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domingo, 7 de abril de 2013

Shakespeare




Soneto LXX

Se te censuram, não é teu defeito,
Porque a injúria, os mais belos pretende;
Da graça, o ornamento é vão, suspeito,
Corvo a sujar o céu que mais esplende.


Enquanto fores bom, a injúria prova
Que tens valor, que o tempo te venera,
Pois o verme na flor gozo renova,
E em ti irrompe a mais pura primavera.


Da infância os maus tempos pular soubeste,
Vencendo o assalto ou o assalto distante;
Mas não penses achar vantagem neste


fado, que a inveja alarga, é incessante.
Se a ti nada demanda de suspeita,
És reino a que o coração se sujeita.





Soneto XXXV

Não chores mais o erro cometido;
Na fonte há lodo; a rosa tem espinho.
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto fez seu ninho.


Erram todos; eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar.


Os sentidos traíram-te, e o meu senso
De parte adversa, é mais teu defensor,
Se contra mim te escuso, e me convenço


Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.







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