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sexta-feira, 20 de abril de 2012

DESILUSÃO

















Originalmente publicado no Recanto das Letras, em 2010

Olguinha, você gostou tanto deste texto, que eu o dou de presente a você!
Ah, como é boa uma desilusão...

Não, eu não pirei de vez. A desilusão é o contrário da ilusão. Quando nos desiludimos, deixamos de acreditar e de esperar em alguma coisa que só existe em nossa imaginação, que não é real, e cujo prazo de validade será muito curto, de qualquer maneira. 

A desilusão abre caminho para o que é verdadeiro. Ela nos traz autoconhecimento, sabedoria, humildade. Ela retira a máscara daquilo (e daqueles) cuja presença em nossa vida não tem o real sentido que julgamos ter. Desiludir-se é como recriar-se.

Então por que choramos? Talvez por hábito. Cultivamos aquela desilusão, trabalhamos nela emocionalmente para que ela se parecesse com algo real. Investimos tempo, esperanças, paciência, amor, muitas vezes até dinheiro, e agora, precisamos acreditar que é tudo de verdade. É mais fácil do que admitir que erramos. A princípo, dói menos, mas a longo prazo, cultivar ilusões tem sempre a possibilidade de provocar auto-destruição de proporções devastadoras. Porque uma mentira não dura para sempre, por mais que a calcemos com nossa covardia.

No fundo, bem no fundo, todos sabemos quando existe alguma coisa errada. A gente sente aquele friozinho na espinha, e até uma palavrinha qualquer faz soar um sininho dentro da gente, cujo tilintar tentamos encobrir com o nosso medo. Sabemos quando alguém não está sendo sincero, mas a nossa necessidade em acreditar no que está sendo dito, e o nosso medo de mudar, faz com que ignoremos os sinais. Sabemos quando aquela atitude grosseira de um namorado revela o caráter de um homem violento, mas mesmo assim, nos casamos com ele. Sabemos quando começamos a não sentir mais satisfação em um emprego, em um relacionamento, mas dizemos a nós mesmos: "É apenas uma crise passageira." Crise esta que pode arrastar-se por anos a fio, nos destruindo aos poucos e acabando com nossa saúde física e espiritual.

Sabemos quando aquele 'pequeno favorzinho' que alguém nos pediu não passa de abuso, mas mesmo assim, nós o fazemos, mesmo nos sacrificando, a fim de agradar aquela pessoa que consideramos essencial em nossa vida, apenas porque nos negamos a perceber que podemos muito bem viver sem ela. Negamos o fato de que não existe reciprocidade na relação, que tornou-se um eterno "Eu-peço-você-faz", sem retribuição. E isso se dá não apenas em relacionamentos românticos, mas sobretudo em relacionamentos de amizade.

Negamos, até o extremo do possível, que estamos nos iludindo. Sim, nós iludindo a nós mesmos, pois ninguém consegue nos iludir sem a nossa permissão. Mas aí de repente a cortina cai, e é impossível negar a verdade. Este deveria ser um momento de júbilo na vida de alguém, mas nosso medo é tão maior que a nossa autoestima, que acabamos encarando tudo com muita dor.

Eu mesma já me iludi e caí em desilusão várias vezes. Já sofri, já tive medo, já neguei. Hoje, tornei-me mais seletiva quanto aquilo em que acredito. Percebo sinais. Ouço minha intuição. Respeito meus limites e sei estabelecer limites. Mas quem me ensinou foi a desilusão. Conviver com essa boa amiga, que sempre nos diz sempre a verdade a respeito do que somos e de quem nos cerca, pode ser uma aventura e tanto, mas é bem melhor do que andar pelos caminhos floridos da mentira. Pois as flores são todas de plástico.

4 comentários:

  1. Maravilha de texto ... vim para uma visitinha ... depois venho para o café ... abçs

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  2. Ilusões são sonhos, que acabam no amanhecer...Mas os poetas dormem novamente! Belo texto. Parabens!

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  3. a desilusão acontece para os ingênuos, crédulos... na maioria das vezes a ilusão é consciente, aí, nao se chora a desilusão e sim a perda do controle... linda semana...

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  4. aplausos eternos a esse texto.... maravilhoso!!

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