Nos revoltamos contra a morte, pois achamos que ela tem sentimentos, como nós. A morte é apenas uma senhora que cumpre o seu dever... não faz diferença entre ricos, pobres, jovens, velhos, saudáveis ou doentes: leva a quem tem que levar, porque esta é a sua missão. Não a entendemos, pois achamos sempre que ela deve levar os velhos e doentes, e de repente, ela leva os jovens e saudáveis.
Para provar, talvez, que todos aqui temos as mesmas chances e corremos os mesmos perigos, e que ninguém é invulnerável. Você aí, na segurança de sua casa cheia de alarmes, ou talvez você, que se preocupa com o futuro e tem um investimento para a aposentadoria, ou talvez ou outro aí no cantinho, que só sai de casa durante o dia, com medo da violência. Quem sabe, aqueles que pagam planos de saúde caríssimos, como se isso os tornassem imunes à morte. Mas a Dona Morte está sempre rondando, e nos observa o tempo todo...
Mas ela recebe ordens; não age sozinha. Portanto, é injusto culpá-la por tudo. Todos temos que morrer um dia. Quando? Não nos cabe decidir. Quem vai primeiro? Qual o critério da escolha? Deve haver algum, com certeza... quem sabe, um dia tenhamos esta resposta? Recuso-me a acreditar no acaso.
Assim como existem planos de saúde (que na verdade, são planos de doença) , seminários para ensinar as pessoas a viverem melhor, e seguros de vida, seguros contra incêndios e desabamentos, ou seja, tudo que nos faça viver aqui por mais tempo, acho que deveria haver também, seguros de morte; explico: quem tiver um seguro de morte, terá apoio psicológico e espiritual para morrer, ou aceitar a morte dos entes queridos,quando chegar a hora. Deveria haver cursos que nos preparassem para a morte, assim como nos preparam para a vida. Porque a morte está aí, para todos nós, e ela faz parte da vida, quer queiramos, quer não. Socá-la no fundo do baú não vai fazer com que ela deixe de existir.
Curtir a vida é importante; sermos felizes, fazermos as coisas que gostamos, viajar... tudo isso é ótimo! Mas acho que todos seríamos bem mais felizes se estivéssemos preparados para a morte. Ela deixaria de ser um tabu, e deixaria de nos amedrontar tanto.
A morte tem seus critérios, que não são sempre os mesmos que os nossos, e por isso, não a entendemos. Acho que o erro não está na morte e no morrer, mas no viver negando coisas que fazem parte da vida. Todos nós nos portamos como crianças birrentas diante da morte: não queremos ir, e nem aceitamos que os outros vão. Mas a morte e a vida são duas mães que não admitem pirraças, e fazem aquilo que elas acham melhor para o crescimento e amadurecimento de seus filhos. E ficamos perguntando: "Mas mãe, por que?!" E elas nos olham, com aquele olhar de quem sabe tudo - até mesmo que não temos ainda idade para compreender a resposta, se elas tentassem nos explicar - e então elas suSpiram fundo e dizem: "Ora... porque sim!"
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