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quinta-feira, 18 de julho de 2024

PALHA

 





Vasculho o entulho

Desse meu silêncio

Em busca de algo

Que eu tenha a dizer,

Uma inspiração,

Palavra parida

Do ventre da vida.


O vento fustiga,

Espalha os sentidos

Por sobre a calçada mal varrida,

Letras se confundem,

Se espalham, se afastam

Das frases não ditas.


Acho que me perco,

Penso que encontro

Um assento no olho

De um furacão.


Sou palha queimada,

Sou folha voando,

Eu sou o restolho

Após a colheita

Da desilusão.




PACIÊNCIA






Uma brisa, e eu viro a página,

Bato com força as minhas asas,

Ganho outros céus, bem longe de casa,

Sobre as ondas que se movem em um mar sem brios,

E não levo nada.


Um olhar de viés, atravessado,

E minha alma deixa tudo de lado,

A procura de paz, do que foi roubado,

E nem sequer digo nada.


Uma pedra lançada contra a minha porta,

E eu nunca mais a abro,

Deixando no alpendre o que for amargo

Até que vá embora,

Até que eu não me lembre de nada.


Um trovão além do permitido,

Uma voz que se eleve em um grito,

E eu tampo meus ouvidos,

Desço as escadas até os porões da minha alma,

E não escuto mais nada.







LUA MINGUANTE

 




Seja o que for, vai embora

Se a lua se faz minguante.

A alguns, deixa mais fortes

E a outros, claudicantes.


É como a água que busca

No solo, consolação

Após uma tempestade

Se infiltrando pelo chão.


A terra fica mais fértil

E a colheita, mais farta

Mas algumas pobres almas

Se afogam na função.


Seja o que for, sempre volta

Àquele que o criou

Sem precisar de escolta

Na força de quem mandou.








BEM NO MEIO




Havia um anjo

De pés descalços

Que caminhava bem no meio

De um coração quebrado.


Dentro da noite,

Da mais negra noite,

Ele erguia nas mãos

Um pequeno archote.


Mas só ouvia seus passos

Quem calasse a própria dor,

Só encontrava

A luz dos seus braços

Quem não temia o amor.


E bem no meio

Do sol que queimava

Ao meio-dia

Havia o alívio

Da brisa das suas asas.


E todo dia, o anjo passa,

Como todo dia ele passava.

Mas só enxerga

Quem tem a fé de caminhar

De olhos fechados,


Quem acredita que amanhece,

Quem não se esquece

Que um dia, tudo passa,

E que toda escuridão

Se transforma em graça.




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