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terça-feira, 22 de outubro de 2024

O TUCANO

O Tucano


O TUCANO

 

Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me enroscar no sofá após o café da manhã e assistir a um filme. 

 

Mas de repente, o silêncio da manhã entrecortado pelo canto manso dos passarinhos é quebrado ao meio: ouço sabiás gritando no gramado. Vou lá fora a fim de entender o motivo daquela gritaria, e deparo com a seguinte cena: Sobre o gramado, os pais tentam salvar seu bebê, que está sendo atacado por um tucano.

 

Os tucanos não eram aves que apareciam por aqui há alguns anos, e não sei qual o motivo para estarem se tornando cada vez mais abundantes. Chegam a bicar minhas vidraças, e há alguns dias, pude filmá-los em um momento, digamos... íntimo. Uma cena rara para ser apreciada por um humano como eu. Eles não são medrosos. Às vezes, eu os pego me observando pela janela do quarto. Enquanto eu regava o jardim em um dia quente, um deles pousou no ipê amarelo, me olhando. Imediatamente entendi o que ele queria, e suavizando o jato da mangueira, passei a jogar-lhe água - e ele sacudia as penas, abria as asas e crocitava feliz. Foi uma cena mágica, e durou alguns minutos, até que satisfeito, ele alçou voo.

 

Mas voltando à cena do jardim, eu me vi em um impasse: deveria interferir na natureza? Tive que pensar rápido, e saí de casa para salvar o pequeno pássaro. O tucano não voou, permanecendo aos meus pés, me olhando com aquele olhinho redondo, a cabeça virada para me enxergar melhor. Ainda deu alguns passos na minha direção, e pensei que fosse me atacar, mas acho que ele avaliou suas chances e chegou à conclusão de que não tinha muitas chances contra mim. Daí ele pousou no muro e nós começamos um diálogo, onde ele disse:

 

-Aí, moça, pode soltar o meu café da manhã, por favor? As crianças estão me esperando em casa. Tenho bocas, digo, bicos a sustentar.

 

Entre as minhas mãos, encostado ao meu coração, a presença macia e quente do sabiá me pedia o contrário. Respondi:

 

-Sinto muito, colega, mas não vai dar. Você não se envergonha de raptar bebês de ninhos alheios?

 

Ele não se fez de coitado, e retrucou:

 

-Madame, os bem-te-vis também fazem isso, as corujas, os jacus, os macaquinhos e esquilos que você acha tão engraçadinhos também. Vai passando esse passarinho aí, por favor. As crianças estão esperando.

 

-Sem chance. Sinto muito, amigo, mas não vai rolar. Sem ressentimentos, mas você vai ter que caçar em outro lugar, não aqui no meu jardim. Olha, eu gosto de você, te entendo muito, mas prefiro acreditar que você só come ervas e frutas, então vamos fingir que isso não aconteceu. Ok? Olha, vou te dar outra coisa para levar para seus filhotes!

 

Dizendo aquilo, corri na cozinha - sempre com o bebê aconchegado na palma da mão - e peguei uma banana, descasquei-a e joguei-a no gramado para ele, que me olhou novamente com aquele olho redondo e comprido ao mesmo tempo. Descendo do muro, ele pegou o pedaço de banana no gramado e soltou-o em seguida, indignado. Me olhou mais uma vez e então voou para longe sem se despedir.

E eu fiquei lá, em pé na chuva, sem saber o que fazer com aquele passarinho.

 

Minha cabeça oscilava entre o sabor do heroísmo e o do arrependimento; afinal, eu tinha interferido na natureza e prejudicado o tucano. Peguei uma caixa de sapatos, que eu forrei com papel alumínio por causa da chuva, e coloquei o bichinho dentro dela, prendendo a caixa no comedouro que mantenho em uma árvore. A  mãe não o abandonou, passando a cuidar dele na caixinha. Ele já era grandinho e com penas, embora ainda estivesse aprendendo a voar.


A Luisa

 

Deixei os cães presos do lado de trás da casa por dois dias. Hoje de manhã antes de começar minhas aulas eu os soltei, achando que o passarinho já tinha ido embora, já que ontem a caixa estava vazia. Havia apenas alguns caroços de frutas e pedrinhas lá dentro. Acho que foram um "presente" da mãe em agradecimento. Porém, ao soltar meus cachorros, a Luiza (minha cachorrinha) encontrou o pássaro e começou a correr atrás dele, que gritava desesperadamente. Gritei, igualmente desesperada, e acabei salvando a vida dele pela segunda vez. A mãe a tudo assistia, apavorada, piando no galho da árvore. O pestinha ainda não voa.

