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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Felicidades em 2013!







Tomara que seja um ano muito bom para todos: os que gostam e os que não gostam de mim, pois como li em um post no Facebook, devemos desejar sempre a felicidade de nossos amigos e inimigos, pois gente infeliz, enche o saco.







Tomara que em 2013, quem está doente, se cure; quem está a procura de amor, o encontre; quem deseja um emprego, consiga achá-lo; quem planeja realizar um sonho, tenha forças, ajuda e empenho para consegui-lo.









Tomara que em 2013, possamos todos agir de forma diferente, para que possamos encontrar coisas diferentes diante de nós. Por exemplo, ao invés de ficarmos observando e especulando sobre a vida alheia, que tratemos melhor da nossa própria vida, de forma que não nos sobre tempo para destilar maldade quando virmos alguém que se encontre passando por dificuldades; se não pudermos estender a mão, que pelo menos nos abstenhamos de afundar, ainda mais, esta pessoa.







Que em 2013 tenhamos sempre tempo para parar e refletir sobre os bons e maus momentos de nossas vidas, pois eles são comuns a cada ser humano! Ninguém será feliz ou triste o tempo todo! A alegria e a tristeza nos convidam a observar e aprender que na vida, TUDO passa. Que na tristeza, aprendamos a ser fortes, superar e continuar; que na alegria, aprendamos a aproveitar, partilhar e agradecer.








Que em 2013 - lá no finalzinho, em dezembro - possamos ter a certeza de que fizemos o nosso melhor, demos o nosso melhor, e aprendemos alguma coisa de bom, seja através da alegria ou da tristeza. Porque a tristeza não deve ser encarada como um 'castigo' ou 'punição' que Deus dá àqueles que o 'merecem,' mas uma fase de aprendizado e crescimento pela qual todos, sem exceções, passarão. E se formos brandos ao nos referirmos à tristeza alheia, encontraremos em nosso caminho pessoas que serão brandas conosco quando chegar a nossa vez. Como eu tenho encontrado.






Que em 2013 sejamos menos arrogantes, menos cruéis, menos maledicentes.






Possamos ser mais compreensivos, pacientes e solidários.








Se cada um de nós cultivar bem o próprio jardim, varrer bem a própria calçada e trabalhar com afinco nos próprios interesses, seremos mais felizes e permitiremos que os outros sejam também mais felizes.








Eu desejo a todos - eu disse TODOS - que sejam muito, muito, muito felizes em 2013! Tomara que seja um ano bem florido!





FRASE








"Inúmeras vezes, a maldade que vemos no mundo e nas pessoas, é a que está em nossas pupilas."

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Barco








O barco espera as águas
Que o levarão...
Criou raízes
Que o prenderam
Ao chão.

Será preciso
Muita água,
Muitas ondas,
Maremotos
Que desprendam,
Soltem,
Façam navegar o barco
Para longe...

O barco sabe,
O bardo sabe,
Que nunca mais voltará.
O barco quer ficar,
O bardo quer partir.

*

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

COISAS








Naquele canteiro, havia dálias,
Bocas-de-leão,
Beijos, margaridas,
Misturadas aos tomates,
Couves, salsas e alfaces.

Encostado, um velocípede
Pintado de branco, enferrujado,
Na frente, da casa, um balanço,
Nos fundos, pés de frutas espalhados.

Os cães e gatos circulavam,
Latas d'água pelos cantos
No bambuzal, besourinhos
Coloridos e listrados,
Vagalumes, joaninhas,
E o musgo que grudava
Em volta da grutinha
De onde nos olhava
 Nossa Senhora.

Bolinhas de gude
Amarelinhas desenhadas
E a gente brincava,
E como brincava!...
Iam-se as horas.

As aranhas, tão temidas,
Penduradas nos vãos do telhados
Com suas teias sempre cheias
De insetos, que eu salvava
Quando dava,
Quando dava...

Eu Acho...






