witch lady

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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Não me calo!




Não me calo!
Entra nos ouvidos o meu canto,
Circula pelos ares
Desce com a chuva pelos ralos!

É raro o momento,
raro,
Em que a palavra falta
Ao dom da pena!

Não me calo!
Seja por revolta
Ou por contemplação serena...
Aquilo que me chega à garganta
Eu não engulo,
Não mato!

Não me calo!
Canto com a voz desafinada
E inadequada, que a mim
Por Deus foi dada!

E enquanto circular o sangue
Pelas minhas veias fracas,
Às vezes, derramado
Em hemorragias verborrágicas,
Desistas!

Porque eu não me calo,
E não hei de calar-me!



UMA LÍNGUA ENGRAÇADA






Finalzinho de aula. Eu e uma aluna começamos a conversar amenidades, e de repente, ela me saiu com essa: "Fulano é cheio de mimimi!"

Eu, que nunca tinha ouvido tal coisa, perguntei a ela o que significava mimimi; ela explicou: "Ah, sabe como é, professora..conversa fiada, frescurinha, enfim... mimimi é... mimimi!" Ri muito da conclusão dela.

Mais tarde, joguei mimimi no Google para ver no que dava. Descobri o seguinte:

No site humorístico 'Desciclopédia,' a definição de mimimi é a seguinte: "Som feito por pessoas de voz aguda quando reclamam. Usado principalmente para pessoas desprovidas de inteligência..." E o restante da definição eu não consegui ver, pois meu antivírus bloqueou o site. Pensei: Ó antivirus cheio de mimimi!

Existe também um cantor que está bombando no Facebook com um hit chamado "Não vem com mimimi." Bem, consegui escutar por 30 segundos... ruim demais! confesso que também sou cheia de mimimis! 

Daí, fui pesquisar no Dicionário Informal, um dicionário online, que deu-me os seguintes sinônimos para mimimi: "conversa fiada, lorota, conversa pra boi dormir; enrolação, desculpa esfarrapada, mingué." Eu também nunca tinha ouvido 'mingué!'

Bem, então fiquei pensando se não existiria, em inglês, uma definição para mimimi; joguei no Google Translator, e ele me devolveu a mesma tradução: mimimi! Pensei nas palavras que eu conhecia para definir 'lorota' em inglês, e lembrei-me de "tall stories" (traduzindo literalmente, "histórias altas", ou seja, mentiras. Nada tem a ver com a definição para o mimimi brasileiro).

Tentei de novo 'lorota' no Google Translator, e apareceu "fudge." Uma tradução bem ao pé da letra . Mas sem o ziriguidum do mimimi brasileiro.

De tanto ensinar e estudar inglês, acho que estou ficando para trás nas novas expressões idiomáticas brasileiras. E haja mimimi. E visto a ilustração acima, acho que os americanos vão acabar adotando o nosso termo mimimi, e encorporando-o à sua língua. Mas não os Britânicos, pois estes, são cheios de mimimi.

domingo, 8 de setembro de 2013

Domingo ao Sol



A casa parece sempre mais quieta no domingo. Parece que os fantasmas vão descansar em outros lugares no final de semana. Sinto até saudades deles...

Mas hoje tive um dia bem gostoso, sentada à sombra da minha laranjeira perfumada, coberta de flores, com meu leitor de e-livros, envolvida em uma leitura muito agradável. O sol estava quente sem queimar, do jeitinho que eu gosto.  Às vezes, eu erguia os olhos do livro e olhava a montanha ao longe. Parecia que as palavras do autor ecoavam mais fortemente, quando eu fazia isso.

Foi um lindo dia. Agora, fresca pelo banho recente, vou enrolar-me em uma manta bem macia e curtir o final da tarde assistindo a um bom filme. Sinto que os fantasmas retornam à casa silenciosa.



IRONIA






IRONIA

Às vezes, 
A ironia é a melhor forma
De enfrentarmos a grosseria,
A humilhação que passamos
Através do vômito insano
De alguém que não sabe conviver.

Às vezes, 
A ironia é a forma suave
E inteligente, na qual
Alguém se defende da maldade
Que vem em sua direção.

Às vezes, 
É a ironia que nos blinda
Daquele arranhão que não finda,
Que aponta seu dedo rombudo
Pensando que sabe de tudo,
Achando-se o dono do mundo,
Senhor da verdade, absoluto!

