Sentou-se à mesa do sofisticado café e pediu um chá gelado. Foi logo avisando que não demorassem a servi-la, pois estava assoberbada. Enxugava o suor daquela tarde quente com um leve lencinho de seda cor-de-rosa, e olhava o reloginho de pulso, pequeno e cheio de rococós dourados em volta do mostrador a cada minuto, arfando levemente, demonstrando sua impaciência por ter que esperar.
Quando a outra apareceu à porta do café, fez-lhe um sinal discreto, para que ela a identificasse. Mal a outra sentou-se, começou: "Você está cinco minutos atrasada novamente! Não sabe que eu estou muito assoberbada hoje? Aliás, sou sempre muito ocupada! Daqui a meia hora tenho que estar no salão de beleza, pois tenho um importante evento esta noite..."
"Desculpe, o trânsito estava um caos..."
Enxugando novamente a testa com leves batidinhas, chamou o garçom:
"Está um calor terrível aqui dentro! Por que não ligam o ar condicionado?
O rapaz, com toda gentileza e paciência, de quem não quer perder a compostura, responde, um tanto constrangido:
"Ele já está ligado, madame!"
"Madame? Em que século você vive? Chame-me de senhora, está ouvindo? E tenha mais respeito! Se eu digo que o ar condicionado não está ligado, é porque ele não está! E se estiver, provavelmente está quebrado! Vá verificar imediatamente, ou eu chamarei o gerente desta espelunca!"
O rapaz sai de fininho, murmurando um 'sim, senhora' , a face queimando.
A moça recém chegada, que a tudo observa, comenta:
"Nossa, Georgia! Não precisava ser tão rude..."
"Rude? Rude?! Você sabe quanto estou pagando por este copo de chá gelado? Tenho meus direitos!"
Toma um gole do chá, fazendo uma careta: "Doce demais.. garçom! Traga-me outro chá, desta vez, sem açúcar, imediatamente! Que incompetência! Quem consegue beber este copo de melado?"."
A outra nada diz.
"Bem, agora que você finalmente chegou, podemos discutir os preparativos para a festa de casamento."
"Mamãe, eu já disse, não quero festa nenhuma..."
Murmurando rispidamente, a outra responde:
"Shhh! Já disse para não me chamar de mamãe! Que coisa mais provinciana! Meu nome é Georgia! E já disse que a festa de casamento não é para você, por sua causa, querida; sabe que tenho muitos amigos na sociedade e não posso dar-lhes motivos para falarem mal de mim. A festa é para mim!"
Irritada, a moça dá um profundo suspiro.
"Pois tudo bem, "Mã-mãe"! Que seja! Pode dar a sua festa, convidar mil pessoas, o presidente, o cônsul, o príncipe de Gales e quem mais a senhora desejar! Eu não vou estar lá!"
Dizendo isso, ela levanta-se da cadeira e sai apressadamente. Georgia, a mãe, nem acredita no que acaba de acontecer. Ainda mais furiosa, chama novamente o garçom:
"Veja a conta, porque eu não fico nem mais um minuto dentro deste caldeirão!"
Ele traz a conta. Ela olha o papelzinho, dando alguns gemidos de indignação. Vasculha a bolsa em busca da carteira de notas, mas não a encontra. Deixara todo o seu dinheiro e cartões de crédito na mesinha de cabeceira, antes de sair! Procura pelo telefone celular, mas descobre que o tinha deixado em casa também.
Já bem menos imponente, vira-se para o garçon, dizendo:
"Acho que deixei meu dinheiro em casa... passo outra hora para pagar a conta."
"Infelizmente, madame, não posso deixá-la sair sem pagar os dois chás e os doces."
"Como assim? Quem você pensa que é?"
"Eu sou o gerente desta espelunca, madame. Nem tente sair por aquela porta, ou o segurança a impedirá. E, caso a senhora insista, eu chamo a polícia!"
Georgia levanta-se da cadeira, muito indignada:
"Ora, seu petulante, você sabe com quem está falando?"
"Sei, sim: com uma madame metida à besta que não tem dinheiro para pagar a conta. Mas há muitos pratos sujos na cozinha. A madame pode lavá-los, e a conta estará paga."
"Eu quero usar seu telefone. Exijo usar seu telefone!"
A aquela altura, todos os outros frequentadores do café observavam o acontecido, querendo saber o desfecho daquela história.
"Infelizmente, madame, o telefone está sem-serviço desde esta manhã, e a companhia telefônica não apareceu para fazer os reparos."
"Então, eu... eu exijo que você me empreste seu telefone celular!"
"Meu telefone é para meu uso, entende? É particular. Infelizmente, não vou emprestá-lo à madame! Como eu já disse, os pratos sujos estão esperando na cozinha. Ou a senhora deseja mais escândalos, quando eu chamar a polícia e eles a levarem para a delegacia por não ter pago a conta?"
Vermelha de raiva, a madame arregaçou as mangas de seu vestido de seda e encaminhou-se para a cozinha, sem dizer uma palavra.
Moral da história: Jamais cuspa no prato onde comeu!
bacana! rs
ResponderExcluir"Quem diz o quer ouve o que não quer", acho que ela bem mereceu a lição.Parabéns, beijos.
ResponderExcluirBoa lição para ela, pensa que está por cima da carne seca, mas qual...
ResponderExcluirEi, Ana, te pedi pra dizer como eu comprava o livro e você não disse. estou à espera. Abrçs.
Ótimo conto com uma acertadíssima mensagem Ana. Bjs
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