Eu acho que  a morte deveria ser encarada com mais naturalidade, desde que somos crianças. Acho que deveria ser matéria de currículo durante toda a vida escolar. As crianças pequenas deveriam ser convidadas a conversar sobre a morte de seus animaizinhos de estimação de uma forma natural, sem dramas, e estimuladas a dizerem como se sentem. Os professores poderiam passar por treinamento psicológico a fim de explicar a morte física, dizendo que ela acontece a tudo e a todos que estão vivos, e que é não apenas inevitável, mas também necessária.

Adolescentes deveriam ser levados em visita a hospitais, onde pudessem conversar com pacientes terminais e participar de programas voluntários. Mais do que apenas "Vovó foi para o céu" e "O cachorrinho está no sítio," deveríamos ser estimulados a conviver com a verdade da morte - não falo aqui de religião - como algo físico e inevitável, pois assim, acho que perderíamos o medo dela, e sentiríamos uma dor mais conformada quando chegasse a hora de nos despedirmos de alguém. Também nos sentiríamos mais estimulados a valorizar a vida e as pessoas que nos cercam, pois teríamos a plena consciência de que um dia elas nos deixarão - ou nós as deixaremos.

Mas a morte é tabu; é considerada a pior coisa que nos pode acontecer. É negada e sublimada durante toda a vida. Construímos um mistério em volta dela,  fantasiamos e enfeitamos a morte. Somos acostumados a acreditar que seremos eternos, que ela nunca chegará, e que - pior ainda - só acontece aos outros. Mas finalmente, quando nos vemos diante dela, crescem o desespero e o medo. Não sabemos lidar com toda a carga que socamos lá para o fundo de nós mesmos durante todos esses anos. O que deveria ser encarado como inevitável e natural, torna-se um trauma, e um drama. A vida perde a cor quando descobrimos que o cachorrinho não foi para o sítio, e que a vovó não está dormindo.

Vemos situações nas quais pacientes com câncer tem a verdade escondida deles. Poderiam fazer alguma coisa que planejassem antes de morrer; uma viagem, se possível, escrever um poema, reconciliarem-se com alguém, enfim... qualquer coisa para que pudessem despedir-se adequadamente, da maneira que desejassem; mas como aprendemos e ensinamos que a morte é horrível, mentimos para eles; dizemos que ficarão bons. Acho isto errado... mesmo assim, compreendo que em vista da maneira como somos educados a respeito da morte, esta pode ser a única forma de agir: negando-a a té o fim.

Dizem que existe vida após a morte, no que eu às vezes creio -não sei se por uma certeza atávica e sublimada, ou se por influência externa, ou até mesmo, fuga -mas às vezes, não; porém, mesmo que tivéssemos absoluta certeza de que isto é possível, em nada nos consolaria da ausência real daqueles que amamos. Porque não existem telefones ou internet para o Outro Lado, e nossas crenças vão de encontro à parede das possibilidades remotas (ou não).

Acho que as UTIs são desumanas, quando nos tiram a liberdade de morrer com dignidade, ligando nossos corpos a aparelhos que inflam ar à força dentro de nossos pulmões. Antigamente, as pessoas morriam em casa, quando chegava a hora delas. Hoje, ficam suspensas por máquinas, até que suas peles cubram-se de feridas e toda a dignidade de seus corpos se extingua. Olhamos para elas, e nem sequer as reconhecemos, não vemos naqueles corpos os corpos que nos sorriam, caminhavam entre nós, eram pessoas.

