witch lady

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sábado, 16 de novembro de 2024

AMARGURA





 

E você descobre

Que está coberta,

Que se afogou

Na maré cheia,

E você entende

Que já é passada

A hora certa,

E que tem vivido

Espremida

Entre as horas alheias.

 

E você percebe

Que sua existência

Pede permissão.

E você se arrasta,

E você se gasta

Por compreensão.

E você se olha,

Não se reconhece,

Não sabe se sobe,

Não sabe se desce.

 

E você se esquece

De como chegou

Aonde chegou,

Não sabe aonde vai,

Se deve ficar,

Pois nem se dá conta

Do que lhe restou.

 

E você assunta,

Você se pergunta

Se valeu a pena,

- Protagonizou

O seu espetáculo,

Ou tem sido apenas

O receptáculo,

O palco cedido

A um outro show?

 

E você se sente

Sempre deslocado,

Os olhos vidrados,

Os lábios colados,

Coração pesado,

O ar rarefeito

O peito abafado.

 

E você se isola,

Pois a solidão

É a única cola,

Uma proteção

Um alívio, um jeito

De cuidar daquilo

Que ainda restou.

 

E você se vê

Em paz, finalmente,

A vida entre os dentes,

Os anos no fim

A vida no fim,

Lembranças em fileiras

Sobre as prateleiras

Empoeiradas

Catalogadas , etiquetadas:

“Aqui jaz o escopo

De uma vida inteira.”

 

 

 

 

 

 



 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

O TUCANO

O Tucano


O TUCANO

 

Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me enroscar no sofá após o café da manhã e assistir a um filme. 

 

Mas de repente, o silêncio da manhã entrecortado pelo canto manso dos passarinhos é quebrado ao meio: ouço sabiás gritando no gramado. Vou lá fora a fim de entender o motivo daquela gritaria, e deparo com a seguinte cena: Sobre o gramado, os pais tentam salvar seu bebê, que está sendo atacado por um tucano.

 

Os tucanos não eram aves que apareciam por aqui há alguns anos, e não sei qual o motivo para estarem se tornando cada vez mais abundantes. Chegam a bicar minhas vidraças, e há alguns dias, pude filmá-los em um momento, digamos... íntimo. Uma cena rara para ser apreciada por um humano como eu. Eles não são medrosos. Às vezes, eu os pego me observando pela janela do quarto. Enquanto eu regava o jardim em um dia quente, um deles pousou no ipê amarelo, me olhando. Imediatamente entendi o que ele queria, e suavizando o jato da mangueira, passei a jogar-lhe água - e ele sacudia as penas, abria as asas e crocitava feliz. Foi uma cena mágica, e durou alguns minutos, até que satisfeito, ele alçou voo.

 

Mas voltando à cena do jardim, eu me vi em um impasse: deveria interferir na natureza? Tive que pensar rápido, e saí de casa para salvar o pequeno pássaro. O tucano não voou, permanecendo aos meus pés, me olhando com aquele olhinho redondo, a cabeça virada para me enxergar melhor. Ainda deu alguns passos na minha direção, e pensei que fosse me atacar, mas acho que ele avaliou suas chances e chegou à conclusão de que não tinha muitas chances contra mim. Daí ele pousou no muro e nós começamos um diálogo, onde ele disse:

 

-Aí, moça, pode soltar o meu café da manhã, por favor? As crianças estão me esperando em casa. Tenho bocas, digo, bicos a sustentar.

 

Entre as minhas mãos, encostado ao meu coração, a presença macia e quente do sabiá me pedia o contrário. Respondi:

 

-Sinto muito, colega, mas não vai dar. Você não se envergonha de raptar bebês de ninhos alheios?

 

Ele não se fez de coitado, e retrucou:

 

-Madame, os bem-te-vis também fazem isso, as corujas, os jacus, os macaquinhos e esquilos que você acha tão engraçadinhos também. Vai passando esse passarinho aí, por favor. As crianças estão esperando.

 

-Sem chance. Sinto muito, amigo, mas não vai rolar. Sem ressentimentos, mas você vai ter que caçar em outro lugar, não aqui no meu jardim. Olha, eu gosto de você, te entendo muito, mas prefiro acreditar que você só come ervas e frutas, então vamos fingir que isso não aconteceu. Ok? Olha, vou te dar outra coisa para levar para seus filhotes!

 

Dizendo aquilo, corri na cozinha - sempre com o bebê aconchegado na palma da mão - e peguei uma banana, descasquei-a e joguei-a no gramado para ele, que me olhou novamente com aquele olho redondo e comprido ao mesmo tempo. Descendo do muro, ele pegou o pedaço de banana no gramado e soltou-o em seguida, indignado. Me olhou mais uma vez e então voou para longe sem se despedir.

