segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Passarinho
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
ESTRANHA
Não seguia caminhos traçados,
Não pedia, jamais, perdão
Se não havia o que ser perdoado.
Jamais dizia ‘sim’ se isto lhe causasse dor,
Nunca se curvava a falsas
Declarações de amor.
Porém, o pior de todas as coisas,
É que ela ouvia muito bem
Tudo o que ficava mudo,
Tudo o que não era dito com palavras,
Mas que era disfarçado em sorrisos
Fingidos, itinerantes, ou crivados de mágoa.
"Estranha", todos diziam,
E quanto menos ela se importava,
Mais livre e sozinha ela se tornava.
Vivia a sua vida estranha,
Sem querer tornar-se nada
Do que não nascera para ser.
A todos, não agradava,
Pagava o preço pela sua escolha
De querer viver fora da bolha
Que a todos escravizava.
sábado, 16 de novembro de 2024
AMARGURA
E você descobre
Que está coberta,
Que se afogou
Na maré cheia,
E você entende
Que já é passada
A hora certa,
E que tem vivido
Espremida
Entre as horas alheias.
E você percebe
Que sua existência
Pede permissão.
E você se arrasta,
E você se gasta
Por compreensão.
E você se olha,
Não se reconhece,
Não sabe se sobe,
Não sabe se desce.
E você se esquece
De como chegou
Aonde chegou,
Não sabe aonde vai,
Se deve ficar,
Pois nem se dá conta
Do que lhe restou.
E você assunta,
Você se pergunta
Se valeu a pena,
- Protagonizou
O seu espetáculo,
Ou tem sido apenas
O receptáculo,
O palco cedido
A um outro show?
E você se sente
Sempre deslocado,
Os olhos vidrados,
Os lábios colados,
Coração pesado,
O ar rarefeito
O peito abafado.
E você se isola,
Pois a solidão
É a única cola,
Uma proteção
Um alívio, um jeito
De cuidar daquilo
Que ainda restou.
E você se vê
Em paz, finalmente,
A vida entre os dentes,
Os anos no fim
A vida no fim,
Lembranças em fileiras
Sobre as prateleiras
Empoeiradas
Catalogadas , etiquetadas:
“Aqui jaz o escopo
De uma vida inteira.”
terça-feira, 17 de setembro de 2024
Não Procuro Nada
Nada
procuro,
Eu não procuro nada,
Mas há
sempre alguma coisa
Que me
acha,
Que se
esborracha, de repente,
Contra a minha vidraça,
E suja o vidro,
Macula a paisagem
E trava a
minha alma.
Não procuro,
Não procuro
nada,
E rezo a
Deus, sempre,
Que nada me
encontre,
Que nada me
ache,
Que nada me
afronte.
Mas eu acho
Que sirvo
de fonte
Às línguas
cansadas,
E sou
corrimão
Onde as mãos
indolentes
Se apoiam
Tentando
subir
Minhas
escadas.
Eu não
procuro,
Não me
interessa,
Só quero o
direito
De permanecer
quieta,
Dormir
abraçada
A esse
dragão tão antigo
Que me
aquece
E aos
poucos, me mata.
sábado, 14 de setembro de 2024
QUE DEUS ME LIVRE DA ETERNIDADE!
A vida é boa,
Mágica, trágica, linda,
E mesmo quando ela destoa
Dos planos, por danos e erros que cometemos,
Ela pode ser bonita, ainda.
Mas eu não quero voltar; não!
Uma só vida me basta,
Não quero me elevar à Divina casta,
Não quero virar estrelinha,
Nem refazer a viagem
Ao chegar ao fim da linha!
Se Deus puder me atender,
Que Ele me livre do peso
Dessa verdade que muitos espalham,
Que Ele tenha piedade e que possa perdoar
A minha quem sabe, pouca
Acuidade.
Que Ele me livre do eterno despertar da vaidade,
De ser novamente um aro nessa roda
Desafortunada
Cujo eixo não tem chão nem parada.
Só peço a Deus um pouco da Sua compaixão.
Não quero sequer o meu nome
Gravado em uma pedra de mármore,
Quero morrer quando for morrer,
Não faço nenhuma questão
De alguma ávida saudade.
A vida que tenho será a minha única dádiva
A mim mesma, ao que eu fui, sou
E que não desejo
voltar a ser.