Condenando o que não entende,
Escrachando o que não aprova,
E mesmo nas piores horas,
Não sabe ser condescendente!

A ironia
Pode ser a maneira mais limpa
De lidar com alguém que utiliza
Vocabulário indecente,
Ameaças de surras,
Alguém que zomba da gente
E de quem nos aprova.

A ironia é menos ridícula
Do que a voz de quem oferece o triste falo
Como se fosse um tal regalo
Mas causa nojo, e opróbrio, e asco,
E que nos oferece em um sujo frasco
Para os incautos, que nos bebem
Sem nem saber o que engolem!

Ninguém está livre de ser
Usado como vaso de escarro
De alguém que se esconde por trás
De palavras rebuscadas,
Verborragia impressionante,
E que passa a maior parte
Do seu tempo, debruçado
Sobre aquilo que chama de lixo,
Cheirando, provando, se refastelando
No alimento, que segundo ele,
Só serve mesmo para os bichos!

Indignação ou vício?
Desprezo ou pura paixão?
Superioridade ou complexo?
Freud, explique essa intenção!

A ironia nos ajuda
A resistir ao escracho óbvio
Da falta de educação e gentileza,
Que pode vir de alguém que dá a si mesmo
Um falso título de nobreza,
Mas que ao invés de nobre espada,
Carrega um rombudo cutelo,
E um fedorento e nauseabundo
Repugnante par de chinelos!


sábado, 7 de setembro de 2013

Cordel da Aposentadoria








Retirado do G1:




Em Pernambuco, a história de um cordel foi parar na Justiça.

O ateliê de Davi Teixeira é povoado de bonecos, todos feitos por ele. A arte deste artesão também se manifesta na poesia do cordel.

O mosquito da dengue, o telefone celular, a bolsa da sogra... Muita coisa inspirou o poeta. Davi já escreveu mais de 30 folhetos e só tem um que se tornou um problema na vida dele.

A Lei da Previdência para a aposentadoria fala da visão do autor sobre a situação de quem quer se aposentar. “Essa tal de aposentadoria, que agora vou destrinchar, pede tanto documento, dá vontade de chorar”.

O folheto circula há oito anos. Há cinco meses, Davi foi chamado à Procuradoria Regional no Recife. A Advocacia Geral da União considerou que o cordel tinha informações a ofensivas à imagem do INSS.

“Deu uma tremedeira. Eu senti na pele que o negócio estava sendo mais complicado. Veio de Brasília um documento me proibindo uma literatura de cordel”, diz Davi, que correu para recolher os folhetos que estavam espalhados em 90 pontos de venda na cidade e se comprometeu a fazer um novo cordel, alterando o texto.

“Essa aposentadoria que agora eu vou destrinchar pede apenas documento. Nem precisa esperar. É somente alegria, você pode acreditar”.

O superintendente do INSS no Nordeste disse que não houve censura. “Isso foi uma coisa muito pontual. Um procurador viu aquele cordel e achou que em determinado momento ele criticava algo da Previdência, das leis da Previdência”, declarou João Maria Lopes, super. do INSS – NE.

Antes de distribuir o novo cordel, Davi recorreu à Justiça e ganhou, por uma decisão liminar, o direito de voltar a publicar o texto original.

“Eu tomei a decisão buscando garantir a livre manifestação de pensamento de um cidadão brasileiro, já que vivemos num estado democrático, e resguardar algo que vem da cultura popular nordestina”, explica o juiz Frederico Azevedo.

E o superintendente do INSS diz que não houve censura?! Felizmente, o juiz que julgou o caso foi sensato e defendeu a liberdade de expressão. Mas o que me encantou, foi a inteligente ironia de Davi Teixeira, ao reescrever o cordel. Doce, fina ironia!


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Sêneca




"Se o homem tivesse a oportunidade de olhar para dentro de si próprio, como se torturaria, confessaria a verdade e diria: "Tudo que tenho feito até agora, preferiria que não tivesse sido feito; quando penso em tudo o que disse, invejo os mudos; tudo o quanto desejei, a maldição de meus inimigos; tudo o que temi. Ó deuses justos! Melhor não tivesse desejado. Fiz muitas inimizades (se é que há amizade entre os maus), e nem sou amigo de mim mesmo. Fiz os maiores esforços para sair da multidão e fazer-me notar por alguma qualidade: o que tenho feito senão oferecer-me como um alvo e mostrar à maldade onde poderia me machucar? Vê aqueles que elogiam a eloquência, escoltam a riqueza, adulam os benfeitores, louvam o poder? Todos são inimigos, ou podem sê-lo. Tantos são os admiradores quanto os invejosos. Por que não buscar algo realmente bom, para sentir, não para mostrar? Essas coisas que se contemplam, diante das quais as pessoas se detêm, que um mostra  a outro com assombro, por fora brilham, por dentro são deploráveis."