Cobrimos a morte com um véu de mistério e esperança, quando a morte é apenas... a morte. Pelo menos, para este mundo. E se há um outro, ou outros, não há como estabelecermos contato com ele(s). Acho que precisamos aprender a dizer adeus e seguir em frente. Eu ainda não sei fazer isto.

domingo, 23 de dezembro de 2012

MOSAICO





Música ao vivo, bailes, balas,
La Cumparsita em ritmo disco,
Wando, maçãs, doeu demais,
Pores de sol, finais de tarde.
Boteco do seu Manoel,
Bisnagas inchadas de fermento,
Café com leite, 'pão de vento,'
Queijo fatiado, Fanta Uva.
Muitos almoços preparados,
Roupa lavada, casa limpa,
Pijama estampado com pintinhos,
Dentes escovados, livrinhos de história.
Crianças prontas, Dias das Mães
Jograis, homenagens, festas na escola.
Natais, as compras, os pudins,
Ceias, presentes, dinheiro em falta...
Vinho barato e rabanadas
A mesa pronta, muitos enfeites
Crianças correndo pela sala
E a arvorezinha perfumada.
Livros , revistas, dicionários,
Enciclopédias, Inglês sem mestre,
Perfumes da Avon, talco Pretty Peach,
Rifas, sorteios pelo rádio.
Cachorros, gatos, porquinhos da Índia,
Passarinhos, Hamsters, tartarugas
Repreensões, castigos, surras,
Tardes brincando no Morrinho.
Dias de chuva à janela
De uma casinha pequenina,
Bolo no forno, bolinho de chuva,
Doce de abóbora e gelatina.
A geladeira azul clarinha,
A grande mesa de madeira
Que ocupava toda a cozinha...
As canequinhas penduradas.
Tinha o chamado da vizinha,
O muro baixo, mil conversas,
Alguns convites para as festas,
Doce miúdo, glacé, ki-suco.
A morte do avô, a noite longa
Dormindo em casa da vizinha
Aos oito anos, primeiro velório,
Adeus que eu não compreendia.
O pai ouvindo futebol,
Domingo à tarde, mais um gol...
A mãe reclamando do radinho,
Jogo de damas, peças sopradas...
Sentadas no chão enceradinho,
Jogando varetas e moinho
Queen na vitrola, adolescência,
Longos cabelos, aparências.
Churrasco feito no domingo,
A maionese e a farofa,
Cervejas geladas, Coca-cola,
Vizinhos chamando na calçada.
Os namorados, os cunhados,
Sentados à sala, no domingo,
Temporadas de férias em Cabo Frio,
Praia, calor, e pebolim.
Creme de aveia, bronzeador,
Inevitáveis queimaduras,
Cação ao molho de camarão
Que a irmã fazia na cozinha.
A volta à escola, primeiros empregos,
Dificuldades, crediários,
A roupa nova desejada,
E as paredes descascadas.
Obras em casa, novo banheiro,
Um novo piso na cozinha,
Toalha de plástico, mesa de fórmica,
TV à cores, e cortinas.
Namoro sério, casamento,
Mudanças, casas, apartamentos,
Sobrinhos nascendo, e eu crescendo,
Irmãos indo embora, casa vazia.
Os pais mais velhos, eu sozinha,
Poucos amigos, muitos sonhos,
Segunda morte já sentida,
Maturidade, dor na vida...
Terceira morte, foi meu pai,
Outros amigos, conhecidos
Morrer virou uma rotina,
Cresci, e a morte acompanhando...
Meu casamento, alegria,
O pai ausente, lua-de-mel,
Nova família, muitos ciúmes,
Ressentimentos bem velados.
Sobrevivência, nova casa,
Período longo de alegrias,
Aulas de inglês durante o dia,
Na flor da vida, academia...
Mais duas mortes, dor da vida,
Foram-se o sogro e o sobrinho,
Sobrevivemos, renascemos,
Tombamos bem logo adiante.
Um livro escrito, árvore plantada,
Mais duas mortes esperadas...
E segue a vida, e segue a história,
E as alegrias almejadas.










Minha mãe






O destino pode ser implacável. Embora algumas pessoas acreditem apenas no livre arbítrio, e que tudo o que nos acontece é obra de nossas próprias atitudes, eu venho aprendendo que nem sempre é assim. Às vezes, apesar de tudo o que fazemos para mudar determinada situações, elas se encaminham para um certo fim, independente de nossa vontade ou de nosso esforço.

