Abriu ambas as janelas, deixando que o sol da manhã entrasse e que a brisa refrescante circulasse pelo quarto. Aproveitou e abriu também gavetas e armários, para que fossem arejados pelo frescor da manhã. Dentro, suas roupas e sapatos, cuidadosamente arrumados e separados conforme eram considerados 'para sair' ou 'para ficar em casa.'
Passou os olhos sobre as pilhas de blusas bem dobradinhas nas gavetas, e escolheu uma preta, bordada com borboletas douradas. Separou também uma saia jeans. No aparelhinho de CD, sua música preferida.
Olhou em volta: como adorava aquele quarto! Tudo era tão seu... a estante com os os livros e Cds, sua televisão sobre a cômoda, seus pequenos bibelôs, as bijuterias guardadas em suas inúmeras caixinhas.
E as fotografias antigas. Havia uma caixa e uma velha bolsa de couro, cheias delas. Havia documentos antigos - carteiras de trabalho, suas do seu pai e do falecido marido. Ali, a história de suas vidas, desde que eram ainda bem jovens: todos os lugares onde trabalharam, quanto tempo ficaram, quando recebiam de salário. Olhou-os, suspirando. Recordou-se dos tempos em que era aquela mocinha da fotografia. Achou também uma velha fotografia de seu falecido pai, dentro de um dos livros. Lembrou-se dele com carinho.
Olhou seu reloginho de pulso, e constatou que estava quase na hora. Foi fechando as gavetas, passando as mãos sobre as roupas para que elas assentassem direitinho no lugar. Fechou o armário e guardou com cuidado as fotografias. Passou os olhos sobre as lombadas dos livros.
Fechou as janelas e cerrou as cortinas.
Pegou a bolsinha florida, que continha algumas mudas de roupa que usaria enquanto estivesse no hospital, aguardando a cirurgia.
Antes de fechar a porta atrás de si, olhou para tudo aquilo mais uma vez, demorando-se um pouco. Depois, fechou a porta bem devagar, e saiu.
Passou os olhos sobre as pilhas de blusas bem dobradinhas nas gavetas, e escolheu uma preta, bordada com borboletas douradas. Separou também uma saia jeans. No aparelhinho de CD, sua música preferida.
Olhou em volta: como adorava aquele quarto! Tudo era tão seu... a estante com os os livros e Cds, sua televisão sobre a cômoda, seus pequenos bibelôs, as bijuterias guardadas em suas inúmeras caixinhas.
E as fotografias antigas. Havia uma caixa e uma velha bolsa de couro, cheias delas. Havia documentos antigos - carteiras de trabalho, suas do seu pai e do falecido marido. Ali, a história de suas vidas, desde que eram ainda bem jovens: todos os lugares onde trabalharam, quanto tempo ficaram, quando recebiam de salário. Olhou-os, suspirando. Recordou-se dos tempos em que era aquela mocinha da fotografia. Achou também uma velha fotografia de seu falecido pai, dentro de um dos livros. Lembrou-se dele com carinho.
Olhou seu reloginho de pulso, e constatou que estava quase na hora. Foi fechando as gavetas, passando as mãos sobre as roupas para que elas assentassem direitinho no lugar. Fechou o armário e guardou com cuidado as fotografias. Passou os olhos sobre as lombadas dos livros.
Fechou as janelas e cerrou as cortinas.
Pegou a bolsinha florida, que continha algumas mudas de roupa que usaria enquanto estivesse no hospital, aguardando a cirurgia.
Antes de fechar a porta atrás de si, olhou para tudo aquilo mais uma vez, demorando-se um pouco. Depois, fechou a porta bem devagar, e saiu.
Para nunca mais voltar.
Ficaram nas caixas, armários e gavetas tudo o que restou da passagem daquela vida por este mundo. Ficaram traços de sua fisionomia em seus filhos, que vivem, cada qual, uma história de vida própria que ela ajudou a construir. Ficaram os registros em documentos e as imagens, que provam que ela existiu.
Olhando aqueles documentos, relendo as histórias daquelas vidas - meu pai, meu avô, minha mãe, meu sobrinho, minhas tias - eu fico pensativa... tento adivinhar o que ia na cabeça de cada um deles no momento da foto. Fico me indagando o que cada um sentiu quando aquelas carteiras de trabalho foram assinadas pela primeira vez, e penso nos anos e anos que eles estudaram, trabalharam, viveram, aprenderam e ensinaram. Penso nos momentos felizes e nos momentos tristes que se derramaram sobre aquelas vidas que eu conheci (ou pensava ter conhecido) tão bem.