"Estamos algemados ao destino. Para alguns, as algemas são douradas e frouxas; para outros, sãop apertadas e sórdidas. Que diferença faz?  A mesma prisão cerca a todos, tanto os que estão presos quanto os que aprisionam, a não ser que talvez penses que é mais leve a algema no braço esquerdo. a uns prendem as honras, a outros, a opulência. A alguns a notoriedade oprime, a outros, a obscuridade. Alguns inclinam suas cabeças sob o domínio alheio, outros sob o seu próprio. Alguns tem como único lugar, o exílio, outros, o sacerdócio. Enfim, toda vida é servidão."




"De fato, muitos derramam lágrimas por simples ostentação, uma vez que mantém olhos secos sempre que o espectador se vai, julgando ser torpe não fazê-lo quando todos o fazem. Tão profundamente se fixou este mal estar dependente da opinião alheia que simula até uma coisa tão simples como a dor."




"Quem decide um caso sem que tenha ouvido a outra parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça."


NOITE






As Damas da Noite
Ergueram as vozes de gaze
E montando numa brisa
Trouxeram seu perfume
Num frasco de luar.

Cravejei a pele de estrelas,
Escancarei as janelas
Deixando a noite entrar.

Vesti-me da escuridão sedosa
Adornei-me de silêncio
Salpiquei sonhos na fronha.



INFORMAÇÕES ÚTEIS

Copiado da Delegacia de Crimes Virtuais
 CONHEÇA SEUS DIREITOS!

Calúnia / Injúria / Difamação



SaferNet Brasil só pode encaminhar às autoridades competentes as denúncias de crimes contra os Direitos Humanos cuja ação penal seja pública e incondicionada à representação. Por isso a SaferNet só recebe por meio daCentral de Denúncias os casos de Pornografia Infantil, Racismo, Homofobia, Xenofobia, Apologia e incitação a crimes contra a vida e Neo Nazismo.

Os crimes de:
Ameaça (art. 147 do Código Penal);
Calúnia (art. 138 do Código Penal);
Difamação (art. 139 do Código Penal);
Injúria (art. 140 do Código Penal);
Falsa Identidade (art.307 do Código Penal);

dependem, por determinação legal, de queixa realizada pela própria vítima. Estes crimes, mesmo cometidos pela Internet, devem ser denunciados pela vítima na delegacia mais próxima da residência dela ou em uma delegacia especializada em crimes cibernéticos.

Apesar de não receber denúncias destes crimes, a SaferNet sugere as seguintes orientações para ajudar as vítimas nestes casos:

1. Preserve todas as provas

Imprima e salve:
o conteúdo das páginas ou "o diálogo" do(s) suspeito(s) em salas de bate-papo,
mensagens de correio eletrônico (e-mail) ofensivas. É necessário guardar também os cabeçalhos das mensagens;
Preserve as provas em algum tipo de mídia protegida contra alteração, como um CD-R ou DVD-R;
Todas essas provas ajudam como fonte de informação para a investigação da polícia;

No entanto, essas provas não valem em juízo, pois carece de fé pública. Uma alternativa é ir a um cartório e fazer uma declaração de fé pública de que o crime em questão existiu, ou lavrar uma Ata Notarial do conteúdo ilegal/ofensivo. Esses procedimentos são necessários porque, como a Internet é dinâmica, as informações podem ser tiradas do ar ou removidas para outro endereço a qualquer momento.

Não esqueça: A preservação das provas é fundamental. Já houve casos de a Justiça brasileira ter responsabilizado internautas que não guardaram registros do crime on-line do qual foram vítimas.

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2. Procure a Delegacia de Polícia

De posse das provas, procure a Delegacia de Polícia Civil mais próxima do local de residência da vítima e registre a ocorrência. Você também pode ir a uma Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos.
3. Solicite a remoção do conteúdo ilegal e/ou ofensivo

Para fazer esta solicitação, envie uma Carta Registrada para o prestador do serviço de conteúdo na Internet, que deve preservar todas as provas da materialidade e os indícios de autoria do(s) crime(s). Confira modelo de cartasugerido pela SaferNet Brasil.


