O ator foi afastado de seu palco, e de seu público. Levado a um pequeno teatro no interior do país, em uma cidadezinha que nem estava no mapa, toda noite ele representava para um pequeno grupo de pessoas. Não havia fotógrafos, não havia notas nos jornais, e nem fãs enfileirados à porta do camarim ao final do espetáculo. Nem mesmo havia flores!
No começo, ele sentiu muitas saudades do seu público, que o aplaudia de pé ao final de cada representação, ovacionando-o durante muito tempo e jogando-lhe flores aos pés. Ele sentiu saudades da profusão de flashes que pipocavam na platéia, dos seguranças que o ajudavam a deixar o teatro e até mesmo das críticas - favoráveis ou não - nas manhãs seguinte às das estréias.
O ator, acostumado que estava à fama, custou a habituar-se àquela pequena platéia que o assistia, em silêncio, todas as noites. Seu ego, deixado na penumbra, revoltou-se. O ator passou a beber mais que de costume, e tornou-se uma pessoa amarga.
Até que um dia, teve, em seu camarim, a visita de uma jovem. Recebeu-a com alegria, achando que, finalmente, voltara a ser devidamente apreciado. Achou que, provávelmente, a moça queria seu autógrafo, ou uma fotografia sua. Talvez até desejasse passar uma noite com ele... e ela não era nada feia! Assim, convidou-a para entrar.
A moça olhou em volta, agradecendo, e sentou-se.
"Bem," - perguntou o ator - "Como posso ajudá-la? Deseja um autógrafo? Uma foto?"
Ela pareceu surpresa: "Não... por que eu desejaria o nome de alguém escrito em um pedaço de papel? E por que uma foto sua, se mal o conheço?"
O ator pareceu ofendido, e respondeu bruscamente:
"Ora, então, diga logo o que quer e saia, pois sou muito ocupado."
Ela respondeu: "Vim aqui dizer que sua atuação esta noite foi uma das piores que já vi! Você vem a este palco todas as noites, e parece pensar que nós não merecemos o seu melhor. Será porque somos uma platéia pequena?"
"Como assim, como você se atreve a vir aqui ofender-me? Não sabe que sou o maior ator do país? Vocês deveriam tratar-me melhor, deveriam agradecer-me por estar aqui, passando esta temporada!"
"Um ator que faz distinção entre suas platéias não merece reconhecimento. Pensa que não percebemos o pouco caso na sua atuação?"
O ator ficou perplexo. Caiu em si. Era verdade! Ele vinha dando de si bem menos do que geralmente dava ao seu público em grandes cidades, apenas porque aquelas pessoas estavam em menor número e moravam em uma cidade pequena. Ele desculpou-se com a moça, e agradecendo-lhe, prometeu que faria melhor dali em diante.
Na noite seguinte, ele representou com todo o fervor de que foi capaz. Arrancou aplausos da pequena platéia, que ao final do espetáculo, apladiu-o de pé.
Compreendeu que não importa onde estejamos, devemos fazer o nosso melhor sempre. Não pelos aplausos - que são apenas uma consequência de um trabalho bem feito - mas em respeito ao trabalho em si. Aquilo que fazemos deve ser feito pelo ato, pela realização que nos proporciona, e não por causa das opiniões alheias a respeito do que fazemos. O prazer desfrutado durante a execução de um trabalho é o que mais importa. Pois quem não ama seu trabalho e não o executa com gratidão, alegria e dedicação, esteja aonde estiver, não merece reconhecimento.
Parabéns pelo texto. Como sempre, um excelente texto para nossa maturidade. Certamente, tem muita gente como esse ator da história, sem dar o melhor que pode. Aquilo que se faz é como uma semente: Nem sempre veremos o resultado em curto prazo (nem devemos atuar em troca de bons resultados, mas pela necessidade de atuação). Abraços.
ResponderExcluirÉ verdade! Excelente reflexão! Estejamos onde estivermos temos que dar o nosso melhor, até mesmo em respeito a nós mesmos! Parabéns pela reflexão, Ana! Beijos!
ResponderExcluirHumm. A letra vermelha em contraste com o fundo fere minha vista, não pude lêr.
ResponderExcluirAcima de tudo: respeito por quem se aproxima de nós. bjuuu de bom dia
ResponderExcluiraplausos mil !!! a melhor atuação é o coração que faz ! bj !!! olguinha costa
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