Ela
sentia uma tristeza que brotava direto da alma, e que enraizava cada
vez mais profundamente. Porque quando a tristeza vem, começando a brotar
feito tiriricas no gramado, se a gente não fizer alguma coisa para
extirpá-la bem rápido, ela – a tristeza – lastra por todo o ser,
espalhando mais e mais sementes, que depois crescem como ervas daninhas,
difíceis de se extirpar.
Ela olhava a trepadeira de flores azuis, que
um dia escolhera plantar junto da cerca. Maldita hora em que aceitou a
sugestão do jardineiro! A trepadeira crescera rapidamente, e embora
desse muitas flores azuis, estas caíam sobre a calçada, causando manchas
indeléveis no piso, e as folhas secas sujavam tudo em volta. E a
trepadeira começou a criar gavinhas e mais gavinhas, indo parar do lado
do vizinho, que reclamou (ela estava começando a subir em suas
roseiras). Então, foi preciso que ela mandasse arrancar a trepadeira de
flores azuis.
O
jardineiro levou um dia inteiro fazendo o serviço, tão engalfinhada que
a planta se encontrava nas grades da cerca. Ainda teve que lidar com
ninhos de enormes formigas carnívoras, que picavam sem dó nem piedade.
Pobre jardineiro.
Semanas
depois, ela chegou junto ao muro e viu que a planta de flores azuis
estava brotando novamente. Arrancou-a com a mão, mas ela voltava a
brotar sempre. Um dia, precisou ausentar-se de casa por algum tempo, e
quando voltou, lá estava a planta novamente, começando a subir pelo
muro. Apesar de todos os esforços, a planta sempre voltava a brotar.
Assim
era a sua tristeza: quando ela chegou, acabou instalando-se de vez, e
embora ela a arrancasse periodicamente, tinha que ficar sempre de olho,
senão, ela voltava a crescer por sobre sua alma, tapando toda a luz.
Nunca mais estaria livre.
As vezes penso que a tristeza é genética, lembro quando pequena, apesar de ter sido uma moleca, tinha dias que do nada, sentia uma melancolia, e eu queria ficar deitada na minha cama, quietinha, ouvindo música...na época tínhamos uma vitrola, e um disco do Roberto Carlos, eu chorava de soluçar. Minha mãe ia pro quarto e morria de rir porque eu chorava ouvindo música. Mas na maioria do tempo estou sorrindo, brincando, e talvez por ter essa alma melancólica, adoro dias frios e de chuva. Essa tristeza é danada, gruda mesmo.
ResponderExcluirAna: Parabéns pelo texto e muitas flores pra você pelo dia das mães. Abraços.
ResponderExcluirA tristeza instalada é como gripe mal curada.Nada como uma manhã carregada de esperanças para renascer.
ResponderExcluirUm especial abraço Ana pelo dia das mães.
Bom fim de semana.
Amei este encontro Ana, sabe o quanto te gosto e respeito. Belo poema, triste, mas a coragem e insistência da florinha em renascer e renascer... Comprova que vale a pena viver e recomeçar sempre, aja o que houver. Tudo passa, alegrias e tristezas, nada é para sempre, por isso, vale a pena o esforço e a coragem de viver! Belíssimo, você tem a arte da escrita em prosa e verso. Amei. Feliz dia das Mães. Beijo da nuvem.
ResponderExcluirBelíssimo, Ana! Como belo é tudo que escreve! Parabéns pelo encantador texto que traduz tanto sentimento!
ResponderExcluirUm grande abraço e feliz Dia das Mães para você e todas as mães de sua vida. Ana Ferreira.
Oi Ana, que trepadeira teimosa hein? e assim tb são alguns hábitos e vícios nossos, principalmente nossos pensamentos que chamamos de "ego", voltam e voltam rsss
ResponderExcluirMas eu como sou mais teimosa ainda vou escafunchando até não sobrar um único vestígio de raiz, demora, mas como o tempo essas ervas daninhas vão enfraquecendo e tendem a sumir de vez.
Tenho tido muitas experiências nesse sentido, ainda tem algumas trepadeirinhas irritantes que ando arrancando, já outras sumiram de vez, e assim vamos indo.
Beijos e uma feliz semana pra ti!
É minha querida, uma acertada analogia fizeste.
ResponderExcluirA tristeza é tão qual erva teimosa, que vez ou outra insiste em nos dominar.
Há de ter cuidado sempre, não nos abandonando de jeito algum.
Boa semana amiga, beijos
Valéria