Entenda a diferença entre os tipos de crime na Internet


Ameaça (art. 147 do Código Penal):
- Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente procede mediante representação.

Calúnia (art. 138 do Código Penal):
- Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Difamação (art. 139 do Código Penal);
- Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria (art. 140 do Código Penal):
- Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)


Falsa Identidade (art.307 do Código Penal):
- Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.



A ação penal, no casos de Calúnia, Difamação e Injúria na Internet, é privada ou pública condicionada à representação, e depende, por determinação legal, do registro de uma queixa-crime que deve ser formalizada perante uma autoridade policial.


Entenda a diferença entre os tipos de ação penal:


Privada: quando a lei confere somente e *exclusivamente* à vítima a legitimidade para a propositura da ação penal. Normalmente, em tais casos a existência da ação criminal diz respeito tão somente à pessoa da vítima. Entre os crimes de ação penal privada que demandam o comparecimento a uma delegacia de polícia ou juizado especial criminal estão: crimes contra a honra: injúria, calúnia, difamação.


Pública incondicionada: quando somente o representante do Estado, o Ministério Público, pode intentar a ação penal independentemente da manifestação de vontade de quem quer que seja. Para tanto, basta haver indícios suficientes de autoria e prova da materialidade do(s) crime(s). É o caso de todos os crimes contra os Direitos Humanos, objetos de denúncias anônimas recebidas pela SaferNet Brasil.


Pública condicionada à representação: quando o Ministério Público possui legitimidade para intentar a ação penal somente após a permissão expressa da vítima. Tal previsão legal existe para proteger a imagem e a vítima pois, em determinados casos, poderá existir demasiada exposição.

Exemplos: crime de ameaça e corrupção de menores.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Califórnia




Eis o meu texto "Califórnia", vencedor do concurso de contos do blog Gândavos, de Carlos Lopes. Em meio a tantos autores competentes, fico muito feliz e agradecida por ter vencido o concurso!


