"Vai a sorte, senhora? Tarôt, mão, presente, passado e futuro..."
Este era o seu pregão, a todos que passavam por ela - uma ciganinha de porte miúdo, já de meia-idade, sentada sozinha num banquinho no calçadão da Praia de Iracema. Tinha os olhos contornados com lápis preto, meio-borrados, e os lábios pintados por um batom vermelho sem-brilho. Cabelos pretos e longos,um tanto ensebados e já ficando grisalhos. As roupas , uma fantasia de cigana, estavam rotas e sujas.
Ela fica ali o tempo todo (passamos por ela duas noites seguidas). Tem o olhar um tanto perdido, e não sei como ela pretende convencer alguém de que é capaz de ler o futuro. Uma pessoa tão sem expectativas... fiquei pensando na possível vida que aquela moça leva: muito pobre, talvez more muito mal ou nem tenha onde morar. Quem sabe, tem filhos pequenos? Ou talvez seja totalmente sozinha.
Pode ser que ela sonhe com uma cigana de verdade, que um dia, há de chegar perto dela, sentando-se ao seu lado, tomando-lhe as mãos e lendo, para ela, um lindo futuro!...
Um texto que não deixa de sensibilizar quem o lê. Com um fecho muito bonito, profundo. Parabéns!
ResponderExcluirUsando a descrição e a narração com parcimônia de palavras e sensatez de sentimentos, você essencializou, e não fantasiou. Criador interpretando a criatura. A gente lê, relê, tenta passar a outros textos seus, mas impõe-se comentar, dizer algo. Parabéns.
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