harper Lee é uma escritora norte-americana, ganhadora do Prêmio Pulitzer em 1961 pela sua obra de ficção To Kill a Mockingbird. Wikipédia
Nascimento: 28 de abril de 1926 (89 anos), Monroeville, Alabama, EUA
Filiação: Frances Cunningham Finch, Amasa Coleman Lee
Irmãos: Alice Lee, Louise Lee Conner, Edwin Lee
Filme: O Sol é Para Todos
Prêmios: Prêmio Pulitzer: Melhor Ficção, Medalha Presidencial da Liberdade (Wikipedia)



HAIKAI






Caminhos do sol
As folhas são molduras
 Rendando a tarde



Nenhuma destas imagens foi editada, a não ser pelas lentes da própria natureza.


Fotografias tiradas ontem na Estrada de Teresópolis, quando voltávamos para casa.



Uma das tardes mais lindas que já vi!



De repente, olhando pela janela do carro, notei que as folhas contra o céu pareciam rendas.



Eu queria levar comigo um pouco daquele dia, que foi maravilhoso.



Comecei a fotografar a paisagem à janela...



Depois, meu marido parou em um mirante e consegui fotos melhores do sol se pondo...



Algumas ficaram um pouco borradas, devido ao movimento do carro...



...e ao fato de que foram obtidas com um simples smartphone. 



O pôr do sol nunca é o mesmo, nem que seja contemplado através da mesma janela todos os dias. Sempre haverá uma nuvem que não estava lá no dia anterior, ou um pássaro, ou cores mais fortes ou mais suaves. O vento pode modificar a posição das folhas das árvores. Nosso olhar pode estar mais feliz ou mais triste. Eu quis guardar o dia de ontem, porque foi um dia muito feliz, e eu sei que ele nunca mais voltará.




















E Chega a Tarde na Estrada de Teresópolis...



Aviso: Todos os efeitos especiais nestas fotos foram produzidos pela própria natureza















quinta-feira, 20 de agosto de 2015

AMAR E GOSTAR




Para mim, existem muitas diferenças entre amar e gostar. Existem pessoas de quem eu gosto, mas as quais eu não amo; existem também pessoas a quem eu amo, mas das quais eu não gosto. Raras são aquelas a quem eu amo e de quem eu gosto ao mesmo tempo.

O amor pode passar por fases; amar não significa amar sempre, o tempo todo. Às vezes eu fico zangada com as pessoas que eu amo, e o amor se esconde por trás da mágoa, mas não dura muito. Sou capaz de ficar furiosa com alguém que eu amo, mas sem deixar de amar.

E por incrível que pareça, mais raras ainda são aquelas sobre as quais eu posso dizer com toda segurança que eu realmente detesto - não confundir com falta de afinidade. Não precisamos ter afinidade com alguém para conviver de forma agradável, respeitando as diferenças e exercendo a boa educação. O não gostar tem sempre (pelo menos para mim) suas raízes em um motivo sólido, alguma coisa que aquela pessoa me fez e que me afetou ou feriu diretamente, e que não tem nada a ver com diferenças de opiniões ou gostos. Convivo em paz com as diferenças de opinião, sejam elas políticas, religiosas ou outras - desde que a pessoa não queira me impor alguma coisa. O que eu não gosto, e que termina por fazer com que eu passe a detestar alguém, é, em primeiro lugar, a hipocrisia. Em segundo lugar, o autoritarismo. E em terceiro,vem a inveja, embora eu saiba que este sentimento é comum a todos os seres humanos, em menor ou maior grau. Mas existe aquela inveja que é insuportável, pois deseja prejudicar ou até mesmo destruir seu alvo.

Nunca deixo de me relacionar com alguém apenas porque tal pessoa é de classe social diferente da minha (mais 'rico' ou mais 'pobre'), mais ou menos culto que eu, ou tem opiniões diferentes das minhas; o que me afasta realmente, são estas três características: a hipocrisia, o autoritarismo e a inveja exacerbada. 



terça-feira, 18 de agosto de 2015

A CASA ÁS VEZES TEM SAUDADES




Alguém já viu uma casa com saudades?

É quando os passos ecoam mais alto pelo chão. As paredes parecem mais frias, e à noite, tudo fica mais silencioso do que o habitual. O som da TV - que às vezes a gente usa para espantar a solidão - apenas a acentua. As fotografias parecem querer falar e contar as histórias que ficaram de alguém que não mais vive naquela casa. Ao mesmo tempo, elas estão mudas, e só falam às lembranças de quem as olha.

No jardim, as flores roxas que caem das árvores tem cheiro de tristeza. A areia no chão não exibe pegadas. As plantas parecem não se importar se vivem ou morrem.

Uma casa com saudades guarda apenas os sonhos mais tristes para suas noites, e eles ficam bordados nas fronhas, impregnados nos lençóis. Passarinho de manhã não canta na árvore próxima à janela: chora.

As nuvens carregadas passam sobre os telhados, mas não chovem. Os ventos sopram através das frestas, portas e janelas, uivando de saudades. 

Uma casa com saudades pode ficar com as paredes mofadas rapidamente. O relógio da parede às vezes para de funcionar. O telefone nunca toca. E pode ser que aquilo que a casa mais teme, venha a acontecer: alguém que não aguenta viver cercado pela saudade tranca suas portas e nunca mais volta a abri-las. 



A LUZ AZUL





segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SOBRE A TRISTEZA



Precisamos da beleza
Que existe na tristeza,
Das tramas fortes
Com a qual ela nos tece,
Da sabedoria
Com a qual nos envelhece,
Do espelho cristalino
Que ela nos oferece.

Precisamos do vermelho
Com o qual ela tinge
O sangue que corre
Por nossas veias.
E do silêncio
Através do qual
Ela nos fala,
E  nos cala,
E nos esteia.

Precisamos da canção
Doce e profunda
Que ela canta
Em nossos ouvidos
E da rudeza
Que nos estua
Quando ela apura
Nossos sentidos.

Quando a tristeza
Se faz oblonga
E nos canta sua longa
Canção de ninar,
Sabemos que a noite será triste,
Mas que alguma coisa forte
Subsistirá
Depois que ela nos matar.



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

SE NÃO FOSSEM OS ADEUSES...





Se não fossem os adeuses,
Os passos seriam pesados,
Os corações, transbordantes
De dores do que já não é,
Mas sempre fica marcado.

Se não fossem os adeuses
Ditos nas horas mais certas,
Muitos relacionamentos
Seriam ruas desertas,
Mal varridas pelo vento.

Se não fossem os adeuses
Que criam novos caminhos,
As asas perdiam os voos
Apodrecendo nos ninhos,
Onde morrem os passarinhos.

Se não fossem os adeuses,
O que um dia foi bonito
Seria sonho acabado,
calado dentro de um grito
Que jamais foi libertado.

Se não fossem os adeuses...



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