CALIFÓRNIA


Pisava no chão seco e farinhento da vila de Córrego Seco desde que nascera. Nome mais apropriado para um lugar, não existia. Tudo era tão seco, que até mesmo o carcará tornara-se pássaro raro. Somente os que, como Joana, não tinham outra alternativa, continuavam vivendo ali. Ela não conhecia outra vida, tendo gasto em seu caminhar, muitas solas de chinelo. De sol a sol, de solo a solo, de cacto a cacto. Sua magreza alongava-se ainda mais na sombra projetada no chão pelo sol escaldante. No alto da cabeça, carregava uma lata d’água barrenta que tinha ido buscar a dois quilômetros da sua casa. Passava pelas ruínas da velha igreja sem notar, como quem passa por uma fé que deixara de existir.
Tinha apenas vinte anos de idade, mas aparentava quarenta. Em fila, seguiam-lhe seus três meninos, aonde quer que ela fosse. O pai? Partira para a cidade grande em busca de uma vida melhor, deixando apenas uma promessa: “Um dia, eu mando buscar ocês.” Nunca mais voltou. Nunca mais deu notícias. Também, que notícia poderia chegar àquela lugar esquecido por Deus? 
Joana nem sentia saudades do marido. Tinha antes muitas outras coisas a sentir: fome, sede, cansaço, desesperança, e um medo que crispava-lhe o estômago: o de ver morrerem seus filhos. Todos os dias, chegavam-lhe histórias de crianças que morriam. Às vezes, passava um cortejo na porta de casa, um pequeno bando de gente maltrapilha carregando um pequeno caixão.
Certa manhã, antes mesmo de clarear, Joana acordou com um sobressalto: tivera um sonho ruim. Vira um de seus meninos dentro de um caixão. No sonho, estava em uma sala vazia e escura, onde, bem no meio, havia um caixão cercado de velas. Ela foi se aproximando devagar, com medo do que fosse ver, enquanto ouvia uma risada sardônica atrás de si. Sentiu um arrepio na nuca, e quando chegou bem perto, levou à mão ao peito e olhou: lá estava seu mais velho! 
Joana levantou-se correndo, e foi olhar seus meninos, e ao ver que dormiam pesadamente na esteira de palha, deu um suspiro de alívio; ainda não era naquele dia! 
Na noite seguinte, teve o mesmo sonho. A única diferença, é que o menino no caixão era o seu do meio. E na terceira noite, o sonho repetiu-se, mas era o seu mais novinho que estava morto. Joana achou que aquilo era um sinal; tinha que sair dali! Precisava ir embora, pois beber água barrenta e comer farinha com lagarto cozido não era vida para menino. Mas ir embora para onde, meu Deus? Não tinha nada, não sabia ler, mal sabia falar direito... e enquanto cismava, andando de um lado para o outro debaixo do sol, à porta de seu casebre, enquanto os meninos comiam feijão com farinha, veio de repente uma ventania; e com a ventania, uma folha de papel, uma página de revista que grudou no seu rosto.
Surpresa, Joana pegou o pedaço de papel e olhou: era uma fotografia, uma imagem de um lugar onde havia um jardim verde e exuberante, cheio de flores coloridas, junto a um rio azul enorme de lindo. Havia também muitas pessoas felizes, e em uma fotografia menor, mesas com toalhas brancas cheias de pratos de comidas que ela nunca tinha provado, e um sorridente homem de branco que era tão bonito, que só podia ser um anjo de Deus! Ela nunca tinha visto tanto verde na vida, nem mesmo na época da chuva! Notou as letras sob a foto, e achou que elas deveriam dizer o nome do lugar na fotografia; decidiu que fosse aonde fosse, era para lá que ela iria! Como? Isto não importava; sentiu sua fé renascer, e da mesma forma que Deus lhe mandara a resposta, também havia de levá-la até o lugar.
Foi até a casa do ‘seu Tinoco’, o único por ali que sabia ler, e entregou-lhe a fotografia. O velho olhou-a, e após seguir as letras com o dedo, devolveu-lhe o papel, dizendo: “Esquece, filha. É longe. Ocês nunca vão chegar lá!” Mas Joana insistiu: “Me diz o nome do lugar, me diz onde é, ‘seu’ Tinoco. O resto, é com nós!” O velho balançou a cabeça, e disse com enfado: “Califórnia. É esse o nome.” Joana nem perguntou mais nada: voltou para casa, e juntando as poucas coisas que tinham, mostrou a fotografia e anunciou aos meninos, que se entreolharam, animados com a sua primeira aventura: “Se apronta, porque nós vai pra Califórnia.” E partiram naquela mesma manhã. Joana nem se deu ao trabalho de fechar a casa. No chão, o vento derrubou a única fotografia amarelada que o marido lhe deixara. ‘Seu’ Tinoco, da porta de seu casebre, viu-a partir em direção ao deserto, seguida pelas três crianças, carregando uma grande trouxa de roupa na cabeça. Ele apertou os olhos, enquanto a imagem dos quatro desaparecia, serpenteando com o calor que brotava do solo.
Meses depois, um homem caminha pelo chão árido de Córrego Seco, dirigindo-se à casa. Traz uma pequena mala de viagem, e muitas saudades e lembranças. Está feliz, pois conseguira arranjar trabalho de jardineiro na casa de um senhor muito poderoso e tão bondoso quanto rico, lá na cidade, no sul do país. Logo que conseguiu o emprego – depois de morar nas ruas, trabalhar em muitos canteiros de obra, sem carteira assinada e receber um salário abaixo do mínimo, passar muita necessidade e até mesmo fome, João - o marido de Joana- finalmente conseguira fugir do lugar onde era mantido como trabalhador escravo. Em sua fuga, acabou indo bater à porta de seu benfeitor, que vendo seu estado emocional lastimável e seu perigoso nível de desnutrição, decidiu acolhê-lo, cuidar de sua saúde e oferecer-lhe trabalho em sua casa.
Assim que ficou sabendo de sua história, deu-lhe dinheiro e mandou que fosse buscar sua família, em Córrego Seco. As crianças iriam frequentar uma escola, e sua Joana poderia ajudar nos serviços de casa.
Mas quando João chegou, não viu sinal de seus filhos e de sua Joana. ‘Seu’ Tinoco deu-lhe as notícias: “Eles foram embora. Pra Califórnia.” Agoniado, João indagou: “Mas... quando?” Seu Tinoco, montando um cigarro de palha, respondeu: “Faz uns mês... foram naquela direção!” 
Ao ver que ‘seu’ Tinoco apontava a direção do deserto, João sentiu seu coração encher-se de agonia. 
Voltou para o casebre. Deitou-se na esteira de palha semicoberta pela areia, e chorou, desejando do fundo de seu coração, que sua mulher e seus filhos tivessem conseguido alcançar a Califórnia.

