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terça-feira, 12 de junho de 2012

FIGURA E FUNDO








Na faculdade, em um trabalho de psicologia, tive que juntar-me a um grupo. Nunca entenderei essa mania de obrigar as pessoas a fazer trabalhos em grupo. Nunca dá certo! Bem... mas isso é assunto para outra crônica.

Fiquei responsável pela parte mais difícil, claro. A que ninguém queria fazer: Gestalt. As outras alunas eram bem mais jovens que eu, e me olhavam meio-de lado; devem ter pensado: "Vamos dar trabalho a essa coroa aí..." mas confesso que foi divertido, pesquisar as figuras para colocar nas transparências, que ficaram tão boas, que a professora pediu-as de presente. 

Mas... o que é Gestalt? 

Tentarei explicar usando um trecho o livro "Manual Prático de Gestalt", de Àngeles Martín: 

"Imaginemos uma pessoa que se encontra lendo um livro, e de repente, sente qualquer tipo de necessidade biológica (sede, fome ou frio). À medida que esta necessidade vai se configurando e tomando forma no campo das sensações da pessoa, o que a princípio era atenção e concentração no que estava lendo- constituindo-se como forma, como foi o caso do livro - passa a converter-se em fundo, e a necessidade que vai se tornando mais imperiosa passa a converter-se em forma. Se a pessoa satisfaz sua necessidade, seja bebendo no caso de sentir sede, ou agasalhando-se, no caso de sentir frio, seu interesse se volta ao livro, que passa novamente a ser forma, e tudo mais constituirá o fundo. Isto é, o que era forma, passa a ser fundo, e vice-versa." 

Ou seja: nós temos tendência a nos concentrarmos naquilo que mais nos afeta em determinado momento, e assim, ignoramos um monte de coisas à nossa volta. Cada um de nós temos diferentes momentos de percepções sobre aquilo que nos rodeia. 

Continuando: 

"...Algumas pessoas vêem como formas (ou figuras) superfícies que a maioria vê como fundo. Podemos observar os exemplos mais claros disto nos espaços em branco" (o livro mostra a famosa ilustração da taça de rubi, que aparece em branco, e dos rostos que se encaram, em preto, na mesma figura; alguns observadores, enxergam logo os rostos em preto, enquanto outros, enxergam a taça branca, formada no espaço entre os perfis dos rostos). 

"Para a maioria das pessoas, os espaços em branco são percebidos como fundo, enquanto que para uns poucos (10% aproximadamente) estas superfícies são vistas como formas. Este tipo de percepção está estreitamente relacionado com determinados tipos de personalidades (agressivas, obsessivas e algumas paranoides). Este fato, e especialmente testes projetivos, serve-nos de exemplo para ver como a personalidade influi na forma de perceber a realidade." 

Assim, um terapeuta Gestaltista tenta trabalhar com seu paciente o que ele está evitando enxergar e o que é que ele espera - o que pretende - através de seu comportamento evitativo-fóbico (termo usado pelo escritor). 

Acredito que todos nós vivemos momentos durante os quais distorcemos a realidade, passando a enxergá-la como achamos que ela seja, ou como desejamos que ela seja. Podemos trabalhar para mudar esta percepção, pois quando todo mundo nos diz que estamos errados, é porque deve mesmo haver alguma coisa errada. Se não houver, precisamos pelo menos, ter certeza disto, parando para pensar um pouquinho e analisar a realidade que nos cerca/ou se estamos tentando 'cercar' a realidade. Caso a segunda opção seja verdadeira, temos que nos perguntar o porquê. 

E mudar. Precisamos eliminar e formar novas Gestalts ao longo da vida. Permanecer atolados em conceitos ultrapassados é como interromper a marcha do autoconhecimento e da percepção daquilo que nos rodeia. Mudar e aprender chama-se EVOLUIR. Sem evolução, pouco a pouco a vida passa a não mais fazer sentido, pois a pessoa vive a arrastar atrás de si assuntos que tiram-lhe a energia e a vontade de viver. Tornam-se, aos olhos dos outros, repetitivas e cansativas. Não crescem. Não mudam. 

Não amadurecem.




Um comentário:

  1. é... mas há que se analisar que junto das falas vem a quase invisível convencionalidade geral...que traz várias formas totalmente errôneas, aí no caso a maioria está errada e e a maioria das determinaçoes que veem dessa convenção, partiram de interesses obscuros das várias vertentes exploratórias do homem... bjuuu

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