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
POESIA
A poesia
Brinca de se esconder
Entre as frases de um poema.
Raramente, um poema
Quer dizer exatamente
O que está escrito.
Se eu escrevo “amor”,
Quero dizer “rito.”
Se eu escrevo “chuva,”
Quero dizer “sofrer.”
Se eu escrevo “Montanha,”
Nem sei o que quero dizer.
Um poema é escrito
Para quem o escreveu.
Mas pode ser que um leitor
O ressignifique,
Encontrando alguma vida
Ao ler sobre o que morreu.
terça-feira, 3 de setembro de 2024
DIZER A VERDADE, SER VERDADEIRO
Quem diz a verdade a si mesmo é incapaz de mentir a quem quer que seja.
Vejo muitas pessoas que procuram desculpas para justificar as decisões que elas próprias tomam, sempre apontando outras pessoas como responsáveis pelos seus feitos e escolhas. Tais pessoas não estão seguras sobre suas próprias decisões, e atribuem aos outros o papel de as terem 'forçado' a seguir este ou aquele caminho, pois se nada der certo, poderão atribuir ao outro a culpa pelas suas más escolhas.
Pessoas assim não refletem e nada aprendem, pois jamais admitem terem errado. Dizem-se sempre vítimas das circunstâncias.
Há pouco tempo, alguém me disse: "Tomei tal decisão porque será melhor para mim e para você, já que você não está mais satisfeita com o meu trabalho." Dei a ela a única resposta que eu poderia ter dado: "Essa é a sua escolha, e a sua decisão. Eu nunca disse tal coisa. Vá em paz e obrigada." Eu quis deixar bem claro a ela que eu nada tive a ver com a escolha que ela mesma fez.
Por que as pessoas não dizem a verdade a si mesmas?
Quando alguém se afasta de mim de forma tão súbita e sai batendo o pé, eu não pergunto jamais o motivo, nem tento impedi-las; considero um livramento. Afinal, eu rezo todos os dias e peço a Deus que afaste de mim as pessoas falsas, mentirosas e invejosas. Não posso lamentar quando Deus me ouve.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
TURISMO
Visitem, amigos,
As cavernas escuras da alma.
Admirem as estalactites
Que cortam a pele
Do coração.
Mergulhem nas águas turbulentas
Da desilusão,
Descobrindo, lá no fundo,
Onde estão os celacantos
E os tubarões.
Visitem, amigos,
As estradas solitárias
Da dor e do abandono,
Cruzem-nas na noite da alma,
Suplantando o medo.
Mergulhem, amigos,
Nas águas turvas dos segredos,
Cuidem para que não se afoguem
No próprio degredo!
Incluídos no pacote
Estão hotéis assombrados
Onde vivem as crianças abandonadas
E seus sonhos renegados.
quinta-feira, 18 de julho de 2024
PALHA
Vasculho o entulho
Desse meu silêncio
Em busca de algo
Que eu tenha a dizer,
Uma inspiração,
Palavra parida
Do ventre da vida.
O vento fustiga,
Espalha os sentidos
Por sobre a calçada mal varrida,
Letras se confundem,
Se espalham, se afastam
Das frases não ditas.
Acho que me perco,
Penso que encontro
Um assento no olho
De um furacão.
Sou palha queimada,
Sou folha voando,
Eu sou o restolho
Após a colheita
Da desilusão.
PACIÊNCIA
Uma brisa, e eu viro a página,
Bato com força as minhas asas,
Ganho outros céus, bem longe de casa,
Sobre as ondas que se movem em um mar sem brios,
E não levo nada.
Um olhar de viés, atravessado,
E minha alma deixa tudo de lado,
A procura de paz, do que foi roubado,
E nem sequer digo nada.
Uma pedra lançada contra a minha porta,
E eu nunca mais a abro,
Deixando no alpendre o que for amargo
Até que vá embora,
Até que eu não me lembre de nada.
Um trovão além do permitido,
Uma voz que se eleve em um grito,
E eu tampo meus ouvidos,
Desço as escadas até os porões da minha alma,
E não escuto mais nada.
LUA MINGUANTE
Seja o que for, vai embora
Se a lua se faz minguante.
A alguns, deixa mais fortes
E a outros, claudicantes.