Fico especulando o que cada um pensou no dia em que morreu, ou um dia antes; tiveram medo? Sabiam que nunca mais voltariam para casa, na última vez que partiram? E quando olharam por cima de seus ombros, no momento em que fecharam a porta, o que sentiram? Será que a gente tem algum aviso, algum mecanismo implantado no nosso subconsciente que nos avisa quando a hora de ir está chegando?
E o que fazer agora, com todos aqueles documentos, fotos, cartas, livros, objetos? Simplesmente jogar fora? Mas como jogar fora vidas inteiras? Como desfazer-se daquelas coisas que foram guardadas durante tantos anos com tanto cuidado e carinho, tão amadas, tão protegidas?...
Penso que devo fazer uma seleção e guardar apenas o que for mais significativo. Mas o que é mais significativo, dentro de caixas cheias de lembranças?
Vi-me, na sua crônica tão bonita e real.
ResponderExcluirGuardo tudo, e revisito vez em quado, quem "herdar" as relíquias, que decida o que fazer delas...
Um baraço, Ana,
da Lúcia
São tantas coisas significativas...Difícil separar...beijos,chica
ResponderExcluirAna, isso é muito lindo e até me emocionou. Me fez lembrar de minha mãe, meu pai,..., coisas boas, é claro, mas dá uma saudade!
ResponderExcluirUm beijo no seu coração.
Manoel
ANA
ResponderExcluirLamento, mas é tarde.
Gosto de te ler e fazer um comentário devidamente ajuizado.
Um beijo.
Boa noite Ana, vim desejar uma noite abençoada e uma lindo amanhecer.
ResponderExcluirComo amanhã dia oito do três, é o dia Internacional da mulher, quero desejar-te muitas realizações boas, cheias de conquistas e felicidade.
Deixo este verso da Cora Coralina
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.
Parabéns, feliz dia Internacional da Mulher!
Oi Ana! Como é gostoso estar aqui!
ResponderExcluirÉ lindo o decorrer da vida, mesmo nas transposições - há nas alegrias e até mesmo nas tristezas esta condição mórbida. Somos hoje aquele que recolhe significativo! Temos que mantê-los, cada herdade ou minúcia passam a serem integrantes da nossa carreira. Um dia entenderemos sobre este aviso do subconsciente! Expiraremos... Dividiremos-nos em lembranças.
Ai Ana, esse texto pegou fundo! Lendo eu pude recordar as minhas caixas de lembranças...
ResponderExcluirTenho tantas, minha amiga e assim como você eu também questiono o significado, a importância dentro do meu contexto. Contudo eu as fecho e os significados existirão enquanto forem lembrados - seja quantas forem as gerações.
Quanto a saber quando a hora de ir está chegando, creio que seremos avisados.
Texto lindo, cheio de ricas recordações.
Obrigada por este momento.
bacios na madruga
00:50
Amiga que bom este é dos blogues que eu gosto.
ResponderExcluirO fundo é maravilhoso. Adorei. Tem aqui muito
conteúdo interessante, que preciso de tempo
para ler. Obrigada por me ter cedido o link
e ter a oportunidade de conhecer este.
Virei sempre que posa.
Parabéns por este lindo blogue.
Beijinhos
Irene Alves
muito comovente....
ResponderExcluir;(
Ana, um mega abraço pra ti neste dia dedicado a nós!
ResponderExcluirGrande beijo mulher de talentos!
Lu C.:)
Oi Ana querida
ResponderExcluirQue difícil escolha...
Mas acho que as lembranças mais linda já estão cravadas em seu coração.
Beijos
Ani
Como sempre, ótimo trabalho de Ana Bailunne. Não saio da fila para ler Ana Bailunne. De jeito nenhum.
ResponderExcluirAna,quantas belas e significativas lembranças neste quarto!Eu não jogaria nada fora!Lindo texto!Bjs e felicidades pelo nosso dia!
ResponderExcluirMuito, muito bom!
ResponderExcluirbeijinho
Estou de volta após o lançamento do meu livro! Amei a sua postagem!
ResponderExcluirGosto muito de vc!
Bjs,
Martha