 

Agora ele está lá no jardim, correndo atrás da mãe para comer suas minhocas, e meus pobres cachorrinhos vão ter que ficar sem acesso ao jardim até que ele aprenda a voar. 

 

O tucano não apareceu por aqui depois daquilo. Mas ele é meu amigo, e sempre acaba voltando e trazendo a família. Espero que ele tenha aceito minha sugestão de fingir que é vegetariano quando estiver por aqui.

 

 

Ana Bailune





 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Da Nuvem


Lembranças e imagens que a nuvem do Google Drive me mandou hoje. Entre essas pessoas, muitas já se foram.

Na primeira foto, estamos na Ilha de Paquetá. Eu tinha, talvez, oito anos - hoje tenho 57. Sou a que está de suéter quadriculado, tomando sorvete, encostada em meu cunhado, que naqueles tempos namorava minha irmã. Casaram-se e têm 3 filhos. Ao lado dele, minha irmã, e ao meu lado, minhas duas outras irmãs mais velhas e meu pai. Atrás de mim, a nossa mãe.

As demais pessoas eram vizinhos ou amigos. Não me lembro de todos.






Minha mãe, sentada com a mão na cabeça; eu, meu cunhado, minha sobrinha Rosane (falecida), minha irmã mais velha e minha outra irmã, perto da cadelinha Susie.


Batizado do meu sobrinho Daniel (hoje com mais de 30 anos de idade). As mesmas pessoas de sempre, a não ser pela Natália, minha sobrinha, irmã do Daniel - a que está no colo da minha irmã. Minha irmã Silvia e meu cunhado foram os padrinhos, e minha mãe, embora ela fosse apenas um pouco mais velha do que eu sou hoje, aparenta mais idade do que eu tenho.



O mesmo batizado. Vemos agora o meu outro cunhado, de barba, o Tiaguinho, meu sobrinho (hoje todas essas crianças têm mais de 30 anos de idade) E de pé à direita, a minha falecida sobrinha - a mesma que aparece bem pequenininha na segunda foto.



Aniversário. Nem me mais lembro quem são algumas dessas crianças.



As fotos nos ajudam a lembrar sobre a passagem do tempo, o quanto essa vida é breve, o quanto todos nós estamos fadados a desaparecer. Na foto abaixo, eu, nos dias atuais, durante o trabalho.

Antes da pandemia...




...depois da pandemia. Décadas em dois anos.


Ficam os bons momentos também, as coisas que valem a pena ser lembradas.

Porém, é incrível a gente perceber o quanto os relacionamentos mudam, as pessoas se afastam, crescem, vão embora, morrem... e isso se chama vida.
Na foto abaixo, meu falecido sobrinho e sua namorada. Ele já estava bastante doente aqui.




A história da nossa família começou aqui.
São meus pais.




E só Deus sabe quando ela terminará.








 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

AINDA FALTAM ALGUNS DETALHES



Ainda faltam alguns detalhes para terminar meu cantinho do banquinho e deixá-lo mais aconchegante, mas está ficando bacana. Coloquei dois vasos com lavandas para dar cheirinho e espantar as formigas, repintei minhas decorações de jardim antigas e pretendo ainda decorar mais em volta - as coisinhas que eu comprei só chegam daqui a alguns dias. 

Mas já pude "inaugurar" no domingo de manhã.


A foto aí em cima é da "vista" do banquinho. Sempre muito bem acompanhada pelos meus dois cãezinhos.



Simplesmente amo decorar jardim com pedras de rio. Essa é parte do meu caminho que leva ao banco. O jardineiro meu ajudou a colocar a ideia (Pinterest) em prática.

Eis porque ando tão ausente das redes...


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segunda-feira, 11 de julho de 2022

DEBAIXO DE UMA ÁRVORE

 

 

À direita, o cedro, onde vai ficar o meu banquinho.


Sempre sonhei em ter um banquinho debaixo do cedro do meu jardim. Acabamos colocando, há alguns anos, um banquinho na entrada da casa, e outro feito de pedra nos fundos, e mais tarde, outro em uma curva do jardim, mas nunca um sob a árvore. Por que? Não sei, já que sempre foi minha ideia original ter um banquinho debaixo daquela árvore. Mas desta vez, cismei: escolhi o banquinho (que ia chegar no sábado, mas a entrega foi adiada para a terça-feira - amanhã - o que muito me frustrou; pedi ao jardineiro que construísse um caminho que leva ao local do banco com as pedras do rio, que pegamos na rua após uma tempestade muito forte que as fez transbordar para fora das margens, há vários anos. Ficou bem bonito o caminhozinho. 