Carta à Amiga







Carta à “Amiga”



Tentei responder seu email, que chegou-me em uma hora bastante difícil, mas infelizmente, quando apertei ‘enviar’ ele foi imediatamente devolvido. Como não posso respondê-lo no outro site, faço-o aqui em meu blog, onde posso expressar-me livremente, e posso apenas esperar que você o leia.

Você me falou da importância do perdão e de seguir em frente, fazendo meu trabalho como venho fazendo e ignorando ofensas indiretas. Não costumo ficar em um canto, reclamando e choramingando enquanto me apedrejam; mesmo assim, tenho procurado ser tolerante, pois a vida me ensinou que certas coisas não valem a pena, e quando eu me levanto para me defender, é porque a coisa foi longe demais. Comparando minhas reações de hoje às minhas reações do passado, sempre intempestivas, vejo que já andei um bom caminho na direção da qual você fala, mas ainda não consegui atingir o nível que você me propõe. Quem sabe, um dia? Enquanto isso, não sufocarei meus sentimentos e reagirei sempre de forma eficaz contra os que me caluniam.

Enquanto os tais textos estavam sendo mantidos em um nível indireto, fui tolerante e ignorei; logo em seguida, eles passaram a conter transcrições de palavras que eu postava, e mesmo não mencionando meu nome, a pessoa em questão referia-se a mim (hoje tenho certeza absoluta de que é a mim que ele se referia) usando palavras de baixo calão que não vou colocar aqui; Teve a ousadia de intitular uma de suas aberrações como “Senhora ‘A’”, mas mesmo assim, decidi acreditar que existem por aí muitas pessoas cujos nomes começam com a letra ‘A’, e eu ignorei. Ele comentava seus próprios textos, incitando a curiosidade dos que os liam, insinuando que, a qualquer momento, ia ‘dar uma lição’ em seu desafeto – eu. Referia-se a fatos de minha vida, como por exemplo, o de eu nunca ter sido mãe, escrevendo grosserias em relação à minha vida sexual – da qual ele nada sabe, e jamais saberá - oferecendo seu ‘brinquedinho’ para que eu o usasse, alegando que eu o desejava. Existe coisa mais torpe, mais nojenta? Mesmo assim, eu ignorei, durante meses, achando que eu poderia estar enganada.

Para mim, o menor argumento, o mais torpe, o mais nojento e repugnante que um homem pode usar para defender-se de uma mulher (uma que nem o está atacando), é o tamanho de seu pênis e seus ‘méritos’ sexuais. Isto, em minha opinião, denota uma insegurança latente quanto à própria sexualidade, além de ser uma enorme grosseria referir-se a qualquer mulher nestes termos. Tenho muita pena da esposa deste sujeitinho.

A época mencionada por ele, na qual eu teria começado meus ‘ataques’ e ‘plágios’ aos seus escritos, começou mais ou menos em dezembro – época na qual eu estava, a maior parte do tempo, acompanhando minha mãe em um hospital e uma outra pessoa de minha família em outro, e quase nem tinha tempo para pensar em amenidades. Minha mãe faleceu no dia 1 de janeiro de 2013, mas nem mesmo isto fez com que ele parasse com suas insinuações e ataques, que culminaram logo após a publicação de meus livros virtuais.

Ele passou a fazer ironias quanto ao fato de eu ser uma autora e referiu-se com desdém à minha profissão de professora, de maneira a por em dúvida se eu realmente a exerço.

Mas o que realmente culminou em uma reação de minha parte, aconteceu há dois dias, quando ele afirmou em uma de suas aberrações rebuscadas as quais ele chama de textos, que eu teria desejado a sua morte e a morte de seu bebê recém-nascido. Ah, eu não poderia engolir mais esta! Eu jamais fiz ou faria tal coisa, nem que ele fosse meu pior inimigo, pois eu sei que desejar o mal à outra pessoa é desejá-lo a si mesmo. Em minha compreensão, aquilo que desejamos ao outro volta para nós triplicado, mas não é apenas por isso que eu não desejo o mal às outras pessoas; é uma questão de princípios. 

Fiquei achando que ele poderia estar afirmando tal barbaridade ao meu respeito através de e-mails, e achei que era hora de eu tomar uma posição.