Tenho registrado meus sonhos mais significativos em um diário, no Recanto das Letras. Há alguns dias, sonhei que minha mãe se aproximava de mim com o rosto tristonho. Ela carregava uma bolsinha de papelão forrada com plástico grosso, estampada com flores cor-de-rosa, semelhante às que ela carregava quando ia viajar à praia com as amigas. Estava muito triste, e me disse que iria viajar, e que não poderia passar o natal conosco. 

Eu perguntei:

-Viajar? Mas para onde, mãe?
-Viajar... eu tenho que ir. Não vou poder passar o natal com vocês.

Eu a abracei, e quando a soltei, ela chorava lágrimas de sangue. Eu disse a ela: "Não vá, mãe, passe o natal conosco..." Mas ela repetiu que precisava ir - e estava bastante contrariada e triste - e acrescentou: "Mas não fiquem tristes, pois o Pai tem planos pra vocês."

Acordei muito angustiada, e contei o sonho a uma de minhas irmãs, que ligou para ela para saber de sua saúde, e depois, ligou-me de volta, dizendo para que eu não me preocupasse, pois ela estava muito bem; tinha sido apenas um sonho. Mas mesmo assim, continuei preocupada.

Dias depois disso, ela adoeceu com um problema na vesícula. Todas as minhas tentativas de apressar a cirurgia deram errado, e tudo o que eu fiz para tentar operá-la em hospital particular, através de uma liminar, também. O hospital descumpriu a primeira liminar, e um outro juiz exigiu uma declaração do hospital dizendo que ali não havia UTI, pois só assim, forçaria a transferência dela para um hospital particular. Todos sabem que a UTI daquele hospital está fechada há meses, mas ninguém lá dentro concordou em expedir a declaração, apesar de meus esforços. Os médicos tentavam nos convencer de que a cirurgia seria simples e que ela tinha muitas chances de sair dela muito bem. Os dias passavam.

 Cheguei a consultar um médico para saber quanto ficaria a operação particular. A cirurgia ficaria caríssima  e tentei de tudo para operar particular, mas quando conseguia uma resposta positiva,  tudo se emaranhava e dava errado na última hora. Eu via as coisas se encaminhando para o pior, e nada parecia dar certo. Após três semanas de internação, faltava apenas um exame para que ela fosse operada por vídeolaparoscopia, e ela se preparou para ele ficando mais de um dia de jejum, obedecendo ao critério injusto e cruel dos hospitais públicos.

No dia do exame, fui perguntar aos enfermeiros da ala cirúrgica por que estavam demorando tanto para levá-la, e eles disseram que eu ficasse calma, pois o exame seria realizado naquele dia. Meia hora depois, o enfermeiro veio me dizer que não sabia o motivo, mas que o exame não seria mais realizado, e como só havia um médico no hospital que fazia aquele exame, e como ele só trabalhasse uma vez por semana, decidiram fazer a cirurgia aberta, devido à urgência do caso dela. Mal pude acreditar no que estava ouvindo!

No início da semana seguinte, levaram-na para a cirurgia, e após seis horas, sabíamos que algo tinha dado errado. Quando ela voltou, assim que a olhamos, percebemos que ela não estava bem. Daí, foi apenas decadência. Passei a noite seguinte com ela, e ela teve muitas dores, e uma forte hemorragia (lembrei-me das lágrimas de sangue do sonho). Além disso, pegou pneumonia.

Ontem, ela estava ainda pior. Não conseguiram conter a hemorragia, e pensavam na possibilidade de entubá-la. Só pedi que aliviem o sofrimento dela. Não acho que ela vá sair viva dessa experiência.

