Eu assistia TV, quando começou um programa sobre uma senhora que vai de casa em casa, contratada pelos pais, para ajudá-los a resolverem seus problemas com os filhos pequenos. Entendendo por 'problemas:' criá-los adequadamente, fazendo com que coisas que deveriam ser normais - ir para a cama na hora certa, fazer as refeições, obedecer - fossem cumpridas pelas crianças.
Naquele dia, mostravam a história de um jovem casal e seus três filhos pequenos, que não obedeciam, agrediam os pais fisicamente quando contrariados, gritavam e esbofeteavam uns aos outros. A casa, de classe média alta, uma verdadeira bagunça. Sobrava desorganização para todos os lados.
A 'babá' , após observar o comportamento da família, consegue captar o que os pais estavam fazendo de errado e bola um esquema para ajudá-los. Ensina aos pais que disciplina é uma coisa que se ensina, e se necessário, se impõe, e que quando os filhos não obedecem, devem ser punidos de alguma forma - com uma repreensão ou um castigo, mas que nunca devem apenas deixar para lá.
Feito isto, a família sai para um passeio no parque, acompanhados da babá. Logo que chegam, o filho menor sai correndo em disparada, deixando a mãe em maus lençóis com um bebê que empurra no carrinho e um outro menino que segura pela mão. Imediatamente, a babá a relembra das técnicas, e a mãe chorosa começa a chamar o filho para junto de si. Quando o garoto finalmente decide obedecer, a mãe, emocionada, o felicita, dizendo:
"Filho, a mamãe falou e você obedeceu! Muito obrigada, querido, muito obrigada por obedecer a mamãe!"
Congela tudo:
A mãe precisa agradecer a um filho porque ele a obedeceu? Na minha época, isto era obrigação da criança, e ai de quem discutisse as ordens dos pais! Que droga de educação moderna é essa, que faz os pais acreditarem que precisam ser gratos aos filhos por eles lhes obedecerem?! E o que tem levado as mães de hoje em dia a não conseguirem lidar com seus próprios filhos, a ponto de ficarem emocionalmente abaladas ao cuidar deles? Acho que existe aqui, além de uma imensa inversão de valores, muito exagero. Por exemplo, se um pai bate no filho que está fazendo pirraça em um shopping center, dezenas de pessoas o olham com olhos de condenação, e ele corre o risco de ser preso, responder processo e até perder a guarda do filho! Qualquer coisa que os pais façam, alguém aponta o dedo e diz que ele vai traumatizar a criança. E qualquer distúrbio psicológico encontrado em um adulto, pode ser classificado como 'trauma de infância' ou 'culpa dos pais', principalmente, da mãe.Mas os adeptos da educação moderna não estão na pele dos pais.
Ninguém culpa uma sociedade de consumo que faz com que as mães tenham que ir à luta a fim de equilibrar a renda familiar, deixando as crianças aos cuidados de estranhos que, na verdade, não estão nem aí para elas. Ou o fato de que as crianças hoje em dia, já tem carreiras: saem de casa às sete da manhã e retornam às oito da noite, após escola em regime integral, aulas de inglês, espanhol, balé, natação, judô, computação... tudo para que possam continuar sustentando, no futuro, a sociedade de consumo na qual estão inseridas, pois isto é ser bem-sucedido.
Certa vez, conversando com uma mãe, ela me disse: "Acho que meu filho está com algum problema... anda triste, amuado, calado..." perguntei se ela já tinha conversado com ele, e ela respondeu: "Não, mas eu vou levá-lo ao psicólogo."
Bem, acho que não preciso falar mais nada. A não ser que escola e psicólogos não substituem os pais, e que a educação começa - ou deveria começar - em casa.
Muito complicado educar, criar filhos. Acho que acertei no meu jeito antigo de ser, mas foi bem cansativo. Felizmente cresceram e agora sinto saudades. Detalhe... sem babá ! Parabéns pelo tema e texto.
ResponderExcluirOi, minha querida!
ResponderExcluirVi que você comentou no blog da Xica uma resposta para o que você faria com uma pedra.
Convido a participar da nossa brincadeira!!!
http://deiaklier.blogspot.com.br/2012/08/brincadeira-de-aniversario-do-blog.html?showComment=1347228221140#c696083157601423463
Um grande abraço!
Se uma criança sem noção de perigo alguma de perigo chegar à janela no décimo andar de um edifício, você vai querer tirá-la de lá o mais rápido possível, é claro, primeiramente, e depois, como explicar para que não pode? Você vai ter que ser dura, dizer a verdade, vai ter que dizer que se ela cair de lá vai se espatifar feito um copo que cai de encontro ao chão, ou seja, que ela vai morrer, nunca mais vai poder lhe ver, a verdade, afinal. Doa o que doer, a verdade é sempre a melhor arma para educar, viver, tudo. Pode ser que alguns casos, não sei, a coisa pode ser contornada, mas na maioria dos casos, a verdade é sempre a melhor opção. Bela e muito útil a matéria, Ana! Como sempre, escrita fina e visão aguçada.
ResponderExcluirPois é, Ana. Sua crônica me lembrou um psicólogo que tinha filhos adolescentes e em nossa conversa casual falamos da culpa dos pais na má educação dos filhos de hoje. Esperava dele uma explanação profissional, mas para surpresa minha ele disse, revoltado, que precisamos acabar de por a culpa disso tudo nos pais, que são totalmente inocentes.... Acho que ele vestiu a carapuça....
ResponderExcluir