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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Morte na Manhã



Morte na ManhãAcordei cedo no domingo, e fui até a sala dar o meu 'bom dia' à Latifa, que olhava para dentro através da porta de vidro da varanda. Por trás dela, encolhida junto à pilastra de madeira, vislumbrei uma pequena sombra escura e imóvel. Apertei os olhos para enxergar melhor - minha visão anda meio-ruim ultimamente - e percebi que o bolinho escuro respirava fracamente.


Dei a volta pela porta da cozinha, e fui ver de perto: um filhote de pombo.


Não sei o que o deixou naquele estado semi-morto, pois a Latifa o ignorava solenemente, e não havia penas arrancadas no chão ou marcas de ferimento que denunciassem um ataque de Rottweiler. Ele estava fisicamente íntegro. Cutuquei-o com a ponta dos dedos do pé, e ele abriu os olhos, assustado. Fui até a área de serviço e peguei um pano felpudo, com o qual eu o enrolei (estava frio) e coloquei-o do lado de fora, à porta da cozinha, fechando o portãozinho de acesso para que a Latifa não o perturbasse. Lavei o copinho de iogurte que eu tomara no café da manhã e enchi de água, e coloquei perto dele junto com um pedacinho de pão.


Pensei no quanto os pombos me irritam, sujando tudo, invadindo a casa e ficando desesperados ao não encontrar a saída, voando, derrubando coisas e sujando chão e paredes, soltando penas e sabe-se lá o que mais. Pensei na vasilha de ração da Latifa, que, se esquecida do lado de fora após ela comer, fica cheia de sujeira de pombo, os grãos espalhados por todos os lugares. Pensei na área de serviço salpicada de sujeira pela manhã, que eu às vezes tenho de lavar e desinfetar. Mas aquela criatura frágil e indefesa não me despertou nenhuma raiva: apenas piedade.


Bem, fiz o que pude por ele. Pelo menos, coloquei-o em um lugar seguro, aquecido e protegido do vento. Voltei para o quarto e continuei assistindo meu filme.

Horas depois - já tinha até me esquecido do pombo - eu desci novamente, e lembrando-me dele, fui ver como estava. Tinha morrido.

Eu não conhecia aquele pombo; nem era um animal de estimação. Assim como ele veio ao mundo, foi-se dele. Ninguém choraria por ele, ou sentiria a sua falta. Mas a manhã foi cortada ao meio, pelo evento mais temido pela maioria dos seres humanos, que se deu bem na porta de minha casa: a morte. E fiquei pensando se a morte de um simples pombo, para a vida, é muito diferente da morte de qualquer um de nós.





6 comentários:

  1. O NOME DELE DURVAL, NÃO DO POMBO QUE SE FOI EM BOA HORA, MAS DE UM CONHECIDO EX-VIZINHO QUE PERDEU A VISÃO DO OLHO ESQUERDO AO SER "BANHADO" POR VEZES DE POMBOS QUANDO ABRIU ALÇAPÃO DE ACESSO A LAGE DE SUA CASA. O NOME DELA MARINA, NÃO DA MINHA FILHA, MAS DA MÃE DE UM AMIGO QUE OS PULMÕES SERIAMENTE COMPROMETIDOS POR "COISAS" DAS FEZES DE POMBOS. INFELIZMENTE NÃO FUI EU QUEM MATOU O POMBO QUE A LATIFA DEVERIA TER MATADO. NÃO SE FAZ CACHORRO COMO ANTIGAMENTE.SERÁ QUE A LATIFA ESQUECEU QUE É CACHORRO?

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  2. Eu até pouco tempo (uns 10 anos acho),
    não sabia os males do pombo...
    Tive muitos de estimação e...Comi na infância, alguns.
    Mamãe preparava-os e ficavam deliciosos!
    Gostava de ouví-los arrulhando na cumieira da casa ao amanhecer!
    Ficava com dó quando eram assados por minha mãe, mas comia!
    Vida estranha a minha na infância...

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  3. Criaturas indefesas nos parecem todos os pequenos seres, no entanto eles morrem e lhe dirigimos um suspiro...Depois voltamos a nos preocupar com os novos, com centenas de outros suspiros...às vezes parecemos mortos mesmo enquanto vivos. Um abraço!

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  4. É amiga, quantas situações no fazem pensar...
    Quando aprendi sobre o amor incondicional me vieram muitas lições, e uma delas é que independente de estarmos em contato com algumas pessoas ou não, cada vida é importante para a criação, tem o mesmo peso, a mesma importância.
    Nós frequentemente nos preocupamos mais com aqueles que nos são caros, porquê convivemos com eles,mas todos os seres vivos têm a mesma importância, amamos nossos animais de estimação, mas um cachorro não é mais importante que um pombo ou uma barata, apesar de matá-las sem dó rsss
    Beijos e ótima semana!

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  5. Ana, mesmo que você não tenha podido salvar o pombinho, ao menos lhe deu algum conforto. Situações como esta mexem com a gente.

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  6. Há que se refletir Ana.
    Penso que há semelhança e no outro dia tudo é passado.
    Para uns saudade,outras apenas uma lembrança.
    Então no intervalo vamos cultivando o bem sempre.
    Meu abraço.

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