Minha primeira providência, foi a de fotografar todos os seus textos que se referiam a mim, inclusive o que tem o título de “Senhora A”, e posteriormente, o seu penúltimo, que foi retirado pela administração do site, no qual ele usava meu nome e sobrenome. Guardei-os em meus arquivos de blog e em meu computador. Sei que abrir um processo contra alguém é algo cansativo e dispendioso, mas caso ele continue a manifestar-se contra minha pessoa, não hesitarei um só segundo em acionar a delegacia de crimes virtuais e acabar com sua festa. Por isso, reunir provas e arquivá-las devidamente foi minha primeira providência.

Depois, acionei a administração do site e denunciei seu último texto, que foi retirado. Nem fiz questão de que ele retirasse os muitos outros que escreveu sobre mim. Podem ficar lá em seu mural, alertando as pessoas sobre quem ele realmente é. Igualmente, a administração solicitou que eu retirasse meu texto, “Será que é para mim,” no qual eu pedia explicações sobre se a pessoa a quem ele se referia em seus escritos era mesmo eu – ainda dei a ele uma chance de se retratar. A este texto, ele deixou um comentário (que também arquivei) afirmando minhas suspeitas.

Nestes momentos, a gente fica se perguntando por que estas coisas acontecem. E não acontecem apenas comigo, pois a todo momento, leio relatos de pessoas que estão passando por coisas parecidas na internet. Escrever é uma grande responsabilidade, e um grande perigo, pois jamais sabemos se o que escrevemos poderá atingir negativamente a alguém, mesmo que nosso trabalho não tenha esta intenção. Mas quando isto acontece, há uma grande chance de que tudo tenha sido apenas um mal-entendido, e comunicar-se com o escritor pode ser a única maneira de desfazê-lo. No meu caso, eu não pude, já que estava bloqueada na página em questão, e não tinha nenhum endereço de email do sujeito.

Mas a vaidade de quem lê, na maioria das vezes, é o motivo para estes desentendimentos; recentemente, fui quase trucidada por uma senhora apenas porque deixei um comentário na página de um de seus desafetos. E eu nem sabia que eles estavam brigados! Também causa desentendimentos a mania de achar que as pessoas estão copiando o que escrevemos, apenas porque opinamos diferentemente sobre um assunto que a pessoa abordou. E às vezes, nem lemos o texto que a pessoa escreveu! 

Estou relendo “O Retrato de Dorian Gray.” Ontem à noite, uma frase do personagem Henry tocou-me profundamente: “Todo efeito que produzimos nos traz um inimigo. Para sermos populares, devemos ser medíocres.”

Bem, jamais serei deliberadamente medíocre a fim de contentar alguém. Continuarei fazendo meu trabalho, enquanto o mesmo for para mim uma diversão e uma necessidade, e seguirei sempre em frente, deixando para trás estas coisas abomináveis que acontecem e sempre acontecerão. 

Sei que sou malquista por muitos, justamente porque não deixo barato as ofensas que me dirigem, mas não vou ‘fazer amigos’ através do silêncio ao bullying virtual. Acho que o bullying tem que ser revelado, o bully tem que ser exposto, porque às vezes ele pode estar escondido atrás de uma conduta aparentemente adorável, simpática e  sábia. O bullying pode vir daqueles cuja verborragia impressiona aos incautos, encanta aos sonhadores e engana aos mais sagazes. 

Não vou compactuar com esse tipo de coisa, e jamais protegerei canalhas atrás de minha própria reputação.

Obrigada pela sua mensagem, e é isto que eu tenho a dizer.



Choraminguado






Choras
Minguado
Às janelas
Do passado.

Recolhes
As pedras,
Refregas,
Medras.

Resfolegas
Fuças
As gentes
Que antes
Trazias
Aos dentes.

Finges
Que sentes
O que jamais 
Sentes.

Choramingas,
Respingas
Um sangue
Demente.

E então,
De repente,
Te mostras
Carente!

Sob
Tuas solas,
As carnes
Da gente.

Os nossos
Pedaços
Por entre teus dentes.

Na lua da unha
O sangue pisado
E choras,
E comes
O bolo
Solado,

Que é feito
De um trigo
Deveras
Mofado.

E à alma
Que assolas
Te sentes 
Vingado!

E choras, e choras,
Mas choras
Minguado.

Fingido,
Fingido,
Teu pranto
Oxidado...

Recolhes 
As setas
Que havias
Lançado...

Minguado,
Minguante
Minguado,
Minguado!







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