E eu fiquei lá, em pé na chuva, sem saber o que fazer com aquele passarinho.

 

Minha cabeça oscilava entre o sabor do heroísmo e o do arrependimento; afinal, eu tinha interferido na natureza e prejudicado o tucano. Peguei uma caixa de sapatos, que eu forrei com papel alumínio por causa da chuva, e coloquei o bichinho dentro dela, prendendo a caixa no comedouro que mantenho em uma árvore. A  mãe não o abandonou, passando a cuidar dele na caixinha. Ele já era grandinho e com penas, embora ainda estivesse aprendendo a voar.


A Luisa

 

Deixei os cães presos do lado de trás da casa por dois dias. Hoje de manhã antes de começar minhas aulas eu os soltei, achando que o passarinho já tinha ido embora, já que ontem a caixa estava vazia. Havia apenas alguns caroços de frutas e pedrinhas lá dentro. Acho que foram um "presente" da mãe em agradecimento. Porém, ao soltar meus cachorros, a Luiza (minha cachorrinha) encontrou o pássaro e começou a correr atrás dele, que gritava desesperadamente. Gritei, igualmente desesperada, e acabei salvando a vida dele pela segunda vez. A mãe a tudo assistia, apavorada, piando no galho da árvore. O pestinha ainda não voa.

 

Agora ele está lá no jardim, correndo atrás da mãe para comer suas minhocas, e meus pobres cachorrinhos vão ter que ficar sem acesso ao jardim até que ele aprenda a voar. 

 

O tucano não apareceu por aqui depois daquilo. Mas ele é meu amigo, e sempre acaba voltando e trazendo a família. Espero que ele tenha aceito minha sugestão de fingir que é vegetariano quando estiver por aqui.

 

 

Ana Bailune





 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

FOFOCA




A fofoca, que muitos consideram apenas como uma conversa informal a respeito da vida alheia (e algumas vezes ela até pode ser considerada com
o tal), também tem o seu lado perverso: Por que alguém passaria tempo de sua própria vida debruçado sobre a vida do outro, procurando por alguma coisa negativa que pudesse aumentar e partilhar? E por que o receptor da fofoca, ao invés de procurar esclarecer os fatos, escolhe acreditar em um fofoqueiro?

A fofoca destrói amizades antes que elas possam crescer e se solidificar. Ela demoniza o caráter de uma pessoa que nem sequer sabe que sua vida está sendo exposta e comentada. E geralmente, a pessoa que destrói a reputação de outra tem como objetivo ficar "bem na foto," "sair por cima" de um conflito ou dar algum tipo de explicação sobre uma decisão que tomou ou um erro que cometeu. 

E após um desentendimento causado pela fofoca, embora a vítima possa vir a perdoar quem a atacou, a relação nunca mais será a mesma. Porque a confiança morreu. Aquela pequena flor que estava começando a brotar por sobre o muro foi ceifada bem rente ao caule, e em seguida, pisoteada. 

Eu sou uma pessoa bastante sensível - diria até sensitiva - e percebo as energias que estão me rodeando e tentando quebrar meu círculo energético. Eu sei quando algo está errado. Tento negar a mim mesma, mas logo em seguida, alguma coisa que estava escondida vem à tona. 

De repente, uma pessoa que sempre nos tratou bem começa a nos olhar de lado e fingir que não nos vê; Quando é inevitável que nos cumprimente, o faz de má vontade, e mesmo diante de um sorriso, conseguimos perceber que ele não é espontâneo. Quase sempre, há um fofoqueiro de plantão, daqueles do pior tipo: o que inventa mentiras e distorce verdades, apenas porque destruindo uma amizade, terá melhor domínio sobre uma situação. 

Mas quando isso acontece, eu não me preocupo; o universo tem a mania de esclarecer as coisas, mesmo que isso demore. O tempo pode não ter pressa, mas a justiça divina é sempre implacável. E aquele que está pronto a virar-se contra alguém devido a uma fofoca, acabará vendo que fez uma escolha terrível - mas será tarde demais. Porém, sempre fica a lição.







terça-feira, 17 de setembro de 2024

Não Procuro Nada

 

 



Nada procuro,

Eu não procuro nada,

Mas há sempre alguma coisa

Que me acha,

Que se esborracha, de repente,

Contra a minha vidraça,

E suja o vidro,

Macula a paisagem

E trava a minha alma.

 

Não procuro,

Não procuro nada,

E rezo a Deus, sempre,

Que nada me encontre,

Que nada me ache,

Que nada me afronte.

 

Mas eu acho

Que sirvo de fonte

Às línguas cansadas,

E sou corrimão

Onde as mãos indolentes

Se apoiam

Tentando subir

Minhas escadas.

