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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ilusões - As Aventuras de um Messias Indeciso




Manual do Messias:

"A sua consciência é a medida da honestidade de seu egoísmo. Escute-a com cuidado."


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-Somos todos livres para fazermos o que quisermos fazer- disse ele, naquela noite.- Isso não é simples, limpo e claro? Não é uma bela maneira de se dirigir o Universo?

-Quase. Você se esqueceu de uma parte importante-repliquei.

-Ah, é?

-Somos todos livres para fazermos o que quisermos, contanto que não prejudiquemos os outros-ralhei.- Sei que você quer dizer isso, mas deve dizer o que quer dizer.

Ouvimos um ruído de arrastar de pés no escuro, e olhei depressa para ele.

-Ouviu isso?
-Ouvi. Parece que é alguém...

Levantou-se e foi andando pelo escuro. De repente riu, e disse um nome que não entendi.

-Está certo - eu o ouvi dizer. -Não, teremos prazer em sua companhia... não precisa ficar aí de pé... venha, seja bem vindo, mesmo.

A voz tinha um sotaque forte, não era propriamente russo, nem tcheco, parecia mais da Transilvânia.

O homem que trouxe consigo para junto do fogo era... bem, uma figura invulgar para se encontrar no Meio-Oeste, de noite. Um sujeitinho pequeno, magro, com cara de lobo, de aspecto assustador, vestido a rigor, uma capa preta forrada de cetim vermelho, que estava incomodado com a luz.

-Estava passando - disse ele. - O campo é um atalho para minha casa.

-É mesmo?

Shimoda não estava acreditando no homem, sabia que ele estava mentindo, e ao mesmo tempo, se esforçava ao máximo para não dar uma gargalhada. Eu esperava poder compreender dentro em pouco.

-Esteja à vontade - disse eu. -  Poemos ajudá-lo em alguma coisa?

Não me sentia assim tão disposto a ajudá-lo, mas era tão tímido, que queria pô-lo à vontade, se conseguisse.

Olhou-me com um sorriso desesperador, que me fez gelar.

-Sim, pode me ajudar. Preciso muito disso, caso contrário, não pediria. Posso beber seu sangue? Só um pouco? É o meu alimento, preciso de sangue humano...

Talvez fosse o sotaque, mas não entendi suas palavras; pus-me de pé o mais rápido possível, o capim voando para dentro do fogo, com  a minha rapidez.
O homem recuou. Em geral, sou inofensivo, mas não sou pequeno, e posso parecer ameaçador. Ele virou a cabeça para o outro lado.

-Senhor, sinto muito, sinto muito! Desculpe. Por favor, esqueça o que eu disse sobre o sangue! mas sabe...

-O que está dizendo? -Eu estava ainda mais feroz por estar amedrontado. -Que diabo está dizendo, homem? Não sei o que você é, mas é alguma espécie de VAM...?

Shimoda me interrompeu antes que pudesse completar a palavra.

-Richard, o nosso convidado estava falando e você o interrompeu. Por favor, continue, senhor; o meu amigo é um pouco apressado.

-Donald, este camarada...
-Fique quieto!

Aquilo me surpreendeu tanto que fiquei quieto, e olhei com uma espécie de indagação apavorada para o homem, que agora se parecia bastante, de fato, com um vampiro humano, atraído do escuro pelo nosso fogo. 

-Por favor, compreendam. Não fui eu que escolhi nascer vampiro. Não tenho muitos amigos. Mas preciso de certa quantidade de sangue fresco toda noite, senão me contorço com dores terríveis. Se passar mais tempo sem ele, morro! Por favor, ficarei muito mal, morrerei, se não me permitir sugar o seu sangue... uma pequena quantidade, preciso apenas de meio litro.

Deu um passo em minha direção, lambendo os lábios, achando que de algum modo Shimoda me controlava e faria com que eu me submetesse.

-Mais um passo e haverá sangue, sim. Moço, se me tocar, morrerá!

Não teria matado, mas queria pelo menos detê-lo até termos conversado mais.
Deve ter acreditado em mim, pois parou e suspirou. Virou-se para Shimoda.

-Já conseguiu o que queria?
-Acho que sim. Obrigado.




O lobisomem me olhou e sorriu, completamente à vontade, divertindo-se imensamente, como um ator em um palco após a peça.

-Não beberei o seu sangue, Richard - disse então, num inglês perfeito e com simpatia, sem qualquer sotaque. Enquanto olhava para ele, foi sumindo, como se estivesse apagando sua própria luz... em cinco segundos, desapareceu.

Shimoda tornou a sentar-se junto ao fogo.

-Como estou contente que você não fale a sério!

Ainda estava tremendo, da adrenalina, pronto para a minha luta contra o monstro.

-Don, não sei bem se fui feito para isso. Talvez seja bom você me contar o que está acontecendo. Como, por exemplo, o que... era aquilo?

