|
imagem: lagoa de Abaeté - Google |
Ainda me lembro de minha primeira viagem de avião, há 18 anos. Eu fui acompanhando meu marido para Salvador, Bahia, a convite de seu chefe , esposa e filha. Meus maiores sonhos naquele tempo eram: viajar de avião e conhecer Salvador, e consegui as duas coisas ao mesmo tempo! Era uma conferência sobre comércio da qual eles iam participar, e por isso, nós, as três mulheres, tivemos muito tempo livre para explorar Salvador, seus shoppings, praias e principalmente, o Pelourinho.
Quando o avião pousou em Salvador, o cerimonial da conferência tinha contratado uma porção de baianas em trajes típicos, que nos recepcionaram com colares de flores , pacotinhos de cocadas e as inevitáveis fitinhas do Bonfim; aliás, eu trouxe um rolo delas para dar de presente quando voltei. Bem, logo na entrada, eu me senti 'em casa!'
Quando chegamos ao hotel, que fica na Praia Vermelha, fui até a varanda e olhei para baixo: o mar se estendia aos meus pés, e parecia que o hotel era construído dentro da água. O tempo todo, eu tinha aquela sensação de ter chegado em casa. Naquela mesma varanda, no último dia, chorei feito criança na hora de voltar. Sabia que raramente teria a oportunidade de estar ali de novo.
Enquanto caminhávamos pelas ladeiras do Pelourinho, que naquela época acabara de ser reformado, eu entrava e saía daqueles sobrados, suas lojinhas e igrejas, e parecia, não que eu estivesse conhecendo tudo pela primeira vez, mas refazendo um caminho. Não gosto de calor, mas o calor não me incomodou nem um pouco, estranhamente.
Mas a impressão mais forte, foi quando fomos todos juntos conhecer a Lagoa de Abaeté. Chegamos ao alto de uma colina, e olhamos a lagoa lá em baixo. Uma linda vista. Depois, descemos as dunas e fomos ver de perto. Quando chegamos lá, onde as lavadeiras costumavam trabalhar, de repente eu tive uma sensação fortíssima de déjà vu. Tive a certeza absoluta de que aquela não era minha primeira vez naquele lugar. Olhei em volta, e até os cheiros começaram a vir na minha cabeça, mas eu não sabia de onde. Tive sentimentos de conversas que tinha tido ali, embora as palavras não viessem à mente. A luz da tarde refletindo na lagoa era a luz de uma outra tarde.
De repente, olhei para um prédio que havia ali - se me lembro bem, era o Museu Casa das Lavadeiras, mas pode ser um outro prédio - e sabia que se o circundasse, encontraria um tanque. E disse isso ao meu marido. Fomos andando até a lateral do museu, e lá estava o tanque!
Senti também uma incrível empatia com o povo, e achei que foi mútuo, pois quando pedíamos informações na rua, as pessoas se desviavam de seu caminho a fim de nos levarem aonde queríamos chegar. Foi assim com o Elevador Lacerda. Naquele dia, eu estava mau-humorada por algum motivo que não me lembro, mas quando chegamos lá em baixo, um dos vendedores ambulantes olhou para mim e disse: "Sorria! Você está na Bahia!" Na mesma hora, o mau humor se foi, e eu pensei: "É... estou em casa!"
Ouvi dizer que hoje Salvador está bem diferente do que era na época em que a visitei: violenta, mal-cuidada. Espero que não.