Um belo trecho do livro Sob o Sol da Toscana, de Frances Mayes
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Estive refletindo sobre a minha mesa, seus ideais tanto quanto suas dimensões. Se eu fosse criança, ia querer levantar a toalha e engatinhar por baixo da mesa sem fim, no túnel de luz amarelada onde eu pudesse me agachar e prestar atenção à risadaria, aos tinidos e à conversa dos adultos; ouvir repetidamente "Salutte" e "Cin-cin" passeando pelas cadeiras, examinar joelhos, sapatos de caminhar e saias floridas levantadas para pegar a brisa; a mesa firme sob o peso da comida. Uma mesa dessas deveria aceitar as perambulações de um cachorro de grande porte. Na cabeceira, é preciso espaço para um vaso enorme com todas as flores da estação. A largura deveria ser suficiente para que as travessas passeiem de mão em mão pelo centro, parando onde quiser,m, e para que se acumulem ao longo de horas inúmeras garrafas de vinho e jarras de água. É preciso espaço para uma tigela de água gelada na qual serão mergulhadas as uvas e as peras, um pequeno recipiente com tampa para proteger das moscas o gorgonzola (dolce em oposição ao tipo picante, que é para cozinhar) e o caciotta, um queijo mole da região. Ninguém se importa se os caroços de azeitona são atirados ao longe. O melhor vestuário para uma mesa dessas vai dos linhos claros aos quadriculados azuis e aos axadrezados de verde e rosa, nada de branco puro, que é muito ofuscante. Se a mesa for suficientemente longa, tudo poderá ser servido de uma vez só, e ninguém terá de correr o tempo todo até a cozinha. Nesse caso, a mesa é posta para o prazer básico: refeições prolongadas, à sombra de árvores ao meio-dia. O ar livre confere conforto, descontração e liberdade. Você passa a ser hóspede e si mesmo, que é como o verão deveria ser.
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À sombra das tílias, ficamos protegidos do sol a pino. As cigarras zunem nas árvores, elas são o som essencial, o âmago do verão. Os tomates são tão fortes que nos calamos ao prová-los. (...)
Chamamos os carpinteiros tímidos e calados, Marco e Rudolfo. Eles parecem divertir-se com qualquer trabalho que façam aqui. A ideia de uma mesa pintada com tamanho para dez pessoas parece deixá-los desnorteados. estão acostumados a tingir a medeira de castanho. Nós temos certeza? Eu os vejo trocar um olhar de relance. Mas a pintura terá de ser refeita de dois em dois anos. Nada prático. Nós já fizemos um esboço do que queremos e temos uma amostra da tinta também: amarelo primário.
Eles voltam quatro dias depois com a mesa, emassada e pintada: um prazo de entrega milagroso em qualquer parte do mundo, mas em especial para artesãos ocupados como esses dois. Riem e dizem que a mesa vai brilhar no escuro. Sem dúvida, ela parece vibrar de tanta cor. Os dois a carregam para o local com a vista mais ampla para o vale. Na sombra espessa, o amarelo refulge, atraindo-nos a sair da casa com jarros, tigelas fumegantes, cestos de frutas e queijos frescos envoltos em folhas de parreira.
Que maravilha, tanto o texto quanto as imagens de lá, que adooooooooro! beijos,chica
ResponderExcluirOlá Ana ...
ResponderExcluirA frente da moradia está excelente a foto da paisagem é lindo , digo a isto ( viver no paraíso ) .
Abraço
Ernesto
Olá Ana
ResponderExcluirVocê tem um incrível capacidade de síntese. Amei.
Bjux
Que lindo! Tanta leveza no ar, tanta esperança. Bjs
ResponderExcluirBom dia Ana! Fascinante o teu texto. Amo a leveza da tua explanção. A felicidade se traduz na beleza das coisas simples
ResponderExcluirOlhe a sua volta. Admire o espetáculo do alvorecer
Veja os detalhes ao seu redor... Tudo lindoooo
Sorria... o retorno vem com longos abraços de amizade
Tenha uma excelente dia!
Beijos carregados de felicidade
Gracita!
Olá Ana, maravilhoso texto e lindas imagens. Teu blog é lindo, repleto de delicadeza e beleza, cada detalhe feito com carinho, e obrigada pela gentileza de indicar meu blog a outros poetas, bjos e boa noite.
ResponderExcluirPaisagens de tirar o fôlego: simplesmente lindíssimas. Em criança também sempre gostava de ficar embaixo da mesa. Parece-me que acontece com quase todas as crianças. Ana, com relação à democracia, aprendi uma do Tocqueville. Diz ele que a democracia tem um monte de defeitos (mas não existe regime melhor). Um dos defeitos é a pressão da maioria, que nem sempre tem razão. Abraços do Gilberto
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