Agora, aguardo o banquinho chegar. Pretendo passar muito tempo debaixo dele, lendo e escrevendo. E quando eu me cansar, descansarei as vistas na copa da árvore, entre ramos e passarinhos.

Esse banquinho me fez pensar nas coisas fáceis, nos tantos sonhos perfeitamente acessíveis que ficamos adiando sem saber sequer o motivo. Meu Deus, o quanto poderíamos ser felizes, se ao menos tivéssemos o trabalho de realizar pequenos sonhos! Será por preguiça que não o fazemos? Será por medo de provocar a crítica, o julgamento (ou a inveja) alheia? Ou será simplesmente por estupidez?




Eu vou sim, ter o meu banquinho debaixo da árvore, e vou enfeitar aquele cantinho com uma porção de coisas que eu gosto: luzes de fada, pequenas estatuetas, vasos de plantas. E sentada lá, eu vou ver os raios de sol entre as folhas do cedro, escutar o canto dos sabiás, ler centenas de livros e continuar, quem sabe, planejando outros cantinhos possíveis.

Dentro e fora.






 

quinta-feira, 30 de junho de 2022

BUCÓLICA



BUCÓLICA

A paz branca sobre o muro caiado,
Por onde caminha, em silêncio, um gato.
Canta o vento,
Levanta as saias das cortinas.

Rangem as dobradiças
Das portas antigas
Que resguardam a privacidade
Dos meus pensamentos.

As pétalas das flores temem
Um mal me quer iminente
Que ronda por fora dos muros
Dentro do mundo.

Meu coração é fluente
E ao mesmo tempo, calado.

À noite, 
Eu ajeito os travesseiros, 
Me viro de lado
E finjo adormecer tranquila.

Pés desnudos no gramado,
Piso as sombras das borboletas
E coleto folhas secas.

O sol quarado pelos ramos
Ilumina, de repente,
Um pensamento
Que eu tento não ter.

Vem a brisa, sopra-o para longe,
Por cima do muro caiado
Sobre qual caminha o gato
A espera de um pássaro distraído.

E o pensamento cai, desolado,
Sobre a calçada rachada
Marcada de passos
Demasiadamente apressados.









 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

TUA CASA

 



Edifica a tua casa

Com portas feitas de vento,

Pisos de pensamentos

E janelas feitas de asas.


Corredores oblongos

Pela lua iluminados,

E paredes transparentes

Que conduzem a amplas salas

Com telhas feitas de estrelas

Ou de luz do sol quarada. 


Edifica a tua casa

E a abençoa em silêncio

Pelo fogo e pela água.


Convida a coabitá-la

Salamandras e ondinas,

Zéfiros, fadas, duendes,

Pessoas que ainda são,

Pessoas que já se foram

E as que ainda nascerão.


Canta, do alto da escada,

Canções que sejam divinas,

Borda toalhas e fronhas

Com os sonhos do presente,

Com as linhas das memórias

E as miçangas do futuro.


Edifica a tua casa,

Mas constrói, com zelo, um muro,

Que não seja muito alto

Mas que sirva de limite

Entre o terreno e a estrada.


Planta flores delicadas

Que atraiam passarinhos,

Deixa que a chuva, nas calhas,

Misture as canções das nuvens

Com as canções dos telhados,

Escorrendo nas vidraças

Quando a vida for levada.


Edifica a tua casa

Sabendo que ela não é tua,

Amanhã será ruínas,

E tu, não serás mais nada,

Mas ressignificada

Será a vida, por causa

Dessa casa edificada

Pelas mãos que foram tuas.







terça-feira, 24 de maio de 2022

O Céu Me Trouxe




Eram tardes como a de hoje, de céu vermelho. Eu me sentava à mesa da cozinha a fim de fazer meus deveres de casa, ou então para ajudar minha mãe a escolher o feijão (gostava de separar os feijões coloridos para brincar mais tarde). Enquanto isso, ela ficava entre a pia e o fogão, cozinhando o jantar, lavando a louça, cortando os legumes. E naquelas tardes surgiam as histórias.

