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quinta-feira, 21 de março de 2013

Quando os Cães Envelhecem


Aleph (em primeiro plano) e Latifa, ainda jovens e vigorosos




Bem cedo na manhã de domingo, desperto com um uivo profundo e melancólico. 

Eu nunca tinha escutado a Latifa- minha cadela Rottweiler que completará 9 anos em abril - uivar daquele jeito. Desci as escadas correndo, e fui ver o que estava acontecendo com ela. Parecia calma e serena, arfando alegremente em seu colchãozinho, deitada à porta da sala, na varanda. Só queria atenção, e assim que me aproximei, ficou de barriga para cima, a fim de ganhar massagens. Ela agora não quer mais ficar no canil, e ultimamente, nem mesmo na adega, cuja porta deixamos sempre aberta para que ela entre e saia quando quiser. Deseja ficar onde se sente mais perto de nós.
Latifa hoje

Lembro-me da cadela hiper-ativa, cheia de marra e de vida, que me fez perder a cabeça várias vezes há alguns anos, quando arrancava e devorava, sem a menor cerimônia e sem importar-se com os espinhos, todas as minhas nove mudas de roseiras que eu plantara com as minhas próprias mãos. Cavava buracos imensos no jardim, arrancava a grama com o focinho, roía os pés dos móveis, vinha correndo e nos dava encontrões que quase nos derrubavam. Era energia demais!

Agora, está uma senhora quase idosa, lenta, e quando me olha, vejo dentro dos olhos dela uma paciência e sabedoria que eu não via antes; parece complacente. Quando tento brincar com ela usando os brinquedos, ela se agarra a eles, rosnando, mas logo os solta - ela, que nunca perdia uma 'boa briga' de cabo-de-guerra. Os passeios noturnos tem que ser curtos, pois se os prolongamos, ela acorda de manhã com dores nas juntas das patas. É a idade chegando.


Latifa há um ano



Às vezes, quando estou dando aulas, olho para fora e a vejo deitada sob a janela da sala de aula, e quando me vê, parece sorrir por alguns instantes. Quer ficar sempre o mais perto de mim que puder!  Alguns dias, quando é 'dia de princesa ' (véspera de faxina na casa) eu a deixo circular pela casa, indo aonde quiser. Ela geralmente escolhe um cantinho, deita-se e dorme a tarde toda.

Latifa só come se tiver alguém sentado ao lado dela; caso contrário, mesmo que haja na comida os seus petiscos preferidos - carne moída, salsicha picadinha, biscoitos de cachorro- ela não come. Se deixamos a comida quando vamos sair, ao voltarmos, o recipiente encontra-se intocado. Nos sentamos perto dela, e ela começa a comer com apetite, parando para nos olhar de vez em quando.

Anda chorosa e saudosa. Dia desses, coloquei-a na cozinha comigo e liguei o CD. Enquanto cozinhava e cantarolava, ela ficava no cantinho da porta me olhando. Distraí-me, e quando dei por mim... cadê a Latifa? Fui encontrá-la na área de serviço, cabeça apoiada na cerca de madeira, olhar distante e tristonho. Será que pensava no Aleph, nosso cão que morreu há dois anos? Será que os cães tem essa memória, essa saudade? Sentei-me perto dela: "O que foi, Titifa?" Ela me olhou, soltando alguns grunhidos. E por mais que eu insistisse para que ela voltasse para dentro comigo, ela ficou lá, na mesma posição e atitude.

Latifa há dois anos
Os cães, quando jovens, tem a energia de um furacão. Correm pela casa, destruindo tudo o que lhes cai entre as patas e a boca, latem, brincam, fazem a maior bagunça. Parecem máquinas de brincar! Os cães mais velhos são os companheiros ideais: calmos, doces, atenciosos, pacientes, compreensivos. E é justamente quando eles ficam mais velhos, que notamos o quanto eles foram criando, através dos anos, traços marcantes de personalidade. 

Pena que isto só acontece quando já está quase na hora de eles nos deixarem.


4 comentários:

  1. Ai que dó, quase chorei aqui viu?!

    Que fofa sua Latifa, sua amiga mais fiel, pode crer, Ana! Dê mesmo toda atenção e carinho porque um dia essas coisinhas queridas nos deixam...

    Lembrei-me da minha cachorrinha quando me casei. Ela ficou com meus pais e já tinha lá seus 13 14 anos. Mas a bichinha ficou numa tristeza que só. Não comia direito, não brincava mais... Só ficava feliz quando eu chegava lá e matávamos a saudade uma da outra.

    Depois que minha filhota nasceu, ela sentiu mais ainda e passaram-se dois anos, foi constatado um câncer nela... Ai que sofrimento o meu. Ela teve que ser sacrificada.
    Chorei duas senanas... Coisa triste, amiga!

    Depois eu disse a mim mesma que nunca mais teria animal de estimação. Mas em 2008 , minha filha me deu um acalopsita, o John Boy - meu xodó, meu companheiro, meu amorzinho... As vezes fico pensando quando ele se for...

    Adorei a blogada
    bacio bella

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  2. Olá Ana,

    Seu texto chegou a me comover. De certa forma, esta fase mais velha dos cães assemelha-se à nossa maturidade, né?
    Meu marido também tem cães em nosso chalé (novos e mais velhos). Eles sentem quando ele está chegando e começam a latir desesperadamente. Onde ele vai eles vão atrás e sentam-se ao seu lado. É incrível a amizade e lealdade dos cães.
    Fiquei com pesar pela Latifa, que já está perdendo sua agilidade e suas forças. Sei que você deve sentir muito por vê-la assim, mas é a lei da natureza.

    Beijo.

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  3. Nossa, que emoção... Ah Ana, estes seres são tão repletos de amor... Nossa, imagino a tua dor ao ve-la assim, pois tbm estou passando pelo mesmo com a minha pastora, dez anos e meio com a gente, ela foi adotada da rua, quase morta, e nos deu tanta vida nesse tempo todo... Hoje, ela só implica com a lagartixa da minha filha (uma lagartixa escolheu minha filha como dona, e é um amor, rs...) A LayKa resmunga mas logo aceita a presença desta nova amiga... rs... Me emocionei te lendo. Dias de muita tranquilidade pra Latifa... Um beijo em teu coração, fica com Deus... Lu

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  4. Os cachorros são assim mesmo, maravilhosa companhia e mantém conosco um incrível "vínculo emocional". Abs

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