A roda gira tanto, que as pessoas nem percebem o quanto estão tontas. Algumas estão tão acostumadas ao sobe-e-desce que nem se importam mais. Nem percebem o quanto estão sendo manipuladas a estarem em cima e em baixo, conforme seja conveniente aos interesses de terceiros. Elas giram como macacos brincalhões, ora em cima, ora em baixo, animais estranhos usando trajes ridículos e alegóricos, achando-se espertos, donos de si, bem trajados.
E quem não ama um espetáculo circense? A turba furiosa de olhos dormentes adora observar os cristãos sendo devorados pelos leões. É fato histórico.
No tarô, a carta A Roda da Fortuna mostra uma roda girando, e duas criaturas aparentemente entregando-se ao movimento. Suas faces parecem embotadas, e ninguém pode definir o que elas são ou o que eram antes de se transformarem nessas figuras animalescas indefiníveis. O que elas representam? Elas sequer sabem por que giram. É que sempre foi assim. O verbo é girar. Nunca saem do lugar, entretanto, pois a roda é presa ao chão.
Às vezes surge alguém que tenta acordá-las de seu transe, alguém que tenta sacudir e desprender do chão essa estrutura escravizante na qual se encontram, mas elas não querem isso, pois a comida cai na latinha todos os dias à mesma hora, e é isso que importa. Além disso, depois de tantos anos, sair da roda significaria ter que começar a pensar por si mesmo, e isso daria muito trabalho.
Elas servem ao terrível monstro alado - parte leão, parte abutre, parte homem. O monstro tem a espada. É ele quem toma conta da roda, e usa sua espada para destruir a qualquer um que tente contestar o funcionamento da roda. Porque a roda precisa continuar girando para que ele e seus iguais possam continuar a existir.
As criaturas simiescas nem percebem que são elas que fazem a roda girar, e que se elas parassem de correr, estariam livres desse jugo. Elas poderiam fazer suas próprias escolhas. Elas poderiam desalojar quem as escraviza.
Elas poderiam destruir a roda e partir para a estrada.
Mas para a maioria desses seres dormentes, uma banana por dia é mais do que eles merecem.
Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. Quem tem olhos para ver, que enxergue.
Uma bela crônica Ana. O mundo é uma grande roda da fortuna e muitos que julgam fora dela, muitas vezes estão mais presos ainda. O circo da vida é mesmo interessante e quem pensa ser salvador é mais um preso na roda e ela não para, entrou no moto contínuo. E salve quem puder.
ResponderExcluirAbraços e bom fim de semana com paz e alegria no coração.
Bom dia de sábado querida amiga Ana, concordo com as palavras do Toninho, o mundo gira e as pessoas giram juntas, quase sempre sem saberem como escaparem, principalmente quando se submetem a determinados conceitos e preconceitos de pretensos salvadores!
ResponderExcluirBom texto como sempre, instiga à reflexão.
Abraços apertados!
Que crónica reflexiva, Ana. A roda da vida torna-se muitas vezes uma rotina e é difícil encontrar forma de escapar ao girar dessa roda. Só quem tem os pés muito assentes na terra sabe sair desse círculo quase vicioso.
ResponderExcluirUm gosto lê-la.
Uma boa semana.
Um beijo.