Não peço que ela viva. Ela tem 85 anos de idade, e está doente demais para que possa viver. Há muito deixei de acreditar em milagres. Só peço que ela não sinta dores, apague, não veja nem sinta mais nada. Ontem, quando segurei a mão dela, apesar da aparência ausente, ela apertou minha mão com tanta força, que tive que sair do quarto. Parecia querer me dizer que estava ali, que estava viva.

Ela não vai passar o natal conosco, exatamente como me disse no sonho, mas por que tanto sofrimento? O destino nos levou a exatamente ao momento que vivemos agora, apesar de todo o meu esforço e toda a minha angústia. Só espero que ela não demore muito a deixar este mundo, que seja logo, pois ela não merece sofrer tanto.

Minha mãe é uma amante da vida e da simplicidade. Às vezes, chegava a ser até mesmo 'coquete,' tal a maneira leve e superficial com que encarava as vicissitudes. Jamais lamentou as coisas que não podia mudar, e nem mesmo a morte de alguém querido a deixava triste por mais que algumas poucas horas. Minha mãe sempre aceitou a vida como ela é, e sempre ergueu a cabeça e seguiu em frente, mesmo diante das maiores dores. 

Quando todos estávamos sofrendo e lamentando a morte de meu sobrinho, ela era a única que parecia serena e leve. Minha mãe simplesmente nunca ficou 'de luto.' Viveu a vida como quis, fazendo sempre o que desejou, e as pessoas geralmente não aceitam este tipo de atitude; acham que devemos sempre viver 'para alguém,' cumprindo obrigações, mas após criar seus cinco filhos, ela libertou-se de qualquer obrigação para conosco ou para com qualquer outra pessoa. às vezes eu a achei egoísta, mas depois compreendi a sabedoria de sua atitude. Ela jamais fez da vida, um drama.

Dizia sempre que a vida é linda, maravilhosa e muito curta, e que não devemos desperdiçar um minuto sequer com lamentações e tristezas. Desculpe-me, mãe, mas eu não consigo ser assim.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Algumas Palavras...




Gostaria de ter tempo para percorrer todos os blogs dos quais participo, deixando em cada um deles, uma mensagem de natal, mas infelizmente, não posso. 


Apesar da época alegre e festiva que vivemos - e apesar de adorar o natal - existem coisas acontecendo que fazem com que meu tempo torne-se bastante curto e limitado neste momento.

Mas eu não poderia terminar o ano sem agradecer pelas interações e visitas aos meus blogs, o Liberdade de Expressão e o Avesso. Também agradeço aos blogs dos quais participei, entre eles, Gandavos, Quiosque do Pastel e Recanto dos Autores.

Este foi mais um ano difícil, porém, participar dos blogs deu-me novas perspectivas. Ler e escrever serviu-me não somente como distração, mas também como aprendizado.

Deixo a todos que aqui vieram, mesmo que por um breve momento, meu muito obrigada. Aos que me ajudaram a divulgar meu livro, um obrigada extra especial!

Um Feliz natal a todos, e um 2013 cheio de coisas boas, ótimas e excelentes!


Filosofia de Vida







Minha mãe queria visitar o genro enfermo, que se encontra na UTI há vários meses. Minha irmã gostaria de poupá-la daquela tristeza, mas ela tanto insistiu, que  concordou em levá-la.

Ao chegar no hospital, as duas caminharam em silêncio pelos corredores. Diante do leito, a expressão do rosto dela era de pura tristeza. Lamentou muito o estado de como as coisas estavam se encaminhando, não só para seu genro - por quem ela nutre grande apreço e gratidão - mas também para sua filha e netos, filhos dele.

Ao saírem, minha mãe viu que o dia lá fora estava lindo: uma tarde quente, de céu azul; a vida que chamava para ser desfrutada plenamente. Um contraste entre o que acabara de ver e a paisagem que estava diante dela. Ela suspirou fundo. Minha irmã estava apreensiva. 