Eram sobre os tempos em que ela tinha sido criança, e que por ter perdido a mãe muito cedo, precisou ficar sendo cuidada por várias pessoas diferentes enquanto meu avô ia trabalhar – e nem sempre, tais pessoas a tinham tratado bem. Finalmente, devido aos maus tratos, ele conseguiu vaga para ela em uma escola interna, onde ela passou a viver dos quatro até os dezoito anos de idade. E minha mãe me falava de muitas coisas: das freiras do colégio interno, algumas muito boas, outras muito más, das colegas de classe, do enorme dormitório com as caminhas arrumadas lado a lado, do banho coletivo gelado de manhã bem cedo em uma época em que Petrópolis era uma das cidades mais frias do sudeste, dos insetos encontrados às vezes na comida, e que as meninas eram instruídas pelas freiras a tirar do prato e continuar comendo. Havia o porão, onde viviam dezenas de gatos; havia a horta onde as meninas trabalhavam; havia a palmatória para punir as meninas mais travessas e desobedientes.

Às vezes, minha mãe pegava a caixa de fotografias e me mostrava velhas fotos amareladas de família, da “Italianada”, como a gente costumava se referir aos parentes que tinham vindo da Itália. Ela me apontava as pessoas na foto e dizia seus nomes, e um pouco sobre quem eles eram. Pena que não consigo mais me lembrar de todos aqueles nomes, embora os rostos tenham se tornado tão familiares.

Ela me contava histórias sobre como ela e meu pai tinham se conhecido – ele, um rapaz pobre, o mais velho de treze irmãos, que precisou começar a trabalhar muito cedo para ajudar a família, passava em frente da casa da prima com quem ela morava quando deixou a escola. Meu pai usava tamancos de madeira, e ela corria para a janela quando escutava o ruído dos tamancos nos paralelepípedos. 

Mais tarde, quando se casaram, meu avô cedeu para eles uma casa que pertencera aos seus pais, meus bisavós, em um bairro onde nada existia ainda. As outras casas do bairro foram sendo construídas ao longo dos anos, e hoje é um dos bairros mais populosos de Petrópolis. 

A casa de minha mãe, onde todos nós nascemos e crescemos, ainda existe. Uma de minhas irmãs vive lá. Ainda existem as marcas feitas à faca no portal, marcando o quanto eu estava crescendo; as enormes janelas de venezianas ainda são as mesmas. O forro de madeira do teto, apesar de bem velho, ainda está por lá. E ainda circulam por lá os fantasmas dos meus bisavós, avós, pais e de outras pessoas da família que viveram naquela casa e que lá morreram.

Hoje esse céu vermelho e o mês de maio - quando minha mãe aniversariava - me fizeram lembrar daquela casa.




quinta-feira, 5 de maio de 2022

FAXINA MODERNA

 



Finalmente decidi testar os serviços oferecidos por uma firma de limpeza de residências, que conseguiu meu contato não sei como e insistia em enviar-me e-mails e mensagens.

Antes, é claro, fiz uma busca pela internet e cheguei até o site e o Instagram da tal firma a fim de checar sua idoneidade. Tudo certo. Através do site, entrei no ‘chat’ a fim de saber como agendar e ter informações adicionais. A conversa foi mais ou menos assim:

- Bom dia, senhora Ana. Como podemos ajudá-la?

-Bom dia. Eu queria mais informações sobre que tipo de serviços vocês prestam e também sobre valores.

-Então... oferecemos limpeza residencial, e o valor vai depender do que a senhora gostaria que fosse feito. Mas a limpeza básica fica em torno de duzentos e cinquenta reais.

Achei o preço altíssimo, mas como ando precisando de ajuda, decidi contratar a firma.

-Bem... queria alguém que pudesse fazer as coisas que eu não tenho tempo de fazer, como limpar janelas e organizar armários e gavetas.

- Não podemos limpar janelas. A senhora terá que contratar um serviço especializado para fazer isso.

- E quanto aos armários e gavetas?

- Então... não estamos autorizados a abrir armários e gavetas.

-Não? Mas eu tenho uma cama queen size com gavetas e queria alguém para removê-las e limpar sob a cama. As gavetas são pesadas, e...

-Sinto muito. Não poderemos “estar removendo” as gavetas da cama. Como eu já expliquei, não abrimos armários e gavetas.

-Não limpam armários e gavetas e nem janelas?

-Não, senhora.

-Então... quero alguém que retire os tapetes e arraste os móveis para limpar atrás deles.

- Não arrastamos móveis pesados, senhora Ana. E a limpeza dos tapetes é feita com os mesmos no lugar, usando o aspirador de pó.