É como a água que busca
No solo, consolação
Após uma tempestade
Se infiltrando pelo chão.
A terra fica mais fértil
E a colheita, mais farta
Mas algumas pobres almas
Se afogam na função.
Seja o que for, sempre volta
Àquele que o criou
Sem precisar de escolta
Na força de quem mandou.
BEM NO MEIO
Havia um anjo
De pés descalços
Que caminhava bem no meio
De um coração quebrado.
Dentro da noite,
Da mais negra noite,
Ele erguia nas mãos
Um pequeno archote.
Mas só ouvia seus passos
Quem calasse a própria dor,
Só encontrava
A luz dos seus braços
Quem não temia o amor.
E bem no meio
Do sol que queimava
Ao meio-dia
Havia o alívio
Da brisa das suas asas.
E todo dia, o anjo passa,
Como todo dia ele passava.
Mas só enxerga
Quem tem a fé de caminhar
De olhos fechados,
Quem acredita que amanhece,
Quem não se esquece
Que um dia, tudo passa,
E que toda escuridão
Se transforma em graça.
quarta-feira, 3 de abril de 2024
EU SÓ TENHO UMA FLOR
Eu Só Tenho
Uma Flor
Neste exato
momento,
Eu só tenho
uma flor.
Nada existe
no mundo que seja meu.
Nada é
urgente.
Não há
razões para que eu me preocupe.
O vento
passa pelos meus ouvidos,
Tão rapidamente,
que quando percebo,
Ele já se
foi.
Mas fica-me
esta flor,
A única
coisa que eu tenho
E que me
pertence, embora não seja minha,
Essa flor
entre tantas outras,
A flor para
qual eu estou olhando.
Se eu
desviar meu olhar,
Ela se
perde.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2024
VERDADES
Alguns falam de doçura,
Desconhecem
O regurgitar das abelhas,
O mel que se transforma dentro delas,
Dentro das casas de cera.
Falam do luxo do escargot
Sem que se lembrem
De que, antes de serem servidos,
Não passavam de lesmas.
Sendo assim, não julguemos
Os processos que passamos,
Aceitemos
O vômito divino que somos
E o tempo que vivemos
Nos arrastando
Deixando rastros pegajosos
No rosto das folhas.
terça-feira, 7 de novembro de 2023
SEM VOCÊ
Há uma palma que não segura,
Está vazia de tudo,
Cheia de finos fiapos de nada
Que esvoaçam entre os dedos.
Há um copo sem lábios,
As margens intactas,
O líquido, segredo intocado,
No fundo daquela taça.
Há um caminho sem passos,
Vazio de quem o seguia.
Há uma fileira de pedras
Que leva a uma casa
Sem alegria.
Há um não haver constante
Que se estende pela noite
E encontra a luz do dia.
Raios de sol o dissolvem,
Mas a paz é temporária,
Simples alegoria.
E eu sigo, tropeçando
Entre sonhos imprecisos,
Versos bruxuleantes
E palavras vazias.
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
NUNCA MAIS
E veio a inundação,
Invadiu a casa onde eu morava
E me trancava,
Levando consigo tudo o que se escondia
Em meus porões.
O medo venceu a surpresa,
E de repente,
Eu não tinha mais nada
– Sequer a mim mesma.
E quando se foram as águas,
Passei vários dias raspando a espessa
Camada de lama.
Dormi ao relento, sob as estrelas,
Pois não me restou sequer uma cama.
E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,
E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,
Levando-a na correnteza das suas águas.
O brilho das estrelas enfeitou minha dor,
E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.
Na casa, então vazia de tudo,
Eu entrei descalça,
Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.
Os passarinhos cantaram nas calhas
Enquanto as folhas dançaram
No piso da sala.
.
.
.
Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,
Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"
Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"
Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"
Nunca mais é bem depois que se acabaram
A esperança e a fé.
Nunca mais não é "Talvez um dia,"
E de nada adianta rezar mil Padre Nossos
Ou Ave-Marias,
Porque nunca mais é acabou, fim,
Até que se perceba
Que nunca mais é um rio de amor jorrando
Sem um mar que o receba.
Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,
Que vai doer por muito, muito tempo,
Até que se aceite, de fato,
Que nunca mais é cadeado,
Nunca mais é para sempre,
É fato consumado.
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