 

Eu não procuro,

Não me interessa,

Só quero o direito

De permanecer quieta,

Dormir abraçada

A esse dragão tão antigo

Que me aquece

E aos poucos, me mata.





 

 

 

sábado, 14 de setembro de 2024

QUE DEUS ME LIVRE DA ETERNIDADE!

 


 

A vida é boa,

Mágica, trágica, linda,

E mesmo quando ela destoa

Dos planos, por danos e erros que cometemos,

Ela pode ser bonita, ainda.

 

Mas eu não quero voltar; não!

Uma só vida me basta,

Não quero me elevar à Divina casta,

Não quero virar estrelinha,

Nem refazer a viagem

Ao chegar ao fim da linha!

 

Se Deus puder me atender,

Que Ele me livre do peso

Dessa verdade que muitos espalham,

Que Ele tenha piedade e que possa perdoar

A minha quem sabe,  pouca

Acuidade.

 

Que Ele me livre do eterno despertar da vaidade,

De ser novamente um aro nessa roda

Desafortunada

Cujo eixo não tem chão nem parada.

Só  peço a Deus um pouco da Sua compaixão.

 

Não quero sequer o meu nome

Gravado em uma pedra de mármore,

Quero morrer quando for morrer,

Não faço nenhuma questão

De alguma ávida saudade.

A vida que tenho será a minha única dádiva

A mim mesma, ao que eu fui, sou

E que não desejo

voltar a ser.

 

 



segunda-feira, 9 de setembro de 2024

PALAVRAS CORTADAS

 




Nos dias de hoje, ao assistir vídeos no YouTube ou Instagram, vemos muitas pessoas cortando palavras para não serem pegas pelo monitoramento de redes. Não se podem mais dizer palavras como morte, suicídio, eleições, pandemia, nazismo, vacinas e muitas outras, que apesar de serem desagradáveis, são importantes.

A cada dia, mais palavras são incluídas nessa lista, e acredito que dentro em breve tentarão cortar alguma letra do alfabeto também. Juntamente com essa nova moda de proibir palavras, também tornou-se prática desmonetizar canais, excluir contas e redes sociais, banir pessoas do país , proibir provedores de internet e até mesmo cortar os salários de senadores – coisa que nos meus quase 59 anos de idade eu nunca vi, nem mesmos nos tempos da ditadura.

Mas parece que ninguém (ou muito poucos) percebem aonde essas coisas estão nos levando aos poucos. É como uma doença mortal que chega devagar, instala-se silenciosamente e, mesmo diante dos primeiros sintomas, nós a ignoramos. Quando finalmente alguém decide realmente fazer alguma coisa, é tarde demais. Ela já tomou todo o corpo, e a cura é impossível.

Dizem  que existe um propósito para tudo isso, e que cada pessoa – mesmo as que detestamos -  é importante no curso da vida; se assim for, quem sabe o propósito não seja abrir os olhos dos que sofrem de cegueira voluntária? Talvez somente através do sofrimento aprendamos a importância de acordar em um país livre, e somente  perdendo a nossa liberdade aprenderemos a valorizar o direito de podermos falar sobre qualquer assunto, mostrar uma opinião e tornarmos nossos pensamentos públicos, mesmo que seja apenas como uma forma de desabafo, sem nos preocuparmos em sermos presos, exilados ou termos as nossas contas em redes sociais canceladas.

Na história das religiões o diabo é importante. Quem sabe, na história do Brasil ele também seja?






sexta-feira, 6 de setembro de 2024

UM ÚNICO HOMEM



Um único homem controla uma nação com mais de 215 milhões de habitantes. Ele sozinho decide quem fica, quem vai, o que pode ser dito, o que deve ser calado, quem recebe seus salários e quem é bloqueado, quem vai preso por manifestar-se e quem sai da cadeia mesmo sendo criminoso.

Um único homem conduz uma nação inteira a voltar à Idade Média, sem sequer pensar nos milhões de pessoas que necessitam dos recursos que ele bloqueou para trabalhar, anunciar, se informar e expressar seus pensamentos. Um único homem, com um ego que não cabe dentro dele mesmo e que se expande e se arrasta sobre tudo e todos, deixando sua marca gosmenta e fétida sobre a liberdade de expressão de um povo, proclama a si mesmo o dono do país e seu senhor absoluto. E este mesmo homem ainda ameaça colocar a segurança do país em risco e privar crianças e adolescentes de se conectarem com recursos de aprendizagem essenciais.

Ele é culpado? Sim. 

Porém, ainda mais culpados são aqueles que têm o poder de retirá-lo e não o fazem. Aqueles cujos rabos estão presos entre as patas de um ditador egocêntrico. Aqueles que se acovardam e se esquecem do porquê estão ocupando os cargos que ocupam. 

E ainda mais culpados são os que aplaudem freneticamente esse estado de coisas - marionetes de  hienas que não têm a menor ideia sobre o que está acontecendo bem diante de seus olhos.

Enquanto as outras nações evoluem, nós involuímos. 



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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

POESIA


 



A poesia

Brinca de se esconder

Entre as frases de um poema.


Raramente, um poema

Quer dizer exatamente

O que está escrito.


Se eu escrevo “amor”,

Quero dizer “rito.”

Se eu escrevo “chuva,”

Quero dizer “sofrer.”

Se eu escrevo “Montanha,”

Nem sei o que quero dizer.


Um poema é escrito

Para quem o escreveu.


Mas pode ser que um leitor

O ressignifique,

Encontrando alguma vida

Ao ler sobre o que morreu.






 


terça-feira, 3 de setembro de 2024

DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO






Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja. 


Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.


Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias. 


Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.


Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas? 


Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve. 


 



terça-feira, 20 de agosto de 2024

COMPRE UMA CAMISETA ROSA, TALVEZ...

 


 

Acabo de terminar uma aula cujo tópico de conversação era o tédio. Eu acho que quando a gente se sente entediado, é hora de mudar. Nem falo de grandes mudanças - embora elas sejam necessárias, muitas vezes - mas de pequenas mudanças no cotidiano.

 

Por exemplo:

 

- Quando estou cansada de um cômodo da casa, eu troco os móveis de lugar, ou pinto a parede de outra cor, troco as capas das almofadas ou simplesmente introduzo no local pequenos objetos que estavam em outros cômodos. Vasos de plantas também dão um novo ar a qualquer ambiente. De vez em quando, troco os tapetes e cortinas de lugar; trago os da sala para o quarto, e vice-versa. 

 

- Eu gosto de experimentar coisas diferentes: restaurantes diferentes, lugares diferentes. Se não faço isso com tanta frequência, é porque meu marido é muito conservador. Ele é o tipo de pessoa que não gosta muito de mudanças. Para ele está tudo bem ir sempre aos mesmos lugares e até mesmo pedir os mesmos pratos de sempre. Mas eu quase sempre peço algo que eu nunca comi. Isso pode ser desastroso, mas também pode ser muito positivo. Foi assim que fiquei conhecendo o risoto de pera com brie do restaurante Mimô, aqui em Petrópolis. 

 

- Gosto também de experimentar roupas que eu geralmente não usaria. Ando aceitando as recomendações das vendedoras e me atrevendo um pouco mais na escolha do que vestir, e tem dado surpreendentemente certo. Se não aceito sempre seus conselhos, pelo menos concordo em experimentar as roupas. De vez em quando, por que não usar uma camiseta rosa choque, ou uma saia verde bandeira?

 

Acredito que até mesmo a depressão - a doença do século - pode ser apenas um caso de tédio não reconhecido: as pessoas estão tão condicionadas a fazerem sempre as mesmas coisas, que acabam ficando deprimidas, mas não conseguem identificar as causas. Quem sabe, ao invés de tomar remédios, uma pequena viagem poderia ajudar? Ou então uma camiseta rosa choque!

 

O tédio das coisas sempre feitas da mesma forma deixa as pessoas chatas. É como aquela pessoa que sempre passa as férias na praia, só porque tem um apartamento lá. Nunca mais vai para outros lugares. Ou veste sempre as mesmas cores. Ou fala sempre dos mesmos assuntos ou sobre si mesmo, sempre citando o passado, porque não se informa sobre o que anda acontecendo no mundo, não lê um livro, não sai de casa, não aprende nada novo ou diferente. Talvez a depressão seja um tédio que saiu do controle, alguma coisa sombria que foi se acumulando ao longo dos anos e que criou vida própria. Daí surge o medo da mudança, a inércia, a sensação de incapacidade. 

 

Quanta diferença pode fazer uma simples camiseta rosa!

 

 

 

 



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

TURISMO

 



Visitem, amigos,

As cavernas escuras da alma.

Admirem  as estalactites

Que cortam a pele

Do coração. 


Mergulhem nas águas turbulentas

Da desilusão,

Descobrindo, lá no fundo,

Onde estão os celacantos

E os tubarões.


Visitem, amigos,

As estradas solitárias

Da dor e do abandono,

Cruzem-nas na noite da alma,

Suplantando o medo.


Mergulhem, amigos,

Nas águas turvas dos segredos,

Cuidem para que não se afoguem

No próprio degredo!


Incluídos no pacote

Estão hotéis assombrados

Onde vivem as crianças abandonadas

E seus sonhos renegados.







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