-Bem, e quanto ao material de limpeza?

-O mesmo é fornecido pelo cliente.

-Ok, deixe eu ver se entendi: vocês me pedem duzentos e cinquenta reais para não limparem minhas janelas, não arrumarem gavetas e armários, não removerem móveis pesados para limpar atrás, não removerem os tapetes para limpar em baixo e eu ainda tenho que fornecer o material de limpeza?

- Bem... hã... nós varremos, removemos o pó e aspiramos os tapetes; limpamos os banheiros com pano de limpeza...

-Não lavam os banheiros?

-Hã... não. Limpamos apenas. O serviço de lavagem dos banheiros seria cobrado à parte. 

- Ok, obrigada, mas para limpar por cima eu mesma faço. Não preciso pagar duzentos e cinquenta reais.

Eis o serviço de faxina moderno.

Dizem que nos Estados Unidos e Europa é assim. Eles nunca lavam banheiros ou limpam janelas. Cozinhas e banheiros sequer possuem ralos para escoamento de água. Nada de passar pano no piso ou tirar as coisas do lugar. 

Será que eu estou exigente demais? Será que não acompanhei a evolução e por isso não percebi que os padrões de limpeza mudaram?






quinta-feira, 15 de julho de 2021

Árvores - Melhores Amigas

 


Imagens do meu jardim. Este é um dos motivos pelos quais eu amo o inverno. Além do clima ameno e confortável, a minha paisagem se tinge de cores e de poesia.














quinta-feira, 20 de agosto de 2020

PARA QUEM AMA FALAR SOBRE CASAS


 Olá, pessoal!


Hoje eu venho compartilhar o link de meu novo vídeo no meu canal O 'X' DA QUESTÃO." É sobre um livro que adquiri há algum tempo e até fiz uma postagem no blogger sobre ele: Casa Natural, de Carlos Solano.

Para quem gosta de sentar-se na rede calmamente, com um livro lindo nas mãos - lindo no conteúdo e na estética -  e tirar uma tarde de muita calma, paz de espírito e aprendizado. Eis o link:


https://youtu.be/7_jxDZVlC6k





sábado, 9 de maio de 2020

A CASA DA QUARENTENA



A casa da quarentena é a mesma para cada um de nós. Só que agora as pessoas têm tempo de realmente reparar nelas. 

Eu sempre fico muito tempo em casa, pois além de morar, também trabalho aqui. Costumo sair apenas nos finais de semana ou em alguns outros dias, quando necessário. Aprendi a conhecer a minha casa e a me sentir à vontade dentro dela. Cerquei-me de tudo o que eu amo: livros, discos, lembranças de viagens - objetos que, se não têm qualquer valor comercial, significam muito para mim.

Mas fico pensando nas pessoas que estão literalmente surtando dentro de suas casas. Não conseguem se sentir à vontade dentre as quatro paredes que construíram para si mesmas e suas famílias. Pessoas que estavam acostumadas a deixar para lá muitas coisas: problemas de relacionamento, reformas necessárias, uma decoração fria e impessoal. De repente, elas se vêem obrigadas a permanecer nesses espaços e lidar com tudo o que as rodeia. 



Eu creio que a angústia delas tem menos a ver com o confinamento do que com o tempo em que passaram confinadas de si mesmas. 

As pessoas precisam construir paisagens.

Não falo de vistas deslumbrantes, jardins elaborados ou casas ricamente decoradas. Eu falo daquelas paisagens que a gente não consegue obter de nenhum decorador, mas que estão dentro da gente, e que poderiam nos dar alguma coisa mais bonita aqui fora.



É preciso que estejamos cercados de coisas e pessoas que realmente amamos. Nunca o amor esteve tão em evidência! 

Esse desamor repentino pela casa não começou agora: ele apenas tem sido negado há muito tempo. O desconforto, o sentir-se preso, é a resposta do desespero que foi, quem sabe por anos, socado lá para dentro, para os lugares que não ousamos acessar dentro da gente.



E eu vejo as pessoas sonhando com o final da quarentena, falando em mudanças. Só não consigo ver essas mudanças realmente acontecendo, porque todo mundo sabe que elas só ocorrem quando vêm de dentro para fora. Quando a gente decide varrer a calçada da  casa da alma. 

Eu realmente espero que tudo mude. Porém, a única coisa que conseguimos provar para nós mesmos, é que o planeta realmente não necessita de nós, e que vive muito melhor sem a nossa presença.