Finalmente, minha mãe disse: "Que tristeza..." De repente, seu rosto iluminou-se, e como quem  sabe viver, admitindo que algumas coisas não podem ser modificadas, e que por isso, ruminar pensamentos tristes sobre elas é totalmente inútil, ela deu um sorriso, e convidou:

-Vamos tomar um sorvete?

As duas saíram pela tarde, deixando para trás a tristeza.




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Após a Tempestade





Passarinhos brincavam de capturar mosquitos e cupins, tendo como fundo, o céu cinzento e pesado. Pareciam alegres. Davam rodopios no ar, indo pousar com suas pequenas presas nos galhos das árvores, que ainda gotejavam pela chuva recém-caída. Poças no chão refletiam o céu, e o perfume da chuva, limpo e fresco, pairava no ar. 

Ficamos na varanda do hospital apreciando aquela beleza tranquila de final de tarde, o carrinho do soro nos acompanhando. Comentamos o quanto as nuvens cinzentas eram lindas. Um pombo pousou no galho mais alto da árvore em frente, e ficamos imaginando a beleza da vista da qual ele dispunha. Parecia um pombo filósofo. 

E de repente, ela agradeceu. Por simplesmente estar diante daquela beleza toda. Agradeceu em voz alta pela vida que teve, chegando a conclusão de que tinha sido boa. O que mais poderia querer? Tinha o carinho dos filhos, tinha aquela tarde. E disse que esperava poder cruzar aquele caminho entre os jardins do hospital dentro em breve, de volta para casa.

Disse que, se pudesse, brincaria carnaval; compraria a fantasia de seu grupo de idosos - um abadá? - e cairia na folia, pois viver é festejar. Cantou um pequeno trecho da estrofe do 'samba' do ano anterior, que segundo ela, dizia 'Não queremos sopinha, não queremos mingau, mas queremos brincar o carnaval.'

E depois repetiu, mais uma vez, o jargão de um personagem de seu programa de comédia preferido: "Pois é, pois é, pois é..."

Hoje ela passa pela cirurgia que pode devolver-lhe a vida. Tomara que ela esteja brincando carnaval em fevereiro.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O BOM E O RUIM






É uma pena,
Só te recordas daquela alma
O que não foi bom, 
Os momentos em que ela,
Como tu,
Errou,
Não correspondeu,
Não te serviu...

O que de bom houve,
Ficou enterrado
Sob camadas grossas
De ressentimentos
E de pura e cristalina
Ingratidão.

É uma pena, de verdade,
Que tu só tenhas
Para jogar naquele esquife,
As flores da maldade,
Da intolerância e da impaciência,
Como se, por toda a vida,
Toda a existência
Só o ruim tivesse havido!...

Já não te lembras
Das noites e conversas
Ao pé da cama?
Das muitas vezes
Em que ela segurou-te a cabeça
Enquanto vertias vômito
Na tua doença?
Do quanto ela lutou, e fez de tudo
Para que tivesses, ao menos,
Uma boa escola,
Uma boa vida?

Ainda há tempo
Mesmo que pouco
De repensar o destempero,
De perdoar e de pedir perdão...

Não deixe que o sono chegue, não deixe,
Sem que a paz o recolha, 
Fechando as pálpebras!
Aquilo que tanto desprezas,
Nada mais é que o medo do amanhã,
Do teu próprio amanhã...
Não existem culpas ou culpados
Quando um olhar, apenas um olhar que seja,
De compreensão
Possa ser trocado!

Pois quem se vai, deve ir leve,
Deve saber que perdoou 
E foi perdoado...
Ou nunca mais haverá
Uma só noite de paz,
Um só dia de alegria,
Um sentido para a vida que fica
E para a vida que vai.

Os corações endurecidos
Não se derretem nem mesmo sob o sol escaldante,
Ou sob os escombros
Da vida que desmorona...
E tudo será uma pena,
Se nada terá valido a pena
Se não houver esse momento,
Essa mão estendida
Na hora da despedida.


Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...