witch lady

Free background from VintageMadeForYou

quarta-feira, 20 de março de 2013

Reflexões Sobre Uma Mesa




Um belo trecho do livro Sob o Sol da Toscana, de Frances Mayes

(...)
Estive refletindo sobre a minha mesa, seus ideais tanto quanto suas dimensões. Se eu fosse criança, ia querer levantar a toalha e engatinhar por baixo da mesa sem fim, no túnel de luz amarelada onde eu pudesse me agachar e prestar atenção à risadaria, aos tinidos e à conversa dos adultos; ouvir repetidamente "Salutte" e "Cin-cin" passeando pelas cadeiras, examinar joelhos, sapatos de caminhar e saias floridas levantadas para pegar a brisa; a mesa firme sob o peso da comida. Uma mesa dessas deveria aceitar as perambulações de um cachorro de grande porte. Na cabeceira, é preciso espaço para um vaso enorme com todas as flores da estação. A largura deveria ser suficiente para que as travessas passeiem de mão em mão pelo centro, parando onde quiser,m, e para que se acumulem ao longo de horas inúmeras garrafas de vinho e jarras de água. É preciso espaço para uma tigela de água gelada na qual  serão mergulhadas as uvas e as peras, um pequeno recipiente com tampa para proteger das moscas o gorgonzola (dolce em oposição ao tipo picante, que é para cozinhar) e o caciotta, um queijo mole da região. Ninguém se importa se os caroços de azeitona são atirados ao longe. O melhor vestuário para uma mesa dessas vai dos linhos claros aos quadriculados azuis e aos axadrezados de verde e rosa, nada de branco puro, que é muito ofuscante. Se a mesa for suficientemente longa, tudo poderá ser servido de uma vez só, e ninguém terá de correr o tempo todo até a cozinha. Nesse caso, a mesa é posta para o prazer básico: refeições prolongadas, à sombra de árvores ao meio-dia. O ar livre confere conforto, descontração e liberdade. Você passa a ser hóspede e si mesmo, que é como o verão deveria ser.
(...)


À sombra das tílias, ficamos protegidos do sol a pino. As cigarras zunem nas árvores, elas são o som essencial, o âmago do verão. Os tomates são tão fortes que nos calamos ao prová-los. (...)




Chamamos os carpinteiros tímidos e calados, Marco e Rudolfo. Eles parecem divertir-se com qualquer trabalho que façam aqui. A ideia de uma mesa pintada com tamanho para dez pessoas parece deixá-los desnorteados. estão acostumados a tingir a medeira de castanho. Nós temos certeza? Eu os vejo trocar um olhar de relance. Mas a pintura terá de ser refeita de dois em dois anos. Nada prático. Nós já fizemos um esboço do que queremos e temos uma amostra da tinta também: amarelo primário.




Eles voltam quatro dias depois com a mesa, emassada e pintada: um prazo de entrega milagroso em qualquer parte do mundo, mas em especial para artesãos ocupados como esses dois. Riem e dizem que a mesa vai brilhar no escuro. Sem dúvida, ela parece vibrar de tanta cor. Os dois a carregam para o local com a vista mais ampla para o vale. Na sombra espessa, o amarelo refulge, atraindo-nos a sair da casa com jarros, tigelas fumegantes, cestos de frutas e queijos frescos envoltos em folhas de parreira.


7 comentários:

  1. Que maravilha, tanto o texto quanto as imagens de lá, que adooooooooro! beijos,chica

    ResponderExcluir
  2. Olá Ana ...
    A frente da moradia está excelente a foto da paisagem é lindo , digo a isto ( viver no paraíso ) .

    Abraço

    Ernesto

    ResponderExcluir
  3. Olá Ana
    Você tem um incrível capacidade de síntese. Amei.
    Bjux

    ResponderExcluir
  4. Que lindo! Tanta leveza no ar, tanta esperança. Bjs

    ResponderExcluir
  5. Bom dia Ana! Fascinante o teu texto. Amo a leveza da tua explanção. A felicidade se traduz na beleza das coisas simples
    Olhe a sua volta. Admire o espetáculo do alvorecer
    Veja os detalhes ao seu redor... Tudo lindoooo
    Sorria... o retorno vem com longos abraços de amizade
    Tenha uma excelente dia!
    Beijos carregados de felicidade
    Gracita!

    ResponderExcluir
  6. Olá Ana, maravilhoso texto e lindas imagens. Teu blog é lindo, repleto de delicadeza e beleza, cada detalhe feito com carinho, e obrigada pela gentileza de indicar meu blog a outros poetas, bjos e boa noite.

    ResponderExcluir
  7. Paisagens de tirar o fôlego: simplesmente lindíssimas. Em criança também sempre gostava de ficar embaixo da mesa. Parece-me que acontece com quase todas as crianças. Ana, com relação à democracia, aprendi uma do Tocqueville. Diz ele que a democracia tem um monte de defeitos (mas não existe regime melhor). Um dos defeitos é a pressão da maioria, que nem sempre tem razão. Abraços do Gilberto

    ResponderExcluir

Obrigada pela sua presença! Por favor, gostaria de ver seu comentário.

Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...