Vemos notícias de animais selvagens caminhando livremente pelas ruas, mares sendo recuperados,  rios poluídos tornando-se cristalinos, a camada de ozônio recuperando-se de enormes buracos. O mundo não precisa de nós: nós é que precisamos dele e deveríamos nos conscientizar disso! 

Mas as nossas casas precisam de nós. Sem nós, elas não vivem, e sem elas, nós não viveremos felizes. 






PS: Eu costumava ter um blog chamado A Casa & a Alma. Fechei-o, juntamente com outros blogs, por falta de tempo para postar e trabalhar interações. Hoje eu me arrependo, pois ele era um espaço que eu adorava, mas ele continua aqui, sob as etiquetas A CASA e A ALMA. Todas as postagens daquele blog continuam aqui, no Expressão. 

Mudei o nome de meu blog HISTÓRIAS por Ana BAilune para CAMINHOS DA IMAGINAÇÃO. Achei mais bacana. Lá publico meus contos, muitos deles em capítulos. Estão todos lá. 

Também escrevo um blog sobre Tarô, o O CAMINHO DO APRENDIZ, e um outro blog sobre dicas de inglês , o YOUR TICKET TO ENGLISH. Todos eles podem ser acessados através de links no Google ou então através dos links abaixo:


CAMINHOS DA IMAGINAÇÃO



O CAMINHO DO APRENDIZ



YOUR TICKET TO ENGLISH

















terça-feira, 21 de janeiro de 2020

CASAS ABANDONADAS








CASAS ABANDONADAS

Existem no YouTube vários canais que mostram casas abandonadas no Brasil e no mundo. Antes de assisti-los eu não fazia ideia da quantidade imensa de casas que estão nessa situação aqui no Brasil, principalmente no sul. Eu me pergunto o porquê de tal coisa acontecer. 

A grande maioria dessas casas foram abandonadas como se, de repente, a família inteira tivesse desaparecido e deixado tudo para trás: móveis, roupas, utensílios, os pratos na pia, sapatos, livros, retratos. Ainda há quadros nas paredes e colchas sobre as camas. As fotos espalhadas pelo chão e os armários e gavetas escancarados cujos objetos que ali eram guardados estão por todos os lados, mostrando que as casas foram invadidas, tiveram sua privacidade devastada por furacões de curiosos procurando por coisas de valor para roubar. 

Muitas vezes, ninguém sabe quem foram os donos daquelas casas. Ontem assisti a filmagem do interior de uma mansão ainda em construção, enorme, com pilares e escadarias de mármore e mais de dez quartos. De repente, a pessoa que a construía achou que seria melhor abandoná-la, e assim o fez. 
Quem serão essas pessoas que deixam para trás toda a sua história de vida? Estarão mortas? E se morreram, por que os seus herdeiros não tomaram posse de sua herança? 




Olhando aquelas casas sofridas e mal-amadas, penso sobre a transitoriedade de todas as coisas: famílias, relacionamentos, momentos felizes e tristes. A vida em si. Construímos coisas que não poderemos levar conosco. Sonhamos e trabalhamos para construir uma vida o mais confortável e  segura possível, mas... qual é o nosso medo? Por que temos essa necessidade tão grande de acumular coisas, como se elas nos trouxessem segurança em um mundo onde qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento a qualquer um de nós?

Somos criaturas estranhas. Sei de pessoas que não viajam porque têm medo de deixar suas casas e serem roubadas. E sei de pessoas que lutam durante anos para comprar uma casa da qual não cuidam e a qual não amam. 

Eu fico sempre um pouco melancólica quando vejo uma casa abandonada, pois ali estão histórias de vidas que foram abandonadas. 

Quando eu penso na minha própria casa, eu penso nela com amor e gratidão – lutamos para conquistá-la e deixá-la do jeitinho que ela está hoje, e ela vive sofrendo pequenas mutações junto conosco enquanto escrevemos nas paredes e pisos as nossas histórias de vida. Sei que um dia iremos deixá-la. Quero aproveitá-la o máximo que eu puder, e quando despedir-me dela, será com a mesma gratidão e a certeza de momentos bem vividos. Não deixarei louças sujas na pia, nem minhas coisas espalhadas pelo chão. Tomarei cuidado para que todos os papéis e documentos referentes a ela sejam adequadamente encaminhados a quem de direito. Deixarei minha casa vazia e limpa para que outras pessoas possam construir suas vidas dentro dela. Não abandonarei aquela que me acolheu, me guardou e me abrigou.

Isso não é apego. É amor, respeito e gratidão.




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