Era assim que se lidava
Com isso, antigamente:
Escorregar devagar
Entre a morte das palavras,
Não comentar, não sentir,
Não se atrever a existir.
Era assim: sobrevivência
Estandarte da decência,
Um sorriso atravessado
Cobrir o que foi roubado,
E manter, a todo custo,
A aparência da aparência.
Era assim que se escondia
O que era abominável:
Entre as fendas das cortinas,
Por trás da eucaristia,
Dentro da boca entreaberta,
E dos olhares fechados.
Palavra nunca falada,
Histórias jamais contadas,
E as almas remendadas
Cujas costuras tão fracas
Um dia, se arrebentavam.
Era assim que se lidava
Com isso, antigamente:
-Não se atreva, não comente,
Nem tente pedir socorro,
Não nomeie o inominável,
E não dê muita atenção
Àquele "não" calado.
Importava só sorrir,
Sobreviver, não sentir,
Respeitar, dizer amém
Aos pés do Santíssimo Altar,
Para ser abençoado
Pelas mãos do seu algoz
Que, por todos respeitado,
Era a eloquente voz.
Uma bela poesia pelos caminhos da reflexões e contradições de um tempo que atropela o tempo e num belo jogo do eram assim, traduz comportamentos e sentimentos num mundo que se fez doente.
ResponderExcluirEra assim. Muito bonito Ana.
Abraços e paz.
Era assim? Ainda é assim neste mundo cheio de tragédias. Uma reflexão feita poema.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Felizmente que a sociedade tende a progredir, procurando emendar os seus erros.
ResponderExcluirMas não será, ainda hoje, um pouco assim?
Vejo que tem talento poético. Convido-a, por isso, a participar em:
2ª HOMENAGEM AOS SANTOS POPULARES
Abraço amigo.
Juvenal Nunes
Uau! Evoluímos muito, isso é fato, mas infelizmente não o suficiente para acabar, e por isso ainda é assim. Beijo, beijo!
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