A moça perguntou-me, após os primeiros dias de aula:
-Eu quero saber qual o meu nível de inglês. Enfim, o que eu preciso melhorar!
-Eu já disse: você é nível intermediário, e estou totalmente focada nos pontos de gramática que você necessita melhorar, que são principalmente (repeti o que havia dito durante a avaliação). Também estou focando no vocabulário que você precisa para melhorar sua fluência. Já conversamos sobre isso na avaliação.
Ela não pareceu convencida. Na aula seguinte, veio com novidades:
-Veja! Inscrevi-me em um curso de imersão no final de semana!
E começou a desfiar todas as vantagens que um curso de imersão traria. O preço por um simples final de semana? Pelo menos, doze vezes o preço da minha mensalidade. Tentei não demonstrar meu ceticismo, e aguardei. Na aula seguinte, ela veio toda animada, mostrar-me uma linda pasta bege plastificada, com toda pompa e circunstância, decorada com um interessantes brasão dourado; dentro da pasta, em páginas timbradas, uma avaliação formal do seu nível de inglês, os pontos gramaticais que ela precisava melhorar e sua classificação: nível intermediário.
Peguei a minha humilde avaliação, e comparei com a que ela havia trazido: dizia exatamente a mesma coisa, apenas a apresentação não era tão luxuosa. Acho que, pensando no dinheiro que havia gasto, desconcertada, ela ainda desfiou-me as vantagens do curso: professores nativos (embora uma delas fosse brasileira), um ambiente tranquilo e voltado ao ensino (exatamente como aqui em minha sala de aula), hospedagem confortável e... bem, não conseguiu pensar em mais nada.
Se você tem dinheiro - bastante dinheiro - para pagar por um curso de inglês de imersão, tempo disponível e um nível de inglês que varie entre intermediário e avançado, não deixe de fazê-lo! Mas um simples final de semana não lhe proporcionará vantagem alguma.
Quanto aos cursos de inglês intensivo, pense bem: você não aprenderá em um ou dois meses o que poderia aprender em um ano. Não mesmo! Poderá ter uma base para começar um curso regular, mas ninguém - eu tenho certeza absoluta, pois já lecionei em cursos que oferecem esta modalidade - sai de um curso intensivo falando inglês fluentemente - muitas vezes, sequer sairá falando inglês. Mas se você já fala inglês, apenas anda um pouco 'enferrujado' e deseja praticar para uma viagem, obterá bons resultados.
Observo os alunos de nível básico que me chegam, sempre com muita sede ao pote: "Quantos horários disponíveis você tem?" Peço-lhes que se acalmem, tomem horários regulares - duas horas por semana - alguns acreditam em mim, enquanto outros, insistem em fazer duas ou três horas ao dia, mesmo após eu informar-lhes que isto não fará com que falem inglês fluentemente em um mês. Passados um ou dois meses, os mais apressados acabam desistindo, e perdem o que conquistaram.
O ideal para que se aprenda inglês, segundo a minha própria experiência como ex-aluna e atualmente, como professora, é:
-Duas horas de aula por semana, no mínimo, e três horas, no máximo. Isto se você for aluno de nível elementar. Se for intermediário ou avançado e quiser apenas 'desenferrujar', quanto mais horas, melhor.
-Sempre revisar, após a aula, todo o conteúdo que foi dado. Fazer as tarefas de casa, não deixando que elas se acumulem.
-Ouvir música, assistir a filmes com áudio e legendas em inglês, ler artigos, enfim, jamais perder a chance de praticar fora da sala de aula.
-Ir a todas as aulas, ser assíduo, principalmente enquanto estiver assimilando as estruturas básicas da língua. Neste período, não desista do curso, custe o que custar; se, ao chegar ao nível intermediário, você desejar fazer uma pausa, tudo bem; mas não o faça durante o nível elementar, ou terá que recomeçar do zero.
-Segure a sua ansiedade! 'Recuperar o tempo perdido' tentando ocupar várias horas de aula por semana, mais as horas que já dedica ao trabalho e à família, não dará certo, e será um fator desmotivador, já que você não desistirá do emprego e da família para ter mais horas livres e poder descansar; desistirá do inglês!
-Se tem amigos estudando inglês, converse com eles e pratique.
-Fuja das armadilhas dos cursos que prometem 'cursos rápidos de inglês para viagem', pois eles apenas o ensinarão frases básicas de conversação, mas como as respostas que obterá em conversações reais podem ser inúmeras, suas frases prontas não o ajudarão muito em contextos reais de conversação. Se pretende viajar com algum conhecimento da língua que possa lhe ser realmente útil, comece a estudar com, pelo menos, seis meses de antecedência. E seja assíduo e participativo. Cumpra todas as tarefas. Enfim, dedique-se!
-O trabalho de um professor não surtirá efeito se você não fizer o seu. Inventar desculpas para o dever de casa que não foi feito não significa enganar o professor, e sim, enganar a si mesmo.
Lembro-me de que quando eu fazia meu preparatório de inglês, trabalhava o dia todo, de segunda à sexta, e também aos sábados pela manhã; tinha a casa para cuidar e pilhas de tarefas caseiras de inglês para fazer toda semana. Eram páginas e mais páginas de provas simuladas e redações dificílimas, textos enormes a ler e interpretar e páginas e mais páginas de gramática no livro. Fazia tudo no domingo de manhã; acordava ás sete e ficava até meio-dia estudando e fazendo minhas tarefas. Portanto, quando a gente quer realmente obter um bom resultado, não existem desculpas.