-Dot era um vampiro da Transilvânia - disse ele, em tom mais estranho do que o do lobisomem. - Ou, para ser mais preciso, Dot era a forma de pensamento de um vampiro da Transilvânia. Se algum dia você quiser explicar alguma coisa, e achar que a pessoa não está escutando, arranje uma formazinha de pensamento para demonstrar o que quer dizer. Acha que exagerei, com a capa, os dentes e aquele sotaque? Estava muito apavorante para você?

-A capa foi de primeira, Don. Mas foi o mais estereotipado, bárbaro... não fiquei nada apavorado.

Ele suspirou.

-Ah, bem. Pelo menos, você entendeu o que eu queria dizer, e é isso que interessa.
-O que era?
-Richard, ao demonstrar-se tão feroz contra o meu vampiro, você estava fazendo o que queria fazer, mesmo sabendo que iria prejudicar outra pessoa. Ele chegou a lhe dizer que passaria mal se...
-Queria sugar o meu sangue!
-É isso que fazemos com qualquer pessoa quando dizemos que passaremos mal se não viverem do nosso jeito!

Fiquei calado muito tempo, pensando. Sempre achara que somos livres para fazer o que quisermos, desde que não nos façamos mal mutuamente, e isso não condizia com o que acontecera. Faltava alguma coisa.

-O que me intriga - disse ele - é uma frase feita que, na verdade, é impraticável. A questão é fazer mal aos outros. Nós mesmos escolhemos se vamos ser feridos ou não, aconteça o que acontecer. Somos nos que resolvemos, e mais ninguém. O meu vampiro lhe disse que passaria mal se você não aceitasse? Isso foi a decisão dele de ser ferido, foi a sua escolha. O que você faz a respeito é a sua decisão, a sua escolha: dá-lhe o sangue; amarra-o; enfia-lhe um galho de azevinho no coração. Se ele não quiser o galho de azevinho, tem liberdade de resistir, do jeito que desejar. E isso continua indefinidamente, escolhas e mais escolhas.

-Pensando assim...
-Escute - disse ele - é importante. Somos todos livres, para fazer. O que quisermos. Para fazer.





Do livro "Ilusões - As Aventuras de um Messias Indeciso!", por Richard Bach


Richard Bach - 23/06/1936 -  é um escritor de nacionalidade estadunidense. A principal ocupação de Bach foi como piloto reserva da Força Aérea e praticamente todos os seus livros envolvem o voo de certa maneira.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Tempo Demais!






Lembro-me de que quando eu precisava sair todos os dias bem cedo para ir trabalhar fora, meu tempo era todo 'contadinho:'  Tinha hora para tudo. Sabia que se eu não fizesse tudo na hora certa, depois, não haveria tempo para fazer, e as coisas iam acumular-se de tal maneira, que ficaria muito difícil colocá-las em dia novamente.

Naquela época, minha casa era bem mais arrumada. As roupas para passar não acumulavam, as faxinas tinham dias certos, o preparo de aulas era feito todos os dias no mesmo horário.

Hoje, que estou trabalhando em casa e tenho bastante tempo livre, tenho me deparado com um problema que muitos chamam de 'falta de tempo'- e que eu acho que se chama excesso de tempo livre! Não tenho feito as coisas com tanta disciplina... a casa não anda tão imaculadamente limpa como antes, e as roupas para passar acumulam-se na área de serviço, e quando passo por lá, tento não olhar para elas. Porque? exatamente porque sei que terei tempo para fazer meu trabalho... mais tarde.

DEPOIS!

Quando eu trabalhava fora, saía do trabalho às oito da noite e ia para a academia malhar. Ah, como eu reclamava, desejando ter um tempo livre durante o dia para poder fazê-lo... e ainda caminhava, todos os dias, durante uma hora. Hoje, bem... tenho tempo demais, e passo este tempo lendo, escrevendo, balançando na rede, observando os passarinhos... e nada de me exercitar!

Preciso urgentemente criar vergonha na cara e começar a colocar mais disciplina em minha vida. Talvez eu precise começar a agendar minhas tarefas. E cumprir a agenda com disciplina.

Estranha Melodia





Foges,
E na tua fuga
Os monstros que tu temes,
Durante a noite,
Tomam formas mais terríveis,
E tu nem percebes
O quanto eles
Crescem.

Na tua partitura,
Escreves
Estranhas melodias,
Sonatas de medos,
Valsas falsas,
Minuetos de segredos,
Noturnos
Sempre taciturnos.

A tua orquestra
Não presta!
Não animarás a festa,
Não convencerás a platéia...

E as tuas ideias
Presas nas teias dos sentidos
Agonizam em colcheias,
Morrem em bruscos sustenidos,
E bemóis sofridos.

Não há sol na tua clave!

E antes
Que tudo se acabe,
Examina a partitura,
E encara a sinfonia dura
Que tu mesma compuseste,
Não deixes para depois
Esse enfrentamento,
Pois tua pauta
É tua vida,
E tua música,
É teu sustento.


CONVITE





Quero que te sentes comigo,
E que me ajudes
A olhar o dia que passa...
Queixo nas mãos, 
Nós ficaremos à janela,
Inventando memórias
Do que poderia ter sido.

Quero que te sentes comigo,
Enquanto eu procuro
Aquele CD antigo...
Viajaremos no tempo
Na melodia envolvente
E depois, quem sabe,
Tomaremos aquela xícara de chá
Enquanto , lá fora, chove.

Quero que te sentes comigo
E que me olhes nos olhos
Aceitando-me como sou,
Sem muitas perguntas,
Sem ressentimentos,
Apenas unidos
Pelos grampos do tempo...

Assim,
Eu quero que permaneçamos,
Sentados,
lado a lado,
Frente a frente,
No início de tudo
No recomeço
Do que seremos,
E que contemplemos
À nossa frente,
Um novo futuro.

Mas para que isto se dê,
É preciso que tu me aceites,
E que antes de tudo, aceites
O meu convite.

Vem, senta-te comigo!



*

Claro Como o Dia







"Eu vinha desenvolvendo um novo apreço pelos processos da natureza. Quando morávamos na Califórnia, eu costumava passar muito mais tempo ao ar livre - jogando tênis, fazendo uma caminhada vez por outra. Alguns dos campos de golfe  que eu jogava eram quase tão rústicos quanto o mato. Mas durante os últimos vários anos, e com certeza, durante aqueles em que estive no topo, a natureza ficara em segundo plano.

Agora, a minha admiração por ela estava de volta. Fiquei mais sensível à brisa (talvez por manter, boa parte do tempo, os olhos semicerrados ou fechados, para me aquietar e evitar convulsões focais. O apelo visual não era mais o que foi um dia). Almoçando no clube, próximo ao último buraco no campo, eu ouvia as vozes e os sons das tacadas de golfe dos jogadores. Eu adorava o sussurro da brisa nos ramos dos pinheiros. Lembrava a água, o oceano. Eu sentia o aroma do cedro. Os pássaros, em incríveis matizes de azul e vermelho, voavam à nossa volta.  Sentado nesse mesmo lugar um ano antes, eu não teria apreciado tanto - talvez sequer percebesse - todas as coisas excitantes que se achavam tão próximas.

Para os que não entendem como os prazeres menores possam realmente superar os maiores, tenho um conselho: as tacadas brilhantes dão fama, as simples dão grana.

Mas não seria exato dizer que a transformação do meu ponto de vista a partir da doença fosse uma nova admiração pelas pequenas coisas. O que pode ser maior do que a natureza? O que pode ser maior do que a água?

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Trecho da contracapa:





Esta é uma história verdadeira. Quando foi ao consultório médico, no dia 24 de maio de 2005, o executivo Eugene O'Kelly tinha uma agenda cheia de planos e projetos, capazes de mantê-lo ocupado durante décadas. Menos de uma semana depois, teve que reformular radicalmente essa agenda para um período de cem dias: era o tempo que lhe restava de vida. O'Kelly tinha câncer cerebral - e morreu em setembro daquele ano.

"Claro Como o Dia" é o relato sincero e emocionado que O'Kelly decidiu fazer de sua agonia. Mas que não se espere uma narrativa amarga ou ressentida. Diante da morte anunciada, ele não se desesperou. Ao contrário, considerou-se abençoado por poder planejar em detalhes seus últimos meses, aplicando à sua vida a disciplina e a persistência que o levaram a uma bem-sucedida carreira nos negócios.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Pecados






Ah, eu bem que gostaria
De poder 
Ter cometido
A maioria dos pecados
Que me atribuías!

Gostaria de ter tido
Tanta coragem, assim,
Para dizer aquilo,
Tudo aquilo
Que eu deveria ter dito!

Ah, quem sabe até
Eu seria
Bem mais feliz,
Muito mais feliz
Do que jamais fui
Ou serei
Um dia?...

A Lenda da Cotovia



Cantava
A cotovia,
Do alto do galho
De onde não via.
Falava
Da liberdade,
E nem enxergava
As barras
Da gaiola
Que a cercava.

Sorria,
A cotovia,
Do começo
Ao fim do dia,
Pulava
De galho em galho,
Voava baixo,
Mentia.

A pobre
Cotovia
Que não enxergava
Nem sentia,
Cantava
Uma canção
Que lhe ensinaram...
Repetia!

Só por ser ave,
Só por ter asas,
Achava-se livre,
Mas se esquecia
De que o voar
É arte aprendida
Que nem toda ave
Sabia...

Pulava entre os galhos,
Catava os insetos
Que a alimentavam,
Batia as asas...
Achava que assim
(Pobre cotovia!)
É que se voava
Mas não via

O mergulho solto
Dos bem-te-vis,
O canto elevado
Dos sabiás,
O salto no alto
Das andorinhas,
O voo zumbido
Dos colibris,
O mergulho no abismo
Dos gaviões
O pouso sereno
Dos urubus...

Achava-se deusa,
Achava que todos
Fossem cotovias
E que só pulassem
Pelos mesmos galhos
Onde ela vivia...


*



cotovia


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