Escrevi este texto baseada em algumas postagens que vi em outros blogs sobre a figura acima - uma interação proposta pela Chica. Espero que você não fique zangada, Chica!
Foi há alguns anos; eu tinha saído de casa às seis da manhã e estava aguardando o ônibus para dar minha primeira aula do dia, que começaria às sete. Era uma manhã fria de inverno, e havia pouca gente na rua.
De repente, vi quando uma caminhonete modelo caríssimo parou no meio da rua a alguns metros de onde eu estava, e sem desligar o motor, abriu a porta e empurrou para fora um cão Pitt Bull. Ele era de cor castanha, e ficou lá, parado no meio da rua, olhando a caminhonete se afastar, como a perguntar a si mesmo o que estava acontecendo, por que o tinham deixado ali e para onde ele deveria ir. Fiquei com um pouco de medo; afinal, esta raça tem fama de ser agressiva, e o cão era de porte médio e muito musculoso. Eu estava ainda pensando se deveria me aproximar ou não quando um outro carro veio e passou por cima do cachorro, que rolou por baixo do chassi.
Eu fiquei chocada, sem ação. Se arrastando e gritando, o cão conseguiu chegar até o meio-fio, onde deitou a cabeça. Quando cheguei perto dele, segundos após o atropelamento, ele estava morto. O carro que passou sobre ele nem fez uma tentativa de frear, e fiquei pensando que tudo aquilo tinha sido combinado: o abandono pelo carro da frente e o atropelamento pelo carro que veio logo atrás. Tudo foi muito rápido; questão de segundos.
Eu me senti enjoada e triste. Tinha um nó na garganta ao constatar que nada mais poderia ser feito para ajudá-lo. Voltei ao ponto de ônibus, e quando me virei para olhar o cão, um grupo de cães de rua o havia cercado, latindo e uivando em volta dele como se lamentassem o acontecido. Quando um carro passava, eles o perseguiam, latindo e tentando morder os pneus como se quisessem vingar a morte do Pitt Bull.
Aquele foi um dia difícil, pois eu não conseguia esquecer a cena que tinha presenciado pela manhã. Passei o dia todo deprimida e revoltada.
Alguém que abandona o próprio cão daquela maneira, quando poderia doá-lo para outra pessoa ou até mesmo pedir ajuda a uma instituição protetora para que lhe arranjassem um dono, é alguém capaz de qualquer coisa. Um cão não é lixo. Infelizmente, existem pessoas que os abandonam quando estão velhos ou doentes, ao mudarem-se para outro local ou simplesmente porque cansaram-se de cuidar deles.
Fico me perguntando como pode uma pessoa não desenvolver qualquer grau de afeto por uma criatura que criou desde pequeno. Provavelmente, tal pessoa não tem afeto sincero sequer por si mesmo ou pelos seus.
Cães não têm a mesma compreensão das coisas que temos. Porém, eles não têm ambição, inveja, cobiça, raiva. Acredito que o coração de um cão é um campo semeado de amor, e quando vejo um cão bravo e agressivo, sei que é porque algum ser humano matou tais sementes. Só quem já trocou um olhar sincero com um cão poderá falar